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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
O livro é de 1911 (editado por Pierre Lafitte e C.), ano em que o meu avô paterno o comprou (em Coimbra, em Paris?) e assinou. Este "Poussin" (1594-1665) [biografia do pintor] [galeria dedicada] está na estante avoenga acompanhado por um livro da mesma colecção, dedicado a Velasquez. Tem uma biografia do pintor, sem grande aparato teórico, e contém 8 reproduções a cores de algumas das suas pinturas mais célebres, as quais surgem com boa qualidade - têm um século -, ainda que algo, um pouco, sombrias. É quase um livro de bolso, uma edição popular, ainda que de capa dura.
E confesso que me comove o livro, e o outro também. Há cem anos, de uma era tão anterior ao mundo Taschen, que trouxe a pintura (e outras artes) para dentro das estantes de todos, com boas reproduções e a preços baratos. Quanto lhe teriam custado, ao meu avô, então jovem estudante, mais ou menos abonado, estas aquisições? De que se teria privado (se calhar de nada, e eu apenas romanceio).
Depois ando na internet à procura dos quadros que ali são reproduzidos. Todos eles afamados, que pertencem à memória de um amador muito deficitário como eu. E de repente surge-me isto, este desconforto. Pois hoje temos tudo na internet (custa-me nada mostrar à filha o gigantesco universo das artes, esse que era necessário calcorrear para conhecer. E, depois, comprando caros estes livros e reproduções).
Mas vejam-se bem estas duas reproduções. Apenas duas das imensas que a "internet" nos dá do mesmo quadro de Poussin. E que mostram bem as radicais diferenças entre as reproduções que vão sendo "uploadadas". Equilíbrios, densidades, luminosidades, etc, tudo se esbate, se pluraliza assim perdendo.
Um tipo vai à internet, "vê" a imagem.
E desconhece as pinturas ... É o engano global, um aracnídeo de insensações.
(na próxima vez que for a Lisboa trago os livros do avô. Mesmo que as reproduções sejam algo sombrias ...)
jpt