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Tudo (toda a imprensa) o indica, esta será a primeira semana do novo governo português, o regresso do PS ao palácio de São Bento, sob a liderança do seu secretário-geral António Costa. Em primeiro lugar aquilo que verdadeiramente interessa: o futuro primeiro-ministro é por via paterna descendente de famílias moçambicanas [avô paterno da comunidade goesa católica, de ascendência brâmane; avó paterna da conhecida família Frechaut, ramo de franceses índicos estabelecidos no país durante XIX] e espero que isso venha a influenciar, no respeito pelos interesses de ambos os países, um ainda maior reforço das boas relações, um pequeno tempero, se me é permitido o sorriso, na interacção.

 

Em segundo lugar aquilo que também interessa: por mais que eu trema de ira com isto do PS voltar ao poder (como é possível?, meu Deus!, clama este ateu ...), por mais que eu esteja crente que o PS de António Costa é mais do PS de José Sócrates, tenho que saudar esta coisa no meu país, isto de uma campanha renhidíssima e de uma pós-campanha mais-do-que-problemática não ter provocado as aleivosias racialistas ou mesmo racistas adversas a Costa que se poderiam temer, oriundas de sectores mais ultramontanos mas difusamente apreendidas (na prática até foi no PS que isso mais se notou). Não se trata de um "obamismo" (ainda que eu já me tenha rido com um apenas-jocoso "Obama baneane" que um amigo, moçambicano já agora, botou em jantar) que a situação sociológica é completamente diferente. Mas é um excelente sinal sobre o Portugal actual que as ligeiras matizes fenotípicas não sirvam para poluir o ambiente. É certo que alguns poderão clamar que há racismo no país e que neste caso a extrema homologia sociológica se sobrepõe a tudo o resto. Seja, mas ainda assim sob este prisma o ambiente desta ascensão de António Costa é um sinal muito saudável da sociedade portuguesa.

publicado às 13:58

"Lusofonia" e "cooperação"

por jpt, em 21.12.14

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Na decoração de um modesto restaurante italiano em Bruxelas encontro um painel composto por dizeres sábios em múltiplas línguas e variados alfabetos. E afronto a minha falta de cultura humanística. Pois passei anos neste ma-schamba resmungando contra a tonta ideologia da "lusofonia" e a tosca prática da cooperação (ajuda pública ao desenvolvimento) portuguesa.

 

Quando, afinal, bastaria ter afixado este dizer de João de Barros, que condensa (denunciando o seu tempo e anunciando o futuro tempo que é nosso). Ensinassem-no às gentes do Estado e que ao Estado ascende ...

publicado às 17:10

Eleições em Moçambique

por jpt, em 13.10.14

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 (fotografia retirada do mural do meu amigo Johane Zonjo)

 

À distância acompanho a campanha eleitoral moçambicana. Alguns amigos enviam-me alguns jornais moçambicanos (naquele abençoado suporte pdf), recebo os diários eleitorais produzidos pela equipa CIP/AWEPA (coordenada por Hanlon). E, fundamentalmente, informo-me no meu mural FB, felizmente tenho ligações a apoiantes dos três grandes partidos, plurais visões e sensações. 

 

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 (fotografia retirada do mural de Manuel Araújo, autarca MDM de Quelimane e também bloguista)

 

Desde 94 são as primeiras eleições que não presencio. Neutral, mas nunca desinteressado, enquanto leio resmungo "que faço eu aqui?", como se esta fosse a minha Abissínia. De longe vejo, até com alguma preocupação, as grandes expectativas de todos, obrigatoriamente algumas serão desiludidas e terão que ser (auto)geridas. A Frelimo convicta que ganhará, como quase sempre aconteceu. O MDM convicto em grande resultado (Manuel Araújo afirmando a expectativa em 100 deputados). A Renamo convicta que já ganhou (Dhlakama afirmou-o numa entrevista). Como será o "dia seguinte"?

 

Em termos de campanha pelo que leio percebo haver algum crescendo de abertura pluralista nos órgãos de comunicação social, e isso é salutar. Mas, nesta distância, a grande inovação que encontro é o uso das fotografias, principalmente na Renamo. Julgo que nem terá sido algo deliberado, talvez se deva ao facto de serem pessoas da comitiva do seu presidente a fotografarem. Pois surgem inúmeras fotos tiradas por trás do seu presidente enquanto discursa, enfrentando multidões de apoiantes: o impacto visual é fortíssimo, valorizando a envolvência e dando-lhe um ar espontâneo, diverso do brotado das fotografias profissionais aos comícios organizados.

 

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 (fotografia retirada do mural de Ivone Soares, dirigente da Renamo e também bloguista)

 

Enfim, que tudo corra bem, esta semana e depois. Que o susto desde meados de 2013 já chegou, "para pior já bastou assim".

