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Sobre Malangatana

por jpt, em 15.11.14

malangatana_21.jpg

José Paulo  Pinto Lobo é um leitor veterano e amigo do ma-schamba. Regularmente envia-me dádivas, que muito saboreio. Há pouco enviou-me esta, muito interessante. É um texto do escritor e jornalista João Reis sobre Malangatana, a propósito de uma exposição que o artista realizou em Macau. 

 

Aqui fica esta memória, o texto Malangatana em Macau: reflexos de uma exposição, publicado em Macau, em 1996 na Revista de Cultura.

 

publicado às 07:34

Sobre Malangatana

por jpt, em 24.09.14

 

 

A fotografia é de cerca de 2005, eu e Ídasse pegámos nas nossas filhas, então tão pequenas, e fomos no fim-de-semana a casa de Malangatana. Ele estava a fazer um mural, e lá trabalharam os dois enquanto as petizas calcorreavam a área e trepavam aos blocos.

 

Foi um belíssimo dia, a recordar com saudade. Por essa mesma lembrei-me que aquando da morte de Malangatana o Fundo para o Desenvolvimento Artístico e Cultural (FUNDAC) me pediu para escrever o texto que a instituição apresentou por ocasião do seu funeral. Para minha memória guardei-o aqui. É um texto de ocasião (e que ocasião!). Deixo-o como memória do mais-velho.

publicado às 21:21

Os murais de Malangatana

por jpt, em 01.08.12

Mais uma memória, e homenagem, a Malangatana. Uma recente publicação, que ainda não vi. Trata-se de uma brochura dedicada aos murais de que o pintor foi fazendo. Edição do Consulado-Geral de Portugal em Maputo, coordenada por Graça Gonçalves Pereira. Contém uma série de textos, cada um abordando um mural. Entre os autores desses textos (não sei se a lista é exaustiva) estão: Luís Bernardo Honwana, Eduardo White, Silvério Sitoe, Nelson Saúte, José Forjaz, Filimone Meigos, Calane da Silva.

jpt

publicado às 04:04

Malangatana

por jpt, em 05.06.11

Na Kulungwana esteve exposta : Malangatana Tatana Cultura, uma memória fotográfica do pintor, inaugurada aquando da realização do Festival Internacional de Música, também organizada por esta associação cultural, de cuja direcção Malangatana fez parte. Um breve foto-passeio pela sua vida, com momentos e retratos de Pancho Miranda Guedes, Ricardo Rangel, Jorge Almeida, Moira Forjaz, entre outros. Foi uma forma, para usar a expressão muito na moda, de "estarmos juntos" - o tempo vai passando mas a gente vai aos sítios e ainda está à espera de o ver chegar, personalidade única e personagem vibrante. Maputo está, ainda, de luto.

 

Por isso, e porque agora passa o dia do seu aniversário, o primeiro desde que morreu, aqui deixo três dessas fotografias. E reproduzo uma outra fotografia, uma curiosidade que descobri em velha revista, conciliando grandes figuras do contexto moçambicano. E deixo ainda um texto institucional ao qual tive acesso, escrito aquando da sua morte. (Recordo que pressionando as fotografias elas engrandecem).

 

["Durante os trabalhos da escultura da Mabor", Maputo, 1988. Fotografia de Jorge Almeida]

["Malangatana e a esposa na sua antiga residência em Tlavhana", Maputo, 1963. Fotografia do CDFF, autor desconhecido]

["No seu atelier no Bairro do Aeroporto", Maputo 2008. Fotografia de João Costa (Funcho)]

[Inauguração da exposição "Reencontro I": Naguib, Rodrigo Pombeiro, embaixador Francisco Knopfli, Malangatana, Maria da Luz, José Craverinha, Alberto Chissano]

[Fotografia relativa à inauguração da exposição "Reencontro 1": exposição de artistas portugueses residentes na África do Sul" (acima retratados Rodrigo Pombeiro e Maria da Luz), acontecida a 23.3.1990 na embaixada portuguesa. Publicada no Boletim Informativo dos Serviços Culturais da Embaixada de Portugal (Outuno 1990) - assim sendo serve esta memória também para lembrar o seu obreiro, o excelente José Soares Martins]

 

 

E o texto institucional, da altura da sua morte:

 

Malangatana

 

A partida de Malangatana é uma perda irreparável para a nação moçambicana, da qual foi apaixonado obreiro, incansável divulgador e também consistente símbolo. Muito em particular é uma perda para o mundo cultural nacional, esse que agora se curva, em dor, sofrendo a orfandade pois privado que ficou de uma figura maior e exemplar.

