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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
A sessão dos seminários do Departamento de Arqueologia e Antropologia da UEM desta semana, próxima terça-feira, dia 3 de Setembro, às 10 horas ("campus" da UEM, Faculdade de Letras e Ciências Sociais, anfiteatro 1502). Falarão Nuno Cunha (coordenador do Programa STEP da OIT para Moçambique) e Hélder Nhamaze (antropólogo, membro do Departamento)
Resumo:
O impacto do HIV/SIDA em Moçambique tem, entre outros aspectos, gerado profundas transformações na estrutura dos agregados familiares, com destaque para o crescente número de: (i) de agregados familiares chefiados por crianças; (ii) agregados familiares com idosos com a responsabilidade de tomarem conta e crianças; (iii) agregados familiares chefiados por mulheres; e (iv) agregados familiares com capacidade produtiva (de geração de rendimento) reduzida.
Embora ainda numa fase inicial do seu processo de transição demográfica, tais alterações na estrutura dos agregados familiares colocam alguns desafios para o pleno aproveitamento do chamado dividendo demográfico, esperado numa etapa próxima do desenvolvimento do país. A discussão sobre os modelos de protecção social jogam aqui um papel fundamental. Em última análise são estes os principais mecanismos capazes de garantir o bem-estar, e propiciar um efectivo desenvolvimento das capacidades dos indivíduos.
O artigo parte da análise dos Inquéritos sobre o Orçamento Familiar (IOF) para uma discussão qualitativa do referido fenómeno, tendo em vista o debate acerca das consequências presentes e futuras destas transformações e das respostas em termos de politicas públicas que têm sido avançadas nos programas de Governo.
(Bento XVI em Angola)
Há um ano o Papa Bento XVI visitou países africanos e muito mal falou sobre o Sida e os preservativos. Muito mal pois fez tábua rasa sobre os contextos interpretativos das suas palavras, ao sublinhar (mesmo que em contexto relativamente privado) a oposição da igreja católica ao uso do preservativo. As críticas sucederam-se, por parte dos anticristos do costume. E a defesa arreigada do Papa (da sua infalibilidade?) apareceu até de gente de de quem se esperaria melhor entendimento. Lembro, em contexto português, a excelência da posição de António Lobo Xavier, bem acima dos trogloditas topológicos que apenas querem berrar.
Agora o Papa refere a relativa aceitabilidade do uso dos preservativos. Que não são a solução, mas que em que alguns casos poderão e deverão ser utilizados face à doença. Era isso que então se pedia. Ponderação na utilização da palavra e compreensão quanto aos contextos da sua interpretação. Ponderação na filiação a alguns valores, que não serão os centrais da igreja. Uma coisa são os fundamentalistas irracionais que querem que a igreja católica se negue a propósito do sida (ou de qualquer outra coisa), outra será a expectativa daqueles (crentes ou não) que desejam a influente igreja católica colaborante de modo abrangente na luta contra as concepções e as práticas que fazem propagar a maldita praga.
Esta declaração papal levantando o ónus radical da utilização dos preservativos é um momento histórico (e não sendo nada especialista, acredito até que o é na história da igreja católica). Um passo importante na prevenção do sida . Que seja divulgada - e não só no seio dos católicos, já então referi o peso (até simbólico) das palavras do Papa no seio de outras confissões religiosas.
Adenda: o PPM transcreve (e em versão portuguesa) as declarações de Bento XVI sobre a utilização de preservativos. Independentemente de outro tipo de discussões quando as lemos só as podemos saudar, pensando em tantos contextos africanos onde o preservativo é considerado seja um pecado seja como arma de disseminação do sida (é necessário lembrar que parte do próprio clero católico reproduz a ideia de que o sida é invenção europeia para exterminar africanos e ocupar a terra; é necessário lembrar a crença, recorrente, de que a lubrificação dos preservativos é o agente letal de infecção). Isto tanto em contextos católicos como em cristãos como de outras confissões religiosas.
jpt
Sobre sida, preservativos e a hierarquia católica, em particular o Papa, abaixo estão alguns textos. Expressando também o espanto por forma e conteúdo das declarações do Papa em África terem sido tão bem acolhidos - recepção que ecoa, por um lado, a máxima "o respeitinho é muito bonito" e, por um outro, o facto de muitos muito falarem mas só do pequeno mundo que lhes é a paróquia (ou até mesmo a mera sacristia).
Para esses, "respeitadores" (até os da vertente "multicultural"), será interessante olharem-se nas declarações do bispo de Viseu sobre o preservativo. Pode ser que aprendam algo. Sobre eles próprios.
Acabo de ver em diferido. No último minuto do último Quadratura do Círculo (aqui audível) António Lobo Xavier, com extrema ponderação a dizer o fundamental, o necessário sobre as afirmações do Papa relativas à utilização do preservativo no combate ao sida. Como é óbvio, sem ponta de anti-clericalismo ou fundamentalismo ateu. Ou do seu pobre inverso, o catolicismo de barricada. Livre pois de reaccionarismo cultural. Apenas clarividente. Cosmopolita.
Aos críticos das declarações do Papa sobre sida e preservativos, nesta sua deslocação a África, Francisco José Viegas chama "flibusteiros" e alarves, Paulo Pinto Magalhães considerou ineptos, e Vasco Pulido Valente resolveu-os histéricos. São exemplos de conhecidos bloguistas, entre tantos outros, ecoando o impacto da questão em Portugal.