 

Em mero rodapé, excêntrico ao que realmente interessa, o futuro moçambicano. Mas que me é significante, como português interessado em Moçambique. Que um diplomata português, acreditado em Maputo, surja neste domingo - a três dias das eleições - no seu mural facebook (ainda para mais com aquela metodologia propagandística de identificar dezenas de pessoas na colocação, assim aparecendo às redes de ligações destas - e foi por isso que vi a afixação) a propagandear um dos candidatos, dando azo a interpretações de apoio tácito, é completamente descabido. Seja qual for a candidatura em causa. Há coisas que nem o corporativismo de "classe profissional" pode justificar. E que nem o mais desvairado egocentrismo pode desculpar.

publicado às 00:29

 (Escola Portuguesa de Moçambique, recanto das placas celebratórias de visitas oficiais do governo português. Foto de 2009)

 

Sobre a "cooperação" como área de política externa, já aqui escrevi. Uma área na qual trabalhei alguns anos. Esta semana houve em Lisboa o seminário "os clusters da cooperação portuguesa". Gostava de ter assistido. Até porque um desses "clusters" (e é sintomático que as instituições estatais não consigam falar a própria língua ...) é na Ilha de Moçambique. Uma opção ocorrida em meados da década passada. E sobre a qual na época pude, informalmente, opinar. Dizendo apenas o que era óbvio, mas que não aparecia assim aos decisores. Estas coisas já aconteceram há muito tempo, já são passado, e um tipo aos (agora) cinquenta anos pode falar disso de modo desprendido (até porque com esta idade já não se vai "a lado nenhum", não se pode ser interpretado como "estratega"). E também porque a maioria dos funcionários já não estão nos lugares, mudaram ou reformaram-se. Por isso teclo as minhas memórias.

 

A opção por sediar na Ilha de Moçambique um núcleo importante da cooperação portuguesa surgia-me como um erro político. Tanto para o aqui, pela leitura política que isso provocava e pelo irreprodutivo que o projecto seria; como para o lá, alimentando a manutenção do húmus colonial [o que é diverso de colonialista] do pensar português sobre África - sobre este, para quem tenha interesse tenho este texto "Olhar em África".

 

Antevia também um falhanço prático, face às dificuldades locais (que abordei num texto longo mas não académico) e à incapacidade humana e logística das instituições estatais civis portuguesas. Antevisão/certeza que vim a explicitar anos mais tarde no postal mais pérfido de dez anos de ma-schamba: este, anunciando a conclusão óbvia de tal projecto.

 

Ainda assim, antes do arranque do projecto, vim a ser sondado - apenas sondado - para ser o seu "coordenador". Os tempos corriam-me difíceis e, engolindo a (falida) arrogância, não me neguei. Anos antes, com algumas poupanças de lado, permitira-me uma maior dignidade. No início de 2000, quinze dias depois de ter sido dispensado de adido cultural aqui, fui convidado para ser "coordenador-adjunto" da cooperação portuguesa em Timor. Era uma saída em grande! Mas eu passara os últimos anos a sofrer a clique "gâmica", um universo execrável, cultural e eticamente. E respondi, cheio de "panache", "não posso! Por causa dos meus avós ... Se volto a trabalhar para vocês (socialistas, entenda-se) eles levantam-se das tumbas e vêm atrás de mim". E vim-me embora da esplanada do Polana. Não foi, claro, uma boa decisão estratégica. Mas ainda agora, quinze anos depois, sorrio ao escrever isto. Ainda bem que foi assim.

 

Mas os anos tinham passado, eu ficara aflito (aqueles dias em que me apanham a fumar Pall Mall/Palmar), não pude dizer que não. Lá disse as minhas condições, sabendo que eram quase inaceitáveis - pois eram as condições de um tipo que conhece o terreno. E nunca acreditei que aquilo fosse avante. Pois um dia, quando simples professor cooperante, escrevera uma longa jeremíada sobre a cooperação, e em particular sobre a tralha humana que habita(va) nas instituições a que ela se dedica (os "funcionários públicos" do "estado social", sempre reclamados como vítimas mas núcleo sociológico onde reside o pior do "português suave"). E quando me acabara o contrato escrevera ao insigne presidente da cooperação dizendo-lhe o que pensava dos tristes serviços que ele presidia. [as últimas páginas deste texto]. E realmente nunca mais ouvi falar do assunto.

 

Lembro-me de tudo isto ao ler do tal seminário, apresentando resultados da "avaliação" (positiva, decerto) destes "clusters". E lembro-me também da sucessão de "primeiras-pedras" na construção da Escola Portuguesa de Moçambique, que acompanhei por deveres de ofício. E da foto com que ilustro este texto, o recanto das (imensas) placas assinalando a visita de uma qualquer "sua excelência" governativa à escola. Explicitando, de modo abrasivo, e ainda por cima transmitindo às novas gerações, este culto tão português, o das "primeiras-pedras" e "placas comemorativas". Legado, porventura, do paganismo celtibero.

 

Quanto ao dito "cluster"? Uma ou outra primeira-pedra, algumas placas. Decerto que algumas benesses caritativas, sempre bem-vindas. O tempo vais passando. Nós reformamo-nos, morremos. A cooperação deixará de o ser. Para quê falar disso?

publicado às 10:40

Maningue Portugal, na TVI

por jpt, em 21.05.14

 

 

 

A VA irritou-se com a reportagem da TVI sobre os portugueses em Moçambique chamada "Maningue Portugal" - no dia em que um repórter português vier a Moçambique e não usar o "maningue" eu pago um "bar aberto", disponível a todos que se afirmarem leitores deste blog. Entretanto talvez se pudesse distribuir na Portela um glossário, nele explicando que "maningue" é um calão dos "tempos", certo que ainda ouvido mas algo em desuso, assim como se o nosso "". Em si o "maningue" não terá mal nenhum, apenas denota alguma origem sociocultural (e até geracional). Já a sua utilização constante pelo português turista, repórter ou recém-chegado é apenas ... bimba, uma pantomina de proximidade.