 

Sendo uma instituição vocacionada para a disseminação da actividade artística e para a preservação criativa dos patrimónios culturais o FUNDAC sabe que o seu desígnio enquanto instituição é decalcado daquele que foram os caminhos moldados, múltiplos e abrangentes, da carreira de Malangatana. É com essa consciência que entende que ficou desprovido de uma figura tutelar. Pois o Mestre, na sua constante generosidade de militante cultural, veio acompanhando e aconselhando de modo sempre produtivo o funcionamento do Fundo, através da sua sempre avisada participação no seu Conselho de Administração. Ele foi ainda o patrono do Prémio anual destinado aos artistas plásticos que se dedicam às modalidades de Desenho e Pintura, o qual leva o seu nome, modo pelo qual se entendeu transmitir às mais novas gerações artísticas o exemplo máximo, e que se deseja frutífero, do modo complexo, rico e vertical de ser artista, intelectual e cidadão. Esse que foi o modo de Mestre Malangatana.

 

De Malangatana disse um dia o seu Amigo Arquitecto Miranda Guedes ser um artista natural, um talento inato. Com efeito, bem sabemos que a arte de Malangatana se lhe impôs, qual torrente, algo proveniente do seu íntimo, fazendo transbordar logo desde o início da sua carreira um conjunto de referências estéticas que o Mestre intuiu. Nesse seu prodigioso apropriar de uma longa tradição exógena das artes pictóricas Malangatana reclamou o Moderno como património moçambicano, tornou a cultura local e os seus agentes como sujeitos do mundo. Actuais. Tão jovem ainda e possuído pelo talento, reclamou pela prática artística, a inevitabilidade de uma moçambicanidade. Livre, criadora, moderna. Recriadora de um mundo no qual não mais poderia ser vista como mero objecto. Refutando de modo decisivo a subordinação cultural e colonial que vigorava, sob a capa da acusação de “atraso” ou “inferioridade”.

 

Assim sendo na sua vertigem criadora, sorvendo e multiplicando as concepções estéticas com que veio a contactar, Malangatana anunciou o incontornável caminho nacional. E assim o fez na estética, na cultura, querendo-as o material do destino incontornável. Próprio, moçambicano. Livre.

 

É esta vulcânica apropriação do modo pictórico e das tradições e modelos modernos que, em retrospectiva, ainda nos espanta em Malangatana. Se esse caminho poderá ser visto como fruto de um génio individual há nele também um travo de heroísmo, de um rasgar de fronteiras, limites e categorias, que tanto nos espantam por terem sido obra de um homem apenas.

 

Mas nesse caminho, em que se foi sedimentando como Mestre, Malangatana soube trazer os seus. Antepassados e contemporâneos. A sua obra foi afirmando um estilo próprio, no qual o mundo real, visível e invisível, material e espiritual, foi convocado e apresentado. Por vezes até esconjurado. Décadas de sofrimento, de paixão e de felicidade, de convívio com falecidos, presentes e vindouros, surgem nas suas obras. Uma lição de humanidade nelas, mostrando que por difícil e doloroso que seja o caminho é ele um colectivo, no qual reina a esperança.

 

Essa esperança retratada que o homem Malangatana sempre arvorou como bandeira. Múltiplas bandeiras. Sempre disponível. Fiel à sua localidade, Matalana. Esperançoso e dadivoso ali. Mas fazendo de todo o Moçambique e até de todo o Mundo a sua Matalana. É assim que poderemos entender a sua apaixonada fidelidade à sua terra natal, à sua comunidade de origem. Raízes que lhe alimentaram a forma de ver e ser no mundo, de deste fazer a sua casa. Raízes que lhe fizeram a sua universalidade.

 

Malangatana do mundo, um artista universal pois alimentado localmente. Por isso mesmo desde o início da sua carreira e ao longo das décadas sempre foi procurado internacionalmente, sempre visto como o artista de Moçambique, sua bandeira, seu representante. Mas também seu criador, universalmente entendido, pois dono de uma linguagem e de um ser sem fronteiras. Mestre. Aberto e plural.

 

Assim, neste momento, o que nos compete é o compromisso de recusar o desnorte. Sabermos reconhecer um caminho percorrido por Mestre Malangatana. Esse de entender a cultura como múltiplas expressões, irrecusáveis. E de com elas sabermos aprender a dialogar. Criativa e livremente. Pois é esse o caminho possível da felicidade. Da liberdade. Malangatana deixou-nos isso. Saibamos aprender.

