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"Basta Viver": 1 ano de Portugal

por jpt, em 09.09.15

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 (Ilha do Zambeze, entre Manica e Tete, meados de 00s)

 

 

Março passado, já em Março, numa sexta-feira fui jantar com grande amigo, daqueles ... Chegados àquilo dos cafés quis pedir uísques, novos e parcos por causa dos preços, mas ele negou-se. Pois vive fora de Lisboa, iria guiar, não podia passar daqueles dois ou três copos de vinho que corrêramos. Viu-me desencantado e aventou que fosse eu para casa dele, beberíamos algo noite fora, nisso conversaríamos, dormiria eu por lá e regressaria no dia seguinte de comboio. A sede apertava, assim fiz(emos). Na manhã, já sábado feito, hora do almoço, regressei à capital no tal cavalo-de-ferro, indo para um seminário, não sabia ainda que para ouvir daqueles antropólogos emp(r)enhados, cheios deles mesmos a julgarem que isso são causas, aquelas aparentes das gentes com as quais trabalharam, observando-as. Aportei à estação de Entrecampos no intuito de me chegar ao ISCTE, o local onde falaria o revolucionário encartado, por corso doutoral, e alguns outros. O dia ia soalheiro e ali mesmo na Av. da República, enquanto marchava, tirei o casaco, pendurando-o no indicador direito e abandonando-o ao ombro, mesmo como se funcionário. Depois, já na esquina da "Forças Armadas", avenida assim ascendente, e porque o calor já apertava, transpirando-me, tirei o pull-over. E só depois, alguns passos passados, me apercebi, quase lacrimejando, e digo-o sem exagero: estava em mangas de camisa, ainda que compridas. E há mais de seis meses que não andava na rua assim.

 

Lembro-me muito disto, do gélido que andei, e do como tanto o notei naquele dia d'alvorada da primavera, esfuziante com aquela liberdade de súbito sentida. E hoje mesmo ainda mais, este hoje entre 8 e 9 do Setembro. Pois faz agora um ano que parti de Moçambique regressando à "Pátria Amada" (aquele tão pleonasmo moçambicano). E porque um blog é mais do que tudo um diário aqui refiro a data, partilhando um bocado, ainda que sem o dizer, do que quebrou então mas que se vai colando devagar no esforço das cálidas mãos amigas. Pois é difícil o regresso, quase-exílio no princípio. A sarar também, que Portugal é lindo. E, muito mais do que tudo, porque "basta viver", como aprendi, um duro dia, lá no Zambeze.

 

Para cantar isso, essa verdade, deixo 4 canções, 3 que são "standards" e uma, a "Piloto Automático", que o virá a ser. Como se banda sonora da vida, esta que me basta ...

 

 

publicado às 00:37

X

por jpt, em 15.08.15

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Hoje mesmo, sábado, cruzarei o Tejo na via do sul, buscando este "O Sol da Caparica", festival musical. Coisas de ser pai, em função de acompanhamento (escolta, se se quiser), a aproveitar, sôfrego, estes últimos tempos enquanto a mariposa não voa para o definitivamente longínquo. Tremo, um pouco, com o que acontecerá, com o que me acontecerá, pois o último festival de Verão a que fui foi a Festa de Avante, ali pelos meados dos 1980s, pouco após os meus exactos 20 anos. Fora lá desde o início, em 1976, pois o camarada Pimentel - apesar das suas suspeitas quando ao desvio de direita "eurocomunista" de Berlinguer - tal como o de Carrillo e, também, também ..., de Marchais -, acompanhara-me na FIL diante dos Area, os daquela hendrixiana "Internacional", e, no ano seguinte, deixara-me assistir a Eugenio Finardi, aí já ombreando com os míticos Fairport Convenction. 

