Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Brasil-2014, o meu rescaldo

por jpt, em 15.07.14

 

O Brasil-2014 valeu por três coisas, uma global e futebolística, duas outras nacionais (portuguesas), de ordem intelectual uma, futebolística outra.

 

 

1. O mundial valeu por este monumental golo de Van Persie, no épico jogo contra a Espanha. Simbolizando a equipa mais divertida do campeonato. O resto, aqueles imensos jogos, entre alguma simpatia mais ou menos acinzentada (a Argélia, a Costa Rica, o Chile) e o aborrecimento. Para sempre ficará também o affaire Mineirazo, mas isso não é do departamento futebol, mas sim da escatologia.

 

 

2. A comprovação que a opinião "comentatória" sobre o futebol (jornalística e popular) vale tanto como a sobre outros assuntos - e também por aí o estado do país. Numa fidelidade radical ao a posteriori (derivação do célebre "prognósticos só depois do jogo"), vale tanto como a areia do deserto (poderá servir para a construção mas tanto vale uma como outra qualquer). Os hinos (ou mesmo resmungos) à excelência alemã incapacitam-se de ver o que fez a equipa: sete jogos, dois  muito mauzinhos, com resultados que até podiam ter sido outros, diante de equipas frágeis (Argélia e Gana, esta em convulsão desordenadora); dois jogos fraquinhos (Portugal, um mero treino em que ganharam por falta de comparência; EUA, um q.b. mediano a contento de ambos). Um bom jogo de futebol (com a França), mas sem nada de excepcional. Uma hipérbole, épica e irrepetível, acaso óbvio (o Brasil). E uma final onde podiam ter levado dois ou três, para além do penalti escamoteado ao oponente.

 

Boa equipa, belíssimos jogadores. Mas daí a este coro de elogios? Apenas o primado da opinião confirmatória.

 

 

 

3. Um punhado de futebolistas que jogam em Portugal destacaram-se: Alireza Haghighi, Rojo, Slimani, Haliche, Garay, Perez. Mas duas das três ou quatro figuras do mundial foram James Rodriguez e Herrera. Por mais que custe reconhecer continua a haver gente no F. C. Porto que sabe escolher jogadores. Ou, de outra forma, que não tem apenas opiniões a posteriori - como tantos treinadores de "ecrã" ou "sofá". Treinadores da bola e de tanta outra coisa.

publicado às 11:41

 

Eis seis boas razões para a FIFíA escolher Messi como o melhor jogador do Campeonato do Mundo de Futebol 2014. Se estas não chegam, havia ainda as exibições do holandês Robben.

 
 

 

 

publicado às 12:10
modificado por jpt a 8/11/15 às 20:54

 

Postal com base na temática da imagem acima:

 

 

 

Final do Mundial-2014, uma pantomina: juiz-de-linha defronte, sem nada nem ninguém a incomodar-lhe a visão. Idem para o árbitro. Uma grande penalidade óbvia, sem qualquer discussão, com o avançado Higuain abalroado (pontapeado) dentro da área pelo guarda-redes. E o árbitro, percebendo bem isso, arranja a inversão da infracção para justificar o aldrabismo.

 

Uma pantomina outra, menor, com os recursos do erário público português: o serviço público RTP comprou, a "bom preço" decerto e sob estranha justificação, as transmissões do campeonato mundial, assim prejudicando as outras estações televisivas. Os seus jornalistas acompanharam-se de uma vasta série de comentadores contratados (ex-jogadores, técnicos). No final dos comentários à final "auto-declararam-se", sem qualquer pejo, "a melhor equipa de comentadores de sempre". Nem um desses catedráticos da bola aflorou este assunto. Estas imagens nem foram para o resumo que prepararam. Os constrangimentos auto-infligidos dos que falam da bola.

 

Declaração de interesses: fiel amante do valente ribatejano Major James Eduardo de Cook e Alvega não consigo gostar nem da Alemanha nem dos alemães. Respeito sim, interesse sim, desejo "humanista" na sua felicidade sim. Prazer na sua alegria, nunca! E assim custa-me o dobro ver este esbulho da merecida felicidade argentina.

 

publicado às 07:14

 

 

                                      Estádio do Mineirão no início das obras de renovação

                                      ©miguel valle de figueiredo

 

Sobre a blitzkrieg (guerra-relâmpago) que foi o Brasil-Alemanha ontem no renovado Estádio do Mineirão em Belo Horizonte pouco se pode dizer. mas das equipas, rendimento e consistência é outra conversa.

Aos 29 minutos o jogo acabou quando Semi Khedira espetou o 5º balázio nas redes do desgraçado Julio César. O resto foi um jogo-treino porque o alemão tem uma partida importante pela frente, aquela para que se preparou e quer, justamente, ganhar: a final do Campeonato do Mundo de Futebol.