 

jpt

publicado às 19:11

~ 

(pressionando a imagem ela engrandece, deixando-se ler)

Neste domingo, amanhã à tarde, homenagem em no Centro Cultural de Matalana ao seu criador, o Malangatana. Aqui fica o panfleto de divulgação, que contém um importante - para neófitos - mapa de acesso, para além de breve historial.

jpt

publicado às 02:02

No âmbito do Festival de Internacional de Música de Maputo decorrem estas duas exposições fotográficas dedicadas a Malangatana, o qual será homenageado em Matalana no domingo. Uma, de conteúdo fotobiográfico, está na galeria Kulungwana (na estação dos CFM na Baixa), e a outra é sobre o monumento que ele edificou no Barreiro. Programa para o fim-de-semana, claro.jpt

publicado às 01:52

A Italiana de Malangatana

por jpt, em 08.04.11

Fruto de um desafio do grupo João Ferreira dos Santos este trabalho muito final de Malangatana, pintar um carro com objectivos de benemerência. O filme, um feixe de significados em cinco minutos para quem os quiser interpretar, tantos que se o objectivo fosse o de significar não conseguiria tanto, vale pelo Malangatana.

jpt

publicado às 02:15

Pancho Guedes por Alexandre Pomar

por jpt, em 06.04.11

[Malangatana]

 

"África, anos 50/60", de Alexandre Pomar, inserido no catálogo de "As Áfricas de Pancho Guedes". Um excelente texto, versando o advento do arquitecto e dos artistas moçambicanos (em particular Malangatana) que ele induziu. A ler.

jpt

publicado às 20:10

Blog dedicado a Malangatana

por jpt, em 01.02.11
Malangatana, fotografia de Almeida Matos

Memórias Sobre Malangatana é um blog que a Kulungwana acaba de criar, apelando à partilha dessas memórias. Iniciativa que pode ser interessante pois "cada um tem o seu Malangatana". Espero que haja quem queira participar, cada um deixando esse tal "seu Malangatana", as assim avivadas recordações da extraordinária personagem.

jpt

publicado às 12:24

Herois e o molde da nacao

por jpt, em 18.01.11

 

A morte de Malangatana despertou um dialogo nacional sobre a questao do heroismo. Antiga e recorrente questao esta, a da classificacao e recenseamento dos herois nacionais. Questao obvia, ligada a construcao da identidade nacional por via dos simbolos, e entre estes tambem (e com normalidade) os homens entretanto partidos. Mas ainda que recorrente a questao do heroismo nacional nao deixa de surpreender, tamanho o seu vigor. Logo que conhecida a morte de Malangatana tanto nos midia como nas conversas populares se instalou o debate (assim denotando a importancia da questao) da heroicidade do pintor, do seu destino final - deveria ser conduzido para a cripta (o Panteao Nacional) ou nao? Foi ele um heroi (com toda a dimensao de semi-divindade ou supra-humanidade que isto implica) ou nao? O que e necessario para ser heroi? Questao generalizada, na vox populi. No seio destas conversas escutei ate da existencia de uma comissao (onde trabalha um antigo aluno) oficial de reconhecimento e recenseamento dos herois, que incide a nivel provincial. Insisto, por mais que muitos queiram ironizar sobre o assunto, vejo isto (tanto como portugues - cheio de santos contestaveis - como, e fundamentalmente, como antropologo) como uma actividade simbolizadora, identitaria, tao recorrente que inironizavel. Mas muito discutida e discutivel, exactamente pela sua caracteristica. Tambem por isso me lembrei, e a proposito de outra coisa, do velho Tacito, esse romano que escreveu no final do sec. I e inicio de II. A ler, por todos. Mas, neste caso, fundamentalmente por quem se imagina num futuro mui distante, post-mortem:

 

Famous writers have recorded Rome’s early glories and disasters. The Augustan Age, too, had its distinguished historians. But then the rising tide of flattery exercised a deterrent efect. The reigns of Tiberius, Gaius, Claudius, and Nero were described during their lifetimes in ficticious terms, for fear of consequences; whereas the accounts written after their deaths were influenced by still raging animosities.”

 

[Tacitus, The Annals of Imperial Rome, Penguin Books, 1996 (1956). Tradução de Michael Grant (31)]

publicado às 09:30

Malangatana, de Matalana

por jpt, em 14.01.11

Cada um tem o seu Malangatana. Carismático, inquieto e sempre tão disponível para as pessoas o convívio com ele produzia um incessante manancial de episódios, histórias sedimentado a personagem que cada um de nós, interlocutores, foi construindo. Cativante, sempre.

