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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
(Fotografia de Miguel Valle de Figueiredo, exposta em Prevent'Art Lx44, Maio-Junho 2015)
Não é a primeira nem a segunda vez que o nosso MVF (Miguel Valle de Figueiredo) se junta em dueto com o Miguel Barros (o "nosso" MB), e ambos se expõem, em conversa de fotografia e pintura, que é também de junção de amizades. Daquelas veras, feitas de entranhas manas, sensibilidades aparentadas se se quiser ser fino. Diálogo. Agora instalaram-se, a evocar invocar uma Lisboa que vive dentro deles, conversa que decorre durante este mês nas paredes da galeria Movimento Arte Contemporânea (na Álvares Cabral, ao Largo do Rato, até 26 de Junho). O arrojo foi-lhes ao ponto de não apenas habitarem paredes a meias, polvilhando-as com as suas obras, mas de também juntarem alguns "coisas", dizendo-as dípticos, trabalhos conjuntos, nacos das suas lisboas em modalidade foto/pintura, e a gente, nós próprios, que lhes encontre o fio associativo se conseguir(mos) - e é assim mesmo. Assim fica-nos um momento que vem a três tempos: as fotos, as pinturas, as conjugações.
Nisto d'aqui-agora não venho avaliar ou aquilatar. Apenas assinalar (e, claro, num "vão ver"). Por lá estive, numa animadíssima inauguração, horas a fio (Lisboa ainda existe!). Durante a qual me deixei a entrelaçar, à minha maneira, o que os junta, os excertos e feixes que aqueles dois partilham. A espantar-me, devagar, como os tipos, tão longe um do outro (e tão diversos, para quem os conhece), dançam bem no diptiquismo assim enlaçando a cidade. Ao Miguel Barros conheci nos finais de XX, quando apareceu uma exposição dele em Maputo, ali excêntrica. Depois ele emigrou, Angola e Canadá - daí que esta sua Lisboa é uma "lisboa", a sua de longe, nacos e nichos, cores e linhas (horizontes) lembradas, talvez sonhadas, retrato dele próprio, acariciando (lambuzando, diria, se não parecesse mal) este lisboeta também ex (e espera-se que futuro) emigrante, décadas a assomarem-me estes feixes da cidade amada mas sem os saber expressar assim.
Mas pior mesmo ao visitante, "olhador" incauto e plácido, as fotos do MVF, esse que acompanho há 30 anos. Um olhar aqui cruel, avisando-nos ser apenas horizonte o que pensamos real porque julgando-o "ali/aqui mesmo". Desvendando, em meros clichés, o que alguns poderão pensar apenas esconsa realidade. Há algum tempo aqui mesmo disse que ele desvendara a Ilha de Moçambique como nunca a conseguira encontrar (está aqui), e apenas passara ele por lá durante uma semana, lente bistúrica nas mãos.
Agora, olhando a sua terra, a sua cidade, olhando-me e aos outros, bota, entre tantas outras, esta abissal fotografia - esta que ilustra o postal. Nunca vira, nunca lera, o teu país (ó MVF), o meu país, tão expresso. Um tipo sai dali, da galeria, arrasado. E por isso o depois ...
Um abraço a ambos. Mas sem obrigado para ti, ó MVF. Pois a gente tem direito às ilusões. E tu as destróis, malvado.
Fica o aviso. Para os que tenham coragem - vão até lá.