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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
É mera superstição matemática isto de acharmos que após determinado número de dias acaba qualquer coisa, um ano por exemplo, e que devemos fazer rescaldos do que se passou no último naco de tempo, para a este impor marcas. Também é certo que a vida sem estas coisas, superstições e marcações, teria menos piada. Por isso mesmo escolho a personalidade moçambicana do ano.
Certo que num ano tão complexo para o país muitos poderão olhar outros redutos do social. Para mim a personalidade pública que mais se destacou foi a Associação para o Desenvolvimento Cultural Kulungwana: constante no apoio privado (ainda que não economicista) às artes plásticas, com um painel cuidado de exposições e de colaborações; muito bem sucedida na realização do Xiquitse - temporada(s) de música clássica em Maputo, algo cada vez mais sedimentado, descentralizado e com público local. Mas mais do que tudo com a belíssima iniciativa, investimento, de participar na 6ª Feira de Arte de Joanesburgo, aí apresentando uma boa exposição, “TempoRealTime”, fotografias de Filipe Branquinho, Mario Macilau e Mauro Pinto. Belos trabalhos excelentemente apresentados, numa acurada curadoria de Berry Bickle. A mostrar um caminho cosmopolita, na realização e na produção, que urge nas artes moçambicanas. E, sem qualquer hesitação, no resto das actividades nacionais.
Por isso aqui fica a minha vénia à Kulungwana!
(obras de) Mauro Pinto
(obras de) Filipe Branquinho
Estiveram na recente Paris Photo. Uma escolha do galerista André Magnin (que juntou este belo cardápio de fotógrafos africanos - convém visitar, para não se ficar apenas centrado nos fotógrafos moçambicanos). Magnin dá uma interessant entrevista ""África é o futuro da fotografia" (em francês) - recordando a extrema modernidade de Ricardo Rangel e explicitando a relevância da escola moçambicana de fotografia. E, noutro âmbito, aflorando a emergência, lenta, de um mercado africano de arte.
Deixo um filme sobre o Filipe Branquinho, o Mauro já vai laureado, mais conhecido:
Não é uma má ideia. A inaguração de uma albergaria, no "cimento" de Maputo, é saudada por uma mostra de artes plásticas nacionais. Foi o Mauro Pinto o organizador. Os nomes são os dominates da sua geração. Dá para ir, espreitar o sítio, e ver se a mostra vale a pena - muitas destas mostras, que são recorrentes, têm sido feitas descuidadamente, tanto pelos organizadores como pelos próprios artistas que mandam algo, só para participarem. Então aqui fica a divulgação, para se ir espreitar. E opinar, que é o que mais falta sobre estas "coisas" ...
jptHoje, quinta-feira 17 de Março às 18:00 h., será apresentado na livraria Minerva Central o livro "Crónicas da minha Tia de África" (editora Turbina), um conjunto de textos de Elisa Santos que integra desenhos de Pinto e fotografias de Mauro Pinto. Elisa Santos é uma patrícia que aqui viveu alguns anos, estando agora em Angola (país de onde se deslocou para aqui apresentar o livro). Por cá desenvolveu intensa actividade no meio artístico (e dizem-me que foi a responsável anónima do Arte em Movimento, blog dedicado à actividade artística em Moçambique). Agora partilha, em registo de comunicação com um sobrinho, as suas experiências em África.
jpt[Fotografia de Mauro Pinto, copiada de Pontos de Convergência - Maputo/Luanda, inscritos na Galeria Virtual]
Obrigatório acompanhar o Buala. Cultura Contemporânea Africana, com coordenação de Marta Lança (edição geral) e Marta Mestre (edição da galeria). É o primeiro portal multidisciplinar em língua portuguesa de reflexão, crítica e documentação das culturas africanas contemporâneas. E está muito bem conseguido, excelente mesmo.
jptJá foi há quinze dias, mas fica aqui o registo. A curiosa iniciativa "Karl Marx dezoito trinta quatro". Na prática Mabunda, o cada vez mais celebrizado escultor de armas recicladas e ferro-velho, transforma a sua casa em galeria e abre a porta para uma colectiva, uma óptima forma de "receber". Não foi a primeira vez. Na altura da primeira (Março 2009) escapara-me a iniciativa
que juntou três gerações: o próprio Mabunda, Mauro Pinto, Idasse e Reinata.
Desta vez Mabunda e Mauro Pinto repetiram e juntaram-se-lhes alguns outros artistas (ver convite). A casa cheia de obras, algumas muito recentes (fotografias frescas do Mauro - que tinha um quarto para ele - por exemplo) outras já conhecidas mas sempre a recordar (como a bela série de Berry Bickle). Estava pois a casa cheia e também de pessoas, que o sábado à tarde foi dia de KM 1834. Quem abrilhantou a cena foi o agrupamento "Sem Crítica", com música e declamações ("coisas" como eles dizem que fazem). Deixo três pobres fotos para memória, alguns deles tocando diante do Cristo de Mabunda (no chão) e ombreando com o fantástico Músico de Titos Mabota (abaixo em grande plano)
KM 1834 é uma bela onda. Não só por poder juntar as pessoas com as obras (e as pessoas com as pessoas, e as obras com as obras). Mas porque desinformaliza um meio que aqui tende, muitas vezes, ao pomposo. A repetir, espero. Assim para que fiquemos no meio dos estranhos mundos que nos propõem, assim pelo menos durante algum tempo saindo das nossas próprias estranhezas ...
jpt[Apontamento que ficou em "rascunho", pois esperava eu ter mais contacto com as obras referidas, algo que acabou por não acontecer devido ao rame-rame e à lufa-lufa]
[Mauro Pinto, "Lubumbashi" (fotografia retirada daqui)]
Em Junho passado realizou-se no Centro Franco-Moçambicano a exposição "Cruzamentos", onde se apresentavam os trabalhos de Gonçalo Mabunda - cuja obra tem vindo a ser reconhecida de tal modo que, em meu entender, exigirá uma reflexão sobre os caminhos que poderá percorrer -, de Pierre Mathieu - um interessantíssimo trabalho fotográfico - e o trabalho sobre Lubumbashi de Mauro Pinto. E é esta abordagem aos interiores e exteriores dessa cidade, em fotografias e instalação, que o Mauro Pinto produziu que convém lembrar, manter memória, como o momento da fotografia moçambicana neste ano. Belíssimo olhar, e não só esteticamente.
Conheço-a agora, uma presumível colecção de livros de bolso com fotógrafos moçambicanos. Presumível colecção pois não sei se estão projectados novos títulos, para além destes três.
Boa edição francesa (Éditions de l'Oeil), textos em português e inglês, não deslustra quanto à impressão, bom papel, um preço muito acessível (60 mil meticais), um excelente cartão de visita dos autores. Belos objectos. A fazer esgotar.
[Ricardo Rangel Fotógrafo, Éditions de l'Oeil, 2004; texto de Calane da Silva]
[Mauro Pinto Fotógrafo, Éditions de l'Oeil, 2004; texto de Jean-Louis Mechali]
[Luís Basto Fotógrafo, Éditions de l'Oeil, 2004; texto de Berry Bickle e Luís Basto]
Publicações financiadas pelo Serviço de Cooperação e de Acção Cultural da Embaixada de França em Moçambique.
E sobre esta última matéria calo-me, que de retórica em retórica, de pompa em pompa, sempre me questiono do porquê patrício.