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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Uma belíssima versão ...
A minha canção dos Stones é, e sempre será, esta. Mas desde a adolescência que tenho este carinho, coisa de fazer vida, que sempre me encanta, logo aos primeiros acordes, de preferência se inesperados ...(e aqui fica um versão "rock", entenda-se por isso sem ser em "alta definição", essas da imagem "limpa" que ninguém tem quando "live").
E ponha-o hoje para um amigo com o qual partilhei parte do dia.
Há dias como este, em que tanto custa ter partido da pátria amada, fazer vida longe. Saber que mesmo lado de casa, onde já não vivem os meus pais, mesmo ali no velho Cambodja, é dia daqueles, faz-me entrar naquele remoinho do "que faço eu aqui?" como se poeta dessulado, em vez de estar lá, como nos tempos estive, como hoje estaria ... literalmente, num que se ... o amanhã quando há assim, num a cada um o seu assim:
Nos últimos dias ouvi uma boa mão-cheia de maçónicos dizerem que "os presidentes americanos" ou "a família real inglesa" e outros que tais são da maçonaria, como se esse apelo anglo-saxónico comprovasse a justeza da organização.
Na sequência deste meu "A maçonaria em Portugal" e como ando a ler este livro não posso deixar de citar, assim comprovando o quão bimbos vão esses convidados das televisões. Cheios de títulos e de amigos ... que os levam à televisão:
"[Em 1964] O Variety Clube era um círculo restrito, a cúpula do showbiz. Maçonaria? Instituição de caridade? Ninguém percebia muito bem, mas eram os gajos que mandavam no meio. Uma máfia inglesa do showbiz, estranhamente arcaica. E a nossa missão era foder-lhes o esquema. Continuavam a mexer os seus pauzinhos. Pessoas como o Billy Cotton, a Alma Cogan. Era incrível a influência que aquelas celebridades - pouquíssimas delas com algum real talento - tinham sobre as coisas. Eles decidiam quem tocava onde, fechavam portas, voltavam a abri-las - se te portasses bem. Felizmente os Beatles já lhes tinham dado uma boa lição. O seu declínio começava a tornar-se evidente e quando tiveram de se haver connosco já não sabiam para que lado haveriam de virar-se." (Keith Richards, "Life", Theoria, 2011, pp. 172-173)
Pronto, e para não se ficar por aqui, deixo isto. Outros ritos:
jpt
Não sou leitor nem de biografias nem de autobiografias, não me interessam. Mas não consegui resistir a este "Life" de Keith Richards (Theoria, 2011: do razão da não tradução do título só a editora poderá avançar as suas ignaras razões).
Li boas recensões mas não é por isso que acolhi o livro. O homem é um ícone, tudo isto é só rock n'roll mas eu gosto. Depois, realmente, o texto está interessante, ritmo e conteúdo, como o homem tem olhado o mundo. Nas últimas semanas tenho lido muito pouco. E por isso estou ainda no segundo capítulo, na chegada à puberdade, em Dartford, tendo deixado para trás uma crua e eficiente visão da Inglaterra pobre do pós-guerra, a reconstruir-se. Não é só o keef, the riff, e o livro vale(rá) bem mais por isso.
