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Tahar Ben Jelloun

por jpt, em 02.11.05
Num molho de jornais velhos que me chegam às mãos está um "Mil Folhas" (suplemento do Público, 8.10.2005). Nele uma entrevista de Tahar Ben Jelloun (a propósito da edição portuguesa de dois livros, "O Escrivão Público" e "Amores Feiticeiros", na Cavalo de Ferro). Deste marroquino li apenas, e já há bastantes anos, o "O Homem Quebrado" (Caminho) e não gostei. "Se bem me lembro" era sociologicamente muito interessante, centrado num protagonista funcionário público de ética incorruptível, algo excêntrico ao meio circundante, até familiar/conjugal, e dele sofrendo opressoras pressões para se acomodar. Mas pareceu-me também tudo muito esquemático, as personagens algo meros estereótipos. Enfim, espero que estes dois livros sejam mais interessantes. E que as edições corram bem à Cavalo de Ferro, nas raras idas a Lisboa gostei de encontrar esta editora nas livrarias, um perfil (entenda-se, um catálogo) a querer caminhos algo diferentes, arejados.Isto tudo a propósito da entrevista. Onde ele diz: "[Para os escritores marroquinos] Há duas situações diferentes. Há os escritores que escrevem em árabe, que são a maioria, e que sofrem a desordem do mundo árabe. Um livro escrito em árabe é publicado em Marrocos, não chega à Argélia, nem à Tunísia, pode chegar ao Líbano, mas não ao Cairo. Estes estão sufocados. Depois há os que escrevem em francês, que não são muitos, mas que são acusados de estarem numa situação ambígua. Acusam-nos de não revelarem o Marrocos real por se exprimirem numa língua que o povo não fala. A mim, a crítica que a imprensa árabe em Marrocos me faz sempre é a de que sou um escritor folclórico e exótico, que escrevo para agradar aos ocidentais."Não pude deixar de sublinhar, tanta me pareceu a homologia com o meio literário moçambicano. Não exactamente na diferença da língua em que se escreve. Mas na situação da escrita. E do que se diz sobre a escrita. Mas talvez seja necessário viver isso para compreender a semelhança ...No fundo o regresso dos estereótipos. Afinal não só produzidos em ficções menos conseguidas. Mas carne do real. Impensante.

publicado às 11:10


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