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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
(Sérgio Santimano)
Em Estocolmo não estou eu mas está o Sérgio Santimano. Amanhã inaugura uma individual, "Horizontes", e tem vernissage (das 17 às 20) - decerto que algum passante por aqui que esteja naquelas imediações poderá lá ir comer uma chamuça e ver as fotografias. Ou poderá visitar durante o próximo mês, até 8 de Novembro.
Abaixo ficam os dados e a comunicado de imprensa, em versão na língua inglesa.
Para se saber como lá ir ter? Google, que até já estive a ver a galeria, hoje não há segredos nem descaminhos ....
Galeria Flach
Hälsingegatan 43, 113 31, Stockholm, Sweden
Hours: Wed - Fri 12 - 6 p.m, Sat 12 - 4 p.m
Sergio Santimano
"Horizons"
2.10 - 8.11 2014
Galleri Flach has the great honour to present a series of new photographs by Sergio Santimano in the exhibition "Horizons". The series includes some 25 photographs that describe environments and contexts originating in two countries between which Santimano has moved in twenty-five years, Sweden and Mozambique. The concept of the exhibition has evolved in collaboration with the artist Katarina Eismann.
Sergio Santimano is born and raised in current Maputo, Mozambique, where he began working as a photojournalist in the early 1980s. At that time he started an extensive documentation of the new nation that emerged after the independence from Portugal in 1975. He followed his generation, the joy and human misery of the civil war that broke out in the country during decolonization, both for domestic and international press. At the end of the war in 1992, a new phase in Mozambican history began which Santimano has continuously followed through his photographs.
In the current exhibition at Galleri Flach a new dimension partly appears in Santimano’s work. For the first time he includes photographs from Sweden side by side with images from his native country which he previously has refrained from doing. His relationship with Sweden is nevertheless long and was established back in the late 80's when he met his wife and started a family in Uppsala. He says that the differences between the two cultures have taken long time to bridge and that the images from Sweden emerged gradually and slowly.
The imagery that emerges from the exhibition is imbued by intimacy, warmth and sensitivity to people and their environment. The poetic title "Horizons" indicates a perspective that follows through all the photographs and also alludes to his movement between the different countries. The horizon implies a distance but is also a line where the world meets and coincides. Despite the distance one can experience a feeling of closeness and an excitement for what is waiting behind on the other side.
Sergio Santimano has been working as a photographer since 1979, both in the press and with his own photo projects such as photo series Caminhos / The long and winding road (1992-93), Cabo Delgado (1997) and the series Terra Incógnita, which is about the people from the area Niassa in northern Mozambique. His photographs have been shown in many different venues, biennials, museums and galleries in Africa, India and Europe and published in journals such as Revue Noire and Grande Reportagem. He also participated in the large traveling exhibition Africa Remix, which was shown, among other places, in Paris, London, Johannesburg and Stockholm in 2005 - in 2006.
Enquadramentos
Karingana Wa Karigana é o nome desta exposição de Sérgio Santimano. Era uma vez… em tradução aproximada. Desde que o poeta José Craveirinha, em 1974, publicou o seu livro de poemas com o mesmo título que a expressão vem sendo glosada, do teatro à pintura, da fotografia ao cinema.
Um dos mais consagrados fotógrafos moçambicanos, Sérgio Santimano divide-se entre a Suécia e o seu país. Mas território emocional mais importante do seu já extenso trabalho é Moçambique. Índico, de corpo inteiro, fez uma vez uma espécie de autobiografia, revisitando as origens goesas. Essa Goa que se entranhou por inteiro no tecido cultural e social moçambicano.
Se a escola da fotografia moçambicana bebe no fotojornalismo, com Ricardo Rangel e Kok Nam – este último aqui em bela e agora comovedora evocação (Kok Nam em Estocolmo junto da imagem de Samora Machel em manifesta cumplicidade) – a verdade é que Sérgio Santimano se desdobrou em trabalhos temáticos de grande fôlego. Esquadrinhou as terras e as gentes da portentosa província do Niassa e caminhou ao lado dos refugiados de guerra que, após a assinatura do Acordo de Paz de 1992, regressavam às suas aldeias e lugares perdidos.
