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Ex-votos

por jpt, em 23.02.15

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Volta e meia os mais furibundistas do estatismo clamam que nada mudou, que isto está como nos tempos d'antes do 25 de Abril e coisas assim. Dislates que lhes rendem laiques, aplausos e, até, votos.

A semana passada fui pai. E cruzei um bocado a cidade, em regime de turista, a mostrar à minha filha a cidade que é sua sem que nela alguma vez tenha vivido. No rossio (D. Pedro IV) a meu pedido ela fotografou isto. Uns altares de ex-votos - uma estrutura metálica muito pirosa (L.O.V.E.) onde se engancham os tais ex-votos, agradecimentos/promessas de amor ou amizade, comprados ali mesmo na banca.

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Há décadas os ex-votos eram outros. Também esteticamente pirosos, menos hedonistas (o estilo de laicização a que a "classe média" portuguesa consegue aportar) pois ancorados no catolicismo popular. Há algumas semanas demandei Arcozelo e ali encontrei o culto da Santa Maria Adelaide, o recorrente cadáver incorrupto. Na capela ainda lá estão os ex-votos. Pedindo protecção para os soldados arregimentados para o ultramar e suas guerras, coisas de mães, namoradas e até pais roídos pela angústia.

Entretanto, desprezando estas coisas e quem as vive, os furibundistas, indignistas (e agora sirizistas), continuam a clamar que isto está como nos "tempos". Pois as pessoas (as "massas", o "povo" ou outra aspeável qualquer) são-lhes verdadeiramente indiferentes.

 

publicado às 12:39

BSS e Charlie Hebdo

por jpt, em 17.01.15

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Muitos continuam a perorar sobre a islamofobia da "CH", dizendo a revista monopolizada pelo anti-islamismo, uma xenofobia explícita. Boaventura Sousa Santos replica hoje a lenga-lenga: " o Charlie Hebdo não reconhecia limites para insultar os muçulmanos, mesmo que muitos dos cartoons fossem propaganda racista e alimentassem a onda islamofóbica e anti-imigrante". É certo que há quase uma década a revista era alvo de ataques e ameaças dos radicais políticos islâmicos e isso poderá ter provocado nos seus autores uma reacção altaneira, um crescendo de atenção/reacção provocatória - nenhum dos agora acusadores, esse amplexo cristo-multiculturalista (um verdadeiro "Compromisso Histórico"), fala disso, reduzindo tudo à tal imputação de xenofobia. Esta linha de análise não é uma mera desatenção sobre o contexto de produção de revista, é uma verdadeira desonestidade intelectual

 

Entretanto deixo algo de 2014, apropriado ao Natal, que a "CH" publicou. Para mostrar o quanto a produção satírica da revista era monopolizada pela sanha anti-islâmica, pela xenofobia radical anti-"outros", pela arrogância hipócrita dos "valores ocidentais".

 

publicado às 03:17

 

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Li hoje, dia em que soube que a Penguin desistiu dos porcos e das salsichas nos seus livros, dois textos díspares sobre os atentados de Paris e as reacções acontecidas. Ecoado por amigos em Maputo um texto de Mehdi Hasan um jornalista britânico de origem muçulmana (convém ler, pois o autor teve contactos com os terroristas sabendo quais as efectivas causas que os levaram à acção). Eu acho o texto uma falsificação execrável (de "falsificacionismo histórico" ou, pelo menos, "amputacionismo histórico") mas isso deve ser por ser eu um "hipócrita liberal", para usar as palavras de Hasan - e deve ser por isso que me fico a questionar sobre a razão que leva esses meus amigos, que sei pessoas ajuizadas, a elogiar/partilhar isto.

Também hoje li um texto de Helena Matos de que muito gostei (também decerto porque sou um "liberal hipócrita"), e no qual me parece que a autora mergulha todo o antebraço na ferida.

