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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
O grande Gonçalo Mabunda, o escultor que é figura mesmo máxima das artes plásticas de Moçambique, homem já com vastas andanças internacionais e que fugiu à "arte étnica" que o seu contexto inicial poderia anunciar, expõe a partir de dia 5 na Galeria Bozart (em Lisboa). É caso para sublinhar, para além dos amantes de escultura, convém convidar os amantes de Moçambique que habitam na cidade. Pois Mabunda não lhes trará qualquer estereótipo, traz-lhes mesmo o seu mundo pessoal, radical. E afirmando, refractando, produzindo, um novo ser em Moçambique. Imprescindível.
Estou eu na esplanada, ali à Avenida de Berna, com um amigo, a protestar com a má exposição com que a Gulbenkian pontapeou o Filipe Branquinho e a Camila de Sousa, quando me aparecem o Branquinho e o Mabunda no meio da rua. "Parece Maputo", rimos logo. Umas cervejas e uns pastéis de bacalhau passaram e fiquei a saber desta exposição na Galeria Bozart. Lá estarei, e espero que a casa encha. Nesse dia (5ª feira, dia 5 de Julho, às 18 horas) e nos outros.
Até quinta ...
jpt
Não é uma má ideia. A inaguração de uma albergaria, no "cimento" de Maputo, é saudada por uma mostra de artes plásticas nacionais. Foi o Mauro Pinto o organizador. Os nomes são os dominates da sua geração. Dá para ir, espreitar o sítio, e ver se a mostra vale a pena - muitas destas mostras, que são recorrentes, têm sido feitas descuidadamente, tanto pelos organizadores como pelos próprios artistas que mandam algo, só para participarem. Então aqui fica a divulgação, para se ir espreitar. E opinar, que é o que mais falta sobre estas "coisas" ...
jpt
Terça-feira, 10 Maio, 18H30, abertura no "Franco" da exposição "Objectos Usados", do fotógrafo francês Pierre Mathieu, para a qual convocou os moçambicanos Gonçalo Mabunda e Kester. O texto do convite (legitimador) propõe esta atitude:
Como uma metáfora da nossa própria existência. Como uma testemunha da futilidade da possessão, as sucatas e descargas são um observatório privilegiado da nossa época. É lá que se juntam tudo o que contou para nós um dia e que hoje só tem valor pela sua capacidade de reciclagem. Através de pinturas, esculturas, fotografias ou instalações, a questão aqui é a relação do homem com o objecto. Tudo aqui, definitivamente, fala de nós, da nossa história. A grande e a pequena.
jpt
Hoje no Franco, às 20.30, espectáculo de Hortêncio Langa. Comemorando os seus 60 anos - o Hortêncio passou anteontem a sexagenário. Ontem inaugurou uma exposição individual no Museu Nacional de Arte (instituição que teve a gentileza de não convidar os amigos, do artista e do próprio Museu). Hoje às 18 h. na Núcleo de Arte agitação múltipla "Voltas em Mundo sem Revoltas" (escultura, pintura, fotografia, jazz, poesia, dança, um grupo de gente com Gonçalo Mabunda e Sininho Paco entre outros). Ontem no Franco a estreia de dois documentários sobre os artistas plásticos Noel Langa e Estevão Mucavele, uma produção conjunta do Escola Nacional de Artes Visuais e do Centro Cultural Franco-Moçambicano.
Muito bem conseguidos os dois filmes. O dedicado a Noel Langa transpirando o carinho que Noel merece e tem, um documento telúrico, centrado no mundo de que ele é artístico obreiro, o Bairro Indígena (Munhuana). O dedicado a Estevão Mucavele como documento mais problemático, utilizando a verve inconfundível do pintor como matéria-prima. Procurando a adesão mais rápida. Mas trazendo (e registando) a personagem única.
(Filmes a mim fazendo lembrar tempos muito antigos, no milénio passado. Quando alguém que então conheci propunha a uma estação televisiva estrangeira, aqui instalada, que produzisse este tipo de documentários-arquivo. Ao menos alguém se lembra de ir fazendo algo. Mas passou muito tempo - com as lentes desligadas).
jpt
O tempo passa. Amanhã no Museu Nacional de Arte acontece a inauguração da 4ª edição (bienal) da Exposição de Arte Contemporânea, agora já tradicional organização do MUVART (Movimento de Arte Contemporânea de Moçambique), movimento que é ele próprio o mais relevante acontecimento das artes plásticas que ocorreu no país na última década. Ainda não fui ver o que se preparou nesta "Rotura e Desconversão", darei eco a partir de amanhã.
Adenda: a nota informativa da organização
O Movimento de Arte Contemporânea de Moçambique – MUVART, uma associação de artistas contemporâneos de Moçambique e o TUNDURO – Festival Internacional de Artes, apresenta a exposição internacional de Arte Contemporânea no Museu Nacional de arte.
