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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Abaixo a AL referiu o livro "Finta Finta", uma selecção do futebol moçambicano através dos próprios jogadores e suas histórias de vidas, agora ofertado a um ministro português.
Justifica-se recordá-lo. Não só pela autora, uma jornalista que é amiga deste blog, no sentido em que é amiga de alguns de nós e a gente gosta disso. Também por esses afectos, coisas da sua doçura, mas também porque gostamos do que faz, há uma série de textos dela metidas e/ou referidos no blog, basta consultar Paola Rolletta e conhecê-los.
Para mim tem também um significado especial este "Finta Finta". Pois no seu lançamento imaginei-me repórter e fiz a crónica do evento, mesclada com uma leitura do livro. Está aqui:"Finta Finta".
Passados dois anos o livro ainda não se esgotou, podem ir buscar. Em Portugal não. Haveria, com toda a certeza, público consumidor. Quando saíu teve referências elogiosas nas estações televisivas e nos semanários (ou diários aos fim-de-semana) da praxe. Mas ninguém se lembrou de o editar.
Nem vale a pena comentar. Não é a publicar ou vender livros que ganho a vida. Mas que há tipos que enfim ... há.
A propósito da recente visita de Miguel Relvas a Maputo, mão amiga envia-me fotografias do momento em que este, Miguel Relvas, é agraciado com o belíssimo Finta-Finta da autoria da minha amiga Paola Rolletta. Será que o gesto lhe confere a licenciatura em ciências do desporto? (pergunto eu armada em esperta e interesseira)
É que assim sendo, eu aviso já que me qualifico a mestrado – não só li o livro, como acompanhei a Paola nalgumas das suas andanças e até matabichei em Faro com o Daúto Faquirá (um autêntico cavalheiro).
AL
(Jorge, Nordine, Kok, Nuno, no fim do "dia das caricaturas", já na esplanada do Ka-Mpfumo).
(A edição do "Savana" de hoje tem um suplemento dedicado ao seu director, Kok Nam. Vários textos escritos para esta ocasião, antigos textos que a ele aludem, algumas fotos da sua autoria, um grande excerto da entrevista que António Cabrita lhe fez e que transformou em livro. A Paola Rolletta foi a coordenadora da iniciativa e teve a simpatia (é amiga) de me pedir uma memória. Foi esta, o que me lembro do "dia das caricaturas" ...
O Dia das Caricaturas
Sexta-feira, já bem depois de almoço, toca o telefone, é o Nuno, a avisar-me que o Kok está cercado, há centenas de muçulmanos a quererem invadir os escritórios do Savana, ali à Lenine, consta que ele sozinho por lá. Surpreendo-me, “o que é que se passa?”, que nada sei, “não viste o jornal?”, resmunga ele, que sempre está a dizer-me distraído. “Nunca compro o Savana!, pá!?” (apesar do Kok … coisas cá minhas, de que não vale a pena agora falar). “Publicaram as caricaturas”, “as dinamarquesas?! do Maomé?! …”, exclamo e tudo se explica. Nisto, e ainda ao telefone, já estou ao volante, até mesmo sem reparar.
Logo chego, uma multidão à porta, irada. Saio do carro, no outro lado da rua está o Jorge Ramos, sempre indefectível do Kok, aceno mas ele não me nota, mostra um ar desamparado, decerto como o meu, agora que não sei o que fazer, nisto do agir antes de pensar, meu costume … Vejo partir o Abdulcarimo, o sempre dito “Buda”, ao que me dirão ali ido a acalmar os ânimos. Avanço um pouco e percebo-me hirsuto. Pois com esta cara magrebina, e hoje tão tisnada, sob estas barbas todas, sou acolhido com sorrisos, anuências. A quem me saúda digo “então o que se passa?”, e vou-me declarando amigo do Kok, e que tudo isto me soa a exagero, em suaves convocatórias à calma. Acercam-se de mim, gente mais velha, como eu, afáveis, conversamos. Ouço a mágoa serena, até ofendida, com o que ali parece desrespeito ao Profeta.
Mas não é assim com os mais novos. Lá à frente, junto ao portão, há gritos, apupos, invectivas, um não tão pequeno grupo mais irado, tudo defronte três ou quatro polícias, estes com pose pouco marcial, como se também atrapalhados com todo este inesperado. Reparo no Luís Sá, da Lusa, com cara de quem está entre a reportagem e a solidariedade preocupada. Cá mais para trás, entre nós, lá fico advogando o Kok, e isto da profissão de informar, mesmo que a alguns desagradando. Não ganho adeptos, mas dizem-me que o respeitam (o Kok é o Kok!, todos sabemos, já com um pé na lenda), homem de bem, e que a culpa disto tudo é de fulano ou de sicrano.
A calma vai chegando, que tudo já demora há umas horas. Junto-me ao Jorge e com o Luís escapulimo-nos pelo portão, onde está, honra lhe seja feita, e tão mal dizem do jornal dele, o Leandro Paul, peito feito naquele seu jeito sempre tão gentil, em nome dos jornalistas dialogando com os mais sanguíneos, em apelos à concórdia. Lá dentro com o Kok está um funcionário do Savana, não o conheço, e o grande Norudine Daúde, a mostrar que não o é só em tamanho, mas amigo daqueles mesmo, a chegar-se à frente no momento de ombrear – e disto me lembrarei um dia, bem mais tarde, ao vê-lo como um dos que carregarão o caixão do Kok até à pira.
Ao entrarmos na casa o Jorginho atira logo um sarcasmo, daqueles que são abraço, naquele jeito constante que o une ao Kok, carinhos de mano novo com mano velho. Sentamo-nos, mais ou menos pois ninguém se aquieta. Ele está dorido, pálido. Denso. Com a espessura de ter comandado algo que era necessário fazer. Acontecesse o que acontecesse. Passa tempo, ninguém sabe bem quanto nem o que vamos dizendo. Depois o Norudine vai ao portão e vem dizer que a multidão destroçou, talvez cansada, talvez liderada por caminhos mais pacíficos. O Kok arruma os pertences. Eu telefono ao Nuno, “isto acabou” e ele convida-nos para uma garrafa de uísque, para que desanuviemos. “Vá, vamos aos CFM”, aviso, feliz. E todos concordam, também felizes. Saímos, o Luís vai trabalhar, que hoje não mais o verei. Ligo à Paola, a nossa sempre querida Paula, “onde é que anda o Lima?”. “Está aqui comigo …” diz, inquieta, ela que horas antes tinha aqui estado. “Então diz-lhe para se deixar ficar quieto”, que não ande na rua, que há quem resmungue que é ele o responsável, ouvi-o bem que mo disseram, e nunca se sabe, não vale a pena provocar problemas.
Nisto chegamos à esplanada da estação, no Ka-Mpfumo o Nuno já tem a Famous e o gelo à nossa espera. Bebemos, falamos, e brota muito latim vulgar. O Kok anima. Tanta é a sede que a garrafa desaparece num ápice, qual suspiro de alívio. Pago eu uma outra, que logo vem para ser escoada. E chega o Lima, que não se deixou ficar quieto, com o Gonçalves.
