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Pátria

por jpt, em 19.05.11
Pátria 

Por um país de pedra e vento duro Por um país de luz perfeita e clara Pelo negro da terra e pelo branco do muro Pelos rostos de silêncio e de paciência Que a miséria longamente desenhou Rente aos ossos com toda a exactidão Do longo relatório irrecusável E pelos rostos iguais ao sol e ao vento E pela limpidez das tão amadas Palavras sempre ditas com paixão Pela cor e pelo peso das palavras Pelo concreto silêncio limpo das palavras Donde se erguem as coisas nomeadas Pela nudez das palavras deslumbradas - Pedra rio vento casa Pranto dia canto alento Espaço raiz e água Ó minha pátria e meu centro Me dói a lua me soluça o mar E o exílio se inscreve em pleno tempo. Sophia de Mello Breyner Andresen

publicado às 10:02

Vidas passadas

por jpt, em 22.04.11

De um amor morto fica
Um pesado tempo quotidiano
Onde os gestos se esbarram
Ao longo do ano
De um amor morto não fica
Nenhuma memória
O passado se rende
O presente o devora
E os navios do tempo
Agudos e lentos
O levam embora
Pois um amor morto não deixa
Em nós seu retrato
De infinita demora
É apenas um facto
Que a eternidade ignora

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"

 

AL

publicado às 03:40

O País sem Mal

 

Um etnólogo diz ter encontrado

Entre selvas e rios depois de longa busca

Uma tribo de índios errantes

Exaustos exauridos semimortos

Pois tinham partido desde há longos anos

Percorrendo florestas desertos e campinas

Subindo e descendo montanhas e colinas

Atravessando rios

Em busca do país sem mal

--Como os revolucionários do meu tempo

nada tinham encontrado

 

[Sophia de Mello Breyner Andresen, "Ilhas" (1989), in Obra Poética III, Caminho]

publicado às 19:48


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