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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Adraga – onde as mãos se abraçam
Quando o Amor Morrer Dentro de Ti
Quando o amor morrer dentro de ti,
Caminha para o alto onde haja espaço,
E com o silêncio outrora pressentido
Molda em duas colunas os teus braços.
Relembra a confusão dos pensamentos,
E neles ateia o fogo adormecido
Que uma vez, sonho de amor, teu peito ferido
Espalhou generoso aos quatro ventos.
Aos que passarem dá-lhes o abrigo
E o nocturno calor que se debruça
Sobre as faces brilhantes de soluços.
E se ninguém vier, ergue o sudário
Que mil saudosas lágrimas velaram;
Desfralda na tua alma o inventário
Do templo onde a vida ora de bruços
A Deus e aos sonhos que gelaram.
Ruy Cinatti, in “Obra Poética”
AL
Fui ali, desentranhar-me, e já vim ....
Causas Perdidas
Causas perdidas são as que me dão vida.
Por isso te quero, terra minha.
Por isso aterro a minha casa.
Construo outra igual, parecida.
(Ruy Cinatti)
jpt
Em 1967 Ruy Cinnati, que penso não ter sido um scholar da left-wing, escrevia assim como se em memória descritiva para o poema "O Signo Marcado (para uma voz e coro)", publicado em "Manhã Imensa" (Assírio & Alvim, 1997 [1984]):
"Tenho em minha casa uma estátua de S. João Baptista, julgo que dos princípios do século XIX, passável de factura, embora um tanto adocicada: fruta do tempo. Tomei-a como se fosse S. João Evangelista e no texto mantenho-a com esse nome. Um amigo trouxe-me da América um tomahawak para turista, artesanato dos índios Cherokee, Smoky Mountains, Apalaches. Não tendo encontrado lugar mais apropriado para ele, coloquei-o na mão direita do santo. O tomahawak, ou a sua imagem-símbolo - é importante distingui-lo por causa da moral activa ... - está carregado de recordações de infância, quando eu lia o Texas Jack, série de novelas para rapazes que qualquer capelista exibia à entrada da porta, entre os anos 20 e 30." (p. 59)
jpt
Os três irmãos cabo-verdianos sentaram-se e pediram uma sopaum deles gritou: Então, o vinho? ...e comida a sopa, o vinho aos tragos, desataram a rire comentaram os acontecimentos da semanacom uma boa disposição que contaminou os mais circunspectos.Tudo isto, afinal, porque não sabem mentir...[Ruy Cinatti, "Espectáculo", 56 Poemas, Lisboa, Relógio d'Água, 1992]