O resto é o futuro
jpt
[Aldeamento de Moatize, anos 1970s]
Nas minas de Moatize (fotografia obtida aqui) houve uma insurreição laboral em finais da década de 1970, que culminou com o massacre da sua administração. Um assunto de quando em vez abordado, à volta da mesa, mas nunca passado a "letra de forma".
O ano passado o Expresso publicou uma bela reportagem sobre o assunto, "O Massacre de Moatize", da autoria de António Pedro Ferreira (fotografias), José Carlos Castanheira (texto) e da "nossa" ("é muito cá de casa", dirá parte do colectivo ma-schamba) muito querida Paola Rolletta . Já então chamei a atenção para a publicação. Agora a equipa recebeu uma menção honrosa do Prémio Cáceres Monteiro, em Portugal. Motivo para lembrar a ligação ao texto, para quem não leu vale mesmo segui-la, e ler. Ou mesmo reler.
E dar os parabéns, embrulhando um beijo, à Paola.jpt
Na morte de Bertina Lopes reponho aqui a peça que a Paola Rolletta publicou no Savana de 27.1.2006 (e logo reproduzida no ma-schamba).
Bertina, a Pintora
Energia imparável é o comentário mais óbvio que se pode fazer quando se fala de Bertina Lopes. Uma exposição em Rimini a inaugurar no próximo dia 4 de Março, uma outra em Roma em meados de Maio, e outros mil projectos em carteira desta senhora das artes plásticas moçambicana que nasceu no final dos anos 20 do século passado.
Um texto de um jornal deve ser justificado por um acontecimento especial, um “gancho” como se diz na gíria. O gancho para esta pequena homenagem a esta grande mulher foi-me dado há algumas semanas quando, neste semanário, foi publicado um artigo sobre o fundador do jornal “Tribuna”, João Reis, recentemente falecido. Reis era proprietário de uma loja de livros de arte, discos de música clássica e jazz, jogos de sociedade, reproduções de quadros, a Poliarte, que estava nas arcadas no Prédio EMOSE, na baixa de Maputo. João Reis apoiava os jovens artistas locais, e organizava exposições de pintura. Justamente em 1956, Bertina participou pela primeira vez com os seus quadros numa exposição colectiva faz agora cinquenta anos. O que justifica estas linhas.
A mãe dos pintores moçambicanos
[(Bertina Lopes, "Olhos brancos de farinha de milho", 1965, óleo sobre tela)"]]
Na história da pintura, muitas vezes o seu nome é posto ao lado da mexicana e grande artista, Frida Khalo. Duas vidas certamente diferentes, mas com traços comuns muito fortes, e sobretudo com qualidades pictóricas e humanas muito peculiares.
É chamada por toda a gente Mama B. Mãe foi de dois filhos, o Virgílio e o Eugênio. E foi considerada a mãe dos pintores moçambicanos todos. É Bertina Lopes, a artista luso-moçambicana que vive há quarenta anos em Roma, com Franco, seu marido italiano. Proibiu-nos de chamá-la apenas moçambicana. Não quer. “Nas minhas veias corre sangue português, do meu pai, e sangue africano, da minha mãe. Desde sempre queria que todos me chamassem luso-moçambicana, só nos últimos anos consegui ter reconhecido esse meu direito”, afirma com um brilho malandro nos olhos negros marcados com uma linha de kajal.
“Ela é mãe e pai das artes plásticas moçambicanas”, disse-nos Malangatana. “Foi das primeiras a exprimir as inquietações na sociedade portuguesa. Levantava problemas sócio-políticos sem fazer com que a pintura se tornasse panfleto. Quer gostassem quer não da pessoa, todos ficavam impressionados por ela como criadora. Porque era fácil compreender a sua obra, caracterizada – ainda hoje - por uma forte expressividade. Talvez não gostassem dos títulos (por exemplo, Grito grande, Olhos brancos de farinha de milho) que ela escolhia para as suas obras, mas sentiam a obra na carne e na alma.”
[Bertina Lopes com José Craveirinha e Rui Nogar; fotografia de Ricardo Rangel]
Voltou a Lourenço Marques em 1953, depois de uma temporada em Lisboa onde foi estudar Belas Artes. Voltou e começou a dar aulas de desenho na Escola Técnica General Machado. Eram os tempos de Craveirinha, Noémia de Sousa, Rui Knopfli. Casou com o poeta Virgílio de Lemos, o pai dos seus filhos. “ Embora com carácter diferente, muitas vezes os quadros pareciam ilustrações dos poemas do Virgílio e vice-versa”, diz Malangatana.
Embaixada paralela
(Bertina Lopes, "Como Um Grande Amor")
Bertina recebe na sua casa-atelier todos os “palopes” que passam pela capital italiana. O terraço, com vista fabulosa dos telhados de Roma inclusive da Basílica de São Pedro, tornou-se uma espécie de “embaixada paralela”. Todos deixam a sua assinatura, nas paredes, repletas de homens políticos, artistas, músicos, enfim de toda a gente que por lá passa.Um pedaço dos palopes em território neutro, a Itália. Está lá o poema que lhe dedicou Graça Machel, a flor de Joaquim Chissano, o charuto de Mário Soares, os agradecimentos de Carlos Veiga… e todos os outros que passaram e passam por lá a tomar um “espumantinho erótico”.Bertina conta anedotas, sorri à vida, leva tudo com a ligeireza sonhadora dos grandes artistas e fala uma língua que é só dela: o “bertinês”, uma mistura de português e italiano, como a definiu o escritor italiano Carlo Levi. Quando fala, usa sempre um tom baixo e arrastado, como se tivesse sempre que traduzir não apenas as palavras mas aquilo que sente na alma: as reacções agressivas - que são uma caractéristica dela - se apagam logo graças ao sorriso de menina brincalhona e das boas maneiras de senhora requintada.Bertina é uma pessoa generosa. “No meio artístico e social de Moçambique é carinhosamente chamada Mama B”, escreveu Joaquim Chissano, “porque nela está corporizado o mito e a essência do nosso ser colectivo, o modelo e exemplo a seguir pelas novas gerações, a fonte inesgotável de inspiração nos nossos esforços de reconstrução e desenvolvimento nacional, de consolidação da tolerância e reconciliação, de trabalho árduo por um futuro melhor, em que estejam garantidos o pão, a paz, a harmonia e o bem-estar para todos.”O antigo presidente de Moçambique esqueceu de dizer que Mama B é assim chamada também em Itália onde conta com 57 “filhochos”, (filhotes). A pena dela é que apenas uma traz o seu nome. “Bertine era a mulher do médico que me fez nascer. Mas como era um nome estrangeiro o governo não deixou registar o nome. Os meus pais decidiram então me chamar Bertina.”Bertina à medida que a idade avança não deixa de ensinar a arte de viver com o sorriso apesar da dor, a arte da curiosidade, da generosidade, e sobretudo a grande arte de não se levar demasiado a sério, a ironia, e a arte e o prazer da convivência natural e social.Ela nunca esqueceu de onde veio, nunca esqueceu a luta do seu povo e a luta dela ao lado, embora geograficamente distante, da sua gente. No ano passado foi madrinha de uma exposição de artistas deficientes, “Abaixo o cinzento”, para angariar fundos para o DREAM, o programa de luta contra o SIDA levado a cabo pela Comunidade de Santo Egídio em Moçambique.“Nunca se divorciou do seu país”, comentou Malangatana. A lembrança faz parte da sua obra de arte e da sua vida. “A minha casa era, desde a minha chegada a Roma, o ponto de encontro dos refugiados, dos exilados”, e recorda como ela, na época da ditadura era “deportada” enquanto a irmã mais velha era deputada nas Nações Unidas.Entre outros, em 1991 Bertina recebeu o Prémio Mundial “Carson” da Raquel Carson Memorial Foundation de Nova Iorque pelo seus méritos artísticos e humanitários e pela sua fidelidade às origens africanas embora no contexto de uma refinada esperiência pessoal internacional.