Confesso a dificuldade para transferir afectos para selecções de futebol que não sejam a minha, a ex-Equipa de Todos Nós, e apreciá-las por prismas outros que não os desportivos, os futebolísticos, e, portanto, interessa-me o jogo em si mesmo e a forma como cada equipa o encara e o pratica. O  alemão como habitualmente, leva a coisa com rigor, seriedade, sem lágrimas ou tremores rotulianos, enquanto o Brasil entrou neste torneio com uma imensa soberba, uma confiança ( em Futebol diz-se fé...) e uma arrogância que não encontravam tradução nas exibições dos amigáveis de preparação para o certame  e, pior ainda, as prestações pálidas nos jogos já "a doer" como aconteceu contra os Camarões, um bando zombie de calções e chuteiras, contra a Croácia penalizada por uma grande penalidade inventada ou contra o Chile, num desafio em que só a barra safou a degola da  "canarinha" no último lance do prolongamento e que permitiu ao Brasil safar-se no electrocardiograma dos "pénaltis" ganhando por 3 a 2 para fazer. finalmente, uma razoável 1ª parte no embate com a Colômbia para acabar a pedir ajuda divina à la David Luiz e protecção à santíssima Nossa Senhora do Caravaggio da devoção de Felipão e ao árbitro que acabasse com aquilo.

Scolari contratou para depois do teste com o Chile uma psicóloga, de sua graça Regina Brandão, supostamente para repôr os níves de confiança nos jogadores. Talvez (re)pensar a táctica e a escolha dos titulares fosse mais eficaz, mas no futebol nunca se sabe porque o futebol é assim. O certo é que o divã freudiano não funcionou...

 

 

Felipão pode ser um belíssimo motivador, angariador de apoio popular ou publicitário, mas não é, nunca foi, um grande treinador, um mestre da táctica, um gajo a que se possam atribuir golpes de asa. Mostrou-o em 2002 no Coreia/ Japão quando o Brasil conseguiu o penta com uma  equipa jogava manhoso, durinho, com crença mas e sobretudo tinha os 3 R's (Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho) que com reconhecido talento disfarçavam a debilidade táctica de Scolari e chegaram para as encomendas levando a taça para casa. Paulo Bento padece dos mesmos males, confunde os seus eleitos com os melhores e em melhor forma a cada tempo, pensa, confundindo, que teimosia e persistência são a mesma coisa e daí a relutância, melhor, a incapacidade para fazer alterações durante o jogo quando tão óbvias quanto necessárias que até eu as percebo, e nutre a mesma aversão pelo virtuosismo, esquecendo um e outro que se este, o qual não não valorizam por nunca o terem compreendido não comparecer, as suas orientações tácticas arriscam a derrota sem apelo nem agravo, embrulhadas numa manta patchwork de enxovalho, vergonha, humilhação. Esperam sempre que apesar deles a sorte do jogo lhes caia no regaço e que alguém resolva com um golito a questão. Pode ser que se um dia, já reformados virem um jogo pela televisão, cheguem à conclusão que há uns gajos que só precisam que não lhes tolham os movimentos, que os deixem jogar como naturalmente sabem, mas isto é pedir muito. Disse no pós-guerra de ontem o pouco utilizado defesa Daniel Alves aquilo que Scolaris e Bentos deviam perceber: 

 

"Precisamos evoluir. O futebol está evoluindo no mundo todo. Somos o país do futebol mas não somos os donos do futebol"

 

                David Luiz, imagem de um capitão

 

Tem razão Alves e basta olhar para a Costa Rica, a Colômbia, o Chile ( para referir somente países cujo nome começa por cê...) ou até os Estados Unidos e, por mais que muitos não queiram, a rigorosa e temível Alemanha com a coesão que faz as grandes equipas, uma forte mentalidade individual e carácter colectivo e que entendeu que juntando às suas proverbiais características, uma fórmula mais elástica que não apague a capacidade técnica dos jogadores - note-se a percentagem altíssima de passes acertados e o toque de bola da maior parte dos jogadores da Mannshaft, por exemplo -  e se tornou assim um osso duro de roer como o seu aço inoxidável e que dá jeito em climas com elevada humidade e que se diz deitar abaixo outros menos preparados. Joga para ganhar, tudo sem merdas, sem preconceitos ou fingimentos e com um futebol dinâmico, moderno, de primeira água. Já se pode falar de um padrão das saídas de Manuel Neuer da grande-área quase como um antigo líbero e isso não parece fruto do acaso nem estado de necessidade e sim uma opção liberta do caderno de encargos burrocrático de treinadores ditos mais conservadores, como aliás o esquema do duplo-pivot cheira a trabalho, ideias e treino que tresanda, a mobilidade e rendimento de toda a equipa é a soma de tudo isto sob a batuta de Joachim Low. A Portugal espetou quatro e abrandou porque mais não era preciso e ao Brasil, o que era diferente por todas as razões, enfiou 7, deixando a impressão que podiam ter sido 10, 11, 12, 16, 23 e por aí fora se não houvesse mais que fazer no próximo Domingo. Repito, aquilo a partir do 5º foi uma peladinha, um treino, uma brincadeira.

