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Sobre as actuais manifestações em França, e o que as causa, não estou grandemente informado, nada li, vagas ideias de tv. Tenho a vaga ideia de um movimento social jovem, em defesa da segurança de emprego. Tenho a vaga ideia de um movimento social ecoando a mudança do privilégio europeu. Tenho a vaga ideia de que o privilégio europeu sofre o seu Milénio. Tenho a vaga ideia de que o privilégio europeu é um contrato social assente na exclusão dos excluídos europeus e no desapossar dos não eurocidentais. Tenho a vaga ideia de que as "massas" europeias (e suas elites político-sindicalistas e seus intelectuais orgânicos) nunca se preocuparam realmente com isso. Tenho a vaga ideia de que a minha solidariedade está alhures, com milhares de milhões de asiáticos, sul-americanos, africanos. Leste-europeus. E, já agora, excluídos eurocidentais. Tenho a vaga ideia de que estes já viveram décadas a mais de Milénio. Ou seja, tenho a nada vaga ideia de que a "esquerda" eurocidental é uma "massa" exploradora e reaccionária, defendendo, protegendo (até por via "proteccionista") os direitos de uma minoria burguesa. Enorme, mas minoria. Agora surpreendida com o facto das "causas fracturantes" serem, afinal, outras. Nada giras. E nada "pós-modernas". Pois o mundo da "ferrugem e do fato-macaco" (re)entrou-lhes em casa, operários e camponeses de todo o mundo unidos (e nada organicamente) a reclamar o direito ao trabalho e ao bocadinho de quinhão.

Mas tenho também a memória, nada vaga, de ter sido jovem trabalhador eventual, aqueles recibos-verdes. E os contratos a termo certo. Sem quase direitos. E tenho, ainda mais fresca, a realidade de ser trabalhador eventual. Dispensável. É assim a (minha) vida, e de tantos. E por mais que o vá pensando necessário, real, tenho assim a memória do difícil que é, do injusto que é, querer começar e patinar. Querer, já grisalho, ser livre e custar ("e se ...?") Da angústia que causa, das cãs, das úlceras. Dos dias de vida que se gozam menos. E tenho a total ideia de que ao indivíduo não pode ser assacado o todo dos males do mundo. Daí que, também por causa da minha biografia, não atiro pedras às reinvindicações francesas. Hesito intelectualmente? Acima de tudo hesito moralmente. Os direitos são inalienáveis? Talvez não. Mas não são desprezíveis. Nem benesses.

Isto tudo porque interpostas teclas amigas fizeram-me chegar, destinadas a bloganço, fotografias das manifestações. Em Paris, na Sorbonne, tiradas a 4 de Abril. Uma ecoando a solidariedade com movimentações de apoio a esta causa decorridas em Portugal, a "mundialização" (é em França) da contestação, algo até inusitado nos movimentos contestários "reais" do hoje-em-dia. Ei-la:

 

A outra fotografia é uma verdadeira delícia, uma maravilha. Cúmulo de uma etnografia de um movimento social:

[Fotografias de Michel Laban; Sorbonne, Paris, 4 de Abril de 2006]

publicado às 11:27


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