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Morte e Vida Fatalaku

15 Janeiro a 1 Fevereiro

(imagens de um caderno de campo)
Fotografias de SUSANA DE MATOS VIEGAS E RUI GRAÇA FEIJÓ
(com o apoio de Sérgio Modesto)

 

No Museu do Oriente

 

A minha colega Susana Matos Viegas inaugura hoje, às 18.30, no Museu do Oriente, uma exposição fotográfica, fotos de Timor a meias com Rui Graça Feijó.

 

Duvido que sejam servidas chamuças, atendendo à política austeritária em curso. Mas interessará ver isto do como os antropólogos (e cientistas sociais) olham através das lentes. Por isso lá estarei, ombreando com um fotógrafo aqui "da casa" blogal, para discutirmos os dois sobre tal coisa. 

 

publicado às 14:14

Em Portugal vão surgindo vários protestos relativos aos concursos para investigação organizados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. São oriundos de diversos júris organizados para o efeito. Tudo denotando que há um grande desnorte, provavelmente a coberto de alguma deriva de austeridade. Inaceitável.

 

Leio agora a reclamação proveniente do júri que se debruçou sobre os projectos de Antropologia (tendo-lhe sido imposta uma modalidade "inovadora", que se poderá, com sarcasmo, considerar "interdisciplinar"). A autora da carta é Susana Matos Viegas, investigadora de gabarito, antiga presidente da Associação Portuguesa de Antropologia. Nesta área é alguém incontornável. Ainda por cima conheço-a há trinta anos, é alguém muito confiável, e também isso me leva a indiscutir as afirmações que produz. O documento está aqui, e o que nele consta é espantoso e triste.

 

Realço, aguçando o apetite dos interessados, algo verdadeiramente inenarrável: "De fa[c]to, sem qualquer consulta aos membros do júri, os resultados da avaliação foram alterados por funcionários administrativos da FCT." Noutros contextos poder-se-ia dizer incrível. Agora, ali lá, é crível.

 

 

publicado às 09:55

[Susana de Matos Viegas, Terra Calada. Os Tupinambá na Mata Atlântica do Sul da Bahia, Rio de Janeiro/Coimbra, Viveiros de Castro Editora & Edições Almedina, 2007]

Este livro é a versão revista da tese de doutoramento de Susana Matos Viegas, corolário de um longo trabalho de campo, ocorrido entre 1997 e 2005, assim até extravasando a conclusão dessa graduação, realizada na Universidade de Coimbra. Susana Matos Viegas é uma antropóloga portuguesa de primeiro plano, actualmente investigadora no Instituto de Ciências Sociais de Lisboa e foi presidente da Associação Portuguesa de Antropologia - friso esses posto e cargo para referir a sua centralidade na corporação profissional em Portugal.

Não vou aqui abordar o conteúdo do seu livro mas sim a sua forma. Para a sempre desejável publicação em livro da sua investigação de doutoramento, SMV encarou o público que teria como alvo privilegiado. Sendo um trabalho dedicado à questão índia, premente nas últimas décadas brasileiras, tornou-se óbvio que os interessados oscilariam fundamentalmente entre a pequena comunidade antropológica académica portuguesa e um contexto bem mais vasto brasileiro, desde uma academia mais alargada a um universo de agentes sociais (estatais ou ongs) ligados (ou meramente interessados) às negociações sociopolíticas relativas a esta temática. Essa duplicidade nota-se, inclusive, ao nível de uma publicação editada conjuntamente por duas editoras, uma portuguesa (a conimbricense Almedina) e uma brasileira.

Mas o fundamental é que tendo em atenção o público maioritário com que esta publicação intenta dialogar o texto foi "traduzido" para português (académico) do Brasil, um trabalho efectivamente realizado por um profissional que transpôs o português académico de Portugal, original na tese. No óbvio intuito de tornar mais manuseável, mais amável, mais atractivo, o seu objecto comunicacional para o seu público maioritário. O qual, como é óbvio, e até pelas suas características sociológicas, poderá ler o português (académico) de Portugal - pois aqui não se tratou de uma declaração de défice cognitivo alheio - mas está confortável noutro português, o (académico) do Brasil.

E com isto me fez lembrar o início dos anos 1980s (quando SMV e eu fomos colegas). Quando na universidade contactávamos com uma bibliografia inexistente em edição portuguesa. E amplamente traduzida no Brasil (em particular pela Zahar Editora, lembro). E nas nossas dificuldades em ler os sociólogos e antropólogos ali traduzidos. Dizíamos que as traduções eram más (e algumas com toda a certeza seriam) e preferíamos, sem snobice mas por economia de esforço, ler em inglês ou francês. Era, como agora lembra a excelente estratégia editorial da Susana, uma questão de conforto cognitivo. O qual não nos impedia de ler Machado de Assis, Erico Veríssimo e Jorge Amado (este lia-se muito na altura). E não nos impediu de termos continuado a ler os escritores brasileiros (agora Hatoum ou Bernardo Carvalho, o grande Nassar, ou os outros clássicos, etc.). Porque na literatura, prosa ou poesia, o discurso é diferente, a atitude leitora diversa, e a própria fluidez semântica uma nossa exigência.

Este exemplo do livro de SMV não é apenas o exemplo de uma estratégia inteligente. É, pura e simplesmente, culto. Um exemplo de cultura. De quem conhece e analisa a realidade e nela actua, benignamente. Intentando o conhecimento e a comunicação. Sem charlatanices ou lusofonices. Percebendo que a questão das dificuldades do diálogo (e da aprendizagem externa) não radica na ortografia. Mas sim nas sintaxes e nas semânticas, nos vocabulários e nas suas combinações. E que essas dificuldades são a riqueza. E nisso, sobre isso, sim, há acordo. Um acordo comunicacional, de mútuo entendimento. De mútua procura de compreensão.

E é porque isto deveria ser óbvio mas não o é que dói toda esta mediocridade ortográfica. Que é a mediocridade duma sociedade, da sua elite. Procurando, trôpega, legislar, controlar, um fluído que lhe escapa. Esse, o do conhecimento, da aprendizagem, das relações. No fundo, apenas, uma elite inculta. Irreprodutiva. Numa sociedade que a permite e reproduz. E que assim fenece.

jpt

publicado às 02:59


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