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O assunto do(s) dia(s) em Maputo é, como não pode deixar de ser, o projecto de alteração rodoviária, a "circular de Maputo" e a transformação radical da marginal, a icónica, identitária, famosa Costa do Sol. O projecto, chinês, está já em curso. Sobre o resto mais não digo, porque em relação a este assunto estou como a avestruz, aterrorizado e com a cabecinha bem dentro de buraco no chão, a "ver" se tudo passa e afinal não é nada.

Sobre o assunto deixo ligação  à Carta Aberta que algumas organizações da "sociedade civil" e algumas personalidades renomadas entenderam escrever, explicitando os motivos da sua preocupação. E deixo também o filme que anuncia o projecto, da autoria de uma companhia chinesa.

Assim como assim, parece-me que o Machado da Graça deverá reeditar este seu livro. Que ficará como memória de algo que já não será ...

Para mim isto ficará sempre como um extremo caso de paradoxo. Como posso eu, ateu convicto, ter uma "dor na alma"?

jpt

publicado às 15:00

Sebastião Alba

por jpt, em 15.03.10

Sobre Sebastião Alba uma excelente nota no Antologia do Esquecimento: "Quando Escreve Descalça-se à Entrada do Poema".

Nota: a propósito de Alba Leonel Auxiliar chama a atenção para este local que lhe é dedicado, com textos de Teresa Lima, José Craveirinha, Machado da Graça, Glória de Sant'Anna e do próprio poeta.

 

Adenda: não tem nada a ver mas no mesmo blog uma bela nota a propósito da paternidade - "Diálogos Sobre Estética".

jpt

publicado às 01:39

Ainda Guevara em África

por jpt, em 13.02.10

[Ernesto "Che" Guevara no Congo (não resisto a chamar a atenção para a encenação da fotografia)]

Na sequência de textos sobre os contactos entre Ernesto Guevara e a direcção da Frelimo, no âmbito das iniciativas que aquele dirigente do movimento comunista teve em África (ver 1, 2, 3 [e ainda esta referência]) João Cabrita deixou abaixo um comentário que, pelo seu interesse, aqui transcrevo:

1. Se bem que a definição apresentada por Machado da Graça sobre o conceito de “foco” esteja correcta, no caso do Congo tinha um outro sentido. Tratava-se da ideia enunciada por Che Guevara sobre a “criação de dois, três muitos Vietnames”. Os Estados Unidos já estavam no Vietname, e a ideia dos cubanos era criar um conflito de idênticas proporções em África, a partir do Congo, e também expandir o já existente em vários países da América Latina. No raciocínio cubano, isto atrairia os Estados Unidos a novas zonas de conflito, o que acabaria por debilitá-los.

Um eventual envolvimento da Frelimo no esquema cubano não significaria necessariamente que todo o exército da guerrilha moçambicana tivesse de ser transferido da Tanzânia e do interior de Mocambique para o Congo. Imagine-se o tremendo problema logísitico que não se criaria se todos os efectivos militares existentes (Frelimo, MPLA, ZAPU, ANC, etc.) optassem por essa via. Sob o ponto de vista estratégico era de todo o interesse manter acesos os conflitos em Moçambique, Angola, Rodésia, Namíbia e África do Sul, dispersando-se assim as forças contrárias.

2. Machado da Graça diz não ter ainda visto nada que o convencesse de que a ligação de Mondlane aos Estados Unidos era “institucional, com o governo americano, e não meramente afectiva com o país de origem da mulher e onde estudou”.

No meu estudo, que citei no artigo publicado no Zambeze, servi-me de documentação oficial do Departamento de Estado norte-americano, e de outra obtida na Biblioteca John F. Kennedy e na Biblioteca do Congresso (totalizando cerca de 400 páginas). Nela estão estampados de forma inequívoca os profundos laços existentes entre Mondlane e a Administração Kennedy. As ligações mantiveram-se mesmo durante a presidência de Lyndon Johnson.

Poderia mencionar, entre outros, os despachos trocados entre a embaixada americana em Dar es Salam e o Departamento de Estado, um deles, com a data de 29 de Junho de 1962, a transmitir um recado de Mondlane para Wayne Fredericks, adjunto do subsecretário de Estado para os assuntos africanos: Mondlane “necessita desesperadamente de fundos para consolidar a independência da Frelimo em relação ao Gana e aos países do bloco comunista”, dado que ele, Mondlane, “já despendeu todas as poupanças pessoais”.

