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Que Fazer?

por jpt, em 05.09.10

[Salim Cripton Valá, Desenvolvimento Rural em Moçambique. Um Desafio ao Nosso Alcance, edição do autor, 2009]

Que fazer, neste momento? Ler, com toda a certeza. Penso que uma boa proposta é este livro, nove artigos dedicados ao desenvolvimento rural e desenvolvimento local, um deles incidindo na questão do turismo, um outro sobre o caso histórico do Chókwè, os restantes sete abordando as interrelações entre políticas públicas, de financiamento e de disseminação tecnológica no mundo rural, tendentes ao desenvolvimento. Muito do diagnóstico está feito, muito do analisar do passado também, pode-se induzir ao ir lendo os artigos. Com certeza que os especialistas poderão discutir-lhes as propostas, mas estão identificados os "termos de referência", por assim dizer. O livro é vasto, e diversificado, mas bem acessível a nós, não especialistas. Base para uma reflexão de cidadania (aos nacionais) e de interesse (a nós outros).

Fico a aderir a esta visão de um desenvolvimento rural - que não é "utópica" nem baseada em nenhures, pelo contrário Valá é um homem do métier e os textos, comunicações apresentadas em encontros, fazem apelo a experiências endógenas e exógenas - baseado na agricultura familiar, desconstrutora do mito do aumento da produtividade da "grande agricultura" capitalista, entenda-se, a plantação. Que a muitos, até por paradigma de entendimento do mundo, parece o passo mais produtivo, até "natural", mas que é economicamente muito discutível, para além das vastíssimas questões sociológicas que levanta.

Uma breve citação, para impulsionar os leitores deste blog a irem às livrarias:

"É urgente construir escolas do campo, ou seja, escolas "preparadas" para, partindo da realidade concreta, apoiar os estudantes a valorizarem o seu meio ambiente circundante e melhor explorar os recursos naturais disponíveis, em vez de formar estudantes para "abandonarem" o meio rural em virtude do tipo de educação ministrado. Mostra-se necessário edificar "novas escolas" com um projecto político-pedagógico vinculado às causas, aos desafios, aos sonhos, à história e à cultura das comunidades que residem no meio rural." (314)

Sei que citar é truncar, e este trecho até pode parecer redutor do pensamento do autor, enviando para o sistema educativo as causas dos males e as soluções para o futuro. Mas não é o caso, isto surge articulado num quadro de concepções socioeconómicas sobre a questão do rural. E, claro, que é esta uma proposta que afronta a generalizada ideia da equidade de cidadania, da educação igual para todos. Ainda que, tanto para o autor como para este leitor, não se trata de afrontar nenhuma equidade abstracta mas de defender caminhos para a equidade. O que é completamente diferente.

jpt

publicado às 02:41


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