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por jpt, em 15.10.06

Rui de Noronha, Os Meus Versos, Texto Editores, 2006 (Organização, Notas e Comentários de Fátima Mendonça) (299 meticais)

Finalmente, a edição da obra completa de Rui de Noronha, expurgada das alterações póstumas sobre o seu espólio publicado.

""Rui de Noronha [1909-1943] exprime timidamente nos anos trinta, os conflitos suscitados pela sociedade em que se desenrolou a sua existência. Sensível ao espectáculo da opressão, mas isolado na sua "demarche", prisioneiro do seu misticismo, o poeta viveu o drama da suma impossível em tanto que assimilado" [Mário Pinto de Andrade]"

Esta percepção ajudou a construir o lugar mítico que passou a ocupar, como fundador de uma certa modernidade nacionalista, por parte da geração que lhe sucedeu (ideologicamente vinculada ao nacionalismo de que o próprio Mário Pinto de Andrade fez parte) a qual precisava elaborar a geneologia que a legitimasse, isto é, necessitava de se reclamar de uma herança literária, de uma tradição que, inserida na História, lhe fornecesse um passado regulador do seu próprio desenvolvimento.

O Poema para Rui de Noronha, de Noémia de Sousa modelou, de certa maneira, no início da década de 50, o seu lugar de primogénito da literatura moçambicana, ajundando eventualmente a explicar a quase nula recepção (para além das fronteiras da Ilha de Moçambique) da poesia de José Pedro Campos de Oliveira (1847-1911), primeiro poeta nascido em Moçambique" (Fátima Mendonça, "Rui de Noronha: Entre a Memória e o Esquecimento", pp. 6-7)

Pós da História

Caíu serenamente o bravo Quêto
Os lábios a sorrir, direito o busto
Manhude que o seguiu mostrou ser preto
Morrendo como Quêto a rir sem custo.

Fez-se silêncio lúgubre, completo,
No Kraal do vátua célebre e vetusto.
E o Gungunhanha, em pé, sereno o aspecto,
Fitava os dois, o olhar heróico, augusto.

Então Impincazamo, a mãe do vátua,
Triunfando da altivez humana e fátua,
Aos pés do vencedor caiu chorando.

Oh, dor de mãe, sublime, que se humilha!
Que o crime se não esquece à luz que brilha
Ó mães, nas vossas lágrimas gritando?


Vírgulas

Contradança

Virgulo com prazer. A vírgula p'ra mim,
Tem um certo ar de chic, um ar de aristocrata
Não virgulada, a frase, é torta ou é barata,
Se quer dizer que não, sem vírgula diz que sim.

Portanto é preciso e cumpre ser-se assim:
Andar de olho alerta às vírgulas e à cata
Não vir qualquer um, qualquer Miguel da Mata
Tornar-me as portuguesas frases em landim.

Por isso eu ando sempre, e torna e porque deixa
Senhor Miguel da Mata um dia eu faço queixa
'Screva outra vez a nota, assim não pode ser.

As vírgulas ponha-as bem e não me dê cavaco
São tortas, eu bem sei, mas têm o seu buraco
E se buraco têm, lá hão-de bem caber.

publicado às 21:24


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