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As eleições moçambicanas

por jpt, em 24.10.14

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Amigos escrevem-me, resmungado com o meu postal sobre o assunto, dizendo-me excessivamente optimista, até petulante negligé. Com efeito, passada uma semana, sem resultados oficiais proclamados, com evidência de várias confusões no processo de apuramento e, talvez pior do que tudo, com a anúncio de algumas votações perfeitamente "albanesas" em pequenas localidades, tudo se acinzenta.

 

Eu continuo a pensar o que então botei. Que o Frelimo, apesar de governar já há quarenta anos no meio de grandes dificuldades, endo e exo-causadas, e de ter na actualidade características sociológicas bem diversas daquelas que a fundaram e corporizaram, continua a ser o partido mais representativo e recolector de adesões. Algo que, olhado de fora, até pode ser surpreendente se comparado com tantos outros países, onde os poderes são sistematicamente punidos pelos eleitorados. Algo que se prende com a realidade moçambicana, e isso também no sentido de lhe encontrar profundas fragilidades nas oposições. E, até por isto mesmo, não precisam os seus quadros de promover estas derivas adversas ao princípio "uma pessoa, um voto". O qual é um bom princípio: não é sagrado, não é a panaceia para ultrapassar as dificuldades do país, mas é um (entre outros) factor do tão necessário desenvolvimento.

 

No meio disto tudo leio críticas às missões internacionais de observação eleitoral. Não acompanhei as declarações dos responsáveis destas, não posso pronunciar-me sobre o conteúdo de tais críticas. Mas a emergência de tais críticas denunciam, pelo menos, um problema comunicacional dessas missões. Cuja função legitimadora passa também por uma particular competência de comunicação para com a sociedade em período eleitoral. Ou seja, não são responsáveis pelo processo eleitoral (nestes casos mais rotineiros), não têm tutela para intervir executivamente a priori e a posteriori sobre as votações. Mas são totalmente responsáveis pelo sopesar daquilo que comunicam e dos efeitos internos que isso provoca.

 

No meio da polémica instalada lembrei-me de um texto que escrevi em tempos, (também) sobre a minha participação em várias missões internacionais de observação eleitoral. E onde botava também sobre a minha nada sagrada concepção de democracia e de eleições. Quem tiver paciência para um texto mais longo pode ver este "O Antropólogo Engajado: reflexões sobre a participação em processos de democratização". 

 

E espero que os que resmungaram com o meu texto anterior sobre estas eleições possam ali enquadrar a minha posição.

 

Também espero, e muito mais, que os resultados sejam anunciados em breve. E que colham aceitação promovendo a pacífica legitimidade do novo governo. E que este seja (em qualquer configuração que brote) o melhor possível. Que o país precisa. E merece.

publicado às 07:06


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