A exposição “Rotura e Desconversão” reúne 17 artistas de 6 países do programa do MUVART “Expo Arte Contemporânea Moçambique” existe há 6 anos, com carácter de uma bienal. Este evento, pretende sensibilizar, teorizar, e estimular a produção da arte contemporânea através da sua circulação dentro e fora do pais. É a IV edição e tem como objectivo, a troca de experiências entre os artistas participantes, a circulação das produções actuais, possibilitando deste modo o conhecimento, a informação e debate sobre a arte contemporânea.
Através do trabalho dos artistas aqui apresentados, a exposição da conhecer os contornos que a arte contemporânea está a tomar em Moçambique. Estes trabalhos estão virados para uma arte transnacional e dialogam com universos multiculturais. Os artistas têm vindo a abrir mão de opções estéticas, matrizes nacionalistas e narrativas sócio-político-cultural, escolhendo um percurso individual e subjectivo na produção das artes visuais. Estes mesmos artistas procuram e encontram seus pares em outras geografias de matriz cultural diferente.
De Moçambique estão presentes os artistas, Sónia Sultuane, Maimuna Adam, Gemuce e Marcos Muthewuye, membros do MUVART, que questionam a dinâmica da produção artística e a sua teorização em Moçambique. Os artistas Titos Mabota, Gonçalo Mabunda, Branquinho, Fornasini, Vinno Mussagi e Famós representam uma parte da produção artística que consideramos significativa no panorama actual da arte no país e internacionalmente. Do Brasil vêm as artistas Isa Bandeira e Vera de Albuquerque com a actividade artística na cidade de São Paulo, trabalham com diferentes suportes de arte. A artista Soledad Johansen do Chile, vive e trabalha na cidade de Maputo e desenvolve actualmente um projecto intitulado “Corpos Flexíveis”. O artista Fred Morim de Angola vive e trabalha na cidade Maputo e apresenta trabalhos no âmbito do projecto “Mundo 100 Valores”. Dos Estados Unidos da América estão presentes os artistas Evans Plummer e Mike Bancroft que trabalham num projecto onde questionam mecanismos e espaços de circulação da arte pública e de Portugal o artista Jorge Rocha com o projecto de “Culinária expansiva” que usa a Web como suporte da sua obra de arte.
jpt
Já foi há quinze dias, mas fica aqui o registo. A curiosa iniciativa "Karl Marx dezoito trinta quatro". Na prática Mabunda, o cada vez mais celebrizado escultor de armas recicladas e ferro-velho, transforma a sua casa em galeria e abre a porta para uma colectiva, uma óptima forma de "receber". Não foi a primeira vez. Na altura da primeira (Março 2009) escapara-me a iniciativa
que juntou três gerações: o próprio Mabunda, Mauro Pinto, Idasse e Reinata.
Desta vez Mabunda e Mauro Pinto repetiram e juntaram-se-lhes alguns outros artistas (ver convite). A casa cheia de obras, algumas muito recentes (fotografias frescas do Mauro - que tinha um quarto para ele - por exemplo) outras já conhecidas mas sempre a recordar (como a bela série de Berry Bickle). Estava pois a casa cheia e também de pessoas, que o sábado à tarde foi dia de KM 1834. Quem abrilhantou a cena foi o agrupamento "Sem Crítica", com música e declamações ("coisas" como eles dizem que fazem). Deixo três pobres fotos para memória, alguns deles tocando diante do Cristo de Mabunda (no chão) e ombreando com o fantástico Músico de Titos Mabota (abaixo em grande plano)
KM 1834 é uma bela onda. Não só por poder juntar as pessoas com as obras (e as pessoas com as pessoas, e as obras com as obras). Mas porque desinformaliza um meio que aqui tende, muitas vezes, ao pomposo. A repetir, espero. Assim para que fiquemos no meio dos estranhos mundos que nos propõem, assim pelo menos durante algum tempo saindo das nossas próprias estranhezas ...
jpt[Apontamento que ficou em "rascunho", pois esperava eu ter mais contacto com as obras referidas, algo que acabou por não acontecer devido ao rame-rame e à lufa-lufa]
[Mauro Pinto, "Lubumbashi" (fotografia retirada daqui)]
Em Junho passado realizou-se no Centro Franco-Moçambicano a exposição "Cruzamentos", onde se apresentavam os trabalhos de Gonçalo Mabunda - cuja obra tem vindo a ser reconhecida de tal modo que, em meu entender, exigirá uma reflexão sobre os caminhos que poderá percorrer -, de Pierre Mathieu - um interessantíssimo trabalho fotográfico - e o trabalho sobre Lubumbashi de Mauro Pinto. E é esta abordagem aos interiores e exteriores dessa cidade, em fotografias e instalação, que o Mauro Pinto produziu que convém lembrar, manter memória, como o momento da fotografia moçambicana neste ano. Belíssimo olhar, e não só esteticamente.