Uma das fases mais recentes da pintura da Bertina tem o jazz como elemento inspirador. As telas de Bertina a quererem ser partituras de jazz, como um símbolo activo da síntese mais ambiciosa e qualitativamente elevada, entre diversas culturas e etnias, jogadas no harmonioso signo de uma arte já livre de qualquer exagero nacional-cultural e político.
A força da pintura e da escultura (particularmente interessante aquela que dedicou ao antigo presidente e amigo Samora Machel, Quem nunca morre e de tudo se lembra, é o povo) vivida entre dois continentes, reside neste seu “estar fora”, num espaço pictórico totalmente autónomo das escolas e totalmente dentro da vida, percorrendo o espaço “para encontrar um espaço para África”. Grande capacidade da artista de absorver e metabolizar escolas e tendências sem nunca prescindir das suas raizes e da sua personalidade.
Mas a sua terra natal não se lembra tanto dela como ela se lembra de Moçambique. Há vários anos que não é organizada uma exposição da obra dela. Há pelo menos um banco que possui muitos quadros de Bertina, talvez a maior exposição permanente da artista nesta cidade. Infelizmente não está à vista de toda a gente. Malangatana acha que era tempo de Moçambique organizar uma.
(“Fanisse era minha avó” [de um poema de José Craveirinha], 1967, collage e óleo sobre tela)
Caleidoscópios
Luciana Stegagno Picchio escreveu que “a própria aventura do informal, que Europa e América enfrentam a nível puramente cerebral e visivo ou mesmo apenas gestual, é vivida por Bertina, africana de Europa, como recuperação de gestos e signos que em África, antes que em qualquer lugar, o tempo tinha isolado e mudado em metáforas: o nó, a rede, o olho, a serpente, o totem.”
Já passaram muitos anos das primeiras pinturas figurativas, repletas de grandes olhos de africanos chocados com a violência do mundo. E passaram também alguns anos dos “totem” repletos das cores fantásticas da liber-tação. Passou também a fase espacial.
No século XXI, Mama B de Maputo, de Lisboa, de Roma, tem como motivo criativo a difusão da cor, quase violenta, em telas sempre maiores, caleidoscópios de cores brilhantes, úteros luminosos e fortes onde se vê nítida a vida e a alegria de viver.
Adenda (Jpt): Sobre Bertina Lopes consultar aqui.
As seguintes (pobres) reproduções são minha opção para ilustração no blog, retiradas do catálogo 9 Artistas de Moçambique, Maputo, Museu Nacional de Arte, 1992, e entretanto substituídas pelas imagens originalmente colocadas no artigo.
[“As Luzes e as Chaminés das Fábricas“, 1988, óleo sobre tela]
["Mafalala", s/d, óleo sobre tela)"]
["Os Três Momentos", 1991, óleo sobre tela]
["Raíz Antiga", 1988, óleo sobre tela]
jpt
Foi ontem o lançamento do belo "Finta Finta" da Paola Rolletta, publicado em edição bilingue (português e inglês) pela Texto Editores. Curtas histórias de vida de 31 futebolistas moçambicanos, praticantes entre os anos 1950s e a actualidade, que "por obras valerosas se [foram] da lei da morte libertando" - e agora um bocado mais, através deste trabalho, amante e amável. Como escreveu no prefácio João Paulo Borges Coelho "é destes príncipes da bola que trata o livro. Destes príncipes que representam os muitos outros que não chegaram nunca a ser descobertos, e portanto cujos sonhos permaneceram no lugar onde moram os sonhos". Quem são? Diz a Paola logo na entrada "Sabemos que arranjámos um trinta e um! Em terra de abundância é difícil escolher, mesmo trinta e um jogadores ..."
E que selecção História se fez? Ela sempre polémica, ainda para mais quando percorrendo um tempo longo entre Fernando Lage e Costa Pereira e Tico Tico e Abel Xavier - eu, livro fresco na mão, logo a resmungar onde está o "nosso" Manaca, o nosso Carlos Manaca, espantoso lateral-direito campeão em 1974 pelo "meu" Sporting? É também essa a riqueza, levantar o debate, avivar a memória. Convocar o prazer. Avivar as colecções de velhos cromos, tão lembrados foram estes no lançamento do livro.
[O prefaciador, a autora, o primeiro-ministro, o editor, o jogador]
Prazer que assim convocado compareceu em pleno na Mediateca do BCI neste fim de tarde. Casa cheia, cotovelos unidos, admiradores da bola. Um lançamento-festa, e nem todos o são. Vários dos futebolistas entrevistados e alguns familiares dos ausentes. Muitos amigos da autora. Corpo diplomático enquanto tal - o embaixador do Brasil, amigo porventura, mas nesta condição sempre visto como representante de uma das Pátrias da Finta. E o próprio primeiro-ministro, Aires Aly.
João Paulo Borges Coelho apresentou o livro e, jogando em souplesse, elaborou sobre a importância da memória, identitária enquanto problemática e talvez polémica, construída e sempre reconstruída. Avisou da importância dos "pelados" urbanos para o surgimento de jogadores, assim silvestres digo-os eu, e do quanto sofre o jogo dado o desaparecimento desses espaços, submersos pela construção. Nessa tão necessária polemização da memória avançou a sua tese (já defendida no prefácio) da primazia de Calton Banze nesta constelação, algo que defronta a velha dicotomia paradigmática, aquela que alterna entre o culto de Fernando Lage e o de Eusébio.
Joaquim João, esse esteio que o livro recorda ter sido tão amado que até alvo de uma música-elogio do grande Alexandre Langa, surgiu em pose de libero, e assim defendeu o livro enquanto mostruário dos serviços dos jogadores, lembrando a sua importância nos momentos difíceis do país, fazedores de sonhos quando estes tão árduos.
O primeiro-ministro Aires Aly, cuja presença muito significou o apreço geral pela produção, encarnou o playmaker, apontando a qualidade do livro como transmissor dos ídolos de antanho aos meninos (e às meninas) de hoje, livro então ele-próprio fazedor de sonhos, e também como necessário trampolim para mais obras sobre desporto e desportistas. Para memória, para incentivo, e para aprendizagem.
Seguidamente, e já quase em tempo de descontos, Paola Rolletta (re)afirmou-se uma verdadeira "carregadora de piano", assinando incansavelmente autógrafos aos múltiplos adeptos que acorriam, impiedosamente.
Após o apito final, satisfeitos com a vitória alcançada, os adeptos de camarote deliciaram-se com as iguarias servidas, em particular com as competentes chamussas (ou chamuças?). Nessa mole contava-se este jpt, com o seu Nokia.
