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A bola e a política

por jpt, em 19.08.15

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O mundo da bola não é uma escola de virtudes, a gente sabe. Ainda assim quando leio o que o funcionário do sector da comunicação do Benfica, o jornalista João Gabriel, vai dizendo ao longo dos anos deixo-me pensar. Quando vejo as aleivosias que diz agora, em relação a um ex-funcionário do mesmo clube, deixo-me pensar ainda mais. Este homem foi, e foi assim que o conheci, durante uma década assessor da presidência da república, no tempo de Jorge Sampaio. E se nos deixarmos perceber, clubismos à parte, as tropelias que se presta a botar em nome do actual empregador poderemos perceber mais: o desapego às verdades, às liberdades, à mais elementar noção de decente vida democrática que os seus empregadores praticam, por isso o seu apreço empregador por quem a tudo isto se presta. Os actuais e, com toda a certeza, os passados. Daí por ele optarem. E isto a mostrar a concepção de política, algo que uma actividade comunicacional, dos socialistas. Os benfiquistas resmungarão com isto que digo. E é esse o problema da vida política portuguesa (a bola que se lixe), o miserável clubismo. Que acoita tudo isto.

 

Adenda: no grupo ma-schamba no Facebook um amigo recorda o historial deste actual comunicativo do Benfica e antigo assessor de Sampaio. Lembra-nos ter sido ele a entrevistar Xanana apriosionado pelos indonésios [1ª parte; 2ª parte], um acto verdadeiramente colaboracionista. E há quem o empregue, mostrando assim o que é.

publicado às 01:41

Supertaça 2015

por jpt, em 07.08.15

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A época da bola começa domingo. O Sporting em dificuldades, primeiro a lesão do William, agora a maldita sorte no sorteio da antecâmara da liga dos campeões (aka xampions ligue), a defrontar(mos) os malvados soviéticos. No domingo a sempre tão importante e desejada supertaça. A campanha contrária já começou, críticas a um mero anúncio (aka spot) na tv, centrado no sempre-nosso Jorge Jesus. E críticas às suas declarações numa entrevista, nas quais se reclama demiurgo ....

 

E lembro-me de que há um mês tirei esta fotografia. Um belo exemplo da imaginação concorrencial (as virtudes do mercado) na imprensa desportiva. Essa mesma que agora vem (e virá?) criticar.

publicado às 17:52

Bruno

por jpt, em 05.06.15

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No final de 2013 bloguei que o Bruno (de Carvalho) era a personalidade do ano. Pelo pontapé (por via democrática, através de eleições) que dera na imunda mescla banca-construção civil, de "classe média-alta" (a aparente elite), essa "que vampirizou o país" e também o próprio Sporting. Um exemplo para o país, pensei e penso.

 

De então para cá tenho gostado deste presidente do clube de que sou adepto (e de que fui sócio até ao binómio Santana Lopes / Roquette ter iniciado a devastação do  clube). Do que mais gostei não foi de Jardim ou Marco, ou Nani ou dos títulos nas "modalidades". Foi mesmo da oposição aos "fundos" no futebol - esses que os imbecis defendem entre arrotos e caracóis, eles próprios depois lamentando-se da "crise" e do desemprego em que vegetam ou vêm os seus vegetar. Numa Europa adornada e num capitalismo (economia de mercado, como dizem os parvos) desaustinado essa é uma posição esclarecida (e ética). E única neste país dos tais comedores de caracóis que, entre a flatulência, não aprende nada com o passado recente. Veja-se, como exemplo, que a Fidelidade e a Multicare foram vendidas a um fundo chinês. E a Tranquilidade a um fundo americano, no meio de cânticos de apoio da massa adepta nacional. Ou seja, o Bruno tem pensado mais e melhor do que a "moldura humana" e tem sido melhor do que a "elite" local.

