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[Fotografia de Sérgio Costa]

 

Anteontem Paulina Chiziane e Ungulani Ba Ka Khosa foram condecorados por Portugal, ambos recebendo o grau de Grande Oficial da Ordem Infante D. Henrique. Aconteceu numa gala televisiva, produzida para o efeito e transmitida por RTP e RDP (secções África), algo que me espantou, habituado a um diferente cerimonial estatal. Mas funcionou bem. Khosa falou e disse o fundamental, que estas condecorações reclamam a "cidadania diplomática" para a cultura, nisso saudando o actual embaixador português em Maputo (que é um homem a saudar, pois empenhado e clarividente) por ter a perspicácia de assim o entender e de o praticar.

 

A diplomacia cultural portuguesa (que integra a acção cultural externa mas nela não se esgota) tem sido, pelo menos nos últimos vinte anos, muito frágil e desconexa. Não por questões políticas ou (escassez) de recursos económicos mas devido a determinantes estruturais: as características culturais e as dinâmicas patrimonialistas da administração pública portuguesa. Factores que mais fazem louvar a inteligência em induzir e a capacidade de levar a cabo um acto destes, inusitado. O qual sublinha o óbvio mas tantas vezes esquecido: a diplomacia (e a política) é feita por pessoas, não por "estruturas" mais ou menos esconsas. Haja gente (assim)!

 

Na cerimónia acontecida pode-se retirar ainda uma actualização do modo como a administração e alguma intelectualidade portuguesas entendem o relacionamento com Moçambique e, por extensão, com os restantes países de língua oficial portuguesa. Khosa e Chiziane foram condecorados tendo em conta os seus méritos literários mas os fundamentos expressos foram também outros. Por um lado, como reconhecimento da sua importância sociológica, pois reconstrutores do conteúdo cultural do país. Por um outro lado, e com particular relevo, pela sua promoção do enriquecimento da língua portuguesa, em léxico, em sintaxe e, como Khosa sublinhou, na semântica, devido ao convívio com as suas línguas primeiras. 

 

Todos os locutores portugueses se referiram a esse assunto, à importância do trabalhos destes escritores no actual cerzir do português. O embaixador em Maputo, José Augusto Duarte, a apresentadora da gala televisiva Sónia Araújo, bem como (através de mensagens gravadas) o presidente Cavaco Silva e um conjunto de individualidades (Morais Sarmento, Rebelo de Sousa, Canavilhas, Moura Duarte e Rogeiro, sendo que este falou muito bem). O notável é que, num momento ancorado no reconhecimento da importância do trabalho sobre a língua comum, nenhum dos portugueses se referiu à "lusofonia".

 

Finalmente! Poder-se-á mesmo dizer que anteontem se assistiu ao (festivo) funeral dessa noção - cheia de subtexto colonial, incompreendedora -, tão dinamizada pela intelectualidade socialista em finais de XX, inconsciente herdeira da "visão do mundo" do republicanismo colonial, e nesse lamaçal intelectual incapaz de entender o mundo actual. Noção recuperada, há pouco, aquando da ascensão do novo governo, com os assomos de uma "diplomacia lusófona", jogada na luta do poder interna à actual coligação governativa. Mas agora com breve apogeu. Acabou. Resta esperar que a purificação nocional seja, efectivamente, acompanhada por uma maior capacidade interpretativa. E, assim, política.

 

 

publicado às 03:46

A condecoração

por jpt, em 26.11.13

 

Na linguagem das condecorações, que é a do reconhecimento (no duplo sentido do agradecimento e no da sua publicitação), o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique é um colar bem pesado e sonoro que a nossa República tem. Grandiloquente, por assim dizer. Foi hoje anunciado que será entregue a Paulina Chiziane e a Ungulani Ba Ka Khosa. É bonito ver estas iniciativas. E como grande admirador de Ungulani fico particularmente satisfeito.

publicado às 16:43

A nova Índico

por jpt, em 05.05.10

[Índico, Série III, nº.1, Maio-Junho 2010]

Este é o primeiro número da nova série (a terceira) da Índico, a revista das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM). Que passou a ser editada por Nelson Saúte, o qual logo a tornou algo distinta. Se a série anterior era muito capaz, enquanto mera revista de bordo, o novo formato eleva a Índico à revista cultural moçambicana, com toda a certeza a coleccionar (assinar?, ou a ir pedir às delegações da LAM?), algo que muito faltava no país. Veja-se este primeiro número, que surge com artigos evocando o mundial de futebol que o vizinho albergará e o trigésimo aniversário da companhia, neste caso com texto de José Luís Cabaço. Mas depois, e para além de alguns textos de ocasião sobre destinos turísticos, surge o núcleo duro. Luís Bernardo Honwana revelando-se como surpreendente fotógrafo. E textos de Eduardo White, Marcelo Panguana, Mia Couto, Nelson Saúte, Paulina Chiziane, Júlio Carrilho, Ungulani Ba Ka Khosa, uma selecção nacional das letras moçambicanas. E um cuidado, sempre discutível mas cuidado, roteiro da capital. Para além de escaparates dedicados à edição livreira e musical, bem como aos ateliers de artistas plásticos.

A desejar bons mares e bons ares à Índico. Para que assim se mantenha.

jpt

publicado às 16:01


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