Entretanto, lá fora, na já noite, os adeptos agregavam-se na expectativa de ver sair os ídolos, na ânsia de um vislumbre, de uma recordação, enquanto debatiam velhas e menos velhas memórias.
Agora só lhe falta, caro leitor, ir comprar o livro.
jpt
Numa época em que escasseia a reportagem e inexiste a grande reportagem surge uma enorme surpresa. Uma muitíssimo boa reportagem de José Pedro Castanheira (com colaboração da Paola Rolletta e fotografias de António Pedro Ferreira): O Massacre das Minas de Moatize (2 de Agosto de 1977). Trouxe exemplares da revista mas o texto está acessível (pelo menos por enquanto), aconselho a leitura. Magnífico trabalho, daqueles quem impelem ao "Bravo".
Uma pequena nota, paralela: no texto refere-se que foi vedado ao jornalista o acesso às comunicações diplomáticas de então (as consideradas "secretas"). Recordo o que aqui escrevi aquando da querela intra-ma-schamba devida à (desaparecida, já agora) Wikileaks: "Trabalhei alguns anos numa embaixada, não tenho a visão tortuosa (nem a palerma, para aí blogorepetida, já agora) do trabalho diplomático, necessário e necessariamente informativo sobre a realidade vivida. E necessariamente impublicado. É para isso que existem arquivos e prazos de abertura. Até porque o “tempo” não é obrigatoriamente padronizado como o “imediato”, antropologicamente reduzido ao “quotidiano” [e neste caso regresso à minha besta negra (sem aspas): que um historiador (...) como Rui Tavares considere que os arquivos estatais devam ser imediatamente abertos (...) aterroriza-me quanto ao futuro do meu país. Até quando teremos que ver e ouvir estas aplaudidas pústulas e varizes do execrável e ordinário can-can esquerdista?". Ou seja, defendo a interdição a prazo do acesso os arquivos estatais. Mas que estes estejam vedados à investigação (académica, amadora, jornalística) 34 anos depois parece-me completamente exagerado. Uma sociedade democrática é uma sociedade aberta. Como tal com arquivos abertos. E aberta sobre a sua história e as relações históricas com os outros. Muito negativo este encerramento.
jpt
[Fiel dos Santos Sculpteur, Éditions de l'Oeil, 2008, 24 pp]
Livro trilingue (francês, inglês, português), com texto original de Paola Rolletta, dedicado a Fiel dos Santos publicado na colecção de livros de bolso "Les Carnets de la Création", que esta editora vem produzindo, e que já integrara - pelo menos - 3 livros sobre fotógrafos moçambicanos (Rangel, Mauro Pinto, Luís Basto). Ao que me diz Fiel agora foram publicados mais alguns dedicados a artistas moçambicanos, os quais ainda não encontrei.
Fiel é um membro proeminente do grupo de geração que aderiu em finais do século passado à proposta artística de transformação de armas de guerra em obras de arte, um desafio então lançado pelo Conselho Cristão de Moçambique, e que desde então se tem mantido nesta linha de trabalho, des-essencializadora do material, provocatória sobre os homens. Projecto artístico ideológico, claro, e como diz Paola Rolletta "Só quem viveu na pele a guerra e a paz é capaz de fazer desabrochar uma rosa de um rocket." (17) Um caminho que tem vindo a colher sucesso, interno e internacional.
Mas também caminho a discutir - até que ponto não há neste manusear da matéria-prima uma sua sobrevalorização face ao produto final artístico? Conversa para outros contextos que não este, o de saudar mais este lançamento, que conta com o apoio da Embaixada de França em Moçambique - sempre atenta no apoio às artes nacionais -, e que é possível (e justificado) adquirir no Núcleo de Arte.
jpt
A entrevista de Marcelo Rebelo de Sousa, concedida ao Savana. Ei-la, acho-a muito interessante. A negrito o título e os sub-títulos do jornal, a negrito e a itálico as perguntas da entrevistadora.
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As notas do professor Marcelo
Entrevista conduzida por Paola Rolletta*
O filho de um dos poucos governadores coloniais que deixou saudade em Moçambique está de volta à terra que o viu crescer. Marcelo Rebelo de Sousa, catedrático universitário, político, bloguista, comentador com lugar cativo nos media, veio formalmente para dar aulas na universidade. De caminho – o homem que só dorme quatro horas por noite - atendeu-nos fora de horas, no velho novo Polana, para dar "as suas notas" sobre políticas e políticos, os media, heranças de colonizadores e colonizados na hora da globalização. Aqui ficam as respostas
Em Moçambique estão as instituições consolidadas a ponto de os dinheiros externos irem directamente para o orçamento do Estado?
Tudo é relativo na vida. Em termos relativos, comparando Moçambique com a generalidade dos países africanos e até com países de outros continentes, nomeadamente o continente asiático, neste espaço de tempo Moçambique conseguiu mudar a constituição, estabilizar a vida política, ter um funcionamento das instituições que é um funcionamento melhor com a generalidade dos países com os quais se pode comparar.
É natural que em democracias "emergentes" a prática política seja reflexo do monopartidarismo?
O que nós temos em Moçambique são regimes de transição, temos um regime económico de transição para o capitalismo, e como todo o regime de transição é um regime misto, com contradições, com avanços e com recuos, começou com um regime que se quis socialista, e que está a introduzir progressivamente áreas de capitalismo, e essa mudança é feita com tensões, haverá quem considere que se está a ir longe demais, e que é uma traição aos ideais iniciais, e haverá aqueles que considerem curto e lento demais porque há que fazer reformas que permitam ter maior competição e maior abertura ao capitalismo e ao mesmo tempo um regime politico de transição do monopartidarismo e com forte controlo do poder politico pelo partido que representou a luta pela independência para uma realidade mais plural, mais flexível. Esta transição para uns está a ser rápida demais, a Frelimo está a ceder e há sectores na Frelimo porventura duros que acham está a ceder em matéria de admissão da liberdade de expressão, pluralismo excessivo.
Países como Moçambique deviam dar prioridade à consolidação interna do Estado-Nação ou dar prioridade ao posicionamento no mundo globalizado?
É uma situação às vezes contraditória, tem que se fazer ao mesmo tempo as duas coisas que às vezes vão entrar em contradição. Por um lado num país tão grande e além de tão grande extensão territorial e com diferenças muito grandes, também é uma prioiridade haver um mínimo de homogeneidade e de identidade nacional, sabendo nós que essa identidade nacional é feita de diversidades culturais imensas, mas tem de haver o mínimo de homogeneidade para não se partir o país. Basta pensar que o Norte e uma parte do centro tiveram problemas de cheias, e o sul de secas, quer dizer que mesmo nas coisas mais simples, do ponto de vista climático, há sub-países diferentes, portanto para manter a unidade do pais há um esforço da construção da homogeneidade muito grande, ao mesmo tempo, a competição internacional força a criação de pólos e é mais fácil criar pólos em certas áreas mais avançadas do que noutras. Portanto é tentador desenvolver certas áreas mais depressa do que outras para competir com o exterior, o que vai contra a tendência da homogeneidade.…
por isso que foi criado o projecto NEPAD
Atenua, são formas de correcção de desigualdades, agora é evidente que há zonas onde é mais fácil instalar certos investimentos. Há investimentos industriais, há investimentos comerciais, até infraestruturais que têm que se fazer em certos sítios. Fazer diferente tem outros custos. Não se pode escolher os vizinhos nem se pode escolher a geografia, é como é.