Um outro exemplo, foi o financiamento concedido pela Fundação Ford para construção do Instituto Mocambicano (IM) em Dar-es-Salam, destinado a reforçar a periclitante posição de Mondlane face às correntes antagónicas que ele havia derrotado na corrida à presidência da Frelimo. As diligências começaram por ser feitas por Mondlane junto do ministro da justiça (Robert Kennedy) e terminaram no gabinete do ministro da defesa, Robert McNamara, que antes de ter integrado a Administração Kennedy havia sido director executivo da Corporação Ford. Cito de uma nota de Robert Kennedy para Mennen Williams, assistente do Secretário de Estado norte-americano, datada de 11 de Abril de 1963: “…Mondlane needs about 50 grand to keep the lid on his people and also stay on top. That seems to me a small investment.” No fim, o “investimento” da Fundação Ford orçou em $96,000.

E quem foi trabalhar para administração do IM foram pessoas como a Sra. Betty King, funcionária do African-American Institute em Dar-es-Salam. Parte do corpo docente do IM foi rectrutado pelo Corpo da Paz. É do domínio público que o African-American Institute é uma instituição do governo americano (tal como o Peace Corps) e que entre outras coisas publica o «Africa Report», revista que se distinguiu pela forma como promoveu a imagem de Mondlane. O articulista cubano da «Prensa Latina» não escrevia à toa.

3. Não creio que o socialismo advogado por Mondlane correspondesse ao stalinismo do regime de Machel. Posteriormente à experiência stalinista da Frelimo, Janete Mondlane declarou que o marido “não teria concordado com as decisões tomadas após a independência, muitas das quais associadas à violação da ideia do direito à liberdade individual”.

Relacionado com esta questão recupero um livro -mais do que recomendável para analisar tantas outras questões mais vastas:

[Amélia Souto, Caetano e o Ocaso do "Império". Administração e Guerra Colonial em Moçambique durante o Marcelismo (1968-1974), Afrontamento, 2007]

"Pouco depois da luta armada se ter iniciado, Che Guevara fez uma viagem de 3 meses a África (chegou em Dezembro de 1964 a Dar es Salaam) assinalando o interesse de Havana pela luta que se desenvolvia no continente, sobretudo no Zaire. Em Fevereiro de 1965, Guevara visitou os escritórios da Frelimo, onde teve um encontro com Eduardo Mondlane. Este encontro foi tempestuoso. Segundo Gleijeses [Piero Gleijeses, Conflicting Missions: Havana, Washington anda Africa, 1959-1976, Chapel Hill, Univ. South Carolina Press, 2002], Fidel Castro ainda recordava isso doze anos mais tarde, altura em que, num encontro com Erich Honecker, presidente da Alemanha Democrática, afirmou: "Os diferendos que nós tivemos com a Frelimo remontam ao tempo quando [...] Che Guevara se encontrou com Eduardo Mondlane. A irritação de Mondlane perante a insistência de Che Guevara de que a Frelimo devia enviar os seus guerrilheiros para serem treinados no Zaire conduziu a um choque pessoal entre ambos." Um outro aspecto que originou este choque relacionou-se com o exagero da Frelimo em relação às suas proezas militares (uma tentação que Fidel Castro evitou durante a guerra com Baptista) e perante as quais Che, que não era um bom diplomata, expressou o seu cepticismo, mas fê-lo de uma forma que ofendeu profundamente Mondlane. A conversa adquiriu um tom áspero que os dividiu.* Embora Cuba considerasse a Frelimo como um dos movimentos de guerrilha mais fortes de África, a quem desejava dar maior apoio, este primeiro encontro deixou marcas que nunca foram ultrapassadas totalmente durante a luta, tendo permanecido o mau sentimento gerado pelo encontro, "no qual o Che considerou Mondlane pouco digno de confiança, e Mondlane considerou Che irreverente e desrespeitoso". Apesar disso, Cuba ofereceu-se para enviar instrutores para os campos da Frelimo na Tanzânia, ou directamente para Moçambique, oferta essa que a Frelimo recusou por ser seu princípio enviar guerrilheiros para treino no exterior, em vários países, incluindo Cuba, sendo os chineses os únicos instrutores estrangeiros que a Frelimo permitiu na Tanzânia. Mas Cuba apoiou a Frelimo, não só treinando alguns dos seus quadros mas também fornecendo armamento, alimentação e uniformes.

