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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Há anos participei no Olivesaria, um blog colectivo dedicado aos Olivais, bairro lisboeta. No qual cresci, como narrei neste texto nada "clean", a recordar o caldeirão fervilhante dos anos 70 e 80 que era o bairro, tão povoado. E ao qual agora voltei, para o encontrar empobrecido pois envelhecido - e os novos pobres desta terra são os velhos, e tantos e tão velhos há nesta terra ...
Por isso me desperta interesse esta palestra, que acontecerá na quarta-feira (18.30), na Av. de Roma. Quando Francisco Silva Dias, arquitecto que participou na urbanização do então oriente lisboeta, falará sobre a planificação do bairro e, decerto, sobre os ideiais urbanísticos, arquitectónicos, sociológicos que alimentaram aqueles dias e trabalhos. E, talvez, sobre os ideais políticos, aquele já tardo-salazarismo, ordenador pela osmose, o cúmulo do optimismo sociológico - este que a gente, distraída, pensa ser o característico da "esquerda".
Aqui de passagem nos Olivais, freguesia lisboeta onde cresci. Que em tempos foi a mais populosa freguesia do país, dizia-se, julgo que até cerca de 70 000 habitantes, não estou certo. Tempos em que era um quase-subúrbio, aqui encostada ao aeroporto. E agora recolocada, pois Expo-98 e infra-estruturas viárias várias, a expansão oriental da cidade, situou o "nosso" bairro bem mais no centro lisboeta.
Num qualquer café retiro o jornal da Junta de Freguesia. Essa que durante décadas foi presidida por Rosa do Egipto, um vero "dinaussauro autárquico", julgo que terá sido o mais duradoiro dos presidentes de junta do país. Por curiosidade, própria a quem aqui cresceu e sempre será dos "olivais", leio o jornal, e sorrio. Temos agora uma nova presidente, finalmente! Uma sucessora, também do PS, Rute Lima. Jovem, e muito bem apessoada pareceu-me ali, algo que pude confirmar em visão real alguns dias depois, entrando num estabelecimento onde a elegante senhora estava. E isso sugere-me o apoio eleitoral, pois com esta crescente idade sou cada vez mais sensível à beleza do belo sexo forte. E mais renitente em afrontá-la com hipotéticas críticas.
Talvez por isso mesmo regresso ao jornal, querendo acompanhar a actividade existente. Para me desiludir, firmar a primeira impressão sobre o conteúdo. Estamos, "elitistas, sulistas e" até "liberais", habituados a associar o caciquismo a deselegantes práticas, ungidas de fealdade bigoduda e obesa, sitas lá pelos interiores rurais, ex-baldios onde vigoraram morgadios e ascenderam fugitivos às courelas.
Mas olhando este jornal camarário, o órgão oficial da junta de freguesia dos Olivais, aqui no coração da Lisboa capital XXI, entre as velhas "avenidas novas" e o novo Parque Expo, o que vejo, leio, é o mais puro do caciquismo, pago com o dinheiro (erário, diz-se nestas situações) público. Bonito, elegante, viçoso, atraente. Sedutor, confesso. Um neo-caciquismo, chamo-lhe assim, a assomar-se ao requinte. É este o partido socialista camarário em Lisboa, o pós-dinaussáurico, o novo partido socialista que se prepara para o poder nacional.
Má vontade minha? Talvez. Mas para quem tenha paciência aqui deixo os exemplares do boletim local, cuja directora,claro, é a própria presidente. O último exemplar, onde a directora e presidente se apresenta em repetidas fotografias (nas quais fica muito bem, e repito-me), um pungente exercício de mera propaganda pessoal. E um anterior, publicado durante o período eleitoral interno do PS, dedicado ao presidente António Costa. Decisão editorial, claro está!!, totalmente independente do contexto de então.
Amanhã e depois o PS fará um face-lifting, afastando quem mais seja associável a nomes quedos em desgraça, mostrando gente nova, quiçá uma "nova geração". Anunciando-se prenhe de novas práticas.
Mas, afinal, será apenas este tipo de visão, esta concepção de administração e de política, bem estampado nas actuais estruturas autárquicas lisboetas. Chamar-se-á, daqui a uns anos, o "costismo". Mas, verdadeiramente, não carece de novos nomes. Pois é velha. Não velha como o mundo. Mas sim velha como o estado patrimonializado.
Desfrutem-na. Ou, como se diz no português actual, enjoy it.
Num grupo memorialista-bairrista do facebook reencontro hoje esta deliciosa (e tribal) memória, um texto já com 28 anos do Paulo Varela Gomes sobre uma "rua" dos Olivais, um tempo e uma fauna que conheci mais-que-bem. (Re)ler será para alguns, poucos, uma revisita. E para outros, se o quiserem, um pouco da Lisboa dos inícios de 1980s. Aqui deixo a ligação, pois há alguns anos foi reproduzido no blog Olivesaria: "Ideias de Rua" de Paulo Varela Gomes.
Tudo derrapou, como então disse o Tiago? Estar-se-ia "perto do fim"?