Há poucos dias lembrei-me dele no meio das inúmeras conversas que tentavam preencher o gélido e longo velório do meu pai. Um familiar, atento e querido, a perguntar-me, com cuidados de jurista pois "não vão os diabos tecê-las", se eu estou certo do que aqui escrevi. Sim, totalmente, na medida do que foi anunciado, disse-lhe. E, mas isso não lhe disse, está tudo no Richards:
"... a minha avó Eliza ... foi eleita vereadora [trabalhista] ... e em 1941 tornou-se presidente da câmara de Walthamstow. Ascendeu ... na hierarquia política. Vinha de uma família de trabalhadores de Bermondsey, e praticamente inventou os serviços de assistência à criança em Walthamstow. Um espírito verdadeiramente reformador. Devia ter um feiti[o]zinho tramado. Tornou-se presidente da Comissão para a Habitação numa das freguesias que tinha um dos maiores programas de fomento à habitação social do país, e a Doris [mãe de Richards, nora de Eliza] sempre se queixou de que era tão austera que não permitiu que ela [e] o Bert recebessem um apartamento da câmara depois de se casarem: recusava-se a dar-lhes prioridade na lista de espera. "Não te posso dar uma casa. És a minha nora." (48)
Realmente, é só rock n'roll mas eu gosto ...jpt
Andei semanas a namorá-lo. Saía do liceu e passava pela lojinha que o tinha enfiado numa caixa de cartão estacionada no parapeito de uma janela, misturado com outros álbuns. Percorria-os com os dedos até chegar àquele que eu desejava e enquanto mentalmente fazia as contas a quanto me faltava para o comprar, ia abrindo e fechando o fecho de correr. Soube hoje, por um serendipismo, que as ancas ali modeladas não eram as da minha mais antiga paixão, mas sim deste senhor e que a capa foi desenhada por Andy Warhol. O álbum? O Sticky Fingers dos Rolling Stones, what else?
AL
Numa entrada anterior chispou polémica interna (entre bloguistas do ma-schamba e entre comentadores residentes). Quero sublinhar que ancoro a minha posição ideológica na minha biografia, o que não é novidade. E que nesta tem relevo o momento, ao tempo raro, em que vi isto na televisão e em directo. O resto fica ininteligível se não se entender isso. Sem qualquer afinação.
Ficará desentendível se não recordarmos a mitologia (sem aspas, cara leitora bloguista) que enquadra a memória desta actuação. O final do que foi então o maior espectáculo de sempre. O grasnar de uma geração, por assim dizer [o abandalho do partir da corda diante de mil milhões ou coisa que o valha foi, e sem rodeios ainda o é, um hino.].
Adenda: acima o que coloquei em torno dos mais-do-que-suficientes filmes parece-me pouco para o que quero lembrar. Resta-me tentar descrever a adesão. Um grupo de vinte anos então feitos, ali ao Olivais Norte, em casa do HP (onde andará o então lead guitar da banda da rua? e dos pouquíssimos desse tempo que aqui passam quem estaria lá?), feita ocasional refúgio livre de pais ou mais-velhos. Foi um dia preparado e esperado, "onde vais ver o Live Aid?" foi questão entre-a-gente, e depois um dia passado sem se perceber bem como (nenhum de nós disse ou viria a dizer "Queen rules", a única verdade - ainda que pirosamente dolorosa - a retirar do dia e noite), um sábado inteiro passado a olhar o que nos chegava, via tv, de Londres e Filadélfia - coisa nunca antes feita e por isso nós ali, a geração do Dramático de Cascais, assim congregada, entusiasmada, deliciada. Pedrada. Depois, na noite longa, quase como se fosse o alvor da madrugada, e já bebidas todas as confluências preparadas, já fumado tudo o que teria havido para fumar - e decerto que então muito -, talvez com excepção de algum sg gigante ou filtro ainda disponível para sorver em partilha, depois então noite já longa, anuncia-se o fim, e será um fim com Dylan, yah, e também Kiff the Riff. E ei-los, os verdadeiros glimmer twins, que o Jagger já aparecera in-pop com o Bowie, putas, os glimmer twins e o dylan muito passados, exactamente como se após um longo dia e uma longa noite passados nos bastidores. "Blowin in the Wind"? Afinação? A maior bandeira, pelo contrário ...
Regresso, supra-nostálgico, aos tempos de hoje. Um tipo vê isto e lembra-se do que aprendeu: é sempre na sua "trincheira" que há bronca. Que interessam as outras, lá bem longe? Coisas de geração. A do Dramático de Cascais. E a outra, a dos putos. Ou dos jotinhas, vermelhuscos ou laranjuscos. Mestres da topologia. Mestres da merda, nada mais. Piolhos, como os desenharia Tardi, o mestre das tais trincheiras. Piolhos também em blogs colectivos. Até aí.
Um abraço ao ABM. E um outro ao Bruno.
Vou ali fumar um cigarro. Sem piolhos.
jpt