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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Lia hoje blogs avulsos e deparo-me com um em que a autora, menina que adivinho relativamente nova, botava a sua opinião sobre o caso Rice transbordando depois para a violência doméstica em geral. Não vou fazer particular menção ao texto que não merece leitura, mas incomodou-me que alinhasse na posição tão comum do “mas porque é que elas ficam?”. Incomoda-me este alinhamento, venha ele de onde vier, pelo ónus que põe na vítima, pelo sub-entendido do “ela até gosta”. Infelizmente, esta popular interpretação dos factos criou uma tal onda de culpabilização da mulher de Rice (a Fox chegou a comentar que ela deveria ter usado as escadas...) que dois grupos de mulheres vítimas de abusos domésticos iniciaram duas correntes no Tweet chamadas respectivamente WhyIStayed e WhyILeft. Infelizmente ambas as correntes estão agora um pouco “poluídas” pelos comentos que acabam por diluir as mensagens das mulheres, mas vale a pena visitá-las.
AL
Toca-me a mim, toca-lhe a si, toca-nos a todos. Vamos partilhar?
Acordo com o som de uma mensagem a entrar no telemóvel pelas 6h45 do dia 7 de Abril de 2010.
O dia já amanheceu, o ar está húmido, quente, o céu nublado. Prevê-se que a forte chuvada da noite anterior continue a fazer-se sentir em Maputo.
Hoje comemora-se o Dia da Mulher Moçambicana e a mensagem no meu telemóvel diz que tenho de estar pronta às 8h00 para ser transportada para a Cadeia Feminina de Ndlavela, situada nos arredores da cidade.
Devolvo a mensagem e combino o transporte. Avisam-me que vai ser uma aventura uma vez que as chuvas da noite anterior inundaram as estradas de terra batida que dão acesso ao estabelecimento prisional, que não sabem se vamos conseguir passar sem um todo-o-terreno e que H. me irá buscar à porta de casa.
Às 8h03 H. está à minha espera juntamente com A. Não os conheço, mas a conversa flui divertida e sem formalismos. Antes de entrar na EN2 rumo à Matola, passamos pelo bairro de Mafalala, pelo mercado de Xipamanine e paramos junto a uma zona fabril, onde um veículo protocolar se junta à nossa pequena comitiva.
Seguimos para ao bairro de Ndlavela, no município da Matola. A viagem assemelhou-se à 'travessia do Rio Zambeze‘ e ainda hoje não consigo compreender como é que o automóvel onde me encontrava conseguiu passar as poças com três metros de diâmetro e meio metro de profundidade que circundavam a única estrada de possível acesso à cadeia. Observei a construção das casas em tijolo de cimento delimitadas por organizadas sebes de caniço, as pessoas que circulavam por todo o lado, as 'barracas de caniço' que abriam as portas aos primeiros clientes, os caminhos impraticáveis, os risos e os olhares incrédulos perante a nossa passagem. De repente, no meio do bairro, abriram-se os enormes portões da Cadeia Feminina de Ndlavela.
Depois de algumas formalidades de entrada, dirigimo-nos ao recinto onde iriam decorrer as comemorações. Lucrécia Paco encontrava-se a ultimar a montagem do espaço cénico onde iria decorrer o espectáculo e dava indicações aos técnicos municipais contratados para o efeito. De imediato agradeci-lhe o facto de ter conseguido transporte para que fosse possível assistir ao seu espectáculo em dia tão especial.
'Mulher Asfalto' estava a algumas horas de se apresentar às reclusas da cadeia de Ndlavela no Dia da Mulher Moçambicana. Preparámo-nos para ouvir os discursos oficiais sobre a efeméride e assistir a um jogo de futebol feminino.
Distraída com os gritos de incentivo das claques, constituídas maioritariamente por familiares e funcionários, lembro-me de ter pensado nos fundamentos ideológicos que levaram a nação moçambicana pós-independência a consagrar um dia feriado à mulher moçambicana. A ocasião comemora também o dia da morte de Josina Machel que, no final dos anos 1960, se juntou à luta armada da FRELIMO pela independência de Moçambique.
Se o discurso oficial do governo moçambicano vai no sentido de se pensar paritariamente o lugar da mulher na sociedade moçambicana, por outro lado, essa paridade não é sentida na vivência quotidiana.
São justamente as sistemáticas situações de exclusão, nomeadamente pelo género, que os agentes culturais consideram importante denunciar.
'Mulher Asfalto' com encenação e interpretação de Lucrécia Paco é a perfeita ilustração dessa atitude.
(excerto da tese 'Moçambique em Cena: Nação, Género e Modenidade no Teatro (Maputo 1992-2010)" de Vera Azevedo; foto da actriz Lucrécia Paco no espectáculo "Mulher Asfalto" versão de 2014)
VA
Portugal vive um período assaz feliz desfrutando por estes tempos de uma harmoniosa conjunção entre a meteorologia e a política. A primeira embala-nos em magníficos dias ensolarados, convidando ao convívio com os relaxantes sons do marear. A segunda vê-se assim compelida a prolongar a tradicional pachorrenta época estúpida da nacional política de verão. Perfeita conjunção em harmonia. E eu deleito-me neste embalo de comadres desavindas, uma chamando " péssima moça de recados" à outra, esta comparando-a a um filósofo felizmente recentemente desaparecido, a primeira ripostando que lhe vai dar uma sova, a segunda que a primeira deve mais por cabeça do que ela. É pena que isto vá acabar já nesta semana, o tempo esfria a partir de quinta, volta ao normal, dizem os especialistas, e a telenovela termina no domingo, com a renovação do contracto, de ambas. É pena, porque depois só restam as picardias entre o jorge jesus e o vitor pereira, e essas em comparação parecem episódios de uma telenovela mexicana, dobrada em português-brasileiro. Se ao menos o vilas-boas ainda andasse por cá. Será que o burton não aproveitava isto e fazia uma bela película? Eu mantinha o coelho, mas já agora contractava uma alice nacional, esta, por exemplo.
Se calhar o melhor é mesmo levar-me mais a sério e ir pagar os meus 17.000 euros que o PP diz que cada um de nós deve, no continente, como diz o outro. Pior estão os insulares, que devem 24.000 cada um, por cabeça, como dizem os economistas. Com um bocadinho de sorte, ainda me encontro nas finanças com a alice.
FF
Porque ocupada profissionalmente e porque, num Portugal “em crise”, teimo em viver como cidadã activa onde as emoções fluem contra todas as vicissitudes, deixo-vos o mestre Molière. (rapaz antigo, por sinal - Paris, 15 de Janeiro de 1622/ 17 de Fevereiro de 1673)"O amor é um mestre admirável que nos ensina a ser o que nunca fomos; e, muitas vezes, com as suas lições, muda completamente, num instante, os nossos costumes."Molière
VA