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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Nos inícios dos 1980s fui estudar Antropologia, fugido da escola de direito de Lisboa (onde, já agora, apanhei António Costa e José Apolinário a falsificarem as nossas votações, seus colegas alunos, preparem-se para a imundície que aí vem). Na época, no ISCTE, a gente estudava ano e meio em comum com Sociologia (talvez seja isso a origem da perversa demência anti-antropológica que a maçonaria da Sociologia veio patenteando nestas décadas portuguesas). Depois seguíamos mesmo o nosso caminho, algo trôpego. Não aprendi muito ali, mea maxima culpa, burguesote com carro e dinheiro no bolso, mergulhado na "lisboetana" boémia, acampada no Bairro Alto. Mas também um pouco, também e repito-o, pelo que ali se recebia. Era a era dos leitores militantes de Lévi-Strauss, um verdadeiro génio que afinal pouco nos conduziu para o depois, exactamente como o infecundos serão os cultores posteriores desse imaginativo Foucault que veio a assombrar este futuro (apesar de já então Baudrillard e Merquior terem pontapeado o seu delírio pancrático). E, de outro lado, de radicais marxistas surdos ao d'então monumental peido-mestre da Querida Teoria feita "socialismo real". Mas tive bons professores, e é com muito prazer que reclamo ter sido ensinado por João Leal (o tipo que melhor analisa e escreve sobre o "Portugal" que em Portugal se imagina, homem demasiado discreto nesta festividade actual) e João Pina Cabral, entre alguns outros. Não foi uma perda de tempo, pois mesmo com estes desvios ali conheci a obra de dois iluminadores, Leach e Dumézil, que nunca teria lido de outra forma. Não me importa se estes me foram ou são importantes ou úteis na vida: fizeram-me (este) homem.
Mas, e resumindo, ali aprendi pouco. Pois o fundamental, o núcleo, radicava na transmissão dessa angústia adversa ao etnocentrismo, hoje mais conhecido (e reduzido) por eurocentrismo - isso que ainda ensinamos na primeira aula da "introdução à antropologia". Uma mancha, mácula, peçonha, culpa, que nos ficava (e fica) qual disfunção eréctil para o futuro. Transmitida em palavrosos requebros e maçudos manuais. Acontecia que nada disso me era novo. Eu vinha dos Olivais, subúrbio alfobre, (coisa que contei aqui). Assim aportara à universidade, fruto daquela caldeirada sociológica (depois vieram a chamar a isso "multiculturalismo", quando tiveram de juntar "raça" a "classe") de bairro suburbano. Eu algo ligeiro, pois sempre escapando-me ao injectar-me, mas carregado de rock e devaneios, esses que afinal eram refutações sem que o soubesse. E assim todo o palavroso anti-"etnocentrismo", todas as esquizofrénicas depurações intelectuais, desmaiavam face ao capital que já carregava, à consciência de tudo isso já ter sido cantado, e então para quê lê-lo tanto e tantas vezes? E cantado, gritado, em modo bem mais assertivo, com um barulho que em nada anunciava, nem exigia, o culposo desmaio. Numa breve canção os "The Clash" haviam dito o problema e pronto, tratava-se de seguir em frente. Certo que o onanismo intelectual veio a resmungar - como aceitar "Charlie don't surf", brotado do Apocalypse Now?, obra de um horrível Coppola, malvado e yankee que bombardeara a floresta cenário, e, pior ainda, emanada daquele Conrad, o escritor do império (ler Said, este realmente importante, sobre Conrad é pedir demais aos revolucionários quando funcionários estatais)?
30 anos passaram. Continuo a ouvir colegas, amigos, competentes e argutos, a enfrentarem o real. A quererem criticar o real d'agora. Percebo o problema, isso que nos aparta. Não é ideológico, nem de vínculos a interesses. Mas, e talvez por não terem vindo daqui, do meu bairro, isso de não terem ouvido ouvindo o rock necessário. Por isso vitimizam os compatriotas, ditos sofridos da malvada crise. Sem os verem o que são, como mau público de boa música. Por isso sem os verem como indivíduos, agentes. Pois tudo isto, a tralha que submerge, também isso os "The Clash" (e não só eles ...) haviam anunciado. Em 1981 o grupo, ainda no auge, tocou no Dramático de Cascais. Nos meus dezasseis anos não pude faltar. A gente seguia de comboio do Cais do Sodré e acampava naquela bicha (agora dita "fila") lendária, esperando entrar no pavilhão, horas muitas, devaneios múltiplos. Naquele dia à longa espera sucedeu-se uma patética primeira parte, o agrupamento luso "Taxi", um casting aburdo, ao qual se seguiu a cantora punk "Pearl Harbour" (a namorada do baixista Paul Simonon), e longos intervalos. No meio daquilo tudo, tantas horas passadas, lembro-me de ser acordado, e estou certo que a custo, nos sanitários por um rasta, "man, os Clash vão começar" - um rasta solidário com um new wave num concerto punk, um hino multicultural -, e eu lá fui, cambaleante para as mais primeiras das filas possíveis. De quase nada me lembro do concerto. Apenas de o pular todo. E de gritar incessantemente "lost in the supermarket". Essa que eles não tocaram.
