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Um imigrado, em estantes alheias

por jpt, em 05.05.11

De visita à pátria amada, estupefacto com os pátrios patrícios, feito filho refugiado em estantes alheias ...

 

 

Morte ao meio dia

No meu país não acontece nada
à terra vai-se pela estrada em frente
Novembro é quanta cor o céu consente
às casas com que o frio abre a praça

Dezembro vibra vidros brande as folhas
a brisa sopra e corre e varre o adro menos mal
que o mais zeloso varredor municipal
Mas que fazer de toda esta cor azul

Que cobre os campos neste meu país do sul?
A gente é previdente cala-se e mais nada
A boca é pra comer e pra trazer fechada
o único caminho é direito ao sol

No meu país não acontece nada
o corpo curva ao peso de uma alma que não sente
Todos temos janela para o mar voltada
o fisco vela e a palavra era para toda a gente

E juntam-se na casa portuguesa
a saudade e o transístor sob o céu azul
A indústria prospera e fazem-se ao abrigo
da velha lei mental pastilhas de mentol

Morre-se a ocidente como o sol à tarde
Cai a sirene sob o sol a pino
Da inspecção do rosto o próprio olhar nos arde
Nesta orla costeira qual de nós foi um dia menino?

Há neste mundo seres para quem
a vida não contém contentamento
E a nação faz um apelo à mãe,
atenta a gravidade do momento

O meu país é o que o mar não quer
é o pescador cuspido à praia à luz
pois a areia cresceu e a gente em vão requer
curvada o que de fronte erguida já lhe pertencia

A minha terra é uma grande estrada
que põe a pedra entre o homem e a mulher
O homem vende a vida e verga sob a enxada
O meu país é o que o mar não quer

 

[Ruy Belo, “Boca Bilingue” (1966)]

 

jpt

publicado às 17:07

...

por jpt, em 18.06.04
O meu amigo Zé Francisco comentou lá em baixo assim.No meu país não acontece nadaà terra vai-se pela estrada em frenteNovembro é quanta cor o céu consenteàs casas com que o frio abre a praçaDezembro vibra vidros brande as folhasa brisa sopra e corre e varre o adro menos malque o mais zeloso varredor municipalMas que fazer de toda esta cor azulque cobre os campos neste meu país do sul?A gente é previdente cala-se e mais nadaA boca é pra comer e pra trazer fechadao único caminho é direito ao solNo meu país não acontece nadao corpo curva ao peso de uma alma que não senteTodos temos janela para o mar voltadao fisco vela e a palavra era para toda a genteE juntam-se na casa portuguesaa saudade e o transistor sob o céu azulA indústria prospera e fazem-se ao abrigoda velha lei mental pastilhas de mentolMorre-se a ocidente como o sol à tardeCai a sirene sob o sol a pinoDa inspecção do rosto o próprio olhar nos ardeNesta orla costeira qual de nós foi um dia menino?Há neste mundo seres para quema vida não contém contentamentoE a nação faz um apelo à mãe,atenta a gravidade do momentoO meu país é o que o mar não queré o pescador cuspido à praia à luz do diapois a areia cresceu e a gente em vão requercurvada o que de fonte erguida já lhe pertenciaA minha terra é uma grande estradaque põe a pedra entre o homem e a mulherO homem vende a vida e verga sob a enxadaO meu país é o que o mar não quer(Ruy Belo)

publicado às 06:44


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