 

Acho que a VA exagera um pouco na sua azia. A dita reportagem (em dois tomos, somando mais de uma hora) é apenas mais do mesmo, daquilo que tanto tenho visto ao longo dos anos. Decerto que os anunciantes  gostam - "maningue" - e os repórteres repetem. Talvez a pior de todas tenha sido ainda em XX, e relatei-a aqui. Que se chame "Maningue Portugal" a uma reportagem sobre Moçambique? Enfim, um bocado de mau gosto, mas acho que seremos nós, daqui, a sentir mais o fedor do título. Na "gasta pátria" a "crise" e a "pré-crise" implica(ra)m a obstipação intelectual, já o sabemos, nada nos poderá surpreender.

 

De algo gostei particularmente nesta reportagem, a parte sobre Maputo. Calcorreado pelo analítico jornalista Paulo Salvador que, para discernir o que se passa com os portugueses por cá, ali vi enfrentar o litoral Mercado do Peixe, a campestre FEIMA, o "campus" do "Estudos Gerais de Moçambique" (agora chamados Universidade Eduardo Mondlane), as escarpas do Hotel Polana (que manteve o nome), a embaixada de Portugal, o Ateneu Grego (agora chamado Palácio dos Casamentos), o mítico restaurante Piripiri, já dos "tempos", arrojadamente penetrar no hinterland, nele mergulhando até ao bas-fond "1908" e à famigerada "Villa Algarve", recuando depois e, após o vislumbre do restaurante "Monte Alentejano", aportar ao Jardim dos Namorados, indo ainda culminar no aparente ribeirinho do vetusto "Scala", lá onde se enceta a Av. da República (agora conhecida como Samora Machel).**

 

Neste vigoroso amplexo se discerniu o presente e as potencialidades disponíveis à "arte e engenho luso" (sic, perdão, tvi dixit). Exponenciadas, ainda para mais, pela voz popular moçambicana, brotada daquele tão unânime jovem condutor que nos garantiu aquilo que muito bem sabemos, nós Nação, e nós também os milhões de "telespectadores": que a colonização portuguesa foi boa, muito melhor, por exemplo, do que a da pérfida Albion teria sido (e foi, alhures). Sossegando-nos quanto ao futuro, reafirmando-nos o passado.

 

Foi, juro, sinceramente, palavra de honra, "maningue nice". E vamos morrer assim.

 

** Presumo que quem não conheça Maputo possa sentir que não entende este parágrafo. 

publicado às 22:27

(Shikhani) 

 

 (Naftal Langa)

 

 

Foi no "A Bola" que soube desta exposição "Tempo da Arte" no Camões, inaugurada pelo primeiro-ministro Passos Coelho. Logo janto com Ídasse e digo-lhe, ele a surpreender-se, "estás na Bola, é a glória", avanço-lhe, qu'isto de artista plástico no velho jornal desportivo "é a consagração de carreira", e rimo-nos. Trata-se de uma selecção da colecção do centro cultural português, obras que têm vindo a ser ofertadas ao longo dos anos por artistas moçambicanos e portugueses que ali têm exposto. E teria sido uma interessante nota para o dito jornal, lá está presente um quadro de Albertino, esse que  admirei no Boavista e resmunguei no Porto dos tempos do Pedroto. 

 

No fim-de-semana fui lá ver a exposição, que muito se justifica, pelo conteúdo e pelo olhar que permite sobre a história da instituição. Uma mostra abrangente, cerca de 30 obras, que julgo abarcar desde as actividades dos inícios dos anos 1990s, nos então "serviços culturais da embaixada", dirigidos por José Soares Martins, período a que se não estou em erro corresponde uma obra de Eugénio de Lemos, agora exposta. E se desenrola, com obras naturalmente mais recentes, correspondentes à actividade regular daquele centro, inaugurado em inícios de 1997. Com presença de artistas portugueses relevantes na interacção das artes plásticas dos dois países, como  José Júlio (o sempre dito pintor-faroleiro), José Pádua, e também já de gerações mais novas José Paiva, que durante anos animou o projecto de cooperação artística Identidades, ou mesmo Júlio Resende, que teve uma mais episódica ligação com o país. E um bom painel sobre o momento actual moçambicano, desde os mais recentes, como Morim, Simione, Tomo, Mudaulane, Filipe Branquinho (em versão não fotógrafo). E Ndlodzy, mestre escultor da sua geração, lamentavelmente muito retirado das lides.

 

E também alguns dos mais antigos, já partidos neste ocaso de uma geração de fundadores da arte moçambicana, sempre para recordar, com verdadeira saudade. O enorme Shikhani, minha preferência nacional, Naftal Langa, mestre escultor agora mesmo falecido, Samate.

 

 (Nlodzy)

 

Um painel destes merece, realmente, uma visita. E também por isso foi bom que tivesse sido inaugurado a alto nível protocolar (sim, sei que haja quem resmungue contra isso, mas não tem qualquer razão). Pois convoca a atenção para os caminhos de aprendizagem mútua e enriquecimento mútuo feito através das articulações culturais, ou mesmo da mera fruição.

