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1. Por todo o lado opiniões muito veementes sobre aquela desgraçada fotografia da criança afogada. Bom momento para suspender o "memeismo" e ir comprar este "Olhando o Sofrimento dos Outros" de Susan Sontag, publicado há pouco na Quetzal. Bom corpo de letra, boa paginação, cento e tal páginas, escorreita escrita. Alimento para melhores opiniões. Ou, pelo menos, mais estéticas, parecendo mais lidas.

 

2. Muitos comentadores e "postalizadores" no facebook referindo que a desgraçada fotografia demonstra (grita até) a responsabilidade de todos nós no drama actual. Recuso-me à punição: não assumo qualquer responsabilidade sobre a situação síria ou qualquer outra adjacente. Nem aceito que a imputem a membros da minha família. Não tampouco aponto a algum amigo aqui em Lisboa responsabilidades na matéria - e presumo que os arrepanhados vigorosamente (nas teclas, claro) auto-punitivos não imputem similares responsabilidades a amigos meus moçambicanos. Pois a este tipo de olhos óbvio é que coitados daqueles, não só são africanos como tantos deles são negros. Gente assim, claro, inimputável destas responsabilidades alargadas sobre os males do mundo. Qu'essas como é sabido brotam sobre nós próprios, europeus. E mais ainda quando somos, e preferencialmente é assim que vamos e somos, brancos. Ou seja, mais maus, mais responsáveis. Entenda-se, mais gente. 

 

3. Responsabilidades tenho, isso sim, nisso do perder tempo com estes opinadores. E com os "editais" jornaleiros, patéticos. Que estão bem para os seus leitores.

publicado às 22:55

A coisa mais importante

por mvf, em 07.02.15

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 "A Coisa Mais Importante" é o título de uma exposição de Fotografia acabada de inaugurar no Centro Cultural de Belém (Lisboa). A mostra faz parte de “Uma Vida Melhor para os Refugiados", iniciativa que pretende apoiar o ACNUR (agência da ONU para os refugiados e que tem o português António Guterres como alto-comissário) a conseguir melhores condições de iluminação e segurança em campos de refugiados. A Fundação IKEA doará à ACNUR 1€ por cada lâmpada vendida nas lojas da marca. ccb-7773.JPG

O fotógrafo Brian Sokol tem-se dedicado a documentar questões humanitárias com relevo para a situação de refugiados em diversos países e sociedades afectadas por conflitos. Esta mostra de pouco mais de uma dúzia de imagens de grande dimensão baseia-se na ideia simples de retratar os refugiados no Sudão do Sul com aquilo que para além da sua vida conseguiram transportar na sua jornada, ou melhor, na sua fuga da região do Nilo Azul (Sudão) para o que lhes restava de esperança. Se é fácil supor que o que transportaram foi pouco mais que nada, é muito difícil imaginar o que foram estas travessias até aos campos onde Sokol fotografou a pequena Maria e o jerrican quase do seu tamanho, o Ahmed de 10 anos com o seu macaco de estimação, a Magboola de 20 anos com as suas três filhas e uma panela, o velho Alamim que com 85 anos pegou na sua familia, duas garrafas - uma com água e outra com óleo para cozinhar  - e um machado e que relata que foi o possível e que tiveram de deixar algumas pessoas mais velhas para trás. Também retratada foi Tiaba. De mãos vazias.Tiaba  nada mais conseguiu trazer com ela do que aquilo que  com exagero se poderia chamar roupa porque mais não era que panos esfarrapados. Retratada de mãos vazias é força de expressão porque o tétano levou o braço esquerdo de Tiaba há quatro anos. Taiba fez a jornada de dois meses desde Lahmar com a sua mãe e com oito irmãos, descalça, passando dias sem comer. Taiba sobreviveu comendo alguns frutos que ia conseguindo na floresta e com a caridade de outros que a foram alimentando e dando água.Taiba é uma das pessoas mais vulneráveis do campo de refugiados de Jamam (Maban, Sudão do Sul).

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Calcula-se que haja cerca de 11,7 milhões de refugiados no mundo sob proteção do ACNUR, metade dos quais são crianças. 

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E nós, os que podemos um bocadinho mais, o que fazemos? Esperamos que os estados resolvam? Que a ACNUR chegue para as encomendas com a ajuda desta ou daquela empresa? Ou compramos uma porcaria de uma lâmpada que seja?

As fotografias que fui fazer ao CCB para documentar a exposição que fica até ao final de Março servem aqui como contributo mínimo, um nada, uma chamada de atenção.

 

 

"A Coisa Mais Importante"

Todos os dias desde 6 de fevereiro até 31 de Março de 2015

Centro Cultural de Belém, Praça do Império - Lisboa

Telefone: (+351) 21 361 24 00
Fax: (+351) 21 361 25 00
Correio electrónico: ccb@ccb.pt 

Todos os dias desde 6 de fevereiro até 31 de Março de 2015

 

publicado às 10:09
modificado por jpt a 8/11/15 às 18:18


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