Naqueles tempos a Festa do Avante conjugava gerações, e nos anos seguintes a gente, já livre da tutela paternal, aterrava ali a beber durante três dias (e a fumar que se fartava, vá lá, que também era verdade), a "camaradar" entre nós e com os mais velhos dali, os camaradas mesmo, aqueles voluntários dos pavilhões regionais a rirem-se dos nossos efusivos "camarada" e nisso a serem camaradas, no servirem/ajudarem às cervejas e nos comes, estes mesmo para nos manterem em pé, e mesmo assim nós por vezes a desconseguirmos, que as noites seguiam já longas... 

Nisso nós, e naqueles tempos tão diversos dos de agora, via pavilhões do mundo inteiro (o comunista, claro, ali propagandeado com tantas maravilhas) e do resto do país, nestes com os petiscos locais, jogava-se xadrez com os macro-grandes mestres soviéticos e ouviam-se inúmeros músicos de todos os lados, desde os desconhecidos, e alguns que músicos!!!, e os Dexys Midnight Runners (que concertão), aquele Chico Buarque (no apogeu!!, ainda que trémulo por questões lá dele, biográficas), o Manu Dibango (Manu Dibango em Lisboa naquele tempo? tão raro que me obrigou a voltar àquele Festa, já anos depois de me ter recusado a ir), o rock celta então em voga, proto-etnomusic essa que veio a ser dita world, o Ivan Lins provavelmente no melhor concerto da sua carreira (com a belíssima mulher de então, uma loura Lucinha a alumiar Lisboa), Jorge Pardo, o fantástico "corno" de Paco de Lucia, num pavilhão menor numa actuação inesquecível da qual nada recordo, Makeba sem eu saber quem era Makeba, o gigante Luis Gonzaga diante de uma audiência que não o sabia ouvir, Charlie Haden a enfrentar um público estupefacto e também Max Roach, e tantos outros, ali todos os anos polvilhados pelo discurso quase final do camarada secretário-geral, o grande Cunhal. 

Foi mesmo isso, este, que me acabou ali. Pois, já cruzados os 20 anos, deu-me a azia, enorme, cansado de constatar que nenhum Sérgio Godinho, Carlos do Carmo ou Vitorino, sempre enfatuados - e ainda hoje assim seguem - com o slogan da liberdade na boca, como se dela fossem legitimados porta-vozes, dedicava alguma canção, pequena que fosse, àquele Sakharov então sob custódia, e das duras, que ninguém dos grupos de música popular ou mesmo do rock português havia lido Soljenítsin e ali o invocava, de que nem os Rão Kyao ou Telectu se lembravam do Solidariedade ou da Carta 77, que nenhum daqueles cantautores flausinos se lembrava da Albânia, de Angola, da Roménia quando cantarolavam em nome dos perseguidos na América Latina - então devastada por militares fascistas. E que o Ary dos Santos, poeta histriónico gritador de poemas diante de milhares, nunca lembrava os homossexuais perseguidos (e de que maneira) nos países que eles tanto promoviam. 

Um dia - sei lá quando, mas já depois dos The Clash no Dramático de Cascais -, esperava por um qualquer grande nome, desses do concerto de encerramento após o comício do camarada Secretário-Geral, Cunhal ele mesmo, aquela apoteose ("cultural" dirão os de agora) final. Antes da arenga, e tal como todos os anos, lá se levantou a multidão a cantar o hino (sim, o bacoco "às armas") de punho direito erguido. E eu caí num "que faço eu aqui?!", qual Rimbaud entre os selvagens, ali na Ajuda, e conclui - repito, nos meus vinte anos, no início dos 1980s, bem antes da queda do Muro quando alguns descobriram que afinal..., décadas antes da internet, quando outros descobriram que afinal... - "nunca mais cá venho!" (sim, regressei, a ver o Manu Dibango, uma suspensão episódica dos princípios). 

Pois aqueles gajos, mesmo aquela turba simpática, o povo d'aquém e além-Tejo, eram, e mesmo sem o saberem, pobre gente alienada (como dissera o tal Marx), e nisso o inimigo. Vil. Segui para outros concertos, paragens, convívios. Pois a "cultura" - e os arautos da "liberdade" - não moravam ali.

