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É um dos episódios do "Artscape - The New African Photography", uma bela série. Aqui fica o dedicado ao fotógrafo moçambicano.

publicado às 00:50

Personalidade 2013 em Moçambique

por jpt, em 29.12.13

 

 

É mera superstição matemática isto de acharmos que após determinado número de dias acaba qualquer coisa, um ano por exemplo, e que devemos fazer rescaldos do que se passou no último naco de tempo, para a este impor marcas. Também é certo que a vida sem estas coisas, superstições e marcações, teria menos piada. Por isso mesmo escolho a personalidade moçambicana do ano.

 

Certo que num ano tão complexo para o país muitos poderão olhar outros redutos do social. Para mim a personalidade pública que mais se destacou foi a Associação para o Desenvolvimento Cultural Kulungwana: constante no apoio privado (ainda que não economicista) às artes plásticas, com um painel cuidado de exposições e de colaborações; muito bem sucedida na realização do Xiquitse - temporada(s) de música clássica em Maputo, algo cada vez mais sedimentado, descentralizado e com público local. Mas mais do que tudo com a belíssima iniciativa, investimento, de participar na 6ª Feira de Arte de Joanesburgo, aí apresentando uma boa exposição, “TempoRealTime”, fotografias de Filipe Branquinho, Mario Macilau e Mauro Pinto. Belos trabalhos excelentemente apresentados, numa acurada curadoria de Berry Bickle. A mostrar um caminho cosmopolita, na realização e na produção, que urge nas artes moçambicanas. E, sem qualquer hesitação, no resto das actividades nacionais.

 

Por isso aqui fica a minha vénia à Kulungwana!

publicado às 18:40

21 de Abril

por jpt, em 23.04.12

Sábado. De manhã conduzi um pequeno grupo, que convocara durante os dois últimos dias, ao bairro do Jardim, para visitar a casa de Ídasse. Alguns veteranos destas andanças, outros neófitos, até totalmente. Deram um mergulho, verdadeiramente. Encantaram-se, saíram cheios de sensações. E com as mãos cheias de obras, nitidamente aquelas que puderam levar. Ficou o pintor encantado, com o encanto que provocou. Eu, que quando for grande quero ser como o Ídasse, beneficiei-me com esta rápida "Demoiselles de Xilunguíne" (que é o nome que lhe dei).

Foi uma bela manhã, pela tarde dentro. E dela saímos invejáveis, por todos aqueles que não nos acompanharam.  

E pela tarde seguimos até à Feira do Livro de Maputo, na FEIMA, o parque que se vai instituíndo como uma aposta ganha quanto a animação da cidade (a animação gastronómica, o sítio do artesanato, as esplanadas e restaurantes, eventos vários, agora a festa do livro). Esta Feira do Livro é o que é: poucas bancas, poucas editores, nem todas as livrarias, algumas instituições (pior do que tudo, é até penoso de ver, a banca de monos super-usados da biblioteca do centro francês) com um ar mortiço. Mas é um esforço. Nesta tarde de sábado mostra também que este evento é uma porta para uma análise sociológica das práticas culturais na sociedade moçambicana letrada. Mas não foi para isso que lá fui, muito mais para fruir, apesar de estar, literal e radicalmente, desprovido do vil papel. Convívio, e as crianças a brincarem no parque ...

Assisti ao lançamento da edição em inglês do "Género, Sexualidade e Práticas Vaginais", Esmeralda Mariano e Brigitte Bagnol, um livro que é um marco nas actuais ciências sociais moçambicanas. Não só pelo necessário regresso à prática etnográfica mas também pelo mostrar como é possível fugir à chã "filosofia social" cristo-desenvolvimentista sem abandonar a aliança ciência-cidadania. É fundamental ler este livro e, com ele, sobre ele, imaginar como olhar o real.

Descubro, surpreendendo-me, uma banca dedicada a iconografia histórica: velhos postais, reproduções de fotografias, recortes de jornais, reproduções de mapas. Um casal espanhol, ali em regime de hóbi. Tipos óptimos, pelo que me pareceu. Arranjo 2 velhos recortes, algo fatigados, reproduzindo fotografias de Tambara, no Zambeze. Cada uma ao preço de um café. No fim-de-semana que vem estarão numa feira no café "Sol" (sommerschield "B"). Para os apreciadores ou curiosos valerá a pena ir lá beber um café. E, sim, estão lá alguns dos célebres postais editados por Santos Rufino ...

Depois, assisto a uma apresentação de "Reinata Sadimba", de Gianfranco Gandolfo (com fotos de Mário Macilau e arrumação de Ivone Ralha). A artista está doente e não esteve presente. As instituições oficiais espanhola e suíça, financiadoras, falaram - os espanhóis activos na área da "cooperação" cultural (muito também porque são activos na divulgação do que acontece), os suíços fazendo lembrar uma ligação do início da caminhada artística de Reinata com a cooperação suíça (com cidadãos suíços, será melhor dizer). O autor também botou, e "ameaçou" mais livros dedicados aos artistas moçambicanos - o filão destes que atravessam a carreira sem que fique um registo mais ou menos abrangente é enorme, está muito bem o Gianfranco Gandolfo. O livro parece ser interessante. O preço é proibitivo para o comum professor, ainda não me cheguei a ele para não me doer não o ter.