*Esta versão é confirmado por Marcelino dos Santos que participou no encontro (era então Vice-Presidente da Frelimo) e que refere terem surgido pontos de vista diferentes relacionados com a preparação da guerra e o seu desenvolvimento." (pp. 209-210)

publicado às 23:26

A propósito das recentes entradas sobre os contactos de Ernesto Guevara (dito "Che") com a Frelimo Amélia Souto, que muito honra o ma-schamba com as suas visitas, enviou-me esta fotografia de uma reunião na Tanzânia do referido dirigente comunista com membros da direcção da Frelimo - onde se pode reconhecer Samora Machel.

Ainda a este propósito, e em directa ligação ao texto de João Cabrita abaixo reproduzido transcrevo uma mensagem que o Machado da Graça (once a blogger, always a blogger) me enviou.

"Estive agora a ler o texto do Cabrita sobre Mondlane e o Che. Ele põe as divergências entre os dois, como apresentadas pelo Helder Martins, como questões de lana caprina. Nomeadamente a questão do tipo de guerrilha a desenvolver. Ora eu creio que esta questão não era, de forma nenhuma, coisa sem importância. Era uma questão fundamental. O que não tira importância aos outros aspectos que o Cabrita levanta no seu artigo nem, de facto, os contradiz.

Mas qual era a divergência entre Mondlane e o Che? O Guevara aprendeu a fazer guerrilha em Cuba e, depois da vitória dos guerrilheiros, sistematizou a sua experiência num livro, que eu devo ter para aí em qualquer lado. Era a teoria do foco guerrilheiro. Segundo ele a guerrilha devia conseguir intalar-se numa parte da área a libertar e depois, a partir de lá, ir libertando o resto do território. No caso cubanbo o foco teria sido a Sierra Maestra. Depois disso ele procurou transferir esta teoria do foco para áreas muito maiores. Quando morreu, na Bolívia, a ideia era conquistar o poder naquele país e, a partir dele, exportar a revolução para os vários países vizinhos com quem a Bolívia tem fronteiras. Ora foi isso, também, o que veio propor em África. Aqui o foco seria no Congo e todos os movimentos de libertação deveriam apoiar os congoleses até conquistarem o poder naquele país e, depois, dele partiriam para a libertação dos vizinhos. Isso implicaria, se bem percebo, que a Frelimo deixasse de lutar em Moçambique e fosse reforçar o contingente no Congo. Só depois deste libertado se passaria para outros e, um dia, se chegaria a Moçambique.

E, ao que sei, foi a isto que Mondlane se opôs, defendendo que a luta da Frelimo era dentro de Moçambique, para libertar os moçambicanos, e não no Congo. Se houve tudo o mais que o Cabrita afirma, não sei, mas diria que uma coisa pode não contradizer a outra mas apenas complementarem-se.

[Entretanto] Muito se tem falado da ligação de Mondlane aos Estados Unidos, mas ainda não vi nada que me convencesse de que a ligação era institucional, com o governo americano, e não meramente afectiva com o país de origem da mulher e onde estudou. Mas um facto é que, no final da sua vida, ele declarou numa entrevista que a Frelimo estava cada vez mais socialista, um socialismo do tipo marxista-leninista. De qualquer forma, o artigo do Cabrita traz mais dados para a compreensão dessa época, o que é bom."

jpt

publicado às 09:11

A Marginal de Maputo em livro

por jpt, em 07.12.09

Machado Marginal

Ainda nada mais sei sobre este livro, apenas que está para chegar aos "postos de venda" (ou já lá estará?). "Marginal de Maputo. Uma Estrada com Vida", apetitoso contributo de Machado da Graça para a Maputografia, editado pela Promedia. Estrada (e litoral) sempre mutável, natural e socialmente fluindo, será interessante ver como Machado da Graça retratará esse processo histórico feito via rodoviária. E, já agora, deliciarmo-nos (será o caso? presumo que sim) com a iconografia seleccionada para mostrar tão bela e sofrida área da cidade.