 

Por isso mesmo é muito interessante, e tão satisfatório, ver esta pequena reportagem realizada pela estação moçambicana TIM (ou seja, não são meras palavras simpáticas para a RTP-África). Onde esta articulação e a sua pujança actual é saudada e elogiada, por Chiziane, Lucrécia Paco e Mia Couto. E desejada. Há espaço e vontade, para além dos economicismos, e destes modelos de desenvolvimentos produtivistas que vão grassando. Há gente, agentes culturais e institucionais. E há um intercâmbio crescente. Ainda bem. Ou, como se diz noutra língua, oxalá.

 

 

 

 

 

publicado às 22:23

Passos Coelho em Moçambique

por jpt, em 30.03.14

 

Na passada semana decorreu aqui em Maputo a cimeira anual entre Moçambique e Portugal, que implicou a visita do primeiro-ministro português. Não tenho qualquer informação sobre o ocorrido, para além "do que veio no jornal" (expressão agora tão anacrónica que a preservar). Aí sou liminar: havendo o hábito da maledicência e não se escutando nada só se pode concluir que correu bem. Espero que sim, e que as relações entre os países (seus Estados e suas sociedades) continuem a melhorar.

 

Gentileza imensa a do consulado-geral de Portugal, pois recebi convite para a recepção que foi oferecida por ocasião desta visita. Infelizmente coincidia com o meu horário de aulas e não pude comparecer. Sublinho que já veterano aqui imigrante gosto destes momentos. Para além de outras razões (convivenciais, se se quiser entender assim; e patrióticas, se se quiser hiperbolizar um bocado) tenho interesse nestes eventos. Há mais de uma década deixei um texto sobre estas cerimónias de congregação aqui acontecidas: está aqui. E não tem um grama de sarcasmo, bem pelo contrário, desenganem-se os mais mal-dispostos. 

 

São momentos para perceber quem, dos portugueses, está cá. E a década anterior permitiu entender uma grande mudança sociológica da população migrada e, talvez, da imigrada. Não digo que é melhor, nem pior. Tem outras características. Enfim, faltei a esta recepção. Mas dos breves relatos que ouvi registo três coisas: a) Passos Coelho falou bem (já sei, vão chegar comentários a resmungar-me de seu apoiante); b) elogiou os nossos representantes diplomáticos, embaixador e cônsul. Ainda bem, é raro (a política em articulação com o topo da administração pública é um mundo cão, sabe-se bem) e estes merecem-no; c) a transformação sociológica dos portugueses residentes é acentuadíssima.

 

Alguém que me narrou o evento, leitor do ma-schamba, sorria e dizia, mas com simpatia, "estavam todos de casaco azul". Mas, para além das questões estilísticas esta mudança da "comunidade" portuguesa é denotativa de uma transformação das relações entre os países, tanto económicas como de modelo político de articulação. A ver vamos no futuro, se tudo corre bem. Espero que sim.

publicado às 17:36

 

[Fotografia de Sérgio Costa]

 

Anteontem Paulina Chiziane e Ungulani Ba Ka Khosa foram condecorados por Portugal, ambos recebendo o grau de Grande Oficial da Ordem Infante D. Henrique. Aconteceu numa gala televisiva, produzida para o efeito e transmitida por RTP e RDP (secções África), algo que me espantou, habituado a um diferente cerimonial estatal. Mas funcionou bem. Khosa falou e disse o fundamental, que estas condecorações reclamam a "cidadania diplomática" para a cultura, nisso saudando o actual embaixador português em Maputo (que é um homem a saudar, pois empenhado e clarividente) por ter a perspicácia de assim o entender e de o praticar.

 

A diplomacia cultural portuguesa (que integra a acção cultural externa mas nela não se esgota) tem sido, pelo menos nos últimos vinte anos, muito frágil e desconexa. Não por questões políticas ou (escassez) de recursos económicos mas devido a determinantes estruturais: as características culturais e as dinâmicas patrimonialistas da administração pública portuguesa. Factores que mais fazem louvar a inteligência em induzir e a capacidade de levar a cabo um acto destes, inusitado. O qual sublinha o óbvio mas tantas vezes esquecido: a diplomacia (e a política) é feita por pessoas, não por "estruturas" mais ou menos esconsas. Haja gente (assim)!

 

Na cerimónia acontecida pode-se retirar ainda uma actualização do modo como a administração e alguma intelectualidade portuguesas entendem o relacionamento com Moçambique e, por extensão, com os restantes países de língua oficial portuguesa. Khosa e Chiziane foram condecorados tendo em conta os seus méritos literários mas os fundamentos expressos foram também outros. Por um lado, como reconhecimento da sua importância sociológica, pois reconstrutores do conteúdo cultural do país. Por um outro lado, e com particular relevo, pela sua promoção do enriquecimento da língua portuguesa, em léxico, em sintaxe e, como Khosa sublinhou, na semântica, devido ao convívio com as suas línguas primeiras. 

 

Todos os locutores portugueses se referiram a esse assunto, à importância do trabalhos destes escritores no actual cerzir do português. O embaixador em Maputo, José Augusto Duarte, a apresentadora da gala televisiva Sónia Araújo, bem como (através de mensagens gravadas) o presidente Cavaco Silva e um conjunto de individualidades (Morais Sarmento, Rebelo de Sousa, Canavilhas, Moura Duarte e Rogeiro, sendo que este falou muito bem). O notável é que, num momento ancorado no reconhecimento da importância do trabalho sobre a língua comum, nenhum dos portugueses se referiu à "lusofonia".