Há nesta vitória esmagadora um traço desagradável no comportamente do time germânico que não posso evitar e que só foi muito ligeiramente atenuado com o golo sofrido, ou consentido?, como se do último cigarro de um condenado à morte concedido pelo carrasco se tratasse: A Alemanha está no Brasil como convidada e devia ter mostrado boas- maneiras com o anfitrião, evitando a cabazada que irá marcar o brasileiro amante de futebol nas próximas décadas por muitas façanhas que venha a conseguir.

 

 

 Outras cabazadas em Campeonatos Mundiais:

Hungria - 10 X Salvador - 1 (1982) 

Jugoslávia - 9 X Zaire - 0 (1974) 

Hungria - 9 X Coreia do Sul - 0 (1954)

 

Também Portugal entra no Top 10 das goleadas com um honroso 6ºposto garantido pelos 7 secos ao norte-coreano em 2010 (África do Sul) enquanto o Brasil podia zombar com os suécios por lhe ter dado também 7 bolas contra apenas 1 e massacrar os espanhóis no mesmo torneio de 1950 por os ter presenteado com um esclarecedor 6-1. Esse Campeonato Mundial que também se realizou no Brasil, ficou para a eternidade pela até agora mais infame derrota do "escrete", um jogo conhecido como "Maracanazo", uma barracada de que ainda hoje é lembrada, muitas vezes com escárnio pelos adversários do Brasil. Contra todas as expectativas brasileiras o Uruguai teve a desfaçatez de ganhar aos anfitriões finalistas por 2-1 perante 200.000 pessoas, ainda hoje um recorde. O entusiasmo excessivo que antecedeu a final era tal que levou Angelo M. Morais,  "Prefeito" do Rio de Janeiro, um homólogo de António Costa na Câmara Municipal de Lisboa e talvez um pouco mais demagogo..., a ter um discurso de vitória que a realidade teimaria em não confirmar no final da contenda. Aqui fica um excerto da basófia:

 “Vós brasileiros, a quem eu considero os vencedores do campeonato mundial; vós brasileiros que a menos de poucas horas sereis aclamados campeões por milhares de compatriotas; vós que não possuis rivais em todo o hemisfério; vós que superais qualquer outro competidor; vós que eu já saúdo como vencedores!”

No dia seguinte, 17 de Julho de 1950, o El Diario estava mais perto do que se passara no Maracanã, o que não foi grande habilidade ou inesperado furo jornalístico. A glória tinha sido alcançada na véspera... 

 

 

 

Porém os boches também não têm razões para rir quando se lembrarem que os húngaros no mundial da Suíça em 1954 lhes garantiram lugar neste pódio de grandes vitórias e equivalentes vergonhaças com uns aterradores 8 a 2. Na verdade que deve ser completada, os alemães alinharam neste jogo com menos cinco titulares habituais e a equipa do imortal Puskas não lhes perdoou o atrevimento, esticando o placard até aos tais 8 golos. Encontraram-se mais tarde para rever a pantomina, é verdade que Puskas jogou em  esforço (no 1º jogo o defesa Liebrich encarregou-se de aviar uma forte cartuxada no mago magiar e com isso enviá-lo para o estaleiro até à partida final), que a Hungria vinha de dois jogos lixados contra o Brasil e contra o Uruguai, este com direito a prolongamento e que, segundo os relatos, entrou em campo visivelmente cansada. Tambem é um facto que o jogo anterior que os húngaros ganharam ao Brasil por 4 a 2 foi de tal modo duro que ficou conhecido como a Batalha de Berna! Ainda segundo os crónicas, o jogo com a Alemanha disputou-se sob forte temporal, um dilúvio que terá prejudicado o futebol rendilhado e de maior habilidade dos húngaros, vindo à tona a maior capacidade físico-atlética dos robustos teutões. No fim, apesar de argumentação mais ou menos convincente, no fim eram 11 contra 11 e ganharam os alemães... e foram campeões do mundo pela 1ª vez. O resultado de 3 a 2 quebrou a extraordinária série de vitórias da Hungria: nada menos que 32 jogos sem derrotas em 4 anos.