jpt

publicado às 13:10

O Savana: um exemplar crucial

por jpt, em 01.08.08

O Savana tem um portal, ainda em fase experimental - como avisa Carlos Serra. Talvez por isso não carrega todo o conteúdo do semanário. Espero que o venha a fazer, pelo menos as colunas de opinião, até porque o semanário vive bastante dos seus colunistas. Saudável inovação (já aqui resmunguei contra a indiferença electrónica do jornal).

 

Mas esta referência liga-se ao último jornal (25 de Julho), um vero documento onde, para além da actualidade noticiosa que lhe faz títulos, habita um manancial de posições e temas cruciais, e que denotam o ambiente intelectual no país. Um exemplar para guardar, para revisão futura. (E por isso mesmo a merecer perenidade informática). Deixo um rápido apanhado, tamanho o meu fascínio na sua leitura:

 

1. A valorização da reportagem no panorama jornalístico moçambicano, dimensão rara (por vários motivos: de possibilidades económicas, de escola, de hierarquia de importância atribuída a temáticas e locutores). Através da republicação das belas peças de Fernando Lima (texto) e Naita Ussene (fotografia) que valeram ao primeiro ser premiado no Prémio Jornalista Africano 2008 CNN Multichoice.

 

2. Uma reflexão sobre o jornalismo em África. O relato que Lima faz - na sua coluna "Espinhos da Micaia" - (com a lisura de um agraciado) da cerimónia da entrega desses prémios, ocorrida no Gana, sob os auspícios de John Kufuor. Elucidativa da concepção politicamente dominante do estatuto (e da natureza?) atribuída aos jornalistas ... Pois na forma da cerimónia se demonstra que, sob o agraciamento, radica (ainda?) uma ríspida desvalorização, da actividade e dos seus agentes.

 

[E isso chama a atenção para as condições de exercício do jornalismo. Não se prendem apenas com as dimensões políticas referidas acima. O Mail & Guardian dedica um suplemento a estes prémios (sem ligação electrónica). Nele questiona anteriores premiados sobre o efeito dos prémios nas suas carreiras e as respostas ecoam um rol de novos projectos surgidos, de como o prémio é um trampolim - pessoal mas também colectivo. Bem diferente é o testemunho do jornalista moçambicano premiado em edição anterior, centrado na melhoria das suas condições de vida. Numa leitura imediatista é empobrecedor. Mas l(v)endo bem ali está uma tradução das difíceis condições (económicas) de exercício profissional, essas que o leitor apressado esquece aquando critica o produto que lê]

 

(voltando ao Savana).

 

3. Para uma leitura política da actualidade é ilustrador do meio intelectual moçambicano o quase diálogo entre os cronistas habituais. Por um lado Afonso dos Santos remata a sua "Lide Lídima" com "A fase actual do neocolonialismo é, por conseguinte, a fase historicamente necessária para o desenvolvimento da luta pela segunda independência", pensamento teleológico que continua estruturante, ainda que não tão explicitado. Na página ao lado, no "A Talho de Foice", Machado da Graça desmonta criticamente o discurso anti-marxista do secretário-geral da Frelimo, que reclamou a unicidade nacional sob a égide do partido - na prática ecoando uma ideologia de frente de libertação.

 

4. Um texto de crucial importância, a exigir continuidade, é o de David Aloni, "Toponímia e a questão ortográfica". Cheio de sub-texto, e não só porque em ultrapassagem de outras discussões ortográficas. Um ponto subjacente, e que é constante na análise da realidade moçambicana: o assunto é a grafia da língua nianja (cinyanja) e Aloni afirma a sua legitimidade em abordar o assunto dado que é originário (falante) e que não foi "corrompido" [meu termo] pois nunca foi assimilado. É claro que tudo isso lhe dará competências linguísticas de utente, mas o que é interessante é encontrar até num assunto aparentemente pacífico a reclamação de diferentes graus de legitimidade para opinar segundo critérios histórico-ideológicos. Um traço constante aqui.