 

Finalmente! Poder-se-á mesmo dizer que anteontem se assistiu ao (festivo) funeral dessa noção - cheia de subtexto colonial, incompreendedora -, tão dinamizada pela intelectualidade socialista em finais de XX, inconsciente herdeira da "visão do mundo" do republicanismo colonial, e nesse lamaçal intelectual incapaz de entender o mundo actual. Noção recuperada, há pouco, aquando da ascensão do novo governo, com os assomos de uma "diplomacia lusófona", jogada na luta do poder interna à actual coligação governativa. Mas agora com breve apogeu. Acabou. Resta esperar que a purificação nocional seja, efectivamente, acompanhada por uma maior capacidade interpretativa. E, assim, política.

 

 

publicado às 03:46

A condecoração

por jpt, em 26.11.13

 

Na linguagem das condecorações, que é a do reconhecimento (no duplo sentido do agradecimento e no da sua publicitação), o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique é um colar bem pesado e sonoro que a nossa República tem. Grandiloquente, por assim dizer. Foi hoje anunciado que será entregue a Paulina Chiziane e a Ungulani Ba Ka Khosa. É bonito ver estas iniciativas. E como grande admirador de Ungulani fico particularmente satisfeito.

publicado às 16:43

 

O jornal "Expresso" publicou há alguns dias uma "notícia" sobre a colaboração da "secreta" portuguesa com os serviços de informações americanos e a partilha de dados sobre Angola e Moçambique. Tendo-a lido escrevi para o endereço electrónico do director do jornal, chamado Ricardo Costa, tendo enviado cópia a alguns amigos e conhecidos. Não a publiquei no blog por razões de higiene: o sensacionalismo do "Expresso" enojou-me o suficiente para não queres conspurcar o ma-schamba com os seus ecos. Mas o António Cabrita reproduziu no seu blog essa minha mensagem, tendo-lhe somado um pacote de comentários, brutais mas mais que compreensíveis dada a descontextualização cometida por Costa e sua gente, que no sítio do jornal moçambicano "O País" acompanham a réplica da torpe iniciativa do jornal de Francisco Balsemão. Por isso aqui a coloco, com uma adenda. E com um preâmbulo: daqui a uns meses o jornal "Expresso" voltará a Maputo, como tem feito nos últimos anos, organizar "conferências" ou "seminários" ou coisas assim, sobre as relações económicas entre Portugal e estas austrais paragens, sobre o seu potencial e as realizações havidas ou sonhadas. O tom será sempre muito optimista, cordato, "correcto", que aí não se falará do "dever de informar" nem se será "polémico" "investigativo". Serão convidados alguns políticos em regime de administrações não-executivas para abrilhantar a festa e networkizar, virá porventura um secretário de estado para ir às putas ou coisa similar (agora digam-me que sou ordinário ou que estou a mentir). Virá o jornalista Nicolau Santos, vice-director especialista em economia e cultor de Artur Baptista da Silva. Farão, talvez, uma colectiva de artes moçambicanas, para dar um ar culto, interessado no país (A..., da próxima vez não me telefones sobre o assunto ...). Tudo isto, claro, para angariar publicidade, que é coisa que só não vê quem não quer ...

 

Nessa altura vou gostar de ver como se comportam dois tipos de portugueses: os que agora resmungam, até assustados, com os efeitos desta "notícia" neste momento. Será que irão lá, às palestras ocas, aos políticos boémios, às chamuças sensaboronas do Indy, ao bufê always the same? Ou vetam esta gente, como merecido? Duvido que vetem, pelo menos os da brigada do casaco-azul, sempre no frémito servil face aos parcos poderes que vêm de Lisboa. E que farão os diplomatas (ou quadros diplomáticos)? Será que terão a coragem de se afastar, de marcar a distância para com esta gente, ou irão afivelar os sorrisos de sempre e comparecer? Caso o façam, os acolham depois disto, será caso para apupo. Ou até mais. 

 

Deixo então a minha carta e uma adenda. Em cima fica a cara do director do Expresso, para vosso consolo.

 

«Para: Director do jornal Expresso
Acabo de ler a notícia publicada pelo Expresso sobre a colaboração dos serviços de informação portugueses e os seus homólogos americanos, bem como a comunicação da direcção do jornal subscrevendo essa notícia e reafirmando o seu conteúdo. Não é preciso ser um grande leitor de Le Carré para acreditar nisto. Não é preciso ser muito atento para comentar essa vossa notícia com um "isso é notícia?", no sentido de questionar a sua novidade, a sua urgente actualidade.
Sou português e vivo há 17 anos em Moçambique. Para além dos problemas económicos e sociais que o país vive nunca, como desde meados de 1990s, quando o conheci, se assistiu a uma situação tão tensa, política, militar e criminalmente. E nunca como agora se assistiu a uma campanha pública, mediática, com utilização de argumentações racialistas e racistas tão exarcebadas. Para além disso recuperou-se a utilização de algum anátema sobre os portugueses residentes. Tudo isto é público, e com toda a certeza do conhecimento do pessoal de um jornal com a dimensão do Expresso.
 
