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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Tamanho adequado para a praia, na saída para a Macaneta lá foi o "Oriente, Ocidente" de Salman Rushdie (D. Quixote, tradução Ana Luísa Faria), que estanteava já há uns anos. Coisa pouca, assim menos menos. Contos a mostrar estilo, vácuos ainda que a quererem-se tonitruantes (ou seria da areia, mesmo que em dia de nada vento?) em especial o sector "Ocidente" - quem possa fazer a crítica do poente rushdiano tem isto, que raiaria o insuportável se não se lhe desse a diagonal ("Yorick" - ui, ui, a la Sterne e Shakespeare -, "No leilão dos sapatinhos de rubis", "Cristóvão Colombo & a Rainha Isabel de Espanha Consumam a sua Relação ...", este último a parecer um exercício juvenil). Dá para a gente saber que o ocidente não é tão apetecível assim ("Um bom conselho é uma jóia rara"). Tudo isto para chegar à última página aí sendo informado "Mas também eu tenho cordas a amarrar-me o pescoço, ainda hoje as tenho, puxando-me para cá e para lá, para Oriente e para Ocidente, com os nós corredios que se apertam e me ordenam: escolhe, escolhe."
Eu espinoteio, resfolego, relincho, empino-me, dou coices. Cordas, não escolho entre vós. Laços, peias, não escolho nenhum de nós, escolho-vos a ambos. Estais-me a ouvir? Recuso-me a escolher". ("O corteiro", p. 206, ainda assim o mais legível dos contos). Seria bonito se não tivesse tanta página antes.
Lá no meio um pouco de análise social actual, recado a deixar-se cair como-quem-não-quer-a-coisa e em registo anacrónico (que sempre me irrita, a culpa é minha): "Os estrangeiros tendem a esquecer-se do seu lugar (certamente porque o deixaram para trás). Com o tempo, começam a considerar-se como nossos iguais. É um risco impossível de evitar. ( ...) Fazer orelhas moucas, desviar os olhos: não há outro remédio. Poucos desses homens representam um perigo real, e só muito raramente vão demasiado longe. Sossegai: a Rainha sabe tomar conta de si." ("Cristóvão Colombo & a Rainha Isabel de Espanha Consumam a sua Relação ...", p. 112)
À saída ão almoçámos na Macaneta - o restaurante está muito caro, saiba-se. E, diz quem o fez, o peixe sabe a galinha e a galinha a peixe. Coisas da usar a mesma grelha para ambos, para oriente e para ocidente, dir-se-ia.