 

É muito interessante assistir à sua crítica das formas "aportuguesadas" (acentuação, inutilização dos k, w, y, agas mudos, etc) da grafia da língua, que vão entrando em vigor. Não sou linguista, não sei da justificação para tais distinções. Sempre as vi como uma recusa do "português", nunca percebi porque se deve grafar com K e não com C, com W e não U ou V, com Y e não com I. Nunca entendi por que é que essas grafias são mais "fiéis".

 

Mas mais do que isso Aloni levanta duas questões: uma, imediata, a da fixação e divulgação normativa das línguas moçambicanas. Basta consultar diferentes documentos e textos académicos para encontrar diversas grafias, até para a própria denominação das línguas. Uma outra, a das modalidades do seu ensino alargado. E é uma pena que um texto destes, e suas preocupações, se esqueça no jornal da semana passada [para o portal, já!].

 

5. Finalmente, um texto longo de António Cabrita "Porque lêem menos e trabalham menos os africanos?", em diálogo com texto de Gustavo Mavie sobre a indolência moçambicana, já criticado no Nkhululeko. O texto é muito longo, até sinuoso, e resumi-lo é traí-lo. Cabrita encontra uma distinção entre a ética laboral europeia e africana no seio dos diversos exemplos assumidos (entre outros, Heidegger no norte, Mohammed Ali no sul). Não se restringe a isso, envereda por explicações de cariz antropológico muitissimo discutíveis, mas legítimas (aliás, com recurso a bibliografia sufragada), e por um conjunto de afirmações sobre a vida intelectual e educativa na Europa que me parecem forçadíssimas. Mas o interessante é enquadrá-lo no ambiente intelectual dominante. Pois o texto é radica num catolicismo histórico, nele encontramos  a dignidade, a competência, o caminho correcto como alcançáveis através da aceitação e perseguição dos bons exemplos, dos grandes vultos intelectuais. Da vida dos santos, como sempre pregou a Igreja Católica.

 

Enfim, justificado o agrado pela edição que resumo. A pacífica articulação, nada escatológica, destas teleologias. A presença do sub-texto constante. Um registo fascinante de um grupo de pensadores sobre um país (fascinante ele próprio, já agora).

 

Hoje, sexta-feira, é dia de Savana. Não vou perder ... Espero que mais um exemplar para o dossier.

publicado às 02:34

Concursos televisivos

por jpt, em 30.03.07
O sempre atento Machado da Graça publicou hoje no jornal Savana, incluída na sua coluna semanal "Sacana" (ja agora, recolhida e publicada sob esse mesmo título numa edição da Promedia de 2006) uma nota respeitante à actualidade portuguesa, e respectivos concursos televisivos. E, em extremos de simpatia, enviou-a para que aqui seja publicada, o que faco com deleite (ate recordando polémicas também entre-ambos havidas sobre t-shirts e afins).

(Sobre o assunto tambem coloquei aqui algo)

publicado às 12:23

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por jpt, em 30.03.07
new-image1A propósito deste concurso televisivo português (Os Grandes Portugueses) e ainda sobre alguns textos no bloguismo português que têm discutindo o conceito de "fascismo" - mas também lembrando grã-bloguistas lusos que associam o supra-liberalismo com o comunitarismo exaltado aquando das memórias sobre o Portugal imperial-colonial - esta t-shirt machadograciana fez-me lembrar    zizek1"No fascismo, a ideologia social organicista estetizada é a forma precisa adoptada por uma mobilização tecnológica inaudita da sociedade que vem subverter os laços "organicos" ... o que define o fascismo é antes uma combinação específica de corporativismo organicista com a aplicação de uma modernização implacavel. Para o dizermos por outras palavras ainda: em todo o verdadeiro fascismo, encontramos sempre elementos que nos fazem dizer "que não se trata ainda de um fascismo total", que existem ainda nele elementos contraditórios provenientes de tradições de esquerda ou do liberalismo; todavia, este afastamento, esta distância diante do fantasma do "puro" fascismo é o fascismo propriamente dito.(30)"... nada há de "fascista" (de "reaccionário", etc.) no "pensamento (latente) do sonho" da ideologia fascista (o desejo de comunidade autêntica e de solidariedade social, etc.); o que explica o carácter propriamente fascista da ideologia fascista é a maneira como este "pensamento (latente) de sonho" é transformado-elaborado pelo "trabalho de sonho" ideológico em texto ideológico explícito que persiste em legitimar as relações sociais de exploração e de dominação. ...Postulamos ... condenar a aspiração a uma vida de comunidade autêntica a pretexto de que seria "proto-fascista", denunciá-la como "fantasma totalitario", quer dizer, procurar as possíveis "raízes" do fascismo nessa aspiração precisa: (mas) o carácter utopico nao-ideológico de semelhante desejo deve ser plenamente reconhecido. O que o torna "ideológico" é a sua articulação, e a maneira como a aspiração em causa é instrumentalizada a fim de legitimar uma ideia muito específica daquilo que é a exploração capitalista (o resultado da influência dos judeus, da predominência do capital financeiro sobre o capital "produtivo", que favorece uma "parceria" harmoniosa com os trabalhadores ...) e da maneira de lhe por termo (fazendo desaparecer os judeus, como se sabe)." (29-30) (Slavoj Zizek, Elogio da Intolerância, Lisboa, Relógio d'Água, 2006. Tradução de Miguel Serras Pereira)