A notícia em causa, do seu jornal, li-a ecoada por moçambicanos. Provocando imediatos, evidentes, e até compreensíveis, ditirambos contra nós.
Os critérios sobre o que é notícia, o que é relevante, o que é novidade, o que é urgente, o que é inultrapassável, são seus, e da equipa que dirige. E com toda a certeza lhe serão indiferentes os efeitos explícitos e implícitos de uma notícia destas, aparentemente sonante mas que é apenas uma coisa morna que serve para a resmunguice interna. Efeitos sobre os seus compatriotas que, sem terem nada a ver com isso, estão a cruzar este momento aqui. E que vivem num contexto em que essa "morna" caixa que aí arranjaram, e V. coordenou, tem ou poderá ter outra temperatura e efeitos bem mais duradouros. Isto diz muito mais sobre si, director do Expresso, e sobre o seu colectivo, do que sobre as trocas de informação entre serviços de informação de países aliados. Diz, evidentemente, muito mal. 
Em termos nacionais, algo que ainda é de prezar, o que V. mandou ou permitiu fazer é uma malevolência. E, creio, num país distraído como o nosso ninguém lho dirá. Até lhe aplaudirão a pertinência. É esse o (nosso) mal."

 

António Cabrita, com a sua costela de jornalista, concordou comigo no relativo desatino da notícia, atribuindo-a a alguma "incúria" e algum "desconhecimento do terreno". Penso que não chega. E explicito. Não se trata de contestar o direito de informar, o dever de informar. Não se trata de negar o escrutínio dos poderes estatais e da administração por parte da opinião pública e pela comunicação social. Trata-se de negar que isto tenha qualquer relevância, fundamento. Nada de ilegal se terá passado, nem de inusual. Nada que seja notícia, muito menos para este contexto. Sublinho que o "Expresso" (e o seu director Ricardo Costa; quem escreve chama-se Luísa Meireles) fala de "secretas" quando não se trata de "secretas", apenas por desonestidade se agita isso. São serviços de informações, grande parte mesmo acreditados, trabalham a céu aberto. O que deixei em comentário no blog de António Cabrita é isto: 


"Tu referes que as causas que levam o jornal a publicar isto se podem resumir a "incúria" por "desconhecimento do território". Não concordo. Nem penso que isto se deva a uma questão "cultural" (cultura profissional / deontologia ligada à obrigação de informar). Trata-se, como referi há tempos (com números) sobre a patacoada do Público sobre a situação de Moçambique, de causas económicas. Um título como o do Expresso, chamando atenção sobre as "secretas", sobre a "espionagem", sobre a "nossa" (nossa salvo seja, a do Estado) vassalagem face aos yankees, chama tráfego. Vende papel e incrementa clics, pelo que mostra anúncios e incrementa o tráfego electrónico. Vale dinheiro. Essa é a causa, a infraestrutura económica se lhe quisermos chamar assim.

Depois é ela própria uma patacoada. As "secretas" não o são. Os serviços de informação estão acreditados, legitimados nas relações entre-Estados. Não são uma actividade esconsa, os membros dão-te cartão de visita (se tiveres para a troca, coisa que prevejo que tu não tenhas, tal como eu).. Fazer apelo às "secretas" é puro sensacionalismo.

Luísa Meireles, que assina a trapalhada, será menosprezável, apenas mais uma escriba cada vez mais mal paga. O director Costa já não, será influente e perigoso (e o irmão corre para a presidência - e quando daqui a uns meses olharmos os funcionários públicos portugueses ou os estado-dependentes a acolherem o Expresso em Moçambique apesar desta porcaria, poderemos bem ver como estas "difusas" relações familiares se impõem, todos temendo o eterno "não vá o Diabo tecê-las"). Henrique Monteiro, o anterior director deste jornal, assina lá uma coluna que se intitula "chamem-me como quiserem". Eu aceito, e chamo ao director Costa, responsável disto, "traidor". À mera escriba, a Meireles, chamo, claro, o que Vs estão a pensar. 

 

 

 

publicado às 08:51

 

Daqui a bocado, à 1 da manhã (23 em Portugal) na estação SIC Notícias o programa "Expresso da Meia-Noite" abordará Moçambique. Entre os convidados estará o nosso FF (Fernando Florêncio, no seu avatar de professor de antropologia em Coimbra). Para quem não receba o canal (eu, por exemplo) refiro que no "sítio", acima ligado, será colocada a gravação.

 

Também estará presente o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas do governo português José Cesário. Nada me move contra este membro do governo. Muito menos, como é óbvio, contra as comunidades portuguesas (entidades meio míticas a que eu, veterano emigrado, voto particular simpatia). Mas permito-me referir isto: nos últimos meses foram raptados em Moçambique dois imigrantes portugueses e dois luso-moçambicanos. Sobre o assunto já falou este mesmo secretário de estado, o actual vice-primeiro ministro e (muito mal, diga-se) o próprio Presidente da República. Agora de novo o secretário de estado das comunidades. Isto aparenta alguma verborreia (entenda-se, exactamente o antónimo exacto da palavra "diplomacia").  Noutros tempos portugueses, e face à complexa situação política em Moçambique (a qual também inclui o frisson sobre o ciclo de criminalidade urbana), quanto muito falaria, e com toda a parcimónia que a racionalidade político-diplomática impõe, o secretário de estado dos negócios estrangeiros e da cooperação.