 

Dito isto: despedir alguém (ainda para mais nos tempos que correm, de tanto desemprego e de tantas punções sobre trabalhadores por conta de outrem e ex-trabalhadores reformados) é uma coisa muito séria. E despedir alguém (ainda que trabalhador com salários privilegiados) invocando motivos espúrios como "justa causa" é algo inaceitável.

 

O resto é bola. Não interessa a ponta de um corno. A não ser aos imbecis.

publicado às 09:08

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Sobre a empresa Gazprom, as tríades russas, o servilismo alemão, a camorra italiana, etc e tal nada digo, nada posso fazer. Mas sobre aquilo  em que posso ter alguma, ínfima, influência, sim, há que dizer. 

 

Irrita-me, e de que maneira, que o Sporting jogue, no campeonato nacional, em Paços de Ferreira ou no Estoril vestido de Paços de Ferreira ou Estoril. Irrita-me muito mais que jogue no estrangeiro à Paços de Ferreira ou à Estoril.

 

Fomos eliminados por causa da "rosca" contra o Maribor ou por causa dos mafiosos russos? Nada disso. Fomos eliminados por não nos respeitarmos, por jogarmos num radical amaricado amarelo. Quem não respeita a sua história, a sua identidade, não merece mais.

 

publicado às 23:40

Pão, circo e aldrabices

por mvf, em 23.10.14

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Não aprecio roubos, furtos, assaltos ou pilhagens e, por maioria de razão, quem os pratica, os seus mandantes e receptadores.

JPT já fez no ma-schamba uma breve alusão ao jogo de futebol Shalke 04 - Sporting, com os alemães a ganharem a partida por 4-3, bem como muitos outros mais conhecedores que eu dos meandros dos balneários, se pronunciaram sobre a pouca-vergonha havida nos jornais, rádios, televisões e nas agora em moda redes sociais, incluindo o director de futebol do clube alemão que ironicamente falou dos chamados árbitros de baliza que habitualmente não vêem porra nenhuma, mas que neste caso um deles viu o que não existiu, ditando o inglório e injusto resultado final.

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Ora, estou irritado, já passaram mais de 24h sobre a roubalheira e o estado não passa e daí escrever o que me parece e apetece agora. Mais pelo estado geral do Futebol do que pela derrota, devo dizer.


Perder não deslustra quando se faz o que se pode, quando o adversário é superior ou mesmo quando a sorte ( ou a falta dela...) se verifica. Já perder porque o campo é inclinado por quem tem a obrigação de o manter nivelado - e o mesmo se pode dizer quando se ganha... - eis coisa que sempre me desagradou. No jogo em Gelsenkirchen como noutras ocasiões, e muitas aconteceram em competições domésticas, em que o nível de incapacidade - modo simpático para designar a actuação dos árbitros principais e auxiliares - se equivale, o jogo deixa de o ser para se transformar numa combinação favorável a um dos contendores e isso, por desvirtuamento, irrita-me solenemente. Gosto de Futebol e muito. Tanto que ao ver o que se vai passando, sinto uma espécie de desgosto, uma angústia, porque a desconfiança do pré-preparado atrapalha o gozo do entretenimento dum desafio e a incerteza dos resultados que sempre se espera favorável às nossas cores e, mesmo que não se passe assim, não é, finalmente uma questão importante: um jogo é só um jogo. E é isto, trata-se só de um jogo, não é morte de homem (pelo menos, não são habituais tão funestas ocorrências...) nem é a bola que paga as contas, mas é uma enorme maçada, uma chatice e não há volta a dar já que se estraga o espectáculo por interesses que se suspeita passarem muito além do interesse directo dos clubes desportivos ( e não, não se passa só no Futebol...). Em Geselkirchen tratou-se de uma aldrabice organizada. São demasiadas coincidências para outros tantos "erros" com um resultado que com o decorrer do jogo não se adivinhava mas que quem esteve mais atento às filhas-da-putice dos apitadores russos podia pressentir. O campo inclinou-se desde o apito inicial para o lado alemão, aliás, russo-alemão. Foi tão patente como indecente.Para não se falar de coincidências que muitas vezes podem muito bem ser só isso, deixa-se aqui para memória futura, e irritação ( e lamento...) actual aquilo que sem margem para interpretações são, de facto, interesses que se prefiguram conflituosos mas que, apesar de tudo, são coincidentes, e, sem querer entrar mais do que isto em questões político-estratégicas, leia-se a questão da Crimeia e a débil e habitual posição da União Europeia que ameaça mas não cumpre, fala mas não age, declara embargos e limitações a tudo o que à Rússia diz respeito, que permite entre outras situações, que a UEFA e clubes europeus, quero dizer clubes de países pertencentes à União Europeia, sejam subvencionados pela Gazprom, uma empresa estatal russa sediada em São Petersburgo, terra natal de Putin. Claro que muitos verão nisto nada mais que uma teoria da conspiração, mas vejamos uma pequena amostra dos patrocínios "dados" pela Gazprom que sem querer ser conclusiva é, no entanto, significativa:

- Liga dos Campeões/ UEFA

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- Shalke 04 ( o presidente do clube, Herr Tonnies é, tanto quanto se diz, próximo de Putin e a agremiação recebe uns míseros 17 milhões de Euros anuais. A parceria já vem desde 2007)

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- Federação Russa de Futebol (que controla a arbitragem)

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Ainda no capítulo "Coincidências e mais um par de botas", temos que a equipa que apitou vergonhosamente o Shalke 04 - Sporting Clube de Portugal era russa, chefiada pelo Sr. Karamasev, um especialista.

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Não tendo dotes divinatórios sobre o armagedão e coisas assim, quer-me parecer que se o programa não se alterar este é o fim dos tempos do Desporto dito rei - o Futebol - tal como deve ser e que pior ou melhor praticado com as suas (poucas) regras simples, continua igual em qualquer latitude, não se podendo dizer o mesmo acerca dos negócios que à volta dele gravitam. Mistura-se a politiquice e temos definitivamente a burra nas couves e eu fora dos estádios.

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Pergunte-se a Blatter da FIFA e ao gaulês Platini da UEFA sobre o que realmente os move e explique-se-lhes que o povo não gosta de pão bolorento e circo de província.

 

 

 

publicado às 15:15

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Há que assumi-lo com frontalidade: por mais corrupto que seja o Karasev gang, por mais competentes que tenham sido os jogadores do Sporting no jogo, por mais positivo que esteja a ser o treinador, por mais apreciável que esteja a ser a presidência de Bruno Carvalho (que até já provocou este excêntrico e pantomineiro "affaire" presidência da Liga), a derrota daquela equipa canarinha no palco da Liga dos Campeões foi justa.

 

O Sporting joga assim. Quem não respeita o equipamento não respeita a sua história. E não merece melhor. Custará dizê-lo, mas é a verdade

 

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publicado às 11:46

O Sporting na Liga dos Campeões

por jpt, em 22.10.14

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Sergey+Karasev+PFC+CSKA+Moskva+v+FC+Dinamo+hpAMSsM

 

e o dirigente desta tralha chama-se Platini e é ... francês.

publicado às 11:41

Sporting, Clube Mundial

por mvf, em 18.10.14

 

publicado às 23:23
modificado por jpt a 23/1/15 às 01:58

Sorteio da Liga dos Campeões 2016

por jpt, em 29.08.14

 

Assisti ontem ao sorteio da Liga dos Campeões 2015, torcendo que ao Sporting saísse o Basileia (por causa do Paulo Sousa treinador) e o Anderlecht (para poder ir ver o jogo aquando em Bruxelas). Os sorteadores foram  Gento, Casillas, Sanchís e Hierro, por razões óbvias, pois antigas glórias e actual capitão do campeão em título. Os resultados foram estes:

  

 

Como o futuro se deve preparar com ponderação antecipada eu deixo já a minha proposta, no intuito de evitar estéreis polémicas à última da hora, sobre o painel de figuras que deverão estar no sorteio da próxima edição desta liga (a de 2016). Aqui ficam as quatro figuras:

 

 

 

(porque a glória do clube não é só futebol)

 

 

publicado às 19:45

Nani et al

por jpt, em 22.08.14

 

 

Ilha de Moçambique (2007), graffiti na casa de adobe: "Nani 18 Sporting Jogador". Comovo-me e fotografo.