Hoje, agora mesmo, decorre o funeral em Matalana. E neste entretanto selecciono isto, o que mais quero guardar do Malangatana. Há uns anos soubemos que ele estava a trabalhar por lá, a desenhar um mural na sua casa. Sem avisarmos eu e Idasse avançámos com as nossas filhas (como elas cresceram desde aquele então). A ambas o logo auto-proclamado "vovô" encantou

 

Um dia para as memórias. Delas.

publicado às 15:32

E o recente livro "Fábulas de Cabo Delgado" com imagens de Matias Ntundu, o célebre xilogravador de Cabo Delgado, acordou na estante este pequeno opúsculo que acompanhou uma exposição em Maputo, no longínquo 1982, do trabalho de Maya Zucher (a capa reproduz a sua xilogravura "Luz e Força"). Esta foi uma artista suíça que trabalhou em Moçambique sob os auspícios da Associação de Amizade Franco-Moçambicana desde 1979, tendo desenvolvido trabalhos de activismo cultural ( introdução e desenvolvimento de tapeçaria e xilogravura) em Cabo Delgado, Zambézia e Nampula. E foi nesse âmbito que se registou a iniciação da técnica da xilogravura nas cooperativas artísticas do Cabo Delgado - e é desse processo, bem como da sua articulação com a arte (então militante) da artista que o opúsculo trata. Conta com um texto introdutório de Eugénio de Lemos e Malangatana (muito provavelmente um dos iniciais textos comuns que viriam a tornar-se conhecidos sob o pseudónimo Rhandzarte) e com uma explanação da própria sobre o processo de ensino artístico, ligado à produção do "Homem Novo" - também por esse testemunho o texto surge hoje, na sua candura, como um documento interessantíssimo ainda que breve.

Mas para além disso traz-nos esta memória sobre o começo de uma prática artística que veio a tornar-se algo conhecida no país, em particular através da obra de Matias Ntundu e seus vizinhos artistas da aldeia de Nanbimba. Aqui deixo duas imagens particularmente significativas desse processo de transferência tecnológica, memória dos participantes e uma das primeiras xilogravuras moçambicanas.

"Os cooperativistas Leonardo Mário e José Tangawizi da Aldeia Comunal Nandimba, imprimindo as suas primeiras xilogravuras em Janeiro de 1982"

"A Terceira Xilogravura feita por Matias Ntundu Mzaanhoka - 1982"

jpt

publicado às 09:48

Arte Africana em Lisboa

por jpt, em 17.02.10
(por AL apressada)Do nosso leitor Nuno Salgueiro Lobo vem-me a informação que a galeria lisboeta Influx Contemporary exibe actualmente uma exposição colectiva de artistas Africanos contemporâneos, oriundos de diversos países, incluindo Angola e Mocambique.Pretende-se com esta exposição estimular um outro olhar sobre a Arte Africana:A maioria das pessoas ainda associa a expressão ‘arteafricana’ às formas ‘tradicionais’, a chamada (erradamente)de ‘arte primitiva’ ou tribal: objectos utilizados em cultos erituais ancestrais que encerram em si uma aura demisticismo e espiritualidade. ‘Arte africana’ normalmentesignifica ‘passado’.Mas, as coisas em África mudaram muito entretanto…Pelo que me foi dado ver no site da galeria, vale com certeza a pena dar um salto ao Lumiar.

publicado às 12:44

Malangatana em Évora

por jpt, em 02.02.10

Na galeria Kulungwana (na estação dos CFM) uma mostra colectiva organizada por Berry Bickle serve para assinalar o fim das férias, uma mescla heterogénea que bem merece a visita: Idasse, Shikhani, Sitoe, a própria Berry Bickle, Famós, Victor Sousa, Jorge Dias, Ulisses Oviedo e Malangatana. Gostei particularmente dos "rizomas" de Jorge Dias, um inteligente regresso às suas instalações, e da surpreendente (para ele excêntrica) obra de Sitoe.

Bem estava Malangatana, ali avisando que está de viagem até à Universidade de Évora, onde receberá o doutoramento honoris causa em meados deste mês. Apadrinhado por Marcelo Rebelo de Sousa, seu conhecimento bem antigo. Aqui fica a reprodução de um quadro dessa década

["Nu com Crucifixo", 1960]

Nota: Imagem reproduzida de Okwui Enwezor (org.), The Short Century. Independence and Liberation Movements in Africa, 1945-1994 (Prestel, 2001). Se pressionada aumenta, para melhor visibilidade.

publicado às 00:11

Malangatana na Kulungwana

por jpt, em 05.11.09

malanganta na kulungwana marcha

Amanhã, 6 de Novembro, a partir das 17 horas. Uma actividade na galeria Kulungwana (na estação de caminhos-de-ferro) com exposição fotográfica alusiva à "Marcha Mundial pela Paz e Não-Violência" e venda de serigrafias de Malangatana, relativas a esse evento.

jpt

publicado às 19:48


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