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Abismos

por jpt, em 01.02.11

Um dia uma sobrinha minha escreveu um "Flatland", e ainda lhe veio a dar outras formas. Há uns dias, em busca de uma citação, encontrei outra e lembrei-me dela:

E, nessa terra, em que os jazigos são as montanhas, os homens são os abismos” (Rainer Maria Rilke, Histórias do Bom Deus, Quasi, 2009, p.45)
jpt

publicado às 09:49

A mentira de Rilke

por jpt, em 30.01.11

[Rainer Maria Rilke, Histórias do Bom Deus, Quasi, 2009]

A morte é preguiçosa, inventou Rilke que o Bom Deus assim pensa:

Nem sequer posso ir ao encontro da Morte. Muitos tropeçam nela a caminhar. A Morte tem medo de lhes entrar em casa e chama-os para fora, para outras terras, para a guerra, para o cimo de uma torre altaneira, para cima de uma ponte vacilante, para o deserto, para a loucura. A maioria vai buscá-la à rua, e sem dar por isso leva-a para casa, às costas. Porque a Morte é preguiçosa; se os homens não a importunassem a toda a hora, quem sabe? Talvez se deixasse cair no sono.” (42)

jpt

publicado às 16:13

Blogando sob Rilke

por jpt, em 15.01.11

[Rainer Maria RilkeHistórias do Bom Deus, Quasi, 2009]

 

Quando as associações não sabem de forma alguma a que hão-de dedicar-se, então prosperam; diz-se que devem proceder dessa maneira, para serem uma verdadeira associação.” (76)

 

Um blog (associativo) que implodiu (história contada na Global Voices), umas férias na Inhaca, uma mui trabalhosa mudança de casa, tudo isto veio-me tirar o gozo e hábito de blogar. Para a semana voltarei a ter internet em casa e tentarei restabelecer um blog com as aplicações a que me acostumara. Sem agenda, claro. A tal única forma de associação ...

 

Talvez seja por aí que o hábito regresse.

publicado às 15:22

Acabo de ver na SIC o "debate" entre o padre Carreira das Neves, professor da Universidade Católica, e José Saramago, acolhido por Mário Crespo. Morno, desinteressante. O escritor algo defensivo e pouco convincente [talvez suspeitando que, como diz Eduardo Pitta (que agora leio) "Infelizmente, Saramago dá um passo maior que a perna."] . O padre explicitando o carácter histórico-cultural da Bíblia, a sua dimensão literária - visão com a qual é fácil concordar, mas se assim é então porquê tanta azáfama na contra-crítica? E, mesmo, porquê o inusitado debate "literário" (!?)? Se alguém disser que Marco Polo era uma aldrabão, Dante um mitómano, Virgílio um chato, Heródoto um falsário, haverá tanta irritação, tamanha ofensa? Mas não são estes textos compreensíveis no seu contexto histórico, literários, metafóricos, etc e tal? Tenho, temos, alguma obrigação moral ou política de dizer bem de Marco Polo? Algum impedimento social de o refutar ou, até mesmo, insultar?

Mas para além disso ao ouvir o bom padre (grosso modo: a Bíblia é simbólica, é literatura, são imagens, e nós estamos lá com as nossas notas de rodapé para guiarmos os leitores - ali no Mário Crespo a história do catolicismo debitada) logo me lembrei de Rilke

rilke-bom-deus

[Rainer Maria Rilke, Histórias do Bom Deus, Quasi, 2008, tradução de Sandra Filipe]

Está o narrador de Rilke contando uma história centrada no facto de que "Deus, devido a uma feia desobediência das Suas mãos, não sabe qual é o aspecto final do homem" (20) pelo que engendra forma de o conhecer. Logo as crianças ouvem essa narração e ...

"A história anterior espalhou-se de tal modo que o senhor professor passeia pela travessa com um ar profundamente ofendido. Compreendo-o. É sempre desagradável para um professor as crianças saberem de repente qualquer coisa que ele não lhes contou. O professor deve ser, por assim dizer, o único buraco no tapume através do qual se pode ver o pomar; há no entanto outros buracos, por isso as crianças todos os dias se empurram para a frente de outro, mas em geral ficam logo fartas do panorama. (...)

Ele [o professor] estava de pé, à minha frente, a puxar os óculos para cima, vezes sem conta, e dizia: "Não sei quem contou esta história às crianças, mas, seja como for, é injusto sobrecarregar-lhes e exacerbar-lhes a imaginação com invenções tão extravagantes como esta. É uma espécie de conto de fadas ..." (...) continuou muito apressado "Primeiro parece-me mal que se utilizem livre e arbitrariamente temas religiosos e sobretudo bíblicos. É que tudo isso foi descrito de tal forma na catequese que se torna impossível contá-lo melhor." (...) "E finalmente (...) afigura-se-me que o assunto não está suficientemente aprofundado e visto sob todos os aspectos." (...) "Sim, dou pela falta de muitas [coisas]. Do ponto de vista de crítica literária, maioritariamente." (22-24)

***

Um delícia. Não fosse a tristeza de ver a paróquia tão paroquial.

jpt

publicado às 02:34


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