 

 

 

Outros números do Brasil 2014 vistos pela Alemanha:

 

 

Miroslav Klose, alemão nascido na Polónia há 36 anos com o tento apontado ao Brasil aos 23 minutos da 1ª parte, é agora o novo rei dos goleadores com 16 batatas na conta da mercearia, relegando Ronaldo "O Fenómeno" para 2º lugar. Klose tem 136 jogos pela selecção pela qual marcou 71 golos desde a estreia contra a Albânia em 2001. Nada mau para um velho...

Brazil-1/ Alemanha-7:

  1- 0 aos 11' T. Muller, 2-0 aos 23' M. Klose, 3-0 aos 24' T. Kroos, 4-0 aos 26' T. Kroos, 5-0 aos 29' S. Khadira, 6-0 aos 69' A. Shurrle,

  7-0 aos 79' A. Shurrle, 1-7 aos 90' Oscar

- A Alemanha passa o Brasil e é agora a equipa com mais golos marcados na história dos Mundiais com 222, ficando a faltar a final 2014

publicado às 17:20
modificado por jpt a 11/7/14 às 04:18

 

 

Nada a comentar sobre a hecatombe acontecida, para sempre dita Mineirazo, a superioridade do drone germânico no "país tropical". A sua narrativa perdurará bem mais do que o próprio futebol.

 

Mas realço a transmissão televisiva. Neste mundial-2014, tal como nos largos últimos anos, a tv coloca o público presente nos estádios como actores constantes - e a introdução de ecrãs gigantes nos locais convocou a interacção destes com o público global televisivo, "exigindo-lhes" brevíssimas explosões para que todo o mundo os veja acenando, em cumes de fruição. As câmeras vasculham as bancadas, mostram as moles esfuziantes, os adeptos mais pitorescos (numa actualização do "folclore") e as adeptas mais vistosas e apetitosas ("belo plano", disse um dia o excelente locutor Rui Tovar, agora falecido, quando a transmissão mostrava uma bonita adepta).

 

Ontem? O contrário. Enquanto o metrónomo de Joachim Low devastava a atrapalhada selecção anfitriã, a realização (brasileira, decerto) ausentou-se da "moldura humana". Uma criança chorando ao 0-3, uma adepta espantada (de boca aberta) ao 0-5, uma balzaquiana chorosa por aí, nada de alemães festivos (um brevíssimo plano aos 0-7). A completa censura à alegria alemã.  A completa higienização do espectáculo, extirpado do drama in loco sentido pela afición brasileira. A mostrar o quão encenado tudo isto é. E como são políticos estes eventos. 

 

publicado às 09:44

JPT, seleccionador do Ma-schamba, mergulha no oculto e indaga os espíritos sobre o futuro de Paulo Bento enquanto seu congénere na selecção nacional de Futebol. Por mais que as forças do Bem se empenhassem num tranquilo afastamento do cargo por manifesta incapacidade, o mentor do futebol de vão de escada da "Equipa de Todos Eles" (FPF toda metida neste caixote de lixo e mais alguns que acabam por apoiar com tranquilidade toda esta merda) garantiu ainda antes de ter sido corrido do mundial da especialidade e zangado como sempre com um mundo imbecil que o não compreende, que independentemente de tudo o que pudesse acontecer - e o mais provável foi o que acabou por verificar-se... - não se demitiria. Fez bem e fica-lhe ainda melhor. Se querem saber mais sobre o que se segue é perguntar ao retratado. Por mim, desligo-me da equipa com que andamos ao colo e que de "Equipa de Todos Nós" tem pouco.

Vosso

mvf

 

         

 

publicado às 18:58
modificado por jpt a 11/7/14 às 04:22

 