A propósito disto tudo lembrei-me de um velho texto de Swift, originalmente publicado em 1708 (!). E até comprei o livro só para o citar aqui, sete euros e meio para escrever este postal ... Swift é conhecido (lido?) fundamentalmente pelas viagens de Gulliver. Mas não foi só isso que botou. Como religioso profissional escreveu também esta pérola "Um argumento contra a abolição do cristianismo", um texto corrosivo, na actualidade legível como uma pérola de ambivalência. Confesso que acho mais interesse a este texto com três séculos, de um pastor da igreja irlandesa, do que aos dos cientistas sociais hiper-relativistas e tardo-multiculturais para os quais a "origem do (mal) do mundo" habita a oeste dos Urais:

"Sou  muito  sensível à fraqueza e presunção que é investir contra o humor geral e a disposição do mundo. Lembro que foi com grande justiça e respeito à liberdade, tanto do público como da imprensa, que foram proibidos sob ameaça de várias penalizações, escrever, discursar ou apostar contra - mesmo antes de isso ser confirmado pelo Parlamento; pois era encarado como uma maquinação para contrariar a opinião corrente do povo, o que, para além de loucura, é uma manifesta violação da lei fundamental que faz dessa maioria de opiniões a voz de Deus. Da mesma forma e pelos mesmos motivos, talvez não seja seguro argumentar contra a abolição do Cristianismo num momento em que todos os partidos parecem tão unanimemente determinados nesse ponto (...), mas assim que essa ideia é infelizmente produzida não posso ser inteiramente dessa opinião. Mais ainda, [para além de] eu ter a certeza de que uma ordem seria emitida para a minha imediata acusação pelo Procurador-Geral devo ainda confessar que, na postura actual dos nossos assuntos, em casa ou no estrangeiro, eu ainda não ter visto a absoluta necessidade de extirpar a religião entre nós.

(...) livremente concordo que na aparência tudo está contra mim. O sistema do Evangelho, após o inevitável apraecimento de outros sistemas, é genericamente antiquado e explodiu. Assim a massa ou o corpo comum do povo, entre os quais parece ter expirado o seu último crédito, parece tão envergonhada dele quanto as suas elites (...).

Contudo, uma vez que os coveiros propõem tão maravilhosas vantagens para a nação com esse projecto e avançam muitas e plausíveis objecções contra o sistema do Cristianismo, considerarei brevemente a força de ambos (...).

Primeiro, uma grande vantagem proposta com a abolição do Cristianismo é que isso em muito ampliaria e estabeleceria a liberdade de consciência, esse grande baluarte da nossa nação e da religião protestante, e aminda muito limitada elo sacerdócio, apesar das boas intenções da legislatura como podemos dar conta recentemente por via de uma grave ocorrência. Pois foi decerto reportado que dois gentlemen nos quais muitas esperanças eram depositadas, de brilhante sagacidade e profundo discernimento que, após uma apurada análise das causas e efeitos, fazendo uso apenas das faculdades naturais e sem o menor traço de educação, terem feito a descoberta de que não há nenhum Deus e que, comunicando então generosamente os seus pensamentos para bem do público, foram há algum tempo, com uma severidade sem paralelo e com base em não sei que obsoleta lei, condenados por blasfémia." (Jonhathan Swift, "Uma Proposta Modesta / Um Argumento Contra a Abolição do Cristianismo", Alfabeto, 2011, pp. 39-46)

publicado às 19:32

A blasfémia

por jpt, em 13.01.15

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 (José Vilhena, na Gaiola Aberta)

 

Pensar após o atentado de Paris tornou-se difícil, e nota-se por aí fora. Leia-se José Pacheco Pereira no seu último texto no Abrupto. Há mais de uma década que lhe leio o blog e este será o mais atabalhoado texto que ali colocou: leia-se o parágrafo 3, Pacheco Pereira a assumir, escorregando (?), a velha tese da "democracia formal", isto na ânsia de criticar os poderes actuais e de "relativizar" a questão do "Charlie Hebdo". Num breve parágrafo jpp pontapeia imensas páginas que já escreveu. A comprovar a dificuldade em matizar a radical condenação do acontecido, em misturá-la com considerações da espuma dos ... meses.