 

Não será preciso ser grande águia para retirar daqui duas considerações: uma alteração totalmente casuística da política externa portuguesa face a Moçambique (pois assim agora denotado como predominantemente local de emigração nacional); o esfacelamento do  próprio MNE ocorrido sob a governação de Passos Coelho. Sou completamente insuspeito de simpatias cegas pelo PS (estão aqui os arquivos do ma-schamba para o comprovar). Mas para quem conheceu "secretários de estado da cooperação" com a dimensão de José Lamego, Luís Amado e João Gomes Cravinho, é completamente patético acompanhar o ramalhete de SENECs que Passos Coelho tem vindo a apresentar. Talvez por isso o silêncio agora. Sem outro significado, afinal, que o do vácuo?

 

(É óbvio que sai isto da minha irritante cabeça, e que o bom do FF não  tem responsabilidade nenhuma na minha resmunguice, apenas me avisou que ia lá estar a falar.)

publicado às 20:02

Noticiar Moçambique

por jpt, em 07.11.13

 

Volto à matéria, até porque sei que os telejornais portugueses estão a abrir com notícias sobre os "raptos dos portugueses". E porque desconfio que a ponderação do Ricardo Mota, veterano delegado da RTP em Maputo, credor do respeito de quem não bota os "jornalistas" todos no mesmo saco, e homem de fibra que bem necessário é ter aqui, não chegará para evitar os efeitos do sensacionalismo de tantos dos seus pares. E os ecos destes no público, meio por causa daquela velha imagem da "áfrica" tenebrosa (siamesa, como se sabe, da do paraíso de palmar, camarão e mulheres fáceis, qu'isto dos mitos não precisam de ser logicamente coerentes, aliás não o devem ser), meio pela angústia das famílias e amigos dos portugueses aqui imigrados, e noutras paragens trans-sahelianas, que na aflição da saudade a "África Negra" lhes vai sendo mais ou menos a mesma e una.

 

Volto para narrar um pouco como se faz a notícia. A semana passada uma boa amiga perguntou-me se podia dar o meu telefone a uma sua amiga, jornalista de uma estação televisiva portuguesa, para que comentasse eu o que aqui se passa. Uma entrevista telefónica, explicitou. Hesitei, o qu'é que um gajo tem para dizer?, a minha amiga insistiu, acedi, por telefone não custa tanto, mesmo que cortem ("editem") dificilmente poderão aldrabar o que direi. Podem manipular um pouco mas nunca inverter, é a vantagem da rádio, qu'isto com jornalistas portugueses todo o cuidado é pouco, aprendi com um aldrabão chamado Francisco Camacho, um que ainda hei-de deitar aos tubarões da Inhaca.

 

Passados uns dias lá me telefonou a tal co-amiga jornalista. Se estaria eu interessado em ser entrevistado, não naquele momento, mas um pouco  depois, vinha ela agora preparar a situação. Balbuciei, até tímido, um pequeno "sim", e indaguei sobre o que me perguntariam. Então o que teria eu para dizer sobre os raptos acontecidos? Bem, disse-lhe que na prática nada mais do que aquilo que estava noticiado (há sempre um ou outro boato, uma ou outra teoria da conspiração, mas também não me iria estrear na televisão portuguesa como se Bandarra fosse). Então e ..e.. como está a comunidade portuguesa?, avançou a jornalista. Pois, hahaaaei eu (como é que se consegue explicar a uma jornalista que não há tal coisa como "comunidade portuguesa"?, como se consegue esmiuçar a realidade a uma impaciente profissional?), os portugueses estão ... reahhahaaei, na expectativa. Que mais poderia eu dizer à senhora? Ah, entristeceu-se-lhe a voz, pronto, então muito obrigado, depois nós contactaremos. 

 

E foi assim que este bloguista do prestigiado Delito de Opinião não se estreou na televisão portuguesa.

 

(Texto publicado no Delito de Opinião)

publicado às 23:48

 

A última vez que compareci às comemorações oficiais do 10 de Junho em Maputo foi há 10 anos, e sei bem quando foi pois ainda vivia na F. Engels, ali vizinho da residência do embaixador. Cheguei bem tarde, vindo um trabalho entre Boane e Moamba, mas ainda lá fui como sempre o fazia nesta data. Quando cumprimentei o funcionário público que então ocupava as funções de representante, ele ficou a olhar insistentemente para a minha ausente gravata. Eu não lhe disse o impropério que ali mereceu - na época era cooperante, tive que aguentar - mas nunca mais lá voltei. Já agora, os últimos três embaixadores portugueses foram muito fraquinhos, e um tipo, ainda para mais tendo conhecido as verdadeiras excelências que os antecederam, perde a paciência para o mero aparelhismo, mesmo que doirado com o brilho do simbólico. E muito prejudicado com os tiques sociológicos de uma corporação profissional que a torna tendencialmente (muito) renitente à aprendizagem, auto-encerrada, numa "endogamia" intelectual medíocre e incompreendedora. É certo que ao longo dos anos conheci uma mão cheia de bons, até excelentes, diplomatas. Serão esses os que estão socialmente descansados e sociologicamente informados, nisso entendendo que uma república é uma mole de cidadãos e não uma hierarquia de estatutos ontológicos. Mas esses não são, infelizmente, a regra, e isso apouca as competências gerais. Enfim, diz-se que o homem que agora chegou a Maputo é de outro calibre, e ainda bem pois o momento histórico merece e exige. A ver vamos. Se suplanta o que se vem passando e a equipa que tem.