Mal acabou o desgraçado jogo de Portugal a zeros contra a poderosa Alemanha, escrevi no facebook sobre a miserável prestação daquela que devendo ser a "equipa de todos nós" mais parece a "famiglia" de alguns. Interessa pouco que o repita, mesmo reforçando algumas noções particulares, e dois dias passados sobre o leite derramado não adianta falar sobre o óbvio, ou seja, que a equipa alemã é muito mais forte que a portuguesa apesar de Paulo Bento não o querer admitir, ou talvez nem o consiga perceber, fechado que está na sua conhecida teimosia e por ela cego, insistindo em jogar num irrealista 4X3X3 que mesmo com os jogadores nas melhores condições, em grande forma e cheios de ganas, mais não seria que um 4X3X2 porque jogar com Hugo Almeida é, quanto a mim jogar com 10. O seleccionador alemão, mais humilde, também mais realista, sabe do valor de Cristiano Ronaldo - todos sabemos - e resolveu avisar que iria ter redobrada atenção ao genial madeirense, alterando a habitual táctica, deixando as indicações gerais para conhecimento de todos. Bento, sentado lado-a-lado no banco com uma arrogância inadmíssivel, não se incomodou, não ligou pevide a Joachim Low, não respeitou o respeito, e jogou como se o germânico fosse o irlandês num jogo amigável em Boston. Independentemente das peripécias do jogo, da nefasta e estúpida prestação de Pepe que ajudou uma equipa, que desde os primeiros minutos do embate mostrou não o ser, a descer às profundezas do inferno húmido de Salvador. Bento teve, no entanto, uma oportunidade de mudar a táctica quando ainda o resultado podia ser minimamente discutido. Estava tudo em aberto, apesar da manifesta e esperada superioridade alemã, quando ainda antes da meia-hora de jogo e com somente um golo de desvantagem, o gigantone Almeida se lesionou. E que faz Paulo Bento? Faz o que Paulo Bento faria no seu lugar: cerrou os olhos e manteve a táctica, metendo Éder no lugar do bigodaças. Éder, lutador mas pouco experiente nesta andanças, imaculado no que toca a meter uma bola na baliza pela equipa nacional surpreenderia tudo, todos, incluindo-se neste pacote, marcando pela selecção? Se o benefício da dúvida deve alimentar-se nalgumas situações, noutras o bom-senso deve dissipar qualquer sombra que possa existir e era nesse momento que o responsável pela equipa devia ter "mexido" e tentar segurar o meio-campo que até aí não tinha funcionado, com Miguel Veloso sem andamento, com Moutinho sem dinâmica e com Meireles a fazer o que podia só que não podia quase nada (havia William Carvalho ou mesmo Ruben Amorim para ocupar o espaço entre a defesa e o meio-campo e podia ser que Nani e Cristiano chegassem para o que viesse, ou, já que era para manter as aparências, entrar Varela para o lugar de Almeida, passando CR7 - como me irrita isto de chamar um homem por uma sigla, ainda que ele goste e dê jeito para o marketing!!! - para ponta-de-lança em vez de andar a esfolar o coiro que não está na melhor forma a buscar jogo atrás. De passagem, lembrar que a equipa titular lusa foi a mesma - exceptua-se a substituição de Postiga por Almeida - que tinha sido derrotada no Euro 2012 por uma Mannshaft nitidamente mais fraca que a viajou para o Brasil, num jogo em que o indomável Pepe e o apagado Nani espetaram duas bolas na madeira no 1-0 final. Voltando a Cristiano Ronaldo, o pobre rapaz está estafado, não se sabe ao certo se a lesão do tal tendão que agora todos sabemos rotuliano, foi completamente debelada e sendo o extraordinário jogador e atleta que é, a referência da selecção e de qualquer equipa em que alinhe, não deve, não pode, sobretudo se condicionado, montar-se a equipa em função dele e é isso que Paulo Bento sempre fez com o total apoio senão com a influência da Federação Portuguesa de Futebol. Bento põe as suas equipas - enfim, pôs o Sporting e agora a Selecção Nacional a jogar como ele próprio: algumas vezes que não esta, as equipas jogam com alguma garra, demonstram vontade de não perder e até, se puder ser, ganhar, mas sem chama, sem talento, sem um golpe de asa, sem grandes ideias. Bento é consistente, Bento é incapaz de mudar o que está mal, Bento confia que mais cedo ou mais tarde, um dos rapazes mais habilitados dará um pontapé na sorte enfiando a bola na baliza adversária, Bento convence-se que depois da campanha péssima que fez a caminho do Campeonato Mundial de Futebol em que Portugal conseguiu a proeza de ter que disputar um play-off por não conseguir limpar um grupo com essas mais que temíveis selecções de Israel, Azerbaijão, Irlanda do Norte, Luxemburgo e Rússia. Correu bem o play-off, Ronaldo cheio de brio e de pernas, despachou o sueco e assim o grupo tornou-se, como se viu, excursionista, com uma viagem de estudo aos Estados Unidos, onde por manifesta falta de sorte, teve de jogar três partidas ditas de preparação e já em Terra Brasilis, fez uma escolha estranha  - Campinas - para quartel-general,  com clima bem mais ameno que Salvador ou Manaus, para não falar das enormes distâncias e necessárias horas de vôo... Enfim, dizem os especialistas, que é necessário