 

Atabalhoados também tantos que partilham um execrável texto de Leonardo Boff sobre o atentado de Paris. Em suma, o velho padre, que foi icónico para a esquerda europeia, vem defender a perseguição judicial a quem ofenda os sentimentos religiosos alheios. Entenda-se, à bolina destes acontecimentos o padre apela ao cercear do direito à blasfémia, um direito crucial nas nossas sociedades (a "Europa", o "ocidente", se se quiser), tão custosamente conquistado na história recente. E no surf da defesa do "bom gosto" e da protecção às "vítimas oprimidas" se põe em causa um valor estruturante da liberdade. Não percebem isso os retrógados das "boas causas" que se aprestam a concordar (e partilhar) este "ovo da serpente"?

 

Ao mesmo tempo há neste paternalismo, o dos defensores dos pobres muçulmanos ultrajados, um novo "orientalismo", um postular de défice aos "outros", esses orientais incapazes de viverem com afrontas ao seu sagrado. Tudo bem connosco, cristãos civilizados, temos a estrutura civilizacional para conviver com a blasfémia, para sobreviver ao desconforto da afronta. Já não tanto com os habitantes desse "oriente", dessa alteridade, ainda mergulhados no torpor do sagrado, como se imaturos. É um evolucionismo incauto o que sobrevive no pensar destes "bem pensantes" sempre preocupados com as vítimas da exploração. E, até paradoxalmente, é o maior desrespeito pelas populações muçulmanas, a coberto de um pretenso respeito pelas suas crenças produz-se uma desvalorização dos crentes, como se a sua infantilização, o seu aprisionamento na "comunidade" (de crença, claro), uma desindividualização.

 

Muito disto tem a ver com a pressa. Acima de tudo com a pressa nas leituras. É o mundo do limite dos caracteres, no twitter, nos sms, no facebook. Na "obrigação" do texto curto, nos jornais, nos blogs. No limite também nos textos académicos, reduzindo a complexidade. Tudo isto nos aprisiona na cacofonia. Nos conduz à condensação do que se diz, do que se pensa, ao primado da enxórdia dos "abstracts" e das "palavra-chave". Um dos efeitos mais importantes disso é a amputação dos sentidos dos valores. A gente vive em sociedades que defendem, e assentam, no respeito da liberdade de opinião, e nisso da liberdade de culto. Nessa atrapalhação de leituras, de irreflexão, muitos confundem "respeito pela liberdade de opinião" com "respeito pela opinião". E isso é uma trapalhada intelectual. Defender o respeito pela liberdade de opinião em nada me obriga a respeitar a opinião alheia. Não a posso proibir mas posso pateá-la, não a posso prender mas posso denegri-la, ridicularizá-la. Se caluniar ou agredir os seus defensores os tribunais tratarão do caso. Mas gozar as opiniões, combatê-las, desrespeitá-las, "blasfemar"? É meu direito e, até, meu dever. Depois serei "julgado" (ou seja, avaliado, catalogado) pelas minhas opiniões, pelo minhas anti-opiniões, pelo seu tom e formato. Quanto muito serei alvo de sanções "morais". 

 

Que gente com responsabilidades intelectuais e profissionais não perceba isso só pode ter duas respostas: ou são, para além das retóricas "progressistas" e/ou "libertárias", profundamente totalitários. Ou andam completamente distraídos e mais valia pararem de perorar ao teclado.

publicado às 23:22

Os falsos tradicionalismos

por jpt, em 21.12.14

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Amigo imbuído de caritativo (ou solidário) espírito natalício levou-me a um restaurante libanês. O vinho escolhido foi daquelas multiculturais paragens. Não será uma grande pomada mas é bebível e acompanhou bem o extenso rol de pratos abordados. O mais interessante é até o seu nome "The Emirs", a lembrar o quão tão moderno é isto do fundamentalismo islâmico, a contrastar com os que o acham "tradicionalista" (sejam os seus apaniguados, mui ciosos de que ecoam alguma verdade de antanho; sejam tanto dos que se lhe opõem - e bem, qu'aquilo é inadmissível - crentes que vêm de um passado que tenha existido).