Era um puto, suburbano, adolescente. 35 anos depois, quando os intelectuais (e os jornalistas) me abalroam com o coitadismo, a vitimização dos nossos compatriotas (e com "és de direita") só me lembro dos Clash. E dos impropérios que esta gente merece. Mau público para boa música. (as canções estão abaixo)
Charlie don't surf and we think he should
Charlie don't surf and you know that it ain't no good
Charlie don't surf for his hamburger Momma
Charlie's gonna be a napalm star
Everybody wants to rule the world
Must be something we get from birth
One truth is we never learn
Satellites will make space burn
We've been told to keep the strangers out
We don't like them starting to hang around
We don't like them all over town
Across the world we are going to blow them down
CHORUS
The reign of the super powers must be over
So many armies can't free the earth
Soon the rock will roll over
Africa is choking on their Coca Cola
It's a one a way street in a one horse town
One way people starting to brag around
You can laugh, put them down
These one way people gonna blow us down
CHORUS
Charlie don't surf he'll never learn
Charlie don't surf though he's got a gun
Charlie don't surf think that he should
Charlie don't surf we really think he should
Charlie don't surf
Charlie don't surf and we think he should
Charlie don't surf and you know that it ain't no good
Charlie don't surf for his hamburger Momma
Charlie don't surf
I'm all lost in the supermarket
I can no longer shop happily
I came in here for that special offer
A guaranteed personality
I wasn't born so much as I fell out
Nobody seemed to notice me
We had a hedge back home in the suburbs
Over which I never could see
I heard the people who lived on the ceiling
Scream and fight most scarily
Hearing that noise was my first ever feeling
That's how it's been all around me
[Chorus]
I'm all tuned in, I see all the programs
I save coupons from packets of tea
I've got my giant hit discotheque album
I empty a bottle and I feel a bit free
The kids in the halls and the pipes in the walls
Make me noises for company
Long distance callers make long distance calls
And the silence makes me lonely
[Chorus]
And it's not hear
It disappear
I'm all lost
como os outros, entre as pequenas coisas, de um lado para o outro, foi para isto que um tipo envelheceu ... Tenho, a meio da tarde, este pequeno bocado, daqui a pouco haverá mais do continuado. Aproveito para enrolar o Amber Leaf. E ouço estas duas, perco duas ou três décadas logo logo, caem-me como se nunca tivessem chegado. Sigo sorridente, que é para isso qu'a gente anda cá.
....
Nesta rubrica semanal "Templos" o trovão The Clash (Joe Strummer) já foi lembrado: um concerto de 1980 em Paris, e um excelente documentário, o Viva Joe Strummer. Continuando este serviço público de pedagogia iluminista, tentando despertar as moucas orelhas, dessas do tipo que acham que um rapper racista é uma voz dissonante a elogiar ou que um travesti barbudo é acção política, aqui fica um terceiro fillme, "escavando" (como fica bem dizer em algumas ciências sociais) na grã-música, pontapeadora. Anos depois de ter rebentado os The Clash (e ainda bem, seria um oxímoro que o grupo máximo do punk não tivesse explodido), Strummer fez este delicioso grupo dedicado ao culto do mescal. Depois morreu-se, depressa demais.
A geração anterior à minha teve uma mão-cheia de comandantes, alguns dos quais hoje indizíveis outros apropriáveis como nossos (Lou Reed, Lou Reed, Lou Reed), e a anterior teve um (Dylan). No meio disso houve um interstício, atropelado pela pandemia do síndrome de hippie, pejado de tipos peludos. Na minha houve um vulto. Não qual comandante, que isso seria o contrário do que queria e era, paradoxal até.
Joe Strummer era o Desavassalo, o desavassalador, num "cheguem-se à frente" sem dizer para onde. Como sempre deveria ser, entre homens.
Deixo aqui o filme documentário: Viva Joe Strummer: The Clash and Beyond, de 2005.
Será que os visitantes deste blog ainda terão energia auditiva para quarenta e um minutos e quinze segundos dos grandes The Clash, ainda que na versão já "mansa" de 1982, aquela que "vi" no Dramático de Cascais, pouco depois? Então aqui fica, deliciem-se os robustos, fujam os timpanófobos ...