Qual é o limite entre uma ditadura boa e uma democracia má?
A diferença entre democracia e ditadura é feita de quatro coisas: garantia dos direitos, possibilidade de eleger livremente os governantes, pluralismo de opinião, pluralismo de organização política, isto é fundamental para haver democracia plenamente afirmada. A ditadura é o contrário disso, é imposição de uma só ideologia e proibição das outras, de um só partido e proibição dos outros, o sacrifício dos direito em função da máquina do aparelho do poder e a existência de limites efectivos de condicionamento livre do voto das pessoas. Os regimes mistos ou de transição são aqueles em que nós encontramos características mistas.
E Moçambique onde está?
Provavelmente Moçambique está neste processo evolutivo, já não há um partido único, ainda não há o pluripartidarismo completo, já não há uma ideologia exclusiva, ainda não há concorrência ideológica aceite sem complexos, já não há ideia de sacrifício de alguns direitos fundamentais sobretudo políticos em função de um aparelho, de um objectivo, mas os direitos vão sendo aprendidos, garantidos, e há por outro lado processos eleitorais entendidos de uma maneira diferente daquilo que foi a experiência moçambicana. Ou seja, os avanços destas quatro características, para mim, são sempre positivos. A ditadura pode parecer até muito eficaz, a ideia de que um poder politico monolítico é mais eficaz porque decide e manda, mas é a curto prazo, a médio prazo os sistemas mais flexíveis são os que se adaptam melhor a um mundo de mudanças sobretudo quando as economia são abertas e quando as sociedades são abertas nem sequer podem ser fechadas.
O que é para si a sociedade civil?
Sociedade civil é tudo aquilo que não é o poder político do Estado, entram todas as iniciativas dos cidadãos, associações, fundações, sociedades, empresas, isso é sociedade civil, no fundo a comunidade em geral, os cidadãos e os seus grupos, e as suas formas de intervenção e no fundo acabam por influenciar, condicionar, ter um papel junto do poder político.
Em Moçambique, a sociedade civil é dominada por instituições e militantes do partido no poder.
As sociedades civis são duma maneira geral fracas em países novos. O que se passa em estados novos, e Moçambique é um estado novo, com uma história pós-independência muito curta, a sociedade civil é necessariamente fraca, porque a independência é fruto de uma luta política, em que há forças politicas liderantes, nomeadamente um partido liderante, e à medida que o Estado vai criando as suas instituições, e a economia vai estabilizando, em que vai havendo desenvolvimento social, é que a sociedade civil vai fortalecendo. Mesmo em países europeus velhos como é Portugal a sociedade civil é tradicionalmente fraca porque o poder político esmaga a sociedade civil, manda na sociedade civil, domina a sociedade civil, em termos económicos, em termos sociais e às vezes em termos culturais, portanto não é um fenómeno único, é muito frequente em todo o mundo. O que é raro é ver países com sociedade civil forte.
O panorama dos media
Em Moçambique e em Angola, estão a surgir jornais a toda hora, processo que não é acompanhado pela rádio e pela televisão.
É mais barato fazer jornais e, fazer jornais num regime de transição política têm menos limites burocráticos e políticos. A televisão, por razões técnicas, porque não há muitas frequências, o poder politico tem sempre medo de dar autorizações para televisões, mesmo em democracias antigas tem medo, mesmo nas rádio é um processo mais administrativo, mais controlado, limitado, eu diria numa primeira fase é jornais. No começo da democracia portuguesa foi assim, a loucura dos jornais de 74 até princípio dos anos 90, depois rádios, e só agora as televisões. O processo evolutivo em Moçambique começou mais tarde, estamos na fase dos jornais, a seguir virá a fase das rádios, que tem muita importância num país tão extenso, e depois televisões, que, apesar de tudo, vai muito razoável porque vi que há dois canais privados.
É só um problema de tempo?
É um problema de tempo… e também de mercado. A televisão privada precisa de sobreviver com receitas, a publicidade depende da evolução económica, à medida que vai crescendo, como se espera, a riqueza moçambicana, também cresce a publicidade e isso permite um mercado maior, e alargando-se o mercado em termos não só regionais mas também nacionais é possível alargar o pluralismo da televisão, é um processo não só político mas também económico e financeiro.
E o futuro?
Vai ficar apenas uma parte da imprensa escrita, vai diminuir o número de jornais diários, ficarão poucos de referência, ficarão alguns populares, nomeadamente desportivos, mais outros populares sociais, a imprensa semanal vai aumentar a sua importância, a imprensa especializada vai aumentar a sua importância, temas especializados, a pesca, a caça, a imprensa para a mulher, temas científicos e técnicos, e depois vamos ter a televisão, cada vez mais interactiva, e ela própria especializada, ao lado da genérica, nas sociedades mais ricas, o que já hoje acontece.
Faz sentido estar a discutir a carteira profissional quando já estamos a falar de jornalismo do cidadão?
A carteira profissional corresponde a uma fase do jornalismo tradicional, mas também houve pessoas como eu… o sindicato nunca me deu a carteira. Mas houve uma fase em que a carteira profissional teve um papel disciplinador, foi o de garantir por um lado o peso do sindicato dos jornalistas e por outro lado alguma autonomia dos jornalistas em termos deontológicos.
Mas o problema da filiação sindical para carteira é anticonstitucional em Portugal e em Moçambique…
O sindicato no fundo é uma ordem, desempenha simultaneamente a função de sindicato e de ordem, é uma perversão, mas é por isso que em Portugal há o debate sobre a constituição de uma ordem, o sindicato que defende os direitos laborais e a ordem que trata da questão deontológica. Mas há um novo jornalismo que está a nascer, a blogoesfera. Neste momento, o caso maior, Sócrates(primeiro-ministro de Portugal), foi levantado há dois anos num blog. E ninguém pegou. Dois anos depois as informações chave vieram desse blog. Em rigor uma parte fundamental da pesquisa jornalística foi feita pelo blog. Isto é um dado novo, mas temos de ser sinceros: o número de pessoas que vai à blogoesfera é reduzido. Se os jornais escritos não tivessem pegado e se uma grande cadeia de televisão não tivesse dado projecção, aquele caso teria ficado muito anos sem chegar à opinião pública. Há sociedades em que a blogoesfera já põe em crise a definição e o estatuto de jornalista, há outras onde vai demorar algum tempo a fazer.
Revisitar a cooperação
Disse aqui em público que é preciso regar a planta da democracia. Porque é que a cooperação portuguesa apoia apenas a TV e a rádio estatal. Assim não se corre o risco de secar a planta?
Nunca tinha pensado nisso. A meu ver, a razão histórica deve ter sido uma razão de inércia, como no início havia tv e rádio pública em Portugal e em Moçambique estabeleceram-se ligações e habituaram-se a apoiar as suas parceiras públicas. É evidente que no futuro acho que a cooperação pública, quer as rádios e televisões privadas portuguesas devem fazer cooperação estimulando essas novas realidades privadas na tv e rádio.