 

Este ano fui à recepção comemorativa. O novo embaixador fez um bom discurso, para além do protocolar. Sublinhou que os portugueses residentes, 23 000 (?, sempre julguei que um pouco mais), constituem um contingente relativamente diminuto se comparado com os emigrantes portugueses em tantos outros países. Certo que o impacto migratório não é apenas estatístico, mas é avisado recordar isso para obstar à ideia da "vaga" de portugueses num país com 23 milhões de habitantes. E deixou dois pontos importantes a reter, quais recados para nós outros, portugueses: a) estamos cá a trabalhar, a ganhar a vida, com o apoio local. No respeito das leis - necessário sublinhar, num contexto em que muito patrício julga que vem gingar diante dos regulamentos. É uma trabalheira, e conspurca a imagem de quantos por cá não o fazem; b) a comunidade portuguesa deixa a política moçambicana para os moçambicanos. Conveniente de lembrar num momento antecessor de um ciclo eleitoral, para acalmar alguns hipotéticos excitados.

 

A festividade em si própria foi interessante. Para mim, a permitir-me rever conhecidos, já raro convívio dado o meu ensimesmamento e o nosso envelhecimento. E continuo a espantar-me com isto de ver os patrícios, quando em algo oficial, a vestirem-se todos com fatos azuis. Qua aquele velho "azul Carris", o dos uniformes dos motoristas e revisores de autocarros. Acham que vão finos, assim. Não vão. Mas enfim, é o que conseguem. E se se esforçam é de louvar. Mas não deixa de ser um uniforme. E isso não é lá muito bom, que a cidadania não se uniformiza. Tornando o cada um como cada qual num cada todo como cada quais. E isso não é bom, principalmente hoje, a precisar de mais cores.

 

Para o ano há mais. E até lá há muito para percorrer. Muito mesmo.

publicado às 20:57

O jornal Público, vero espelho?

por jpt, em 02.04.13

(Capa de Finta Finta, o livro da jornalista Paola Rolletta, dedicado à história do futebol em Moçambique. A ler pelos interessados na "coisa". A folhear, custosamente, pelos "jornalistas" da "coisa")

 

 

No jornal "Público" um jornalista chamado Tiago Pimentel (hurghh, seremos, ainda que longinquamente "primos"?) consegue titular a sua peça publicada ontem 1.4.2013 (exactamente dois mil e treze!), dedicada ao "Moçambola [a fraca alcunha do campeonato moçambicano de futebol] de ""O "Moçambola" já não é uma liga colonial". Afinal? Já não é?

De onde saem estes jornalistas? Como ascendem à palavra pública? Quem lhes dá a mão? E paga este tipo de verve e a hipotética mente que a sustenta?

publicado às 11:49

[caption id="attachment_36188" align="aligncenter" width="224"] A. Moura, Expedição a Niassa e Tete, 1916, AHU[/caption]

Na sequência do aqui deixei sobre a recente publicação de Os Fantasmas do Rovuma, de Ricardo Marques, livro dedicado à história da I Guerra Mundial em Moçambique, deverá ser interessante assistir a esta conferência:

Os Arquivos das Expedições Militares a Angola e Moçambique na I Guerra Mundial: desafios e perspectivas

Por Graça Barradas, IHC-FCSH da Universidade Nova de Lisboa,

(28 de Novembro, 17.30 horas. AHU, Calçada da Boa-Hora, nº 30, Lisboa)

Comentário: Ana Paula Pires, IHC-FCSH da Universidade Nova de Lisboa

Analisa-se numa perspectiva arquivística, mas também com forte componente histórica, os arquivos dos destacamentos militares “Expedição ao Sul de Angola” e “Expedição Militar a Moçambique” durante a I Guerra Mundial (1914-1918). Estes dois arquivos, sob custódia do AHU-IICT, encontravam-se diluídos na documentação da Direcção-Geral das Colónias do Ministério das Colónias, juntamente com a documentação dos aprovisionamentos e contabilidade das referidas expedições, permanecendo, por isso, praticamente inéditos. Salienta-se aqui a importância da recuperação da estrutura orgânica dos serviços que os produziram e do seu sistema de organização, incluindo a ordem original, para entender a produção documental e reconstituir séries documentais, a fim de permitir uma recuperação eficaz da informação para diversos tipos de estudos históricos e científicos como sejam doenças tropicais, ação militar no âmbito da guerra, engenharia e infra-estruturas de comunicação, mobilidade geográfica, alimentação em campanha, prisioneiros de guerra e justiça militar.

Graça Barradas é licenciada em História da Arte e mestre em Ciências da Informação e Documentação pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (2009). Actualmente é doutoranda da Facultad Ciencias de la Documentación da Universidad Complutense de Madrid e investigadora integrada do IHC-FCSH da Universidade Nova de Lisboa. Colaborou em diversos projectos de avaliação e descrição documental, encontrando-se actualmente como bolseira de investigação no projecto “Meio século de ciência colonial: olhares cruzados sobre o arquivo e a actividade científica da Comissão de Cartografia (1883-1936)” no Arquivo Histórico Ultramarino – IICT.

jpt

publicado às 10:04


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