publicado às 03:06

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por jpt, em 06.08.06
Esta será das mais belas coisas que se pode fazer com o bloguismo. Machado da Graça (bloguista de que abaixo referi algumas outras facetas) e Sara Machado, também bloguista criaram o De Ílhavo a Oeiras Passando a Moçambique dedicado a seu pai e avô, Manuel Machado da Graça. Eis a apresentação:

"Manuel Machado da Graça foi homem de muitas artes e muitos ofícios. De jornalista a bombeiro, de ilusionista a escrivão de direito, de dramaturgo e actor/encenador a farmacêutico, de escultor a gravador em linóleo e outros materiais, de tudo fez um pouco. E normalmente fez bem feito.

Nasceu em Ílhavo, em 1908, estudou Medicina e acabou por ser formar em Farmácia, casou e teve um filho, veio para Moçambique, onde passou grande parte da sua vida, e regressou a Portugal, onde veio a falecer em 1981.

Publicou, ao longo da vida, muitos textos e gravuras em vários orgãos de informação. Tudo isso guardou, sob a forma de recortes, em sucessivos álbuns que foi intitulando de Esparsos. Já depois da sua morte foi publicada, em Maputo, uma pequena edição do seu livro "Falares de Ílhavo".

Não viveu já a época dos blogs, mas, conhecendo-o como o conhecíamos, pensamos que, se estivesse hoje vivo, gostaria de ter um. Por isso aqui estamos a fazê-lo nós, o filho João e a neta Sara."

publicado às 21:30

Livros de Machado da Graça

por jpt, em 31.07.06

Obras de Machado da Graça:



Machado da Graça (texto), Lurdes Faife (ilustração), Os Gémeos e os Ladrões de Tesouros, Maputo, Promédia, 2003



Machado da Graça (texto), Lurdes Faife (ilustração), Os Gémeos e a Feiticeira, Maputo, Promédia, 2005



Machado da Graça (texto), Lurdes Faife (ilustração), Os Gémeos e os Traficantes, Maputo, Promédia, 2003

Três volumes desta colecção "Os Gémeos" (bem lamento tê-la incompleta), com tiragens de 6000 exemplares, 5000 dos quais para distribuição gratuita nas escolas do norte do país. Apoiam este excelente projecto a CODE (cooperação canadiana), a NORAD (cooperação norueguesa) e a NOVIB (cooperação holandesa).

publicado às 17:44

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por jpt, em 25.04.06
Machado oficial (de dia) de Abril.

publicado às 16:30

as-caricaturas-no-savanaA série culmina aqui.

publicado às 11:46

Novo Blog Moçambicano

por jpt, em 17.01.05
É de propagandear! Surge hoje um novo blog moçambicano, coisa bem rara ainda: o Ideias Para Debate. O seu autor é Machado da Graça, amigo do JPT e colaborador/doador do Ma-Schamba aqui já várias vezes referido, louvado e agradecido.

