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O Nosso GG em Havana

por jpt, em 20.08.08

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Pedro Juan Gutiérrez, O Nosso GG em Havana (D. Quixote, 2007, tradução de Magda Bigotte de Figueiredo)

De quando em vez brota mais um escritor de moda. E vai acontecendo com os latino-americanos, muito a jeito por questões mais ou menos políticas. Há alguns anos foi-me enchida (e por minha culpa também) a casa de pequenos e manuseáveis livros - tinham essa vantagem - de Luis Sepulveda. Uma maçada trivial, diga-se. Mas não só latino-americanos, também toca aos anglófonos (normalmente a área ideológica dos elogiadores é outra: tem muito a ver com os ícones upstairs downstairs e Che Guevara, uns sonham-se myladys outros comandantes, e transpõem isso para o que dizem dos livrecos). Nisso de anglófonos lembro-me do espanto ao ler o muito incensado e premiado "Amsterdam" de Ian McEwan. Tinha uma trama qualquer, que esqueci, mas que foi completamente previsível. E tinha em fundo e superfície um nada. E tanta tralha, e in e out-blog, que lera no elogio ...

Desabafo que vem a propósito deste O Nosso GG em Havana, que me chegou muito recomendado. Cubano exo-Castro, desbragado, mito boémio etc e tal, o autor rende. Dele já lera "Carne de Cão", sexo desbragado (os protagonistas - ronda de alter egos - gostam de fornicar na água do mar) e muito rum, alguma piada adolescente. Daí que me deixei ir na onda, 10.80 euros a menos no orçamento familiar também não é tanto assim.

Começa grotesco, um tal de George Greene arriba a Havana, é confundido com Graham Greene, e envolve-se com um travesti histriónico com uma pila de 40 cms. Escusado será dizer que negro, Gutiérrez tem uma fixação em pilas negras que chega a ser pungente. Depois arranja (arranjará?) um enredo policial, traz o verdadeiro Graham Greene à cidade, em descanso do gestação do "Quiet American". Aí Gutiérrez acalma o grotesco - mas não o tom etnográfico sobre os pirilaus afro-cubanos - e dedica-se a uma ficção ensaística, misturando de forma paupérrima uma inenarrável trama pró-espionagem com uma explanação sobre o cerne de Greene/Fowler (o protagonista do Americano Tranquilo), enceta o "Factor Humano", e remata as constantes deambulações entre o bem e o mal que o velho, e verídico, Greene dirimiu ao longo da vida.

Enfim, o livro é uma mera merda. Nem vale o desabafo. Este só encontra causa ao ver os elogios, seja na escrita de jornal, seja até em quem mo recomenda. Vamos ler coisas de jeito? Resistir ao marketing? Ao comercial e ao político. Livros não faltam. E na política, francamente, antes o Fidel Castro ...

publicado às 19:31

gutierrez1

Pedro Juan Gutiérrez, Carne de Cão, Lisboa, D. Quixote, 2005 (tradução Jorge Fallorca)

Rum e Sexo. Muito de ambos. O protagonista (alter ego?) instalou uma pérola na glande, para potenciar a potência. É esta pérola o único adorno visível (?) numa escrita despojada - lembrando os ancestrais neste tipo. Nunca tinha lido este Gutiérrez, histórias (como se contos, como se episódios) com garra ainda que a darem a sensação que chegadas depois de muitos outros livros já havidos. Entenda-se, a rapar o tacho. Mas saborosas. Se calhar por isso.Um fatalismo um bocado blasé: "Não sabem que a sorte é de quem a encontra e não de quem a procura." (95)Ensaio sociopolítico sobre a Cuba local: "Recordo aquela época aborrecida, há quinze anos. Do meu apartamento, no quarto andar, só se via uma serração e outros edifícios, todos idênticos. Nunca se passava nada, éramos todos bons e correctos, obedientes e disciplinados. Agora é o contrário: somos todos maus e incorrectos. As mulheres, ao ataque, as pessoas cínicas e perversas. Todos desesperados numa correria louca e desenfreada atrás do dólar nosso de cada dia. É preciso avançar seja como for e deixar a merda para trás. Está bem. Gosto. Pelo menos não é aborrecido. E as pessoas tiraram a máscara. Nada de aparências. Agora é a época do caos e da vertigem. Garras e presas, à beira do precipício." (147-148)

publicado às 11:38


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