 

Lembro-me agora desta fotografia e da minha sensação de então. No regresso do bom jogador ao nosso clube, numa época em que escasseiam os jogadores-símbolos, neste turbilhão de transferências, de milionárias quantias abstractas que fazem tresandar o mundo da bola. 

 

Mas também no saudar Bruno Carvalho, presidente do Sporting, pela forma como tem gerido o clube, afrontando interesses instalados, algo que o processo culminado com o regresso (temporário) de Nani tão bem exemplifica. Não tanto as querelas com Pinto da Costa ou o "slb". Mas mais estruturalmente, o embate com o mundo da finança (a banca; estes "fundos" esconsos).

 

Um dia aqui botei Bruno Carvalho como personalidade do ano em Portugal. E assim continua para mim. Não por causa da bola-futebol ou do (meu) sportinguismo. Mas porque a sua eleição simbolizou um momento, o da ruptura com a subserviência social com esta tralha banqueira e seus sequazes bancários, com a especulação financeira. Tudo embrulhado com o "respeitinho" para com os "bons nomes" da elite económica e para com os feixes de (ex)políticos a soldo - e quanto se disse que o "Bruno" não podia ser presidente porque a banca não confiava nele. E a gente a confiar na banca, claro ...

 

Os seus triunfos, os do "Bruno" (como os sportinguistas o chamam, sublinhando a nossa adesão) na presidência do clube, são os triunfos de um país mais limpo.

 

Depois, se puder ser, que venham os triunfos na bola. De preferência na equipa A de futebol, ainda para mais com o Nani. Mas isso é mesmo depois. Porque ele está a mostrar um caminho.

publicado às 09:05

 

 

 

Paulo Bento acaba de anunciar o grupo de 30 jogadores dos quais escolherá os 23 jogadores que irão ao Brasil. Os sportinguistas, sempre de mal com o mundo, resmungam, irados pelo facto do seu médio de ataque não estar nessa lista, acusam de ilógica a situação.

 

É uma mania dos sportinguistas, este constante queixume, que lhes tolda o juizo futebolístico. A mesma ladainha se ouviu há quatro anos, na escolha de jogadores para o mundial da África do Sul. Também na altura gemeram e se arrepelaram, pois o avisado professor Carlos Queirós não lhes seleccionou o médio preferido. Então uma decisão absolutamente acertada, como a subsequente pobre carreira do jogador tem vindo a comprovar. Uma situação absolutamente similar com a actual. 

 

Seria bom que aprendessem, e deixassem trabalhar quem sabe do assunto.

publicado às 23:18

Liga dos Campeões 2014-2015

por jpt, em 21.04.14

 

 

Não somos candidatos ao título. Será jogo a jogo (não tem corrido mal).

publicado às 01:22

 

Marcelo Rebelo de Sousa acaba de chamar "líder populista" a Bruno de Carvalho (4.48 do filme ligado), presidente do Sporting. O simpático "professor Marcelo" que há anos comenta na televisão a caminho de Belém, e que como líder da oposição teve a densidade, a gravitas, de uma vichyssoise, atreve-se a chamar a populista a outrem.

 

Votem nele ...

publicado às 01:02

jpt, comunista

por jpt, em 13.04.14

 

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Uma pequena história, pessoal, que só ontem ouvi, narrada por uma amiga que também a presenciou. Adorei-a, não resisto a partilhá-la.