 

Depois, na revista para o aeroporto e viagem, a Beaux Arts (Janeiro 2015 - com uma boa escolha das exposições para 2015 em registo francófono), leio esta interessante notícia "Na Arábia Saudita faz-se tábua rasa do passado" (p. 20): no frenesim imobiliário do país calcula-se que cerca de 98% dos sítios históricos foram derrubados desde 1985, e agora até se prepara um plano de constução que implica arrasar a propalada casa natal do profeta.

 

Chame-se-lhes tradicionalistas ...

publicado às 20:53

Santo(s)

por jpt, em 13.12.13

 

 

A propósito de Mandela escreve-se e ecoa-se em Portugal. Alguns, como se magnânimos, recordam que se Mandela foi defensor da luta armada contra o regime sul-africano veio a abandonar essa vertente. E, como se cândidos, dizem-no de forma a deixar entender que ter defendido a luta armada contra o sistema do apartheid pudesse ser mácula. Felizmente apagada pela posterior inflexão para outras formas de resistência - e, por arrasto, deixando entrever que uma luta armada contra qualquer sistema colonial tenha sido poluente. Repito, escrevem-no (in blogs e nos jornais) com a leveza da candura. Mas sem a frescura da juventude, resmungo.

 

Depois vêm outros, do outro lado do teclado, resmungando. Pois entendem esta globalização de elogios ao falecido político como se significando a sua santificação, a qual faria por esquecer exactamente essa dimensão de resistência armada. Ou seja, para esses próceres da palavra pública portuguesa (e para o esloveno Zízek, tardo alter ego de tantos), a santidade simboliza o oposto da luta armada. 

 

Convirá recordar a tais fecundos intelectuais da católica pátria (já ao Zizek não sei se lhe será tão importante) que "santo" e "luta armada" não são nem foram antónimos. Como tal se partilhar o respeito por Mandela é "santificá-lo" (um estuporado cristocentrismo, na minha opinião) isso não implicará (cristocentricamente) esquecer a sua dimensão militarizada. Deveria ser óbvio para a sapiência oratória lisboeta, tanta dela residente nas imediações bem burguesotas do Santo Condestável. Mas não o é. 

 

publicado às 14:05

Homens e deus(es)

por jpt, em 16.04.13

 (Zeus)

 

Dado que à minha filha foi comandado que lesse o "Ulisses" de Maria Alberta Menéres (e eu continuo com muitas dúvidas sobre se estas "adaptações" para infantes não serão prejudiciais) pus-me a reler a "Odisseia". Para logo ao abri-la poder partilhar (por cima da "adaptação") isto, que está no âmago de tudo o que entre nós anda, e que deveria estar na mente de todos, e ainda mais nas dos tais "infanto-juvenis":

 

"Mas para longe se afastara Posídon, para junto dos Etíopes,

desse Etíopes divididos, mais remotos dentre os homens;

uns encontram-se onde nasce, outros onde se pôs o Sol.

Para lá se afastara Posídon, para deles receber

uma hecatombe de carneiros e touros;

e aí se deleitou no festim. Quanto aos outros deuses,

no palácio de Zeus Olímpio se encontravam reunidos.

E o primeiro a falar o pai dos homens e dos deuses [Zeus],

Pois ao coração lhe vinha a memória do irrepreensível Egisto,

a quem assassinara Orestes, filho de Agamémmnon.

A pensar nele se dirigiu assim aos outros imortais:


"Vede bem como os mortais acusam os deuses!

De nós (dizem) provêm as desgraças, quando são eles,

pela sua loucura, que sofrem mais do que deviam!

Como agora Egisto, além do que lhe era permitido,

do Atrida desposou a mulher, matando Agamémnon

à sua chegada, sabendo bem da íngreme desgraça -

pois lha tínhamos predito ao mandarmos

Hermes, o vigilante Matador de Argos:

que não matasse Agamémnon nem lhe tirasse a esposa,

pois pela mão de Orestes chegaria a vingança do Atrida,

quando atingisse a idade adulta e saudades da terra sentisse.

