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Os Medici, a génese disto tudo?

por mvf, em 26.07.14

 Antes de serem o resto, ou seja, aquilo que se costuma designar como mecenas, os Medici trataram de se tornar ricos e poderosos através do banco que Giovanni di Bicci fundou em Florença. Corria 1397 e foi um dos primeiros bancos a surgir, nesse ano já com uma agência em Roma e daí para a frente estendendo-se fora de portas para outros estados italianos até paragens como Genebra, Lyon, Basileia, Bruges,  Avinhão ou Londres. O livro conta-nos entre verdades e mitos como a família florentina tratou de tecer as teias que enredariam política, diplomacia, o poder militar e religioso e os seus agentes - de notar que João de Lourenço de Médicis veio a tornar-se no Papa Leão X - para garantir o seu lugar no mundo. Outros seguiram o exemplo com mais ou menos requinte, com práticas e estratégias mais ou menos semelhantes e resultados equivalentes ou nem por isso.

A coisa lê-se rápido, a escrita de Parks é fácil e dinâmica e dá-nos uma ideia do Quatroccento florentino e como a cidade foi o mais importante centro cultural do Renascimento, da importância dos Medici no apoio e desenvolvimento das artes e uma lambuzadela eficaz sobre das origens do sistema financeiro moderno.

 

Parks começa pela usura, citando Ezra Pound que nos loucos anos 20 (do século passado, evidentemente!) entendia ser o sistema bancário uma fonte de grandes males. Não se percebe onde foi o raio do poeta desencantar a peregrina ideia. Um desconfiado, portanto...

 

"... com a usura,

nenhum homem tem um paraíso pintado na parede da igreja...

nenhuma pintura é feita para durar ou para com ela viver,

mas sim para ser vendida e vendida depressa,

com a usura, pecado contra a natureza."

 

Conta-nos Parks que durante os séculos XIII e XIV se espalhou pela Europa uma rede de crédito e que no centro estava justamente Florença e que durante esse período e mais acentuadamente no século seguinte, foram produzidas na cidade algumas das mais belas obras de pintura e de arquitectura nunca antes vistas ( e por ver...) e que na família Medici aquilo que foi a génese da banca moderna e uma arte incomparável se fundiam, sustentando-se.

Conclusão: Não fosse a usura e não teríamos a Renascença...

 

 Giovanni di Bicci

 Como o próprio autor desvenda logo nas primeiras linhas, o livro é "uma breve reflexão acerca dos Medici do séc. XV: o seu banco; a sua política; os seus casamentos, escravos e amantes; as conspirações a que sobreviveram; as casas que construíram e os artistas que patrocinaram. tenateremos expor o quanto da história deles tem para nos dizer acerca da forma como hoje vivemos a relação entre a grande cultura e os cartões de crédito, até que ponto essa história determina as nossas perpétuas suspeitas no que se refere à finança internacional e às suas relações com a religião e a política".

 

 

Dado o que se passa em Portugal com o Grupo Espírito Santo e, sobretudo com Ricardo E.S. Salgado, até há pouco líder incontestado do clã e do grupo que ostenta o nome de família, também conhecido desdenhosamente por DDT, o dono disto tudo, lembrei-me de reler o livrinho* do qual tenho a 1ª edição portuguesa (Ed. Presença, 2009) e que já tentei arranjar antes desta barraca toda desabar para presentear alguns amigos interessados nestas matérias mas nunca mais encontrei nos escaparates. Talvez uma reimpressão fosse oportuna para uma leitura estival... 

 

Vosso

mvf

  

*Título original:

Medici Money - Banking, Metaphysics ans Art in Fifteenth-Century Florence

publicado às 16:20

Viola Organista
foto: Tomasz Wiech/AFP

 

O bom e velho Leonardo da Vinci, entre outras habilidades com que se foi entretendo e com elas espantando, engendrou um instrumento musical extraordinário: a viola organista!... Quinhentos anos depois de desenhado, um concertista polaco de nome fácil de ler e ainda mais simples de pronunciar, Slawomir Zubrzycki, deitou mãos à obra antes de as deitar ao teclado, e transformou o plano do Mestre dos Mestres, num mecanismo que funciona. A geringonça é uma mistura de viola de gamba (ancestral do violoncelo e assim chamada porque se colocava entre pernas para ser tocada e, como todos sabemos, perna em italiano diz-se gamba...), um cravo e um orgão mas com a aparência de um piano de cauda. Se fosse eu chamava-lhe um pianoncelo... Certo é que o paciente e capaz Slawomir mostrou a coisa, salvo seja, pela primeira vez em Outubro de 2013 em Cracóvia. Genial e o adjectivo é curto.

 

 

publicado às 21:18


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