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Saudades (do Roberto Carlos)

por jpt, em 01.06.14

 

Há mais de uma década que blogo. Nos primeiros anos o ma-schamba era lido por meia dúzia de amigos e por alguma pouca gente por mim desconhecida, e ainda menos vizinhos, que o bloguismo não existia por cá antes do Machado da Graça ter dado o verdadeiro pontapé de saída. Foi tendo alguns leitores, ou porque ligados a Moçambique (o Carlos Gil, a Isabella Oliveira, a Madalena, bloguistas, alguns outros comentadores) ou porque meus amigos virados ao bloguismo (o Apenas Mais Um, o jpn revolucionário) ou gente que nunca conheci, apenas em blog (aquela encantadora 100Nada entre outros). Depois foi-se alastrando e, muitos anos depois, com a chegada do facebook, passou a ser lido por gente de Maputo, aqui da esplanada e do supermercado. Nisso me mudou o registo. Se no princípio meti o espírito weblog, o diário, com um bocado das entranhas, ainda que não intimista, depois, devido a essa vizinhança leitora, impôs-se-me a parcimónia da timidez e isto foi ficando um almanaque (e o eco da angústia de um português emigrado a ver o país ser estropiado pela cleptocracia de Sócrates, como há alguns anos todos perceberam, menos os deficientes morais). A essas entranhas, ao jpt in-blog que se mostrou nos "bons velhos blogotempos", juntei-as neste "Ao Balcão da Cantina".

 

Agora é só o rame-rame, hábito que é vício. Entre o fel e a opinião tantas vezes inútil do "senhor doutor", convicto de si em demasia. Bombardeada, são "os tempos" disso, ali ao facebook. E foi lá que há pouco o vizinho, homem-bom de Maputo, Zé Norberto me fez lembrar o Roberto Carlos. 

 

E nisso despertou-me o quando cheguei a Moçambique. Há vinte anos, Outubro de 94, e é lixado tanto tempo passado. Quase tanto como agora é fodido ir eu fazer 50 anos. Quando cheguei era um puto estúpido, com manias de intelectual, e não gostava de Roberto Carlos, que era então muito ouvido por cá. Avancei ao Cabo Delgado. Quando ia a Pemba, comer qualquer coisa (que perdi 25 quilos naquele semestre) e beber o mundo (que bebia lagos), caía no Viking (o bar do Lars) a colaborar no desenvolvimento sustentável (introduzi na província o conceito do "after-hours"). Foi lá, naquele calor de soçobrar, a comer o pouco que havia (a gente nem consegue imaginar o quanto não havia então) e a beber desde as tenras manhãs enquanto jogava gamão (que nunca soube jogar) que aprendi a amar Roberto Carlos.

 

Na altura não havia as comunicações de hoje. Em seis meses de Cabo Delgado recebi três cartas do meu pai e duas dos Olivais, mandadas pelo capitão da tasca. Telefonar nem para Maputo, quanto mais para Lisboa - e os mais novos nem conseguem imaginar um mundo sem internet nem telemóveis. E assim cresciam, desmesuradamente, as angústias da saudade. Um dia, entre os matinais ovos com polony, apareceu alguém que ia a Maputo. Pedi-lhe que levasse uma encomenda postal, que a mandasse para Lisboa. Já a voar baixinho, naquela ainda pós-madrugada, gravei uma k7 com esta música. E enviei-a para a mulher da minha vida (ela, claro, ao recebê-la ficou algo preocupada com a minha sanidade). 

 

Terá sido, estou certo, a melhor coisa que fiz na vida:

 

 

 

Este é um postal como eu teria escrito em 2004. Quando havia bloguismo.

 

publicado às 23:23

Monarquia

por jpt, em 03.10.09
[ok, uma private-song ...]jpt

publicado às 04:38


Bloguistas







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