mais tempo para uma aclimatação razoável ou coisa que o valha e ao que parece pelo que se viu no relvado, resultou com os alemães, sediados a sul da quente e húmida capital da Bahía há uma semana, enquanto os nossos pareciam não poder com uma gata pelo rabo. Não se sabe nada porque os responsáveis não considerem necessário explicar-nos, e acho que somos merecedores de uma palavra que seja, sobre a falta de pernas dos jogadores e as 3-lesões-3 em titulares discutíveis da equipa (não são lesões traumáticas, note-se) durante o jogo em Salvador. Se foi do clima, da comida ou de outra merda qualquer o certo é que o enxovalho não foi maior porque a equipa adversária não precisou de carregar mais. Fica muito mal na fotografia a insinuação de que a culpa foi do árbitro quando a verdade esteve patente desde o princípio: uma equipa, assim designada por enorme boa-vontade, desgarrada, desconcentrada e tensa, muito tensa. Desgarrada porque a táctica andou de mão dada com a preparação fisíca demonstrada, ou seja, ambas desadequadas à exigente circunstância. Desconcentrada talvez porque viagens longas, tratamento de estrelas pop nas tevês, jornais, revistas e rádios, treinos abertos a 10.000 pessoas, jornalistas acríticos a relatarem qualquer eventual gás inodoro ou nem por isso que o motorista do autocarro que transporta a selecção solte, inquirindo o artilheiro de pólvora seca Almeida sobre o seu bigode e dando exagerado tempo de antena a deptos ferrenhos, estejam estes à porta do estabelecimento hoteleiro onde fica a rapaziada, o circo melhor dizendo que a FPF sempre monta nestes certames, em Madrid, em Hamburgo ou no Parque Eduardo VII ou numa tasca da Madragoa, como isso só por isso definisse o desempenho esforçado e brioso ou ainda se traduzisse num resultado menos pesado como pesado é sempre o seleccionador nas conferências de imprensa, nos comunicados televisivos em que invariavelmente parece que todos lhe devemos e nenhum lhe quer pagar e isso talvez resvale para uma certa tensão nos seus (des)comandados. Digo isto com toda a tranquilidade, como Bento gostava de dizer no seu tempo de Sporting, em que punha o pobre Polga a chutar para a frente, uma táctica do quem atirar mais alto é que ganha, uma espécie de baliza-a baliza sem utilizar as alas (a menos que algum desgraçado se distraísse e jogasse junto às laterais...) e o desgraçado do Liedson a correr a ver se conseguia ir ter com a porra da bola em vez de a inversa se verificar. Foi assim nas épocas do Sporting Clube de Portugal e não é muito diferente na Selecção Nacional: depende se os jogadores estão mais ou menos inspirados e se dão vazão à habilidade, à inteligência emocional como diriam alguns, contrariando o óbvio desdém que Paulo Bento sempre mostrou pelo talento natural dos mais dotados, ele que para além de jogador esforçado e lutador nada mais foi que acrescentasse brilho ao jogo. Tipo honesto e trabalhador, não se põe em causa, mas há cargos que exigem um pouco mais. Dizem-no disciplinador mas a quantidade de problemas disciplinares ou simples embirrações que não soube resolver ou até por ele criados, dizem-me o contrário (no Sporting vejamos os casos de Beto, Custódio, Simon Vukcevic, Stojkovic, Liedson e Miguel Veloso, das dispensas de Carlos Martins e Varela que não servindo para o SCP foram por ele convocados para a Selecção - ou do seu menino querido João Moutinho que quis sair do clube  - disse-o publicamente - tendo sido recompensado esse enorme amor ao clube que o tinha criado com a braçadeira de capitão. Já como seleccionador nacional, houve as barracadas com José Bosingwa que o acusa de ser um treinador quesilento e de ter uma relação menos boa com os jogadores e que por isso nunca mais calçou as chuteiras nacionais,  a renúncia nunca explicada de Tiago que vestiu as quinas ainda na fase de apuramento para o Euro 2012, a zanga com Ricardo Carvalho, as embirrações com alguns jogadores, Danny e Adrien, para não falar de Quaresma e esquecendo Custódio ou Hugo Viana na melhor época do Braga e agora Antunes que é o mais parecido que temos com um bom lateral-esquerdo. Tudo isto, acredito que sem consciência, sempre à frente dos interesses superiores quer do clube quer da equipa nacional com critérios que por mais que explique não faz entender mas é defeito meu com toda a certeza ( Quaresma é instável emocionalmente, no entanto o cadastro de Pepe ultrapassa de longe o de um jogador temperado e calmo, convocações de gente que pouco se equipou nos seus clubes e a quem muito falta provar em vez de outros que fizeram óptima época...). É mais forte que ele visto que é ele quem manda e pensa que assim cobre as suas debilidades enquanto técnico. Não é o que habitualmente se diz quando há um destaque, uma referência maior como é o caso de Cristiano Ronaldo: Não é ele e mais 10. Na Selecção trata-se de Paulo Bento e mais 11! E o velho dito de balneário, o "Só faz falta quem cá está" bem merece uma revisão: se é verdade que só faz falta quem está, há alguns que estão e falta fazem como faz falta a fome, ou seja, nenhuma.