Mais tarde, na esplanada, um mais-velho lembra-me um texto sobre Reinata que escrevi há uns tempos, e diz-me que não estava mal. Confesso que, por isso, o "famous" me soube melhor ...

Sento-me numa roda, na esplanada, ofertado de um whisky bem-vindo, que serão dois. À Carolina, ali a acompanhar o pai, lembram-lhe uma sua curiosidade, coisa já de há anos. Que lhe vale agora, em gentileza que lhe ficará para o futuro, este "Nudos", a colectânea do ofertador, um príncipe quando o decide ser. Chegados a casa ela empresta-me o seu presente, folheio rapidamente. Uma iniciativa óptima, relevante. E bastante focada no passado. Para recuperar as obras já mais esgotadas, algo bem avisado? Ou outros critérios. O prefácio de Nuno Júdice não me esclarece. Aos livros do Eduardo White tinha-os a todos, lendo-os. Agora a Carolina começa a sua caminhada.

Nessa mesma roda, à volta da mesa rectangular, sei que dois outros escritores estão quase-quase a acabar livro. Um romance, outro contos. Fico à espera. Mostram-me, mas estou sem óculos e assim, ainda por cima na noite mal alumiado, já nem leio, uma prometedora colectânea de textos sobre Maputo lançada hoje mesmo, edição da Minerva. Contam-me, e de modo unânime, que lá está um belo texto de Mbate Pedro. E do primeiro-ministro. A sério? É mesmo. E também do Khossa, mas nisso a opinião não é unânime, ele abstem-se de concordar, e só lhe fica bem. Parece que é barato o livro, a esse hei-de chegar.

A banca da cooperação espanhola com publicações interessantes, acima de tudo com volumes dedicados ao actual paradigma da "cultura como vector de desenvolvimento". Passo por lá, escolho quatro. Baratos, 150 meticais cada um, diz-me o trabalhador na banca. É barato, concedo, mas estou tão xonado que não posso ali. Segui para a tal esplanada. Passado um bocado passam uns alunos, saúdam, e trazem os volumes, baixaram de preço, agora na alvorada da noite já a 50 meticais cada um. Explosão minha, tácticas de bazar numa feira de livro. Resmungo, mas ainda lá vou. O s  livros já quase esgotaram, mas ainda trago estes dois.

À noite o jogo espanhol. E os nossos emigrantes a ganharem, são eles (mais o Cristiano, sempre menino da nossa academia) que me fazem torcer pelo Real Madrid. E que grande golo, a calar os catalães, actuais exemplos de anacronismo xenófobo. Vejo o jogo em casa, visitado por amigo. No fim bebericamos e falamos da vida, quem conversa seus males espanta.

Foi assim o 21 de Abril de 2012. O meu pai faria 89 anos, o seu primeiro aniversário em que está ausente. Teria gostado de saber disto tudo, em particular das coisas da neta (que só em parte aqui aparecem). Dos detalhes e das opiniões. Não saberia das coisas do dinheiro, que isso não lho diria, claro. E gostaria de saber que a vida continua. Com os solavancos dela.

Parabéns, pai.

jpt

publicado às 01:24

[A galerista, Mário Macilau, Cita Vissers, Sónia Sultuane, Glória dos Santos, Paulo Alexandre] 

 

Na Kulungwana inaugurou ontem a colectiva de fotografia Mulheres Descortinando, 10 obras de 5 fotógrafos [Berry Bickle, Cita Vissers, Glória dos Santos, Mário Macilau, e Paulo Alexandre], desafiados pela Sónia Sultuane para desvendarem a a matéria das mulheres, a procura do não-óbvio. Coisas muito díspares de gente que também o é nos seus percursos. No final algo muito bem conseguido.

 

Dois trabalhos fantásticos, duas não-danças apaixonantes, de Berry Bickle ("Os laços que nos unem I" e "Os laços que nos unem II"), que nem admitem nem precisam de mais que se lhe diga. No restante fico com dois retratos etnográficos de Cita Vissers, um traço que lhe é também característico, atentos ao detalhe ("Caminhos") e à harmonia da composição ("Maternidade"), uma bela encenação do corpo sempre-reconstruível de Glória dos Santos ("Subtil Destruidor"), que para além do interesse objectivo surge em desafio à temática do "Descortinar", pois afinal quase tudo ve(n)dando por via de sombras e ângulos. E o Paulo Alexandre a surpreender, e bem, com duas conseguidíssimas composições, a real matéria no "Sou mulher" e um sumptuoso "Eu" (sumptuoso é o termo ..).

 

As cortinas que lá estão são um bocado redundantes, mas não é isso que tira o mérito ao conjunto. A ir ver. Eu fui ontem, na estreia, tirei a fotografia (com o Nokia, claro) que ali está acima. Berry Bickle não está em Maputo, virada que está para a Bienal de Veneza.

 

jpt

publicado às 20:57


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