O Ideias Para Debate quer-se local de debate (principalmente político) sobre Moçambique, algo que muito faz falta, e ainda para mais se e quando feito por gente de cá. Anuncia ainda ter porta aberta para participação alheia.

Apresenta-se, qual manifesto, com a publicação póstuma de "Testamento Político" de Leite de Vasconcelos, um texto com cerca de dez anos, polémico decerto, avassalador talvez. Uma visão explícita, profundamente ideológica, e sem pruridos dos tempos em que se fazia a paz aqui. E que ali se quer válido para o hoje. Um sonoro arranque.

Ao Machado da Graça, proponente deste moçambicano Ideias Para Debate, apresento-o de modo resumido. Cronista, hoje no semanário Savana e sei que também em jornal de fax (qual? Machado...), editor/proprietário da Promédia (cujas edições têm aqui vindo a ser referenciadas), editor do semanário sarcástico "Sacana" (incluso no Savana), homem de teatro, tradutor, premiado autor de literatura infantil (que a Carolina ainda não tem), ao que sei dado a bricolage, amante de BD. E decerto outras coisa mais, quem as souber denuncie sff.

Aqui deixo imagem daqueles dos seus livros que possuo, exceptuando a já aqui apresentada iconoclasta, deliciosa e rarissima edição de autor de "Lourenço Marques. Panoramas da Cidade. Vistos, em 1929, pelos fotógrafos ao serviço de Santos Rufino. Revistos, em 2001, por Machado da Graça". Exceptuando apenas para não misturar registos, pequena auto-censura não desvalorizadora que o autor decerto me perdoará:


A Talhe de Foice, Maputo, Associação Cultural da Casa Velha, 1994 (crónicas radiofónicas, inéditas, comunicações, 1980-1992)


Até Ficar Rouco, Maputo, Ndjira, 1996 (crónicas radiofónicas, jornalísticas, inéditas e textos avulsos, 1992-1993)


A Cidade dos Meus Amigos, Maputo, Promédia, 2003 (crónicas radiofónicas, 1996-1997)

Acho que estão criadas as condições para um belo e barulhento blog. Assim sendo, desejos de muitos e bons visitantes. E de muitas ideias e debates! Machado, um abraço.

publicado às 07:04

Machado da Graça enviou o seu "contraditório" (como agora se diz) às minhas opiniões muito pouco positivas sobre Ernesto Guevara, sublinhadas pela irritação face a tantas t-shirts e quejandas estampadas com o ícone.

Aqui o deixo, cumprindo a obrigação, que o Ma-Schamba é blog democrático, ainda que por vezes mal-disposto e azedo. E também porque corrompido por esses "os frescos anos" com que o Machado me brinda...


O Ernesto
Machado da Graça

12 Outubro 2004

Há dias, no teu blog, desancaste violentamente o Ernesto. Chamaste-lhe tudo, de sanguinário para diante. Li e resolvi deixar passar. Os teus frescos anos não dão para compreender o que ele significou para a minha geração.

Dias depois uma dessas recolhas de efemérides lembrou-me que fazia não sei quantos anos que ele disse a um soldado meio aterrorizado: “Coragem, dispara, vais matar um homem”. Coisa que o soldadito fez, disparando-lhe uma rajada de metralhadora para cima. Isto numa pequena escola, atrás do sol posto, na Bolívia.

A decisão de lhe dispararem aquela rajada parece ter sido tomada muito mais a norte, provavelmente num gabinete alcatifado na sede da CIA. E veio, pelos canais hierarquicos do costume: CIA – Generais no poder na Bolívia – militares nas montanhas.

Aparentemente havia quem o quisesse manter vivo para ser julgado, mas a CIA não foi nisso. O Ernesto vivo continuaria a ser sempre uma dor de cabeça.

Era o tempo da guerra do Vietnam. Centenas de milhares de soldados americanos andavam atascados até aos tomates nos arrozais a levar tiros que vinham não se sabia bem de onde. E voltavam à América, limpos e bem fardados, em bonitas caixas de madeira cobertas por uma bandeira. E como se gastou madeira para fazer essas caixas naqueles anos...

E o Ernesto queria fazer dois, três, muitos Vietnams. Queria espalhar Vietnams por todo o lado, para multiplicar as caixas cobertas de bandeiras.