Há pouco mais de um ano o então ainda candidato a presidente do Sporting, o nosso Bruno de Carvalho esteve em Maputo e realizou uma sessão de esclarecimento/mobilização, que culminou num jantar. Lá estive, como relatei aqui. O momento ocorreu num conhecido restaurante, grande para que coubesse a "moldura humana" esperada. A casa começara nos idos de 1990s, aberta por um patrício que vim a conhecer, e que a tornou célebre, pela boa gastronomia portuguesa e pelas fartas doses. Tornou-se uma instituição na cidade, algo barulhenta a mais para o meu gosto, mas recompensadora para a esfaimada clientela . Depois o fundador, adoentado, trespassou-a, e as gerências sucederam-se. 

Assim, aquando da visita do Bruno de Carvalho, há alguns anos que não ia lá. A sessão correu bem e sentámo-nos à mesa, os cento e tal sportinguistas, para o repasto que era também convívio e congregador. Eu ali ombreando com alguns amigos. Passado um demasiado bocado serviram-me um derivado de bovino recozido, intragável. Espantado, olhei em volta, inquiri a outros convivas se seria azar meu. Que não era, pois a tralha era igual para todos. Irritei-me. Sem exagero, já comi muita porcaria pelos recantos onde andei mas nunca apanhara nada similar. De mau-gosto gastronómico, de preguiça culinária. E de falta de respeito pelo momento e pelos participantes. Reclamei para o pequeno comité circundante, "isto é uma falta de respeito", por nós e pelo Sporting, "uma vergonha". Que me calasse eu, que o (novo) dono estava à mesa (mesmo ao lado do candidato, ainda por cima), esbracejaram-me. Isso ainda me irritou mais, deixei o dinheiro da conta ao amigo do lado e fui-me embora sem comer, frisando que aquilo era uma vergonha.

Conta-me agora a minha amiga: o então dono, vendo o conviva a ir-se embora, assim basto desagradado, rematou para quem o podia ouvir: "esse tipo? é um comunista! é um comunista! toda a cidade sabe disso! o que ele quer sei eu ...".

Uma delícia.

publicado às 21:28

 

Ao longo dos anos volta e meia aqui venho resmungando sobre futebol: irrita-me a futebolização do meu país. A qual cresceu após as tvs privadas. É apenas a minha memória, cada vez mais falível, mas a primeira recordação que tenho do constante futebolar na tv é a do Euro 1996. Período no qual surgiu algo antes impensável: o "povo" a falar em directo na TV. O "povo" como aquela "lisboa" o entende: os boçais em grupo que mal entram no "ar", em directo de preferência, começam aos pulos e aos urros, perdigotando entre calduços as suas opiniões. Certo que antes já havia aqueles programas do Baião (que ainda está na tv) mas isso era em estúdio. O "povo", genuíno, ingénuo e no seu local natural (a rua), foi então que apareceu. Depois veio Scolari, a tralha das bandeiras hasteadas, que culminou com a escolta dos campinos para a final do Europeu 2004.

 

Para além da futebolização do país também me irrita, muito mas secundariamente, a criminalização do futebol, na prática um espelho do país. Sobre essa sou radical. Sportinguista era sócio e ia aos jogos. Deixei de ir no início de 1990s cansado de ver tanto roubo (quem não sabe fique a saber: nos estádios percebem-se mais, ainda que de modo diferente, as atitudes dolosas dos árbitros do que na TV, mesmo com as repetições. Estas mostram os erros, que é coisa diferente). Após um Sporting-Porto que acabou 0-0 sem nenhum escândalo ("de catedral", como se dizia) mas com um árbitro a proteger, sabiamente, o jogo do Porto. Saí tão mal-disposto que jurei não voltar. Menti-me, pois voltei um dia para ver o Real Madrid (era aquela bela equipa do Figo e Balakov, mas infelizmente com Costinha e Lemajic). Muitos anos depois, já emigrado, voltei uma vez mais. Era o último ano do velhinho estádio "José de Alvalade", quis-me despedir, um bocado da minha infância a desaparecer. Num Agosto vi um Sporting-Porto, era o início da carreira de um extremo fabuloso, um artista mais do que prometedor: Ricardo Quaresma.