O Karingana Wa Karingana, o Era uma Vez que impõe uma dimensão narrativa ao destino e às vicissitudes individuais e colectivas de todo um povo, ganha em Sérgio Santimano uma intensidade e um enquadramento peculiares. Nele, como na maioria dos fotógrafos seus compatriotas, o enquadramento vai ao arrepio do discurso oficial, do relato épico, da visibilidade conveniente. O enquadramento é um acto moral e político, dizia Jean-Luc Godard. Sérgio Santimano empenha-se, com humaníssima atenção e sensibilidade, em nos dirigir o olhar para uma espécie de ritualização do momento dramático, como na imagem da mulher que se “lava” de todos os seus sofrimentos. É este o enquadramento que importa, o que se descentra da evidência conveniente, para iluminar e dar a ver, em proposta polissémica, o que considero o melhor do seu trabalho, a dignidade essencial da condição humana.
jpte também, se me permitem, das mulheres em Moçambique. Para a rainha e para a princesa cá de casa deixo esta fotografia de Sérgio Santimano, a minha preferida sobre mulheres em Moçambique.
jptAbre hoje, 3.3., no Instituto Camões uma exposição do fotógrafo português - oriundo de Moçambique - António Leitão Marques, intitulada "Moçambique, Labirinto da Saudade". Nada mais sei sobre o que integra (nem quanto tempo estará disponível). Mas posso presumir que valerá visitá-la. Aqui deixo duas belissimas e já antigas fotografias suas (empobrecidas nas reproduções) que possuo em livro publicado em 1997.
["Cantina no Chiúre"]
["O Padrão e o Fortim da Ilha de Moçambique"]
As fotografias foram retiradas deste livro, que contém trabalhos de vários autores entre os quais, dedicados a Moçambique, os de António Leitão Marques, Sérgio Santimano e Faizal Sheikh.
[Encontros de Fotografia 1997, Língua Franca]
jpt
[Sérgio Santimano, Macalange, Niassa oriental, 2001]
Todos teremos imagens de vida. E nessas, talvez, fotografias de vida. Esta é uma das fotografias da minha vida. Ao revê-la exposta, agora na Bienal TDM 2009, logo a paixão disse "presente". É paixão, não tem qualquer argumentação que a ancore. "Bigger than life" dizia-se do cinema quando ele o era, "Deeper than life" direi eu desta "(Mulher de) Macalange" encontrada no seu quotidiano percurso ao celeiro pelo Sérgio Santimano.
A fotografia moçambicana produziu alguns símbolos - e nesse sentido produziu a nação, construíu a identidade por via simbólica. Para cada era haverá um ou outro ícone particular: "os lavabos" e o "ferro em brasa" de Ricardo Rangel, o "banho dos soldados" de Kok Nam (que abaixo deixo), são fotos que considero particularmente relevantes. E se Rangel foi um grande reporter-narrador de Moçambique já a Kok Nam vejo-o, fundamentalmente, como um pintor de ícones - algo que obrigará à recolha da sua obra em livro, o que tarda -, bem adequado à época do seu apogeu fotógrafo, a do voluntarismo pós-independência.
[Kok Nam, "Sem título, Rio Révue, Manica, 1981". Reproduzida em Bruno Z'Graggen, Grant Lee Neunburg (orgs.) Iluminando Vidas. Ricardo Rangel e a Fotografia Moçambicana, Christoph Merian Verlag, 2002]
[Ricardo Rangel, (rapaz marcado com ferro). Reproduzida em Ricardo Rangel Fotógrafo, Éditions de l'Oeil, 2004]
[Ricardo Rangel, "Casas de Banho. Onde só o negro podia ser criado e só o branco era um homem, Lourenço Marques, 1957". Reproduzida em Bruno Z'Graggen, Grant Lee Neunburg (orgs.) Iluminando Vidas. Ricardo Rangel e a Fotografia Moçambicana, Christoph Merian Verlag, 2002]
Mas para mim, indivíduo aqui imigrado, há 3 fotografias moçambicanas que me são cruciais, que me construíram a auto-imagem, meio auto-reconhecimento, meio auto-embelezamento: uma "Aldeia Comunal" de Kok Nam (que vi na sua exposição individual da Photofesta, e da qual nunca consegui recuperar), a crucial "Apetecido Quintal de Caniço" de Rangel - as quais reproduzo abaixo -, e esta "Macalange". Um trio que faz o "meu" Moçambique. Ou melhor, me faz em Moçambique.