Está a sugerir uma compartimentação das cooperações?
Isso é uma visão já ultrapassada. A cooperação foi definida por um lado Estado a Estado e por outro lado pensando na sociedade civil como sendo só sociedade civil pobre, não lucrativa. Porque se pensou que para os privados haveria os privados. Ainda é assim, mas penso que no futuro há a exacta noção de que o apoio internacional, o apoio externo deve ser canalizado não só para instituições sociais e de solidariedade social não lucrativas como criando condições para o desenvolvimento de empresas privadas que são fundamentais para o avanço da economia moçambicana. O mundo é outro em geral e nestes casos particulares a cooperação tem que ser repensada de facto.
As estatísticas dizem que o investimento português está a diminuir…
Não sei se está a diminuir, há projectos de investimentos em várias áreas em cima da mesa, em sectores importantes, construção de infra-estruturas, portos, estradas, maior desenvolvimento da banca, indústria, há vários projectos (e não posso entrar em pormenores), mas há grupos portugueses novos.
Encontrou-se a melhor solução para Cahora Bassa?
Sou suspeito porque trabalhei em Cahora Bassa entre 76 e 79 como jurista. Assisti ao lançamento de Cahora Bassa, porque o meu pai era governador de Moçambique e pôs como condição para vir para cá a realização de Cahora Bassa que era um ponto mesmo muito discutido na ditadura. Mais de metade do governo era contra Cahora Bassa e foi uma discussão muito difícil. Assisti ao começo da construção, trabalhei por mero acaso mais tarde como jurista. Eu pessoalmente tenho pena que não tivesse sido possível encontrar mais cedo uma solução mais virada para o futuro e em que Portugal pudesse continuar empenhado. Admito que as coisas são como são, e havia uma vontade moçambicana muito forte de resolver a questão no sentido de encontrar outras alternativas, portanto com pena por não ser Portugal o parceiro em Cahora Bassa, até porque afectivamente me dizia muito. Admito que no futuro Moçambique tenha outros parceiros que não Portugal em Cahora Bassa, admito que o governo português não tivesse muito espaço de manobra para dizer que não a Moçambique quando Moçambique queria que Portugal saísse
Na política moçambicana
Qual é a sua percepção da passagem de testemunho Chissano-Guebuza?
Corresponde ao início de um terceiro ciclo político, Machel, o ciclo ideológico, militante próprio da fase inicial da independência, doutrinário. O ciclo da estabilização política, não diria de desideologização é capaz ser demais do Chissano, mas subida das preocupações de gestão, em primeiro lugar de gestão política e da estabilização das instituições e agora a gestão económica e social com preocupações económicas e sociais que no fundo acabam por trazer mudanças políticas. A mudança económica e social traz a mudança política. Em Portugal por exemplo a necessidade de entrar no processo de integração europeia obrigou a rever uma série de escolhas políticas. Aqui não é tanto esse processo de integração mas é de globalização.
É diferente aqui?
Moçambique está um caso de estudo muito interessante e de intervenção internacional, isso vai significar uma série de mudanças, reformas económicas e sociais que num primeiro momento suscitam alguma objecção de sectores duros do regime em termos políticos mas que são inevitáveis e que têm depois consequências políticas a prazo. No quadro das experiências de democratização de países jovens e com problemas económicos, Moçambique tem feito um processo com uma segurança, um pragmatismo, que torna perante algumas entidades de crédito internacionais um país de menos risco do que países como Angola que é muito mais rico.
Um "bloguista" local escreveu que o governo Guebuza é Chissano com enxertos de Samora.
Acho que é uma simplificação. Há um lado tecnocrático de preocupação de gestão económica, financeira e social que não tem nada a ver com a fase heróica de Samora e não tem nada a ver com a gestão política que foi difícil e complexa em Chissano. É outra coisa. Estamos a falar do começo de um ciclo, o próprio presidente Guebuza, quando está a dar a volta pelo país, está a reforçar o seu poder político pessoal e portanto às tantas o poder dele já não deriva de uma transmissão de ou permissão de um directório partidário, é um poder que se vai legitimando em termos pessoais progressivamente.
África e a Europa
Acha que África existe na União Europeia?
Felizmente que existe um presidente da Comissão Europeia que conhece bem África(Durão Barroso). O grande problema da Europa chegou a ser para mim um problema gravíssimo foi Europa não perceber África. O que é estranho porque poderia dizer-se como é que antigas potências colonizadoras não percebem África. Mas as antigas potências colonizadoras eram uma minoria dos parceiros europeus e uma minoria especial A Alemanha estava e está a leste da realidade africana. Lembro-me ter tido uma conversa com o chanceler Khol em que disse "para mim África morreu, é um continente perdido". E quando Khol, que é um homem particularmente inteligente e fundamental para a reunificação alemã tinha essa visão, que era a visão de muitos políticos europeus na altura … há outros países começaram a abrir os olhos para a realidade africana muito recentemente.
Por causa do problema da migração…
Entre outras coisas. Quando perceberam o seguinte que não há nem pode haver continentes perdidos, primeiro porque há áreas desse continente que vão mais rápidas do que outras, segundo porque se um continente tão ligado à Europa como África é um continentes com graves problemas de saúde, educação, desigualdades económicas e sociais, isso vai projectar-se na Europa imediatamente.
Mas nem sempre foi assim…
A Europa estava ocupada com o seu umbigo, com problema de gestão interna, com o problema do alargamento, há países do leste que não têm nada a ver com África, nunca tiveram, têm a ver com outras realidades, com a Rússia, antiga União Soviética, é outro mundo. Depois havia os países nórdicos que têm uma visão muito disponível e muito idealista de África, e que é importante, mas não tinham grande papel na construção europeia. De facto um deles, que tem um particular papel nas relações com África, não faz parte da União Europeia, a Noruega. A Finlândia é muito peculiar, a Suécia que tinha algumas relações com África. Como um todo, África não era uma prioridade, foi por isso que se tentou várias vezes uma cimeira Europa-África e nunca foi possível. E pela primeira vez, com a presidência portuguesa, mas não é só mérito de Portugal, começa a ser uma prioridade europeia. Demorou é muito tempo, perdeu-se pelo menos uma década e meia, e isto em política, economia e problemas sociais, uma década e meia é uma eternidade porque significa que uns avançam e outros ficam para trás. Por outro lado os EUA muitas vezes têm tido uma falta de compreensão da realidade africana. Tentam compreender mas não compreendem, como aliás não compreendem a realidade europeia. Há ali um problema de dificuldade de linguagem, estão lá, estão atentos, interessados, querem entender e não conseguem, mas isso se passa em todo o mundo … não entendem a realidade asiática, é muito peculiar o que se passa com muito sectores americanos. Na Europa, felizmente que houve uma inversão de tendência e estamos no bom caminho embora atrasados.
[Um texto de Paola Rolletta, a quem muito agradeço esta oferta ao Ma-Schamba. Publicado no Savana, edição de 27.01.2006]
Bertina, a Pintora
Energia imparável é o comentário mais óbvio que se pode fazer quando se fala de Bertina Lopes. Uma exposição em Rimini a inaugurar no próximo dia 4 de Março, uma outra em Roma em meados de Maio, e outros mil projectos em carteira desta senhora das artes plásticas moçambicana que nasceu no final dos anos 20 do século passado.
