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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Sobre "O Vento Sopra do Norte"
O Período pós II Guerra Mundial marcou o início das lutas pelas independências de muitos países de África. Portugal teimava em manter um império colonial que incluía, entre outros países, Moçambique. Entre as estratégias de manutenção das colónias os portugueses criaram uma máquina de opressão treinada para esmagar qualquer tipo de revolta. “ O vento Sopra do Norte” é um projecto cinematográfico que regista este momento da história de Moçambique. O enredo debruiça-se sobre os últimos momentos de ocupação colonial que o autor fixou e 1968. As cenas relatam o progressivo desenvolvimento da guerra de libertação de Moçambique, o sentimento generalizado de descrença, de confusão e pânico que se instalava entre os colonos e o início da fuga generalizada para metrópole. A redacção do guião levou cerca de um ano. A produção envolveu todos os técnicos do Instituto Nacional de Cinema(INC). O Filme foi financiado na totalidade pelos fundos do INC.
Um filme de José Cardoso, Moçambique, 1987, 87´
O ciclo de cinema moçambicano na Faculdade de Letras e Ciências Sociais da UEM tem amanhã a terceira sessão. O programa é:Quarta Feira - 15 de Agosto
10h15 | Debate com Amocine | Políticas Culturais: A Lei do Cinema | Apresentado por Sol de Carvalho
15h00 | Projecção: "O Vento Sopra do Norte" de José Cardoso | Conversa com Director antes da Projecção
jptAdicionando a este meu texto, sobre o "Jardim de Outro Homem", de Sol de Carvalho:
Em "O Jardim de Outro Homem" Sol de Carvalho conta uma história em cinema. Mais do que isso, em tratando-se de cinema moçambicano, Sol tem uma grande vitória, escapa ao cinema quase etnográfico, aquilo da população na tela - genuína, claro, porque é população e portanto verdadeira, porque natural, não poluída, porque povo, ideologia que está sempre presente e que parece mal anunciar em tom crítico -, a "representar", não a representar mas a "representar" um colectivo (será meu défice cultural, mas nunca vi nenhum filme que tenha posto burgueses a representar-se), coisa muito incensada, até esquecendo as décadas passadas sobre mediterrânicos a fazer bem coisas similares. Enfim, projectos ideológicos que vão obrigando a elogiar estopadas pueris - na recente estreia de "O Grande Bazar" atrevi-me a dizer do paupérrimo que aquilo era e fui alvo de zanga patrioteira dos meus circundantes. Que tinham toda a razão, decerto, pois logo o filme (mais a sua representação e argumento) foram premiados no estrangeiro. Enfim, digo tudo isto como catarse.
Sol fez um filme de cinema, contou uma história. No fim a acção acelera e aquilo complica-se um bocado (para mim, leigo, devido aos actores, nota-se o hiato entre Evaristo Abreu e as restantes envolvidas nas cenas finais), mas não seja por isso, vale bem a pena. Óptimo.
Fico, sinceramente, à espera de um novo passo, de um argumento sem causa. Neste surge a coitada da aluna, perseguida pelo professor conspíquo que não a classifica, assim impedindo-lhe o acesso aos estudos de medicina, se ela "não se lhe entregar". Ou seja, impedindo-a de fazer o bem - as burguesas de XIX tratavam das crianças, dos doentes e dos velhos; depois passaram a dedicar-se à enfermagem, e nisso o benfazejo privado tornou-se público; depois à assistência social; e agora, nestes tempos de igualdade, já são médicas. A ideologia do "género", cega, fica contente.
Enfim, violência da qual aluna se safa in extremis por um rebate de consciência, tudo apoiado por algumas mulheres: a professora boazinha, parece que francesa, noblesse oblige, a amiga, a avó, a irmã da amiga - uma guerra de sexos (a mais o malandro produtor de moda, Luís Sarmento, lúbrico em hotéis de 5 estrelas, e o outro professor a satisfazer-se na sala de professores). No fundo, um preto-e-branco onde apenas destoam, como gente, a mãe (a Magaia, que enche sempre) e o próprio professor, cujo desenho começa por ser complexo, como o são homens e mulheres, para acabar por ser um espantalho, simbolizando o mal. E assim se dedica o filme às mulheres moçambicanas que lutam...
Há assédio sexual nas escolas, e tal é muito denunciado. E um filme destes será uma boa propaganda contra tal. Ainda bem, e espero que tenha efeitos. No resto, quanto ao cinema, ainda por cima porque sou professor, gostava muito mais de assistir a um filme sobre o erotismo entre as pessoas (e também entre alunos e professores, claro), o "vai-que-não-vai", algo sobre as complexidades dos poços que somos. E sem dedicatórias.
Até lá hei-de rever este filme. Com agrado.