Assim lhe falou Hermes, mas seus bons conselhos o espírito

de Egisto não convenceram. Agora pagou tudo de uma vez."

publicado às 20:27

Cristo em Nampula

por jpt, em 12.03.13

 

Quadro anónimo fotografado com telefone em Anchilo. Para quem conhece Nampula o quadro é uma delícia, até de realismo.

Sim, eu sei, tenho andado muito perto deste contexto religioso. Fases, se calhar ...

publicado às 22:38

Bento XVI

por jpt, em 10.03.13

 

Lamento-o agora, descarregadas que estão as fotografias no computador. Estava cansado, mesmo exausto. À saída da aldeia, dessas de povoamento disperso, no recomeço da caminhada, ladeio a igreja (católica) local, de blocos feita, encimada por aquelas terríveis placas de zinco que vão produzindo pequenos infernos por esse país fora. E noto o pormenor, delicioso, nele me detenho e num automatismo exaurido fotografo-o, distraindo-me da máquina, dos seus necessários modos. E sigo, na pressa da longa caminhada pela frente. Por isso ficou-me assim este nada, perdido o enquadramento da pequena, isolada e até rara igreja, deste parapeito com a bíblia aberta, ladeada pela pobre cruz esculpida em madeira nova e o plástico cheio de pilhas. E atrás o túnel de luz até à outra janela, aberta para as machambas, lá dentro as cadeiras onde nos sentáramos um pouco, uma conversa seguida de caracata e galinha, a moela para mim, que já cheguei a essa idade. Falhada a fotografia guardo o momento mas não posso partilhar a impressão causada.

 

Ainda assim deixo-a, deixo este momento vivido nesta igreja de uma longínqua povoação de Namaponda, Angoche. Para vos chamar a atenção a um inteligente e belíssimo texto sobre a igreja católica, o catolicismo actual e Bento XVI escrito por José Pacheco Pereira, "O Peregrino". Este ateu gostou.

publicado às 22:15

Récita do "Corão"

por jpt, em 25.01.13

 

  

Capítulo "An-Nahl" (a génese do universo)

 

 

Capítulo "Al-Muzzammil" (uma convocatória aos fiéis)

 

São as prestações de Amin Pouya, vencedor de vários concursos de recitações do Corão. Absolutamente espantosas, um prodígio. A ultrapassarem, pelo menos em mim, os obstáculos da incompreensão linguística e da ausência de fé (para os que não conhecem o texto deixo ligações para traduções em inglês).

 

 jpt

publicado às 16:34

Ex-votos

por jpt, em 18.01.13

Em tempos difíceis, promessas em troca de ajuda, graças concedidas ou a conceder, em qualquer caso, pedidos de protecção e respectivo acerto de contas. Ficam alguns exemplos de ex-votos (fotografados na recôndita, brasileira e sergipana São Cristóvão - lugar que a UNESCO distingue como Património Mundial e sem margem para dúvidas, de origem portuguesa - manifestação exterior e pública de bons pagadores. Bonito, já que dever é honra e pagar é, era?, brio. A imagem da protecção de Jesus Cristo colocada no contador da electricidade não se inscreve na mesma categoria mas é exemplar de luz divina.

 

Vosso mvf

 

    


Contador de electricidade em São Miguel das Missões, Brasil

publicado às 17:57

O "Público" e os presépios

por jpt, em 21.11.12

(Presépio, Praça de S. Pedro, Roma)

Leio no jornal português "Público" uma apelativa notícia que surge com este título: "Papa reafirma virgindade de Maria e diz que o burro e a vaca não estavam no presépio". Uma nota, assinada por João Manuel Rocha, sobre "A Infância de Jesus", o novo livro de Bento XVI.

O meu interesse de ateu vem do ênfase na notícia, do título. Não, evidentemente, da questão da virgindade de Maria, crença que não é refutável para os cristãos. Mas na historieta do "burro e da vaca".  Qualquer ateu como este bloguista tem mais ou menos uma ideia sobre a história do presépio, verdadeiro antepassado dos filmes bíblicos a la Hollywood (e, até, das práticas actuais do vídeo-amador incrustado no youtube, ecoando as actividades domésticas). É interessante que o Papa, com aparente bonomia, lembre os seus fiéis do carácter representacional dessas encenações, destinadas a fazer-viver / fazer-crer (n)o texto bíblico.