Volto agora à turba, decerto que para um canto do olho (e quão apaixonado!) na filha, outro no palco. E vou triste, pois sigo, reparo hoje, desarvorado, nem uma t-shirt dos Xutos tenho, e é dia deles. Irei assim quase nu. E comportando-me, que sei ser vedada à paternidade os excessos naturais diante do obrigatório, do obrigatório apenas para mim, os "meus", talvez coisa de geração. Irei pois como se pai mas já hoje preparo os antebraços para o mítico, cultual, "X", que se o punho nunca ergui aos antebraços ainda o farei, cultuando esses que ouvi quando tocavam com uns tais de "minas e armadilhas", que terei feito no mítico 31 de Julho no Rock Rendez-Vous, a gravação de um "live" que nunca existiu, há mais de 30 anos, isso porque véspera do "1 de Agosto", dia de "sacola às costas, cantante na mão", e que fiz, ali quase-só, que só o grande Hernâni me acompanhava naquele mar de gente espantada, em Maputo em 1999 e nunca mais, pois que nunca mais os vi. Vou, cultuar, agora pai mas amanhã filho, homem, para gritar "Contra tudo lutas. Contra tudo falhas. Todas as tuas explosões. Redundam em silêncio", o verso da música portuguesa .... E quem o segue, ao verso, ao resto, ao destino, é "quem já nada teme".

Porque, afinal, a tal liberdade é isto, se calhar só isto, o amarfanhado jogo dos riffs. E da desesperança, mesmo que mitigada .., isso do "a vida é sempre a perder" mesmo sabendo que nenhum de nós é "um caso isolado", nem o "único a olhar o céu", porque "quando as nuvens partirem ... vais(vamos) ver o sol brilhará" ...

 

XXXX

 

publicado às 03:30

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(paragem de autocarro Carris, da mítica linha 21 [Rossio-Av. de Berlim], início 1980s) 

 

O meu postal anterior ("Algemado") ocasionou grande trânsito, inusitado, no blog e inúmeras mensagens de simpatia, as quais muito agradeço, a matizarem o estado (ainda mais) aturdido em que vegetei nos últimos dias. Algumas delas muito iradas, polvilhadas de receios até escatológicos, induzindo do que narrei o advento de um estado policial, o fenecer das liberdades. Caramba (oops, deixem-me explicitar que "caramba" não é "caralho" ...), não exageremos, vivemos em democracia, este cinzento sistema sempre vulnerável a alguns desmandos institucionais e a desvarios nossos, os populares. Nisso o melhor de todos. E as coisas já foram muito piores e vão sendo cada vez melhores, não linearmente como imaginaram alguns mais metafísicos mas firmemente. Pelo menos por enquanto.

 

Como o acontecido decorreu "à sombra" da mítica paragem acima retratada aqui deixo, a este propósito, uma canção até hino qu'a gente destas redondezas ouvia "nos tempos". Tão outros "tempos", que convém lembrar para percebermos que isto não vai assim tão péssimo. A ver se acalmamos o fel radical. E alguma desesperança que vai brotando, acima de tudo devido a isto da idade crescente.

 

 

 

 

 

"Take It As It Comes"

Time to live
Time to lie
Time to laugh
Time to die

Takes it easy, baby
Take it as it comes
Don't move too fast
And you want your love to last
Oh, you've been movin' much too fast

Time to walk
Time to run
Time to aim your arrows
At the sun

Takes it easy, baby
Take it as it comes
Don't move too fast
And you want your love to last
Oh, you've been movin' much too fast

Go real slow
You like it more and more
Take it as it comes
Specialize in havin' fun

Takes it easy, baby
Take it as it comes
Don't move too fast
And you want your love to last
Oh, you've been movin' much too fast
Movin' much too fast
Movin' much too fast

publicado às 09:37

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Raramente a música popular europeia tocou o sul tão assim ...