 

Ao novo estádio fui duas vezes. Para o conhecer fui lá ver um jogo da "Champions", com o Inter, onde jogava o Figo. Ganhámos 1-0, um grande golo de Caneira. Não gostei do estádio: feio por fora, excessivamente vertical por dentro, um ascensão cansativa e uma má visão - e ainda não se sabia daquilo do relvado. Voltei depois, uma ida a Lisboa, fui com dois amigos ver um qualquer Penafiel sem história, acabámos em casa de um deles numa bela ceia.

 

Memórias (longas para postal) para embrulhar isto: acho o futebol português uma aldrabice. Tem sido. Muito provavelmente continuará a ser. Não é o pior do mundo. Mas podia ser muito mais decente: entenda-se muito mais liberal. Ou muito mais social-democrata. Ou muito mais democrata-cristão. Ou muito mais comunista. Muito mais cristão. Ou muito mais laico.

 

Vem isto tudo a propósito de que os meus apaniguados sportinguistas se têm queixado imenso das arbitragens. As de agora e as de antes. Com algumas (até bastantes, para não dizer imensas) razões. Mas há exageros nisto. Abrem-se blogs sportinguistas e ciclicamente lá vem a história da roubalheira de 2006-2007. Então o Sporting ficou em 2º lugar, a um mero ponto do Porto. E perdeu em casa com o Paços de Ferreira, 0-1, um célebre golo com a mão. Ora isso não chega, este registo não é suficiente. Acaba por incompreender, e ser pouco produtivo para uma discussão sobre como higienizar esta actividade, tão importante na "sociedade civil".

  

É nesse sentido que partilho aqui estas velhas imagens. É o resumo do Beira-Mar-Sporting dessa época. É curioso, no Sporting jogavam Nani, João Moutinho, Carlos Martins, Yannick, etc. E no Beira-Mar jogava o super-veterano Mário Jardel, que ainda veio a ser decisivo. O final do jogo foi trepidante e o resultado foi 3-3. Com um tricórnio de um jogador chamado Buba, de quem nunca se ouvira falar e nunca mais se ouviu falar. Foi o dia da sua carreira. Foi por isso que o Sporting não foi campeão nesse ano. É melhor pensar assim, em vez de continuar a gemer por um erro de um árbitro que não viu (ou não teve a certeza de ter visto) uma mão marota numa jogada corrida. Fica aqui para memória (dolorosa, talvez). E para a gente perceber: há erros; há árbitros incompetentes (Lucílio Baptista disse na tv que apitava por dedução, o que deveria ter provocado o imediato final da sua carreira); e há muita aldrabice.

 

 



A pior aldrabice que eu me lembro no futebol português? Foi recente, e não foi obra do famigerado Futebol Clube do Porto. Foi a de mandar os seguranças privados de um clube provocar os jogadores do clube adversário no final do jogo. Para que, confusão causada e conflito filmado, fossem os outros castigados. Mostrando bem que o pior disto não são os árbitros. São mesmo os adeptos que acham isto muito bem, desde que o "seu" clube ganhe. Mostrando bem que a bola é o país. E por isso este está como está.

 

É até engraçado, nunca vi um sindicalista vermelho, rosa ou laranja, se encarnado, a protestar contra aquela vileza dos patrões, da bola, contra os trabalhadores, armadilhados, prejudicados, castigados. Querem saber porquê? Por causa da paixão da bola? Sim. Mas acima de tudo porque os trabalhadores injustiçados eram imigrantes (um brasileiro, Hulk; um romeno, Sapunaru; e depois, numa reprise ainda mais vergonhosa, um outro brasileiro, Vandinho). Assim também demonstrando a pérfida xenofobia dessa gentalha. A nossa.

publicado às 16:23


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