Haverá dois níveis da análise disto:
1. o rasteiro, à imagem da argumentação alheia. Vasco Pulido Valente resolve a questão, largando a típica superficialidade que tanto lhe aplaudem: "Muito pelo contrário, do ponto de vista dele [Papa], era ali, numa situação extrema e manifestamente ambígua, que devia reafirmar o que julga ser a verdade."
A inteligência da afirmação é totalmente similar a alguma que defenda as afirmações da Nobel da Paz Wangari Maathai que considera ser o sida uma criação europeia (aliás, branca) para destruir África. Ou que defenda o cardeal de Maputo quando este considera que a epidemia é espalhada propositadamente pelos países europeus, por via de medicamentos e preservativos. Pois se acreditam nestas verdades não têm eles o direito (até mesmo o dever) de a divulgar? - dir-se-á que são meros dislates, que não são comparáveis. Há provas científicas disso? Ou, tal como eu, crê-se que são dislates?
Ou serão eles criticáveis e o Papa acriticável? Ainda infalível ou como se tal, mero vestígio simbólico dessa velha crença dogmática?
Mas isso não é o fundamental sobre estas declarações generalizadas.2. O que é notável é a forma de apropriação da questão (da sua "nacionalização"). De tudo o que li o mais elucidativo é este comentário de Suzana Toscano, que João Gonçalves reproduziu: "Tornámo-nos uma sociedade de grande sentido prático mas de reduzido sentido de valores.". Ora é exactamente aqui que está a questão: qual sociedade? Quais valores, quais sentidos? (por favor, agora a "aldeia global" de mcluhan não, há limites para o esparvorar).
Esta aparente evidência, e recorrentemente afirmada (já de si muito discutível, pois na prática é um mero avatar da invectiva à laicização, mesclado com a velha utopia da idade de ouro passada) demonstra exactamente de que falam e do como falam. Na prática não interessam os assuntos tratados. Estes são apenas matéria para discorrer sobre a tal sociedade (a própria, como é óbvio). E, nessa, proceder ao constante jogo topológico: se num outro blog, outro partido, outro jornal, outro grupo, alguém favorece ou contraria algum facto, então urge contrapor, vincar as posições mútuas, o inter-distanciamento, a inter-dependência. Ser.
O real, esse, interessa apenas para o jogo. Que não é mera retórica. É, afinal, o só real.
3. Finalmente. As declarações do Papa em África sobre o preservativo são marcadas por contextos comunicacionais (que começa - e isto para os do "anti-intelectualismo", que gostam de gozar com o que não lhes cabe na algibeira - pela simples opção da língua em que fala), neste caso estrondosos. E por um contextos interpretativos. Nesse sentido os seus efeitos (que são procurados, estrategizados, claro), as suas traduções, não são os de uma paróquia burguesa portuguesa.
Quem incompreende isso, quem não quer atentar nisso, esse sim é um inepto, um histérico verborreico. Um pirata.
O Papa está em visita a vários países africanos, tendo-se referido à questão do sida. Sobre isso escreveu João Gonçalves [I, II] e em ambos deixei comentário.
Os blogoanos passam e só me resta repetir-me. Sobre sida o que me ocorreu já aqui está.
2. A Exclusive Books [entenda-se, a hiper-FNAC lá do sítio] de Neilspruit é melhor do que a Brooklyn Mall (Pretoria) e quase do que a de Sandton (JHB).
Onde vive a "elite" de lá, afinal em Trás-os-Montes?
3. Decadência sul-africana.
Não há novo livro de Madam & Eve.
4. Qualquer coisa sul-africana.
5. Maputo (no regresso, mas antes também). No BB (belo blog) Solvstag cita-se Miguel Esteves Cardoso. Ler e comprovar que no Shamwari (ao talho Polana) se serve a melhor cerveja de pressão (aka "imperial") da cidade.
6.
Maputo (no regresso, a ler e ouvir de Portugal). O meu ex-Presidente (e por isso sempre respeitado) Pedro Santana Lopes muito bem, baldando-se por ter sido trocado pelas malas da família Mourinho. E a minha surpresa com alguma da muito minha gente a não perceber, tamanha lhe é a clubite rosa, de que se trata mesmo da "a infantilização assassina que nos assola como uma praga ...", diga-se neste caso a futebolização.
7. Maputo (no regresso, a ler e ouvir de Portugal). Por falar em bola, eis o sossego da sociedade civil, a "auto-estima" lusa, a exigir outro Trapattoni "campeão". O apito rubro? Sócrates (o inventor dos dez estádios do Europeu, então o arauto da sociedade [da construção] civil]) agradecerá.
8. Maputo (no regresso, a ler e ouvir de Portugal). Mentira pura nas palavras de Ruben A. Há imensa gente que atende o telefone. Portanto, pois ...
9. Maputo. E então, muito caro leitor frequente, deseja algum comentário face à polémica relativa às afirmações do arcebispo de Maputo sobre o Sida e suas origens? Menezes, meu caro leitor, Menezes ...
[ainda que ... em estando gravado se poderá dizer "nada de novo sob este céu" - os brancos de tudo têm culpa (sua condição semi-divina, dir-se-ia); e o preservativo como a arma do deboche não-marital. É o pacote habitual, amancebando-se (não sacramentalmente, já agora) com as ideias populares, de que é na camisinha que mora a doença e que são os brancos que a trouxeram para ficarem com estas belas terras. Contudo a Terra move-se, ainda que a Igreja Católica se atrase.]
Musso. O nosso fim avizinha-se? Que será de mim?