publicado às 22:26

Masekela em Lisboa

por jpt, em 21.06.15

 

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Ontem noite ainda não longa levaram-me a conhecer o Largo do Intendente, aquela zona que "nos tempos" era má demais mesmo para os passeios em busca do pitoresco. Agora semi-recuperada e palco, dizem-me, da animação boémia, dita cultural, e levemente gauchiste ..., felizmente descaracterizadora daquela profunda miséria que naquele antanho ali habitava. Caímos, inesperadamente, num festival musical ali a decorrer nestes dias. O pequeno rossio atulhado de gente, os bares apinhados, ambiente simpático,  muito típico - eu com a cada vez mais habitual sensação de ser avô, tamanha a juventude circundante. Tanta que até agride, ainda que tão pacífica. 

Mas o importante é ter percebido que hoje à noite, por aquela hora das vinte e uma e trinta, o grande Hugh Masekela tocará, o encerramento do tal festival, "Lisboa mistura". Vi-o há anos, muitos, lá em Maputo. Vai ser interessante ver o mais-velho aqui, não sei se pela primeira vez nesta capital ...

Para quem não o conhece: vão até lá. E deixo aqui a sua "Stimela" (Xitimela), já tornada "clássico", numa versão recente [e aqui já colocara velha versão com transcrição da letra). Até logo? (E fica a célebre Stimela, tocada em 2013)

publicado às 12:39

Anarco-jazz

por mvf, em 11.06.15

5166_1201238911549_7771112_n.jpgOrnette Coleman, Lisboa 1988 ©miguel valle de figueiredo

 

Em 1960 Ornette Coleman foi culpado de ter lançado "Free Jazz "um disco ( o seu 4º)  que acabou como designação de um novo sub-género do Jazz . O "Free", como é tratado pelos mais íntimos, não é, nunca foi, fácil de adoptar, tanto que muitos o consideraram "não-Jazz". Improvisação colectiva como Ornette Coleman o entendia, obriga que um ouça o outro sempre e o respeite. No fundo princípios básicos de liberdade.  

Fica para audição o meu disco preferido (The Shape of Jazz to Come, 1959) do saxofonista/violinista/ trompetista/compositor/revolucionário que nos deixou hoje aos 85.

 

A ouvir com urgência:

- "Something Else - The Music of Ornette Coleman" (1958)

- "The Shape of Jazz to Come (1959)

"Tomorrow is the Question"(1959)

- "Free Jazz - A Colective Improvisation by the Ornette Coleman Double Quartet" (1960)

-"Change of the Century" (1960)

- "This is our Music" (1961)

-"Who's Crazy" (1966)

-"Crisis" (1969)

-"Science Fiction"(1971)

-"Dancing In Your Head" (1976)

-"Song X" (1985)

-""Virgin Beauty" (1988)

-"Sound Grammar" (2006)

 

 

 

 

 

publicado às 23:05
modificado por jpt a 8/11/15 às 18:17

Tributo aos Beatles

por jpt, em 18.05.15

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Acontecido neste fim-de-semana. O nosso FF (ainda que ele numa era já post-blog a gente continua a reclamá-lo de "nosso") pegou no baixo e reavançou para os palcos. E assim foi a estreia deste "Tributo aos Beatles", 25 hits mais encore a encherem uma belíssima noite. Consta que a digressão se iniciará em breve ...

 