[Ricardo Rangel, "Apetecido Quintal de Caniço". Reproduzida em Ricardo Rangel, Pão Nosso de Cada Noite, Marimbique, 2004]
A (Mulher de)"Macalange" de Sérgio Santimano pertence a uma exposição individual dedicada à província do Niassa, que tem sido apresentada de forma itinerante. E está reproduzida - é apenas assim que a possuo - no livro "Terra Incógnita", publicado na Suécia em 2006, contendo fotografias de Sérgio Santimano e textos de Albino Magaia, Luís Carlos Patraquim, Bosse Hammarstrom, Henning Mankell.
É fruto de um longo trabalho de pesquisa, repetidas viagens à província. Um projecto possibilitado pelo apoio da "cooperação" sueca, penso que inscrito num esforço de testemunhar o papel desenvolvimentista que esta teve (e penso ainda ter) na província - o que marcará o livro, que tem como ponto fraco algum excesso de imagens (algumas pobres páginas com oito fotos cada), talvez no intuito de mostrar trabalho. Do patrocinador, do fotógrafo.
Mas esse é ponto fraco. De resto o livro é bem apetecível. Pois se "Fotografar é assumir uma responsabilidade. As imagens que ficam para trás são rastos importantes para o futuro." (Mankell) o que Santimano deixa, responsavelmente, não é apenas um conjunto de postais sobre a beleza natural do Niassa (ainda que aqui e ali ela surja, avassaladora). É o mundo humano, feito do camponês, como o espantoso "homem emergindo do rio, que não é Narciso" (Patraquim?). Mas também, e nisso rompendo com o constante e atávico olhar exoticizador dos fotógrafos em bolandas, com um mergulho no trabalho industrial do Niassa, de trazer a sua densidade, beleza. Essa a "responsabilidade" do Sérgio Santimano, a de afastar sem hesitação a folclorização. Do Niassa, do mundo. E, só assim, de o representar.
Também por isso, talvez por isso, toda a minha paixão por esta (Mulher de)"Macalange".
jpt
No âmbito da realização da XXª edição da Bienal TDM 09, a sua Comissão organizadora preparou um conjunto de actividades paralelas ao evento de entre as quais ciclos de debate destinados a reflectir e aprofundar o conhecimento e problemática das Artes Plásticas em Moçambique. As sessões decorrerão no Museu Nacional de Arte.
1. Conversa com os artistas premiados Faizal Omar, Domingos Mabongo e Titos Pelembe05-11-09, Quinta-feira, às 18 horas
2. A Fotografia documental e as possibilidades actuais.Oradores: Sérgio Santimano e Luís Abelard11-11-09, Quarta-feira, às 18 horas
3. Bienal TDM 2009: Espaços de Hoje: Desafios e Limites – CuradoriaOradores: Jorge Dias, Gilberto Cossa e José Teixeira12-11-09, Quinta-feira, as 18 horas
jpt
Inauguração no dia 9 de Julho, próxima quarta-feira, às 19.30. Em Lisboa, na Fábrica de Braço de Prata (aos Olivais), com a presença dos seus autores Sérgio Santimano e Luís Abelard: "Ilha de Moçambique a preto e cor". E lá estará durante o mês de Julho.
Uma crítica a "Campo de Trânsito" de João Paulo Borges Coelho, assinada por Teresa Sá Couto. Um livro de que se tem falado bem menos do que esperei.
Sobre a apresentação na Ilha da exposição "A Ilha de Moçambique a Preto e Cor", de Luís Abelard e Sérgio Santimano, no 2+2=5.
Paulo Varela Gomes sobre os Olivais, um texto no Blitz de 1985.