Um texto de um jornal deve ser justificado por um acontecimento especial, um “gancho” como se diz na gíria. O gancho para esta pequena homenagem a esta grande mulher foi-me dado há algumas semanas quando, neste semanário, foi publicado um artigo sobre o fundador do jornal “Tribuna”, João Reis, recentemente falecido. Reis era proprietário de uma loja de livros de arte, discos de música clássica e jazz, jogos de sociedade, reproduções de quadros, a Poliarte, que estava nas arcadas no Prédio EMOSE, na baixa de Maputo. João Reis apoiava os jovens artistas locais, e organizava exposições de pintura. Justamente em 1956, Bertina participou pela primeira vez com os seus quadros numa exposição colectiva faz agora cinquenta anos. O que justifica estas linhas.
A mãe dos pintores moçambicanos
[caption id="attachment_33227" align="aligncenter" width="146" caption="(Bertina Lopes, "Olhos brancos de farinha de milho", 1965, óleo sobre tela)"][/caption]Na história da pintura, muitas vezes o seu nome é posto ao lado da mexicana e grande artista, Frida Khalo. Duas vidas certamente diferentes, mas com traços comuns muito fortes, e sobretudo com qualidades pictóricas e humanas muito peculiares.
É chamada por toda a gente Mama B. Mãe foi de dois filhos, o Virgílio e o Eugênio. E foi considerada a mãe dos pintores moçambicanos todos. É Bertina Lopes, a artista luso-moçambicana que vive há quarenta anos em Roma, com Franco, seu marido italiano. Proibiu-nos de chamá-la apenas moçambicana. Não quer. “Nas minhas veias corre sangue português, do meu pai, e sangue africano, da minha mãe. Desde sempre queria que todos me chamassem luso-moçambicana, só nos últimos anos consegui ter reconhecido esse meu direito”, afirma com um brilho malandro nos olhos negros marcados com uma linha de kajal.
“Ela é mãe e pai das artes plásticas moçambicanas”, disse-nos Malangatana. “Foi das primeiras a exprimir as inquietações na sociedade portuguesa. Levantava problemas sócio-políticos sem fazer com que a pintura se tornasse panfleto. Quer gostassem quer não da pessoa, todos ficavam impressionados por ela como criadora. Porque era fácil compreender a sua obra, caracterizada – ainda hoje - por uma forte expressividade. Talvez não gostassem dos títulos (por exemplo, Grito grande, Olhos brancos de farinha de milho) que ela escolhia para as suas obras, mas sentiam a obra na carne e na alma.”
[caption id="attachment_33228" align="aligncenter" width="166" caption="(Bertina Lopes com José Craveirinha e Rui Nogar; fotografia de Ricardo Rangel)"][/caption]Voltou a Lourenço Marques em 1953, depois de uma temporada em Lisboa onde foi estudar Belas Artes. Voltou e começou a dar aulas de desenho na Escola Técnica General Machado. Eram os tempos de Craveirinha, Noémia de Sousa, Rui Knopfli. Casou com o poeta Virgílio de Lemos, o pai dos seus filhos. “ Embora com carácter diferente, muitas vezes os quadros pareciam ilustrações dos poemas do Virgílio e vice-versa”, diz Malangatana.
Embaixada paralela
(Bertina Lopes, "Como Um Grande Amor")
Bertina recebe na sua casa-atelier todos os “palopes” que passam pela capital italiana. O terraço, com vista fabulosa dos telhados de Roma inclusive da Basílica de São Pedro, tornou-se uma espécie de “embaixada paralela”. Todos deixam a sua assinatura, nas paredes, repletas de homens políticos, artistas, músicos, enfim de toda a gente que por lá passa.Um pedaço dos palopes em território neutro, a Itália. Está lá o poema que lhe dedicou Graça Machel, a flor de Joaquim Chissano, o charuto de Mário Soares, os agradecimentos de Carlos Veiga… e todos os outros que passaram e passam por lá a tomar um “espumantinho erótico”.Bertina conta anedotas, sorri à vida, leva tudo com a ligeireza sonhadora dos grandes artistas e fala uma língua que é só dela: o “bertinês”, uma mistura de português e italiano, como a definiu o escritor italiano Carlo Levi. Quando fala, usa sempre um tom baixo e arrastado, como se tivesse sempre que traduzir não apenas as palavras mas aquilo que sente na alma: as reacções agressivas - que são uma caractéristica dela - se apagam logo graças ao sorriso de menina brincalhona e das boas maneiras de senhora requintada.Bertina é uma pessoa generosa. “No meio artístico e social de Moçambique é carinhosamente chamada Mama B”, escreveu Joaquim Chissano, “porque nela está corporizado o mito e a essência do nosso ser colectivo, o modelo e exemplo a seguir pelas novas gerações, a fonte inesgotável de inspiração nos nossos esforços de reconstrução e desenvolvimento nacional, de consolidação da tolerância e reconciliação, de trabalho árduo por um futuro melhor, em que estejam garantidos o pão, a paz, a harmonia e o bem-estar para todos.”O antigo presidente de Moçambique esqueceu de dizer que Mama B é assim chamada também em Itália onde conta com 57 “filhochos”, (filhotes). A pena dela é que apenas uma traz o seu nome. “Bertine era a mulher do médico que me fez nascer. Mas como era um nome estrangeiro o governo não deixou registar o nome. Os meus pais decidiram então me chamar Bertina.”Bertina à medida que a idade avança não deixa de ensinar a arte de viver com o sorriso apesar da dor, a arte da curiosidade, da generosidade, e sobretudo a grande arte de não se levar demasiado a sério, a ironia, e a arte e o prazer da convivência natural e social.Ela nunca esqueceu de onde veio, nunca esqueceu a luta do seu povo e a luta dela ao lado, embora geograficamente distante, da sua gente. No ano passado foi madrinha de uma exposição de artistas deficientes, “Abaixo o cinzento”, para angariar fundos para o DREAM, o programa de luta contra o SIDA levado a cabo pela Comunidade de Santo Egídio em Moçambique.“Nunca se divorciou do seu país”, comentou Malangatana. A lembrança faz parte da sua obra de arte e da sua vida. “A minha casa era, desde a minha chegada a Roma, o ponto de encontro dos refugiados, dos exilados”, e recorda como ela, na época da ditadura era “deportada” enquanto a irmã mais velha era deputada nas Nações Unidas.Entre outros, em 1991 Bertina recebeu o Prémio Mundial “Carson” da Raquel Carson Memorial Foundation de Nova Iorque pelo seus méritos artísticos e humanitários e pela sua fidelidade às origens africanas embora no contexto de uma refinada esperiência pessoal internacional.
Uma das fases mais recentes da pintura da Bertina tem o jazz como elemento inspirador. As telas de Bertina a quererem ser partituras de jazz, como um símbolo activo da síntese mais ambiciosa e qualitativamente elevada, entre diversas culturas e etnias, jogadas no harmonioso signo de uma arte já livre de qualquer exagero nacional-cultural e político.