Sanguinário, portanto? Sim, como todos os militares. E ele, desde a Sierra Maestra tinha passado a ser um militar. Subiu para lá como médico mas um dia, no meio de um combate, teve que escolher entre salvar o saco dos medicamentos ou uma caixa de munições. E escolheu salvar as munições. Foi uma opção que continuou até à morte.

Mas é preciso pensarmos que há dois principais tipos de militares: os que são militares porque a isso são obrigados (serviços militares obrigatórios e quejandos) e os que o são por escolha própria. E, nestes últimos, os que o são seja qual for a guerra e os que só o são se estiverem de acordo com a guerra a travar.

E o Ernesto, é claro, era destes últimos. Era ele quem escolhia a guerra. Não era apanhado, desprevenido, no meio dela.

Escolheu ir para Cuba quando ele, argentino viajante, conheceu o Fidel no México. Escolheu vir para África para tentar pôr em prática a Teoria do Foco no Congo. Escolheu ir para a Bolívia pela mesma razão, julgando que conseguiria comunicar melhor com os sul-americanos do que com os africanos.

Mas porquê essa vontade permanente de fazer a guerra?

Porque o Ernesto verificou, em Cuba, que uns tiros dados no momento certo podem mudar um país de bordel dos americanos para qualquer coisa de decente. E de bordeis identicos estavam a África e a América Latina cheias. E não eram coisas que se mudassem com boas palavras e agitar de raminhos de oliveira.

Em África não foi o objectivo que esteve errado. Foi o método. Muito provavelmente na Bolívia também.

Agora que os regimes da altura só sairiam à porrada veio a comprovar-se pelas inúmeras gravuras juntas. Não foi porque um achasse que era necessária a guerra e outro não que o Ernesto e o Mondlane discordaram. Foi porque um queria fazer o foco no Congo, ganhar o controlo do país e espalhar a revolução pelos vizinhos e o outro queria fazer a guerra apenas no seu país, onde era mais fácil mobilizar os combatentes para uma guerra que lhes daria frutos imediatos.
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De qualquer forma o Ernesto aparecia como o pequeno David que enfrentava, quase com as mãos nuas, o Golias americano, imponente e opressor.

Com as mãos nuas e limpas, porque podendo ter ficado no governo de Cuba a beneficiar das mordomias próprias dos cargos governamentais, preferiu voltar para o mato a arriscar o pêlo pelas coisas em que acreditava.

Por cima de tudo isso teve a sorte de ser fotogénico e ter encontrado fotógrafos que o imortalizaram (mesmo depois de morto, como bem notaste).

É por isto tudo que não concordo com a descrição que publicaste dele.

Talvez o Ernesto tivesse em si um pouco do D. Quichote, arremetendo, de Kalash em riste, contra os B 52.

Mas, que diabo, o D. Quichote continua a entusiasmar gente ao fim deste tempo todo.

E espero que o Ernesto também continue. Apesar de tudo continuo a achar que é preciso dizer aos jovens que devem lutar por aquilo em que acreditam em vez de fazer uma vida acomodadinha de discoteca e campo de futebol.

E o Ernesto continua a ser um modelo muito aceitável, na minha modesta opinião



publicado às 16:03

Um emigrante de sucesso (adenda)

por jpt, em 07.10.04

Enquanto fui e vim o Machado da Graça fez o favor de aqui vir e ao ler o meu Emigrante de Sucesso, velho texto onde comemorei a minha vitória no totobola, mandou-me um belo naco (ou posta, fosse ele bloguista como o deveria ser). Aqui o transcrevo (e se alguém se lembrar da totalidade da canção...):TeixeiraDepois de umas semanas fora voltei, fui à tua machamba e soube que te tinha calhado o Totobola. Provavelmente és novo demais para te lembrares de uma cantiga que contava uma história igual à tua. O que me lembro da letra era assim:Manuela, acertei no Totobolaagora sou um cartolade carteira recheada.Foi a lógicanão falhei um resultadoagora vou comprarum foguetão douradopara ir jogar na Luae acertar no resultado.Continuava por ali além até descobrir que tinham sido milhares a acertar e lhe cabiam apenas uns trocos. Como vês não estás só...Machado

publicado às 23:22


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