Por isso me surpreende o critério jornalístico que dá relevo à posição sobre o papel dos bovinos e dos equídeos na teologia? Não. O que me verdadeiramente me surpreende é que numa breve nota sobre o livro - que é apenas uma mescla de textos de imprensa (Reuters, Ecclesia, El Pais)  - não se consiga dar relevo em título ao verdadeiramente significativo: "O Papa ... pede aos leitores para deixarem de olhar para Deus como alguém que limita a liberdade individual ...". Não é coisa nova, mas é coisa difícil de passar, de fazer viver. É (sempre) um título. Será (sempre) um título.

Mas não para o "Público", com um pé no engraçadismo e outro na ignorância. Incapaz de seleccionar, de fazer ler. E de fazer discutir. E é esta mediocridade jornalística, este rame-rame entre bovinos e equídeos, que  explica, em boa parte, o afogamento dos jornais "de referência". E os despedimentos dos que neles trabalham. Os deste pobre olhar e os outros. Que os há.

jpt

publicado às 17:55

Em São Paulo

por jpt, em 25.09.12
  

No Atlântico-sul a Alexandra Lucas Coelho conta-nos como a IURD se apresta para conquistar o conselho municipal de São Paulo (sim, 20 milhões de habitantes, sim, a maior cidade da América do Sul). Usando uma cara conhecida da sua rede televisiva.

Como se sabe eu aqui não falo de política moçambicana. Mas ao ler isto só me apetece avisar os diversos presentes, cuidem-se que, como se vê, o ovo da mamba de cruz em riste anda por aí ... Sem separar, como se diz na Bíblia, o de César e o de Cristo. Ou, glosando o provérbio português, com um olho no púlpito e outro no palácio.

(Sorte a nossa, lá em Portugal, com aqueles filmes internos, de bispos em orgasmos com o dinheiro ... que acalmaram a pandemia).

jpt

publicado às 01:10

O major-general

por jpt, em 09.06.12

O "nosso" major-general Januário Torgal vem-se afirmar em pleno calvário, um verdadeiro pecado de soberba, a imaginar-se alcandorado ao martirológio. Lamenta-se que ganha menos do que dizem os desagradados com o seu ilegítimo sarcasmo politiqueiro. A este marinho pinto da igreja católica não cabe na cabeça que o seu dever profissional não é este.

Do comandante supremo das forças armadas ouve-se o tonitruante silêncio, distraído que está dos seus deveres constitucionais. Do chefe do estado maior das forças armadas, general Luís Esteves de Araújo, ouve-se o silêncio.

Vai uma rebaldaria na tropa. E isso nunca é um bom sinal.

jpt

publicado às 16:27

O capelão das Forças Armadas?

por jpt, em 08.06.12

Nem valerá a pena argumentar muito. O estado é laico, ponto final parágrafo. O que não é sinónimo de ser a sociedade laica (que é um deslize de pensamento que os furibundos sempre fazem). Sendo o estado laico não há qualquer razão que justifique a existência de um capelão das forças armadas, bispo católico. Não que devam as forças armadas possuir uma parafernália de sacerdotes de diversas religiões, em regime de equidade, como poderão argumentar os tontos multiculturalistas. O estado é laico, as forças armadas não têm sacerdotes. Ponto final parágrafo.

Enquanto vão tendo, por inércia ou resistência, o capelão das forças armadas não fala da vida política. É o capelão das forças armadas, cala-se como estas se calam. Em democracia. Não pode andar a "mandar bocas", a chamar salazar ao primeiro-ministro.

A esquerda que se indigna nunca gostou da padralhada a falar de política. Gosta agora. A esquerda que se indigna adora o populismo de falar das benesses do poder. Cala-se agora diante das populistas "denúncias" dos 4400 euricos da reforma do bispo capelão. Agora, só agora, não convém a "indignação".

Reforme-se de vez o atrevido bispo das forças armadas que fala de política. E, sem mais parágrafos, extinga-se.

jpt

publicado às 17:07


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