(Fotografia do MVF)
Hoje, 3 de Dezembro, o ma-schamba faz dez anos. A ver se o colectivo, meio em pousio meio em pós-bloguismo, se juntará para um simpósio lisboeta na próxima época natalícia, no qual se comemore esta vetustez. Que o convívio ("estamos juntos") é o que mais conta.
Durante anos bloguei-o sozinho, depois acompanhado. Já me foi vício, já foi rotina. Já não é assim, mas ainda me é identitário, aquilo do jpt bloguista. Nisto correu uma década de verborreia, agora cada vez mais escassa. Neste longo tempo muita coisa mudou na internet e assim no in-blog. Mudaram, e muito, os visitantes. E surgiram outros meios de publicação (e de reprodução/"partilha") individual, muito mais interactivos e rápidos no manuseamento. Mas também de acesso a informação, sua recolecção e colecção. De facto, hoje, tendo contas de academia.edu, de instapaper, de pinterest, de vimeo, de goodreads, de paper.li, de youtube, de facebook, de twitter, do imdb e do flixster e do deezer, e sei lá mais de quê, os blogs parecem-me uma plataforma flinstoniana. Esses outros meios não são só lestos e fáceis de utilizar, como se mera vantagem tecnológica, até a desvalorizar. São mesmo preciosos. E não implicam, como se o obrigando, o abandono da leitura, o domínio da incessante partilha de slogans ou pobres imagens (o "memeísmo") , um mundo de superficialidade, como resmungam(os) alguns velhos bloguistas - talvez muito impressionados por aquele fenómeno do facebooking histriónico, o qual, já agora, também me parece em regressão.
Bem pelo contrário, são divertidíssimos (qualquer antigo coleccionador de cromos se delicia com o pinterest; um amante de livros mergulha no clube goodreads; os melómanos têm suportes espectaculares para se alimentarem; os imdb e flixster servirão os mais cinéfilos ou televisófilos). E são utilíssimos: o paper.li dá a cada um o seu jornal, sem perda de tempo ou subserviência aos publicitários e aos mandarins; os facebook e twitter acompanham as urgências (as catástrofes, as agitações políticas, os eventos desportivos) e os veros amigos distantes. E, também profissionalmente, o youtube e o vimeo são um manancial de palestras e documentários, o academia.edu uma excelente e vibrante biblioteca em rede, e também uma plataforma de publicação extremamente democrática. Para além do instapaper, que leva o troféu entre esta parafernália, pois é um magnífico mecanismo de leitura .
Com tudo isto é evidente que o (meu) bloguismo fenece. Mas não será só o meu. Nos dois contextos blogais que acompanhei a evolução foi diversa: em Moçambique a breve era blogal implicou uma mudança na palavra pública, que se tornou mais descomprometida, liberta, quebrando os monopólios editoriais e os hábitos (e temores) da auto-contenção. E também pontapeando as retóricas acacianas, que em finais de XX encontrei ainda acampadas nos jornais locais. Nos últimos anos quase tudo isso transitou, e cresceu, para um agitadíssimo facebuquismo nacional, feito verdadeiro rossio de discussão pública. Em Portugal a multiplicidade blogal foi muito maior, por óbvias razões socioeconómicas, mas os seus efeitos parecem-me ter sido menores, pois existente numa sociedade mais aberta. Ali, com o passar dos anos e a migração de muitos para outras diversões (e de alguns para a comunicação social) o tom blogal foi-se enquadrando, acinzentando por um lado, sujeitando-se por outro. Nisso tudo os blogs perderam fulgor e principalmente foi desaparecendo o tom de tertúlia, algo que muito me agradava. E também se desvaneceu aquilo que mais me atraía, o tom "punk" da escrita e da sua afixação: esse acabou, em parte também devido à ideia (e ao desejo) de qu'isto é uma sequela dos órgãos de comunicação social (não é, ponto final parágrafo).
Da minha década aqui fiz três colecções, daquilo que mais me interessou: a ma-schamba, que é a mais parecida com o blog, variada, sem rumo nem agenda; a Ao Balcão da Cantina e a A Oeste do Canal, com textos mais associáveis pois dedicados a Moçambique. E arrumei-as na minha conta na rede Academia (para quem as quiser ver; para a minha filha num dia futuro, se tiver paciência). Mas ainda acho piada a isto de blogar, qual catarse do fel, o apreço à escrita descuidada, Amadora, (quase) irresponsável. E assim a gente (mais eu e o camarada MVF nestes tempos) vamos aguentando as courelas.