publicado às 10:19

A antropologia e a política

por jpt, em 05.05.15

gary-larson-1984-far-side-anthropologists.jpg

Nos inícios dos 1980s fui estudar Antropologia, fugido da escola de direito de Lisboa (onde, já agora, apanhei António Costa e José Apolinário a falsificarem as nossas votações, seus colegas alunos, preparem-se para a imundície que aí vem). Na época, no ISCTE, a gente estudava ano e meio em comum com Sociologia (talvez seja isso a origem da perversa demência anti-antropológica que a maçonaria da Sociologia veio patenteando nestas décadas portuguesas). Depois seguíamos mesmo o nosso caminho, algo trôpego. Não aprendi muito ali, mea maxima culpa, burguesote com carro e dinheiro no bolso, mergulhado na "lisboetana" boémia, acampada no Bairro Alto. Mas também um pouco, também e repito-o, pelo que ali se recebia. Era a era dos leitores militantes de Lévi-Strauss, um verdadeiro génio que afinal pouco nos conduziu para o depois, exactamente como o infecundos serão os cultores posteriores desse imaginativo Foucault que veio a assombrar este futuro (apesar de já então Baudrillard e Merquior terem pontapeado o seu delírio pancrático). E, de outro lado, de radicais marxistas surdos ao d'então monumental peido-mestre da Querida Teoria feita "socialismo real". Mas tive bons professores, e é com muito prazer que reclamo ter sido ensinado por João Leal (o tipo que melhor analisa e escreve sobre o "Portugal" que em Portugal se imagina, homem demasiado discreto nesta festividade actual) e João Pina Cabral, entre alguns outros. Não foi uma perda de tempo, pois mesmo com estes desvios ali conheci a obra de dois iluminadores, Leach e Dumézil, que nunca teria lido de outra forma. Não me importa se estes me foram ou são importantes ou úteis na vida: fizeram-me (este) homem.

 

Mas, e resumindo, ali aprendi pouco. Pois o fundamental, o núcleo, radicava na transmissão dessa angústia adversa ao etnocentrismo, hoje mais conhecido (e reduzido) por eurocentrismo - isso que ainda ensinamos na primeira aula da "introdução à antropologia". Uma mancha, mácula, peçonha, culpa, que nos ficava (e fica) qual disfunção eréctil para o futuro. Transmitida em palavrosos requebros e maçudos manuais. Acontecia que nada disso me era novo. Eu vinha dos Olivais, subúrbio alfobre, (coisa que contei aqui). Assim aportara à universidade, fruto daquela caldeirada sociológica (depois vieram a chamar a isso "multiculturalismo", quando tiveram de juntar "raça" a "classe") de bairro suburbano. Eu algo ligeiro, pois sempre escapando-me ao injectar-me, mas carregado de rock e devaneios, esses que afinal eram refutações sem que o soubesse. E assim todo o palavroso anti-"etnocentrismo", todas as esquizofrénicas depurações intelectuais, desmaiavam face ao capital que já carregava, à consciência de tudo isso já ter sido cantado, e então para quê lê-lo tanto e tantas vezes? E cantado, gritado, em modo bem mais assertivo, com um barulho que em nada anunciava, nem exigia, o culposo desmaio. Numa breve canção os "The Clash" haviam dito o problema e pronto, tratava-se de seguir em frente. Certo que o onanismo intelectual veio a resmungar - como aceitar "Charlie don't surf", brotado do Apocalypse Now?, obra de um horrível Coppola, malvado e yankee que bombardeara a floresta cenário, e, pior ainda, emanada daquele Conrad, o escritor do império (ler Said, este realmente importante, sobre Conrad é pedir demais aos revolucionários quando funcionários estatais)? 

 

30 anos passaram. Continuo a ouvir colegas, amigos, competentes e argutos, a enfrentarem o real. A quererem criticar o real d'agora. Percebo o problema, isso que nos aparta. Não é ideológico, nem de vínculos a interesses. Mas, e talvez por não terem vindo daqui, do meu bairro, isso de não terem ouvido ouvindo o rock necessário. Por isso vitimizam os compatriotas, ditos sofridos da malvada crise. Sem os verem o que são, como mau público de boa música. Por isso sem os verem como indivíduos, agentes. Pois tudo isto, a tralha que submerge, também isso os "The Clash" (e não só eles ...) haviam anunciado. Em 1981 o grupo, ainda no auge, tocou no Dramático de Cascais. Nos meus dezasseis anos não pude faltar. A gente seguia de comboio do Cais do Sodré e acampava naquela bicha (agora dita "fila") lendária, esperando entrar no pavilhão, horas muitas, devaneios múltiplos. Naquele dia à longa espera sucedeu-se uma patética primeira parte, o agrupamento luso "Taxi", um casting aburdo, ao qual se seguiu a cantora punk "Pearl Harbour" (a namorada do baixista Paul Simonon), e longos intervalos. No meio daquilo tudo, tantas horas passadas, lembro-me de ser acordado, e estou certo que a custo, nos sanitários por um rasta, "man, os Clash vão começar" - um rasta solidário com um new wave num concerto punk, um hino multicultural -, e eu lá fui, cambaleante para as mais primeiras das filas possíveis. De quase nada me lembro do concerto. Apenas de o pular todo. E de gritar incessantemente "lost in the supermarket". Essa que eles não tocaram.

