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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
À atenção de Maria João Pires
Querida Senhora, era mais isto que tinha em mente ... Pedia-lhe a fineza e a caridade de mostrar aos seus amigos e a muitos dos seus colegas, o filmezinho com a interpretação do amigo Emil Gilels da modesta peça que compus para piano de barba rija.
Um seu criado,
W.A. Mozart
A necessidade das famílias burguesotas transformarem as suas filhas em meninas prendadas de subida alma artística - sacrificando para tanto, vários indefesos pianos com grande contentamento de comerciantes e afinadores do instrumento, bem como a pobre vizinhança que deste projecto não tinha qualquer responsabilidade... - deu cabo de alguns compositores. Enfim, as primeiras décadas do Séc. XX foram penosas e deram cabo, por exemplo, de Mozart, amaneirando-o, adocicando-o e, também por isso (ou basicamente por isso?) tornando o génio num compositor popular. O homem merecia lugar de destaque sem precisar dos dedos das pouco talentosas criaturas. Sei disto pelo que me contaram tias velhotas, não exactamente neste termos, e porque ouvi alguns exemplares sobrevivos (que não tias, note-se!) em hesitantes interpretações e algumas herdeiras recentes dessa "tradição" - uma delas, um fio de esparguete míope, destítuido de pinga de noção musical que seja, inferniza-me a existência com inacabadas Marchas Turcas e inevitáveis Pour Elises, obrigada pelo progenitor que quer forçar a natureza da criança... Pior mesmo que assassinar Mozart, Beethoven e outros, só as tremendas escalas e os exercícios do velho Czerny. O que deu? Deu que gerações de pianistas, alguns internacionalmente reconhecidos e galardoados foram na coisa e, hélas, rebentaram com o austríaco. Felizmente houve gajos a sério que tocarem as obras do Wolfgang como o deviam ter sido sempre: com rigor e respeito. Um deles, um russo-soviético do caraças, gravou algumas peças para que Mozart esteja descansado lá onde foi parar. Aqui fica Emil Gillels em duas interpretações exemplares. E depois digam que sou eu que sou bera...
Claudio Abbado morreu hoje aos 80 anos. Morreu um enorme maestro que não precisou nunca ter "mau-feitio" para afinar as suas orquestras. Os epitáfios ma-schambeiros por frequentes que se estão a tornar, querem-se curtos. Assim e por isso, no caso de Claudio Abado, não será a última vez que dele se falará, até porque o homem nascido em Milão conta como pontos (eventualmente) mais altos no seu percurso musical a direcção do milanês Scala, da London Symphony Orchestra, da Vienna State Opera e da Berlin Philarmonica e no youtube há muito material que pode e deve ser divulgado. Abbado, tem uma das mais sofisticadas leituras do reportório sinfónico clássico ao mesmo tempo que se debruçou, felizmente para a grande Música, sobre obras de Berio, Boulez, Schnitkke e Stockhausen, a moderna música clássica, se me desculpam o disparate. Fica a memória de um importante contributo, de uma obra excepcional através da Sinfonia Inacabada nesta vida que se acabou.
Passam hoje 222 anos sobre a morte do genial W.A. Mozart. Como na morte não há criatividade, aqui fica in memoriam, o seu próprio requiem.
Quem viu "Barry Lyndon" talvez se lembre disto que Schubert compôs e que Stanley Kubrick aproveitou para a banda sonora do filme estreado em 1975 - passou em Lisboa na então moderna sala do Apolo70 e durante a projecção foi mais namorar do que tomar atenção à fita. Um olho no Barry, outro na cigana... No entanto e apesar da minha distracção, a Fotografia de "Barry Lyndon" a cargo de John Alcott - que usou sempre iluminação natural - teve grande sucesso e bem merecido. Tanto que ganhou o Oscar para "Melhor Fotografia". A Academia, com receio que o pequeno boneco de 35cm de altura se sentisse sózinho, garantiu-lhe a companhia de mais 3 estatuetas: "Melhor Banda Sonora" e daí a escolha do 2º andamento (Andante com moto) do Trio Op.100 de Franz Schubert para abrilhantar o vosso serão no ma-schamba, "Melhor Direcção Artística" e"Melhor Guarda-Roupa". Sendo quatro, sempre podiam jogar à Sueca...
Siga a música que de palheta estão vosselências fartas.
O bom e velho Leonardo da Vinci, entre outras habilidades com que se foi entretendo e com elas espantando, engendrou um instrumento musical extraordinário: a viola organista!... Quinhentos anos depois de desenhado, um concertista polaco de nome fácil de ler e ainda mais simples de pronunciar, Slawomir Zubrzycki, deitou mãos à obra antes de as deitar ao teclado, e transformou o plano do Mestre dos Mestres, num mecanismo que funciona. A geringonça é uma mistura de viola de gamba (ancestral do violoncelo e assim chamada porque se colocava entre pernas para ser tocada e, como todos sabemos, perna em italiano diz-se gamba...), um cravo e um orgão mas com a aparência de um piano de cauda. Se fosse eu chamava-lhe um pianoncelo... Certo é que o paciente e capaz Slawomir mostrou a coisa, salvo seja, pela primeira vez em Outubro de 2013 em Cracóvia. Genial e o adjectivo é curto.
Martha e Nelson dividem tarefas e na 20ª edição de Monoteísmos, 20 dedos num dueto provado. Schubert emprestou a pauta e dois parecem um.