Dito isto, resta esperar que nos jogos contra os norte-americanos e contra a selecção do Gana, os nossos rapazes tenham tanta vergonha na cara como força nas canetas, que Paulo Bento se lembre que nada disto gira à sua volta, e que, com vontade e esforço, joguem à bola e ganhem por todos nós a passagem à fase seguinte, quanto mais não seja pelo apoio enorme que sempre lhes damos. Presunção e água benta cada um toma a que quer e eu destas quero nenhuma, adiantando que percebo pouco de bola mas que não gramo perder por falta de atitude e indiferença.

E porra, que é sempre com o baraço à volta do pescoço...

publicado às 21:30
modificado por jpt a 11/7/14 às 04:27

Brasil-2014 (1)

por jpt, em 17.06.14

 

 

Vi a primeira parte deste Portugal-Alemanha na poltrona mesmo diante do ecrã gigante, bebericando um decente vinho tinto e os canapés ofertados por ocasião da inauguração de um café-bar de bom amigo, o "Vitamina (Quê?)". Ao intervalo fui-me embora, a mais o meu cachecol e a boina. Fui travado por bons amigos e fiquei-me, lá para o fundo do balcão, a bebericar tequillas, mal entrevendo o jogo. Por isso da segunda parte pouco retive, talvez mesmo só a minha irritação, séria, com um anglófono ali postado, todo contente aquando do tricórnio de um jogador huno. Ia-me deslizando para holigão, raisparta o homem, ali a gozar com a nossa cara. Enfim, a bola é só isto, pretexto para uns copos antes, uns copos durante e uns copos depois. Ou seja, quanto pior a selecção melhor a saúde (hepática e não só). Por isso, o meu sincero "obrigado Paulo Bento!".

 

Quanto ao jogo, e enquanto o MVF não faz aqui de Rui Santos, deixo a minha abalizada e avalizada opinião. "A doutrina divide-se" sobre as causas do descalabro acontecido: a terrível temperatura (sendo que do lado alemão havia ar condicionado); o peso da responsabilidade do momento (sendo que os alemães são historicamente irresponsáveis); o cansaço dos jogadores em final de época (o campeonato alemão é mais fraco e mais curto, e as equipas alemãs não vão longe nas competições internacionais); a perfídia arbitral (como constatou o seleccionador, ao apontar, e bem, o dolo havido); as fracas equipas enfrentadas nos jogos de preparação (a frágil Irlanda, que não serviu para aferir e calibrar, enquanto a Alemanha enfrentou a poderosa Arménia). E etc.

 

Lá da poltrona o que vi foi uma equipa que entrou em campo tão tensa que atrapalhada. O "fio de jogo" era dental: os defesas ao pontapé para a frente, a ver se dava .... Na defesa pressão uma parcimónia confusa.  Enfim uma equipa assarapantada. Ora todos nós sabemos o que leva a este estado de espírito, quase todos já passámos por esta nervoseira, em gente experiente: trata-se de irmos fazer algo para o qual não nos sentimos suficientemente preparados. Se do "outro lado" está gente amiga disfarça-se isso, e vai correndo. Caso contrário (como num jogo de futebol tem que ser) dá .... merda. Foi o que aconteceu.

publicado às 18:37

Homenagem, com pedido de perdão

por jpt, em 17.06.14

 

 

Passei anos em impropérios votados a este homem, campeão do mundo de futebol, Anderson Polga. Frémitos de ódio genocida com aquilo do guarda-redes-Polga-central-guarda-redes-Polga e pumba lá para a frente a ver se dá, se o Sporting marca. Exactamente como a selecção de Portugal agora, aquela do "melhor do mundo". Afinal não era ele, era quem dizia como jogar.

 

Ok, vou agora descansar, hei-de adormecer a perguntar o que perguntei há dias: o Antunes está em forma? ("ele" há cada seleccionador!).

publicado às 00:38

Volta ...., que estás perdoado!

por jpt, em 17.06.14

 

 

Nunca lhe perdoei aquela substituição do Paulo Torres ao intervalo. Mas hoje, depois do pontapé para a frente e das taralhoucas queixas com o árbitro, desnorte total do seleccionador, tenho que dar a mão à palmatória.  Volta, Queirós, que estás perdoado.

publicado às 00:28

 

 

Abaixo recordei o belo cognome da "equipa de todos nós" no Brasil-2014. O torneio verdadeiramente começa hoje, o primeiro passo da nossa glória. Somos legião e aqui fica este "Se mais mundo houvera lá chegára", meu estandarte de apoio que segurarei, se necessário arreganhado, qual Duarte de Almeida.