 

Era um puto, suburbano, adolescente. 35 anos depois, quando os intelectuais (e os jornalistas) me abalroam com o coitadismo, a vitimização dos nossos compatriotas (e com "és de direita") só me lembro dos Clash. E dos impropérios que esta gente merece. Mau público para boa música. (as canções estão abaixo)

 

 

Charlie don't surf and we think he should
Charlie don't surf and you know that it ain't no good
Charlie don't surf for his hamburger Momma
Charlie's gonna be a napalm star

Everybody wants to rule the world
Must be something we get from birth
One truth is we never learn
Satellites will make space burn

We've been told to keep the strangers out
We don't like them starting to hang around
We don't like them all over town
Across the world we are going to blow them down

CHORUS

The reign of the super powers must be over
So many armies can't free the earth
Soon the rock will roll over
Africa is choking on their Coca Cola

 

It's a one a way street in a one horse town
One way people starting to brag around
You can laugh, put them down
These one way people gonna blow us down

CHORUS

Charlie don't surf he'll never learn
Charlie don't surf though he's got a gun
Charlie don't surf think that he should
Charlie don't surf we really think he should
Charlie don't surf

Charlie don't surf and we think he should
Charlie don't surf and you know that it ain't no good
Charlie don't surf for his hamburger Momma
Charlie don't surf

 

 

 

 

I'm all lost in the supermarket
I can no longer shop happily
I came in here for that special offer
A guaranteed personality

I wasn't born so much as I fell out
Nobody seemed to notice me
We had a hedge back home in the suburbs
Over which I never could see

I heard the people who lived on the ceiling
Scream and fight most scarily
Hearing that noise was my first ever feeling
That's how it's been all around me

[Chorus]

I'm all tuned in, I see all the programs
I save coupons from packets of tea
I've got my giant hit discotheque album
I empty a bottle and I feel a bit free

The kids in the halls and the pipes in the walls
Make me noises for company
Long distance callers make long distance calls
And the silence makes me lonely

[Chorus]

And it's not hear
It disappear
I'm all lost

publicado às 03:59

Um dia assim

por jpt, em 04.05.15

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como os outros, entre as pequenas coisas, de um lado para o outro, foi para isto que um tipo envelheceu ... Tenho, a meio da tarde, este pequeno bocado, daqui a pouco haverá mais do continuado. Aproveito para enrolar o Amber Leaf.  E ouço estas duas, perco duas ou três décadas logo logo, caem-me como se nunca tivessem chegado. Sigo sorridente, que é para isso qu'a gente anda cá.

 

 ....

publicado às 17:54

Monoteísmo ...

por jpt, em 12.04.15

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O pai mostra à filha esta canção, e ir-lhe-á contar o seu porquê. Que é de um filme muito "incorrecto", uma poliândrica Jean Seberg partilhando vida com dois garimpeiros no wild west, o belo jovem Clint e o velho e magno Lee Marvin. Este, percebendo que o tempo do alegre triunvirato se esgota, decide partir deixando o futuro ao jovem casal. Sai, másculo, mas com aquela amargura consolável pela vida. E canta esta "I was born under a wandering star", um must, um cume ...

 

Lee Marvin, I was born under a wandering star

 

O youtube começa ...