A força da pintura e da escultura (particularmente interessante aquela que dedicou ao antigo presidente e amigo Samora Machel, Quem nunca morre e de tudo se lembra, é o povo) vivida entre dois continentes, reside neste seu “estar fora”, num espaço pictórico totalmente autónomo das escolas e totalmente dentro da vida, percorrendo o espaço “para encontrar um espaço para África”. Grande capacidade da artista de absorver e metabolizar escolas e tendências sem nunca prescindir das suas raizes e da sua personalidade.
Mas a sua terra natal não se lembra tanto dela como ela se lembra de Moçambique. Há vários anos que não é organizada uma exposição da obra dela. Há pelo menos um banco que possui muitos quadros de Bertina, talvez a maior exposição permanente da artista nesta cidade. Infelizmente não está à vista de toda a gente. Malangatana acha que era tempo de Moçambique organizar uma.
(“Fanisse era minha avó” [de um poema de José Craveirinha], 1967, collage e óleo sobre tela)
Caleidoscópios
Luciana Stegagno Picchio escreveu que “a própria aventura do informal, que Europa e América enfrentam a nível puramente cerebral e visivo ou mesmo apenas gestual, é vivida por Bertina, africana de Europa, como recuperação de gestos e signos que em África, antes que em qualquer lugar, o tempo tinha isolado e mudado em metáforas: o nó, a rede, o olho, a serpente, o totem.”
Já passaram muitos anos das primeiras pinturas figurativas, repletas de grandes olhos de africanos chocados com a violência do mundo. E passaram também alguns anos dos “totem” repletos das cores fantásticas da liber-tação. Passou também a fase espacial.
No século XXI, Mama B de Maputo, de Lisboa, de Roma, tem como motivo criativo a difusão da cor, quase violenta, em telas sempre maiores, caleidoscópios de cores brilhantes, úteros luminosos e fortes onde se vê nítida a vida e a alegria de viver.
Adenda (Jpt): Sobre Bertina Lopes consultar aqui, aqui ou aqui.
As seguintes (pobres) reproduções são minha opção para ilustração no blog, retiradas do catálogo 9 Artistas de Moçambique, Maputo, Museu Nacional de Arte, 1992, e entretanto substituídas pelas imagens originalmente colocadas no artigo.[caption id="attachment_33232" align="aligncenter" width="450" caption="(“As Luzes e as Chaminés das Fábricas“, 1988, óleo sobre tela)"][/caption][caption id="attachment_33233" align="aligncenter" width="450" caption="("Mafalala", s/d, óleo sobre tela)"][/caption][caption id="attachment_33234" align="aligncenter" width="450" caption="("Os Três Momentos", 1991, óleo sobre tela)"][/caption][caption id="attachment_33235" align="aligncenter" width="450" caption="("Raíz Antiga", 1988, óleo sobre tela)"][/caption]
No Expresso [abaixo transcrito] Paola Rolleta coloca texto sobre o Ibo e sobre os livros ontem publicados em Moçambique, "Ibo - a Casa e o Tempo" de Júlio Carrilho, e "Pemba, as Duas Cidades", de Júlio Carrilho, Luís Lage e Sandro Bruschi, edições da Faculdade de Arquitectura e Planeamento Físico.
(Lembro os interessados residentes no estrangeiro, arquitectos, amantes do maravilhoso Cabo Delgado, amantes de livros e curiosos, que os livros podem ser encomendados na Livraria Escolar Editora que os distribuirá internacionalmente).
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Turismo no arquipélago das Quirimbas
Ilha de Ibo, um encanto decadente
Expresso, 30 de Setembro
Paola Rolletta
A ilha do Ibo - no arquipélago das Quirimbas - é um destino que começa a aparecer nos roteiros turísticos mais sofisticados a cinco e seis estrelas, como Quilálea e Matemo.
O Ibo ainda mantém um ar decadente, e já despertou o interesse nacional e internacional pelo grande património arquitectónico que possui, pelo que representa na história dos povos português e moçambicano.
"Casas de pedra e limo, bichos obstinados na sua quietude. Pacientes, embalados pelo vaivém das marés. Deixando que o sal lhes carcuma a pele por terem desde há muito desistido de contrariar o tempo", escreveu numa estória da ilha, João Paulo Borges Coelho.
As ruínas das casas, as ruínas das varandas, elemento tão característico da ilha, as ruínas das estradas, tudo isto foi levantado e estudado pela Faculdade de Arquitectura e Planeamento Físico (FAPF) de Maputo e publicado agora em livro, "Ibo - a Casa e o Tempo" pela pena de Júlio Carrilho, poeta e arquitecto e oriundo do Ibo. É apresentado ao público, em Maputo, juntamente com "Pemba, as Duas Cidades", levantamento da cidade de cimento e da "informal": a expansão recente da antiga Porto Amélia é constituída da adaptação à resistência permanente no ambiente urbano de uma tipologia de casa pré-colonial transformada e evoluída através de uma sabedoria antiga e ainda viva.
A ilha do Ibo já foi um terra de comércio de escravos. Quando a capital dos grupo de ilhas Quirimbas foi mudado para Pemba, a ilha do Ibo já não foi mais nada. Ficou refém das marés vivas e do esquecimento do tempo, com as varandas sempre mais vazias e sempre mais decadentes. Já se pensou fazer dela o centro de Zona Especial de Turismo, mas não deu em nada.
Hoje o ambiente é mais favorável e muito se deve à mudança de mentalidade da qual a FAPF é certamente uma das principais mentoras, com o director José Forjaz e uma equipa de arquitectos moçambicanos e italianos que estão a levar a cabo o levantamento do património arquitectónico moderno moçambicano.
Em Moçambique, onde os monumentos históricos não são certamente uma presença significativa, parece ainda mais importante tutelar este património arquitectónico que constitui a cara mais evidente das cidades de cimento, seja pela qualidade específica seja pela dimensão e o papel urbano, elemento importante pelo turismo urbano e sustentável, actual aposta de desenvolvimento.
"Ibo- a casa e o tempo" tem o aspecto mais de um diário de viagem do que um tratado de arquitectura. Júlio Carrilho, entre plantas urbanas e fotos de edifícios, relata as entrevistas feitas com os velhos habitantes que todos os segredos sabem das casas, das argamassas, da cal e das ervas usadas para ser mais forte. Reconhece um espaço especial a quem quando a maré não deixa pescar, come apenas maçanicas.
E faz um acto de amor para com a sua ilha, alimentando o optimismo da convicção de que "também o presente ciclo de degradação e um certo marasmo será ultrapassado pela redescoberta da riqueza natural, de novas vocações para o relançamento económico e social e da importância do património tangível e intangível das ilhas no seu conjunto e do Ibo, em particular".
Importante notícia. Gentil e saborosa oferta que acabo de acolher, esta "Cozinha Tradicional de Moçambique", de Paola Rolleta, uma edição das Publicações Europa-América de Moçambique.
Contributo importante às delícias da vida, inesgotáveis estas, por isso mesmo sempre solicitando quem nos guie, sistematizando quinhão delas.Para espicaçar apetites alheios aqui fica amostra, a qual é muito cá de casa.Dantes alguns sectores diziam "ler e divulgar". Actualizemos o refrão: "ler, ofertar e divulgar".