 

[Fotografia em Moçambique, 1999, duvido do local: na igreja da missão de Boroma (Tete), Ilha de Moçambique (mais plausível) ou Quelimane]

publicado às 15:27

 

O primeiro campeonato (copa, vá lá) do mundo de futebol que vi em Maputo foi o de 1998. Na altura circulava-se bem em Maputo, não havia tanto trânsito e a polícia não assaltava os pass(e)antes, pelo que vi(mos) alguns jogos na baixa, no então CEB [Centro de Estudos Brasileiros, agora centro cultural Brasil-Moçambique]. Na altura era lá "o" centro cultural de Maputo, pela localização, pelas características polivalentes das instalações (ainda que algo empobrecidas) e, acima de tudo, porque tinha uma belíssima directora, a Fernanda Veríssimo, uma companheira fantástica cujo brilho fazia jus à sua ascendência, filha de Luís Fernando Veríssimo e neta de Erico Veríssimo, mas que não era nada um apenas "filha de ...", bem pelo contrário.

 

No meio daquela azáfama veio a Copa de França. O Centro foi utilizado ("ocupado") por uma larga comunidade, a brasileira de então, sociologicamente diversa da de hoje, sempre festiva, e mais os acompanhantes torcedores: moçambicanos e também nós, portugueses (ainda traumatizados por termos sido vilmente afastados pela FIFA do mundial, para que o mercado alemão estivesse presente). E ainda uma mole de nacionalidades, até porque desabundavam os ecrãs públicos na cidade mas mais ainda porque se procurava aquele ambiente, entusiástico.

 

Lembro que lá vi a final França-Brasil. A torcer pelos brasileiros, não por qualquer irmandade lusófona, mas mesmo desejando todos os males do mundo ao país do senhor Platini e do senhor Marc Bata, futebolísticos e não só (o meu apaixonado encanto por Zidane só brotou naquela divina, homérica hybris, cabeçada na final de 2006).

 

Aquilo não lhes correu lá muito bem, como se sabe. Fui lá com a minha mulher e um amigo, pouco dado a futebóis. No intervalo pediu-me ele boleia para casa: voei da Karl Marx à Zimbabwe e regressei a tempo do apito (re)inicial - ruas vazias, o peso da bola!, um outro Maputo. Mas enfim, o que me leva a escrever isto é a memória dos brasileiros em Maputo: durante todo aquele jogo, apesar da tareia que iam levando, estiveram ali em constante batucada a torcer pela equipa. Lá pelos 86 ou 87 minutos, apenas então, esmoreceram os tambores e as palmas e os gritos. Fantástico. [Depois do final saímos dali, sem ver taça entregue nem nada. Passámos pelo "Franco-Moçambicano" onde uma outra, maior, multidão tinha visto o jogo, maioritariamente moçambicana. Vimo-la sair, triste. Nem ali se torcia pelos franceses ....]

 

Agora, a ver vamos como serão os brasileiros por cá. Talvez diversos que a cidade mudou. Mas, pela amostra de então, lá no Brasil serão imparáveis. Com ou sem crise.

 

Adenda: também fazer um postal a elogiar os brasileiros e deixá-lo como deixei até parece malvadez. Junto-lhe a final de 2002, que lhes correu melhor.

 

 

publicado às 15:30

Da bola...

por mvf, em 12.06.14

Começa hoje o Campeonato Mundial de Futebol 2014 e por isso aqui fica uma imagem que fiz no Rio de Janeiro há uns anos.

 

Vosso 

mvf

 

 

 


         Rio de Janeiro, Brasil ©miguel valle de figueiredo

 

publicado às 15:11
modificado por jpt a 11/7/14 às 04:34

 

Enquanto a "moldura humana" discute e discutirá se as opções do seleccionador - tomadas, estou certo, com muito tranquilidade - são as mais correctas, fico eu estupefacto (ou talvez já nem tanto) com o que vejo noticiado no jornal "Record": a alcunha desta selecção para o mundial de futebol é "os conquistadores".

 

Já nem há paciência para argumentar diante deste patrioteirismo, um saudosismo bacoco como forma de olhar a história. É a gente que somos. Mais vale emigrar do que debater.

publicado às 21:45

 

 

 

Paulo Bento acaba de anunciar o grupo de 30 jogadores dos quais escolherá os 23 jogadores que irão ao Brasil. Os sportinguistas, sempre de mal com o mundo, resmungam, irados pelo facto do seu médio de ataque não estar nessa lista, acusam de ilógica a situação.

 

É uma mania dos sportinguistas, este constante queixume, que lhes tolda o juizo futebolístico. A mesma ladainha se ouviu há quatro anos, na escolha de jogadores para o mundial da África do Sul. Também na altura gemeram e se arrepelaram, pois o avisado professor Carlos Queirós não lhes seleccionou o médio preferido. Então uma decisão absolutamente acertada, como a subsequente pobre carreira do jogador tem vindo a comprovar. Uma situação absolutamente similar com a actual. 

 

Seria bom que aprendessem, e deixassem trabalhar quem sabe do assunto.

publicado às 23:18


Bloguistas







Tags

Todos os Assuntos