Pai: ouve isto ...

Youtube: orquestra ....

Filha: .....

Youtube: (canta lee marvin ...)

Filha: porque é que já não há vozes assim?

Pai (muito reaccionário): porque já não há homens ...

publicado às 01:05

Top 44

por mvf, em 25.03.15

Esta semana temos o grato prazer de divulgar o segundo grande êxito musical do Movimento Cívico "José Sócrates, sempre!". O bom gosto e apurado sentido estético-musical leva-nos a pensar que este grupo terá mais chances no Eurofestival da Canção que a vetusta Simone de Oliveira. Parabéns a todos por mais esta realização artística!

 

publicado às 14:31

King-Crimson.jpg

 

Para um dia de um desabafo destes a banda sonora só pode ser esta, a dos grandes King Crimson (esses desde os anos 80 ...)

 

 

publicado às 23:59

publicado às 01:13

Rock-rendezvous.jpeg

 

Caminhava-se para meados dos 80s, o local mais rock era o "rock rendez-vous". Foi lá, nessa altura, que vi a noite 31 de Julho dos Xutos, véspera desse hino 1º de Agosto, "É amanhã dia um de Agosto / E tudo em mim, é um fogo posto /Sacola às costas, cantante na mão / Enterro os pés no calor do chão", noite épica anunciada que para gravar um disco "live" que nunca saiu. Também no "Rendez-vous" apareceram os concursos de rock nacional, bandas novas, saídas das garagens dos bairros, ali nas tardes de sábado à procura de um "lugar à noite". Andei por lá vendo as bandas dos Olivais, os Urb e o Radar Khadafi, a estreia dos histriónicos Ena Pá 2000 e também a dos grandes Mler Ife Dada, estes que foram o brilho daquele naco de geração.

 

Numa dessas tardes cheguei cedo à rua da Beneficiência, entrei bem antes das sessões, fiquei por lá na enorme (para o tempo) sala quase vazia. E naquele vazio ouvi pela primeira vez o então último disco dos Style Council, todo ele, ali deixado a tocar enquanto decorriam os preparativos do palco. A gente chegava já preparada para os espectáculos, qu'era a era dos psicotrópicos, nisso aumentando o impacto da música ouvida e do gozo durante. E aquela audição, inesperada, encheu-me - e como era então diferente o acesso à música, tão mais rara apesar de toda a rádio, e, acima de tudo, tão mais cara. Mais de trinta anos depois ainda lembro aquela mais-ou-menos hora, a duração do LP, dos Style Council no vazio RRV, um momento de felicidade mesmo, pelo tempo que então vivia, pela companhia que ali estava, se calhar também pela idade que corria. E, sem dúvida, pelo embalo da "banda sonora".

 

Este tempo todo depois ouço este pop agitado de então e ... fico de sorriso estampado. É um mimo. A ultrapassar, a desnecessitar, quaisquer outras ideias.

 

publicado às 13:31

Police

por jpt, em 03.01.15

police.jpg

 

Ao longo destas últimas décadas tenho-me perguntado, e muitas vezes ao volante, quando apanho uma música de Sting no rádio (só ouço rádio quando conduzo e só o ouço na rádio), qual a razão de tanto ter gostado dos Police quando era miúdo. Sim, a gente evolui, e deixa de gostar de coisas do antes, ainda que as acarinhe por saudades "dos tempos". Mas se hoje, vetusto, posso gostar de Bee Gees (o "disco" Bee Gees era, afinal, uma delícia) não tenho qualquer paciência para as "stinguices".

 

Mas agora mesmo apanho no youtube este concerto Police (de 1980 - o ano em que os vi no estádio do Restelo, um concerto que adorei, e que inclusive me teve efeitos sanitários). E percebo porque gostei e gosto de Police. Isto mesmo, sem os embrulhos que vieram depois .... a anunciarem o maldito multiculturalismo, new age avant la lettre, acho ...

 

publicado às 00:10


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