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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Quando em 1994 Michel Petrucciani me permitiu dois dedos de conversa e um par de retratos nos bastidores do Tivoli para um recital único em Lisboa, questionei-me como seria possível um homem com as suas características dominar um piano de cauda, um grande piano, da forma que tantas vezes tinha ouvido em gravações. Michel, o pianista, parece ter-se preocupado mais com a sua música do que com as limitações causadas pela Osteogenensis Imperfecta, uma doença óssea, que lhe impediu um crescimento que se diria, sem perconceitos, normal. Suponho que o esforço físico para levar a cabo a tarefa era enorme (e quantos concertos daria anualmente pelo mundo fora?), o talento, ou melhor, o virtuosismo, suplantava-o e se a primeira impressão levantava dúvidas - Michel foi levado ao colo e sentado por um assistente - os primeiros acordes encarregaram-se de as dissipar. Foi um concerto a solo inesquecível nesse fim de tarde alfacinha. Na memória ficou a música e no arquivo algumas imagens, duas das quais deixo aqui para enfeitar o texto.
Michel Petrucciani morreu aos 37 anos e com ele morreu um gigante.
Ficam para apreciação as interpretações a solo de "Caravan" e "In a Sentimental Mood" e uma composição sua, o balanceado "Cantabile" que me põe sempre a abanar o esqueleto, acompanhado pelo mestre vassoureiro Steve Gadd na bateria e Anthony Jackson no baixo.
À atenção de Maria João Pires
Querida Senhora, era mais isto que tinha em mente ... Pedia-lhe a fineza e a caridade de mostrar aos seus amigos e a muitos dos seus colegas, o filmezinho com a interpretação do amigo Emil Gilels da modesta peça que compus para piano de barba rija.
Um seu criado,
W.A. Mozart
A necessidade das famílias burguesotas transformarem as suas filhas em meninas prendadas de subida alma artística - sacrificando para tanto, vários indefesos pianos com grande contentamento de comerciantes e afinadores do instrumento, bem como a pobre vizinhança que deste projecto não tinha qualquer responsabilidade... - deu cabo de alguns compositores. Enfim, as primeiras décadas do Séc. XX foram penosas e deram cabo, por exemplo, de Mozart, amaneirando-o, adocicando-o e, também por isso (ou basicamente por isso?) tornando o génio num compositor popular. O homem merecia lugar de destaque sem precisar dos dedos das pouco talentosas criaturas. Sei disto pelo que me contaram tias velhotas, não exactamente neste termos, e porque ouvi alguns exemplares sobrevivos (que não tias, note-se!) em hesitantes interpretações e algumas herdeiras recentes dessa "tradição" - uma delas, um fio de esparguete míope, destítuido de pinga de noção musical que seja, inferniza-me a existência com inacabadas Marchas Turcas e inevitáveis Pour Elises, obrigada pelo progenitor que quer forçar a natureza da criança... Pior mesmo que assassinar Mozart, Beethoven e outros, só as tremendas escalas e os exercícios do velho Czerny. O que deu? Deu que gerações de pianistas, alguns internacionalmente reconhecidos e galardoados foram na coisa e, hélas, rebentaram com o austríaco. Felizmente houve gajos a sério que tocarem as obras do Wolfgang como o deviam ter sido sempre: com rigor e respeito. Um deles, um russo-soviético do caraças, gravou algumas peças para que Mozart esteja descansado lá onde foi parar. Aqui fica Emil Gillels em duas interpretações exemplares. E depois digam que sou eu que sou bera...
Martha e Nelson dividem tarefas e na 20ª edição de Monoteísmos, 20 dedos num dueto provado. Schubert emprestou a pauta e dois parecem um.