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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Moçambique 40 anos 4 fotógrafos, no Alexandre Pomar.
A (última) carta de Virginia Woolf, no O Homem que Sabia Demasiado.
O Acordo Ortográfico e sua ideologia, ditos no Abencerragem.
A (já longa) série de textos agregados sob o título "Grécia Antiga" no Delito de Opinião, cruel iniciativa de Pedro Correia lembrando o vácuo patois dos opinadores portugueses dedicados ao estado da arte europeia. Imperdível.
Sobre isto do blogar, no Depressão Colectiva.
Bravura, no Ana de Amsterdam.
Tolerância é inteligência, pois "A pior coisa que uma pessoa pode fazer pela sua postura, é entregá-la empacotada como um julgamento moral", no Cantar das Miríades.
e
O corpo barroco de Orson Welles, uma hora de conversa com Lauro António sobre o cineasta, no À Pala de Walsh.
Hoje é o centenário de Orson Welles. Se se diz que o cinema é (ou deve ser) "bigger than life" Welles foi, e de que maneira, "bigger than cinema". Da sua obra e da personalidade há muito para acompanhar (por exemplo ver este Wellesnet, com ligações e notícias sobre o cineasta). Após a radical autonomia inicial em "Cidadão Kane" foi balizado, estreitado, pela indústria, em conflitos ferozes e que apoucaram a sua obra. A esse propósito será (marginalmente) interessante v(l)er quantos daqueles que agora, a propósito da efeméride, lamentam tais tenazes mas que sempre resmungam contra os financiamentos ao cinema, à liberdade criativa dos realizadores, como sendo luxo social desnecessário. Enfim, contradições do rame-rame opinativo.
Aqui deixo dos trechos que mais me marcaram, ainda hoje: esta sequência do meu filme preferido de Welles
E para corolário a célebre cena de "O Terceiro Homem", súmula de filosofia política que o actor Welles meteu no argumento - e pouco importa se historicamente errada - um momento inesquecível:
The Third Man Theme
Um telefonema matinal de Portugal, um cinéfilo agradecimento a este postal. Mas com lamento incluso, a ABC daquele lado expressando-me as saudades, até ânsia, do hipnotizador tema musical do "Terceiro Homem", e nisso concordo eu. Então está aqui. E nem foi preciso "dizer a frase".
O outro dia a bater teclas para aqui de repente lembrei-me dos relógios de cuco de "O Terceiro Homem" (Carol Reed, 1949). Um maravilhoso soco contra o "politicamente correcto" (avant la lettre) saído da boca e da mente de Orson Welles, pois a tirada não estava no argumento original do filme protagonizado por Joseph Cotten mas que Welles abrilhantou. As maravilhas do youtube trazem-nos a casa:
(The Third Man......The.Cuckoo Clock)
Para quem não se lembre (ou nunca o tenha visto) o filme provém de uma história escrita por Graham Greene, a qual ascendeu a livro: O Terceiro Homem (aqui a edição portuguesa, Europa-América, 1977, tradução de Ana Maria Sampaio). E tendo-me lembrado da história lá fui mais uma vez reler o livro.
Já o sabia mas é sempre bom recordar isso. Este é um bom exemplo a utilizar contra os literatos furiosos que dizem ser um livro sempre melhor do que o filme que origina. Neste caso - como em tantos outros, onde nem atentamos no livro original, ali escondido no genérico - um pequeno livro originou um grande filme (é certo que com a ressalva que o texto foi escrito em função do filme): nele não está a espantosa Viena negra pós-guerra do filme nem tampouco a personagem do vilão tem a densidade e a verve, a crueza, que no filme adquiriu e a este deu fama.
Ainda assim é Greene, a culpa e a redenção como hipótese. E a falsa moralidade, um pouco. O protagonista Rollo Martins é um modesto escritor de policiais (um pouco um alter ego de Greene, em registo de auto-derisão) que chega à Viena do pós-guerra, chamado por Lime o seu idolatrado amigo de juventude (Welles no filme). Para descobrir não só que este é um criminoso como apenas o quer usar, usando-se do apelo a uma afinal falsa amizade. Assim Rollo, e em nome de uma causa justa (Lime trafica medicamentos escassos), acaba por o matar. No fundo levado pela descoberta de não ser amado (amizado, seria melhor dito, mas não há em português). Onde está a culpa? A imoralidade? Com toda a certeza que em Rollo, inocente-sem-o-ser, aparente braço da justiça. E está tudo no princípio do livro, encapotado num "Nunca nos habituamos a ser menos importantes para as outras pessoas do que elas são para nós" (23). Depois é uma história sobre o despeito, o ciúme entre homens.
jpt