Nostálgico (mas não saudosista) deixo uma memória de como se blogava há alguns anos, os "bons velhos tempos" como sempre dizem os velhos:
Há já três anos fui convidado para meter um texto no Delito de Opinião. Escrevi sobre a minha experiência bloguística. Agora, por razões de calendário, lembro-me dele e aqui o reproduzo:
The Clash
Agradecer ao Pedro Correia este convite para escrever para o Delito de Opinião não é protocolo. É contexto do que se segue. Pois mesmo que blogo-veterano isto de meter algo num grão-blog, como o DO se tornou - o único dessa mole que consumo diariamente -, levanta logo aquela velha questão, até de algum stress, do "o que dizer a estes tipos?" - os muitos, e nisso louváveis, aqui leitores. Um imigrado treme nessas coisas, devo meter um requebro semi-tropical?, uma ponte inter-continental?, um daqui "estamos juntos"? um voo rasante sobre o onde vivo? Ou restrinjo-me à parca política lusa, também ela habitual no DO ainda que felizmente nada monopolista? E nessa hesitação, até pobreza, é o cidadão que convoco, sai-me texto sobre o aí, o aí da política. Esse aí que há anos vou sabendo fundamentalmente por via dos blogs - se exceptuarmos a fértil actividade futebolística. Então boto sobre blogs, esse "espelho da nação", pelo menos para alguns - que nesse blogocentrismo não serei o único emigrante, sei-o bem por anos de entre-bloguismo.
Longe vão os anos 2003-4 onde a gente apareceu desatinada a botar opiniões, frenética nas teclas, cada um pontapeando ou beijando o que que lhe ia na alma, tempos onde se afirmaram alguns manitus da opinão livre, desassombrada (idólatra que sou fiquei-me romeiro do jaquinzinho jcd, Lucky Luke do bloguismo, genial destruidor do anacletismo nacional). Os tempos foram passando e o colectivismo (nada liberal, diga-se) veio a impor-se no bloguismo, as grandes congregações bloguistas tornaram-se um must, na dita "esquerda" e na neo-dita "direita". Então o motor dessa agregação chamava-se blogómetro, que os sonhos de teclistas lisboetas (e, vá lá, portuenses) eram o de destronar, abruptamente, José Pacheco Pereira do papado bloguista. Formaram-se e reformaram-se ene blogs evangelistas, de porta em porta, arengando os respectivos profetas. Era engraçado, naveguei então nesse encapelado mar de links, sentindo-me em casa - entenda-se, vivo num país [Moçambique] cuja grande revolução da actualidade é a monoteísta, são omnipresentes os profetas e profetismos, as igrejas e correntes "africanas", a evangelização e a coranização (coisas de que não se fala na RTP-África, mas do que se poderia esperar daqueles funcionários públicos tão dependentes do senhor secretário de estado do momento?). In-blog, chegado a casa, era quase como estar lá na rua, nos distritos (no mato, dizem os de fora), ouvindo o "alá é grande" "deus nosso senhor tudo pode" e essas coisas. Claro que aí Zizek ou Hayek (ou Hayeck?, para recordar a mais profunda discussão teórica de quase uma década de bloguismo em Portugal) eram os profetas ministrados - enquanto uma minoria, aquela burguesia que vive nas vilórias, libertada do jugo das machambas e já em casas de alvenaria, falava em Blair como reencarnação do bem.
Entretanto o Paulo Querido vendeu o weblog.com.pt e o blogómetro perdeu alguma panache. Ainda por cima ninguém - nem mesmo os jornalistas lisboetas, frutos do caldeirão Frágil-Jamaica/Tokyo - conseguia deitar abaixo o jpp do pedestal quantitativo. Adivinhava-se a crise, um desgaste do ânimo. Mas alguma blogo-esperança renasceu quando Vasco Pulido Valente e Constança Cunha e Sá irromperam, imperiais até, no bloguismo. Para se retirarem - num dos mais (ou mesmo "o mais"?) ridículos episódios dos anos 00 lusos, uma pequenez medonha - no dia seguinte a ultrapassarem o sitemeter abruptal. Mas pelo menos tiveram o efeito (o mérito?) de apear o blogo-top como meta-mor.
A partir daí, e enquanto o próprio país ia deslizando, e talvez também por isso, algo foi mudando. Alguns raros individuais encanecidos continuaram, adaptando-se ao tom da época, cada vez mais beligerantes ao serviço da "sua majestade" de cada qual. Os super-blogs mantiveram-se, algo voláteis pois mutantes de nome, com transferências até sonantes qual mundo da bola e, de quando em vez, entrezangas prenhes de inter-links, cheias de sub-textos e private angers, tudo isso em crescendo de alinhamento que neles cada vez mais suava o agendismo. O bloguismo-punk morrera há muito, o blogo-rock envelhecia em espasmos e fomos nós, incautos (?!) leitores, sendo encerrados no top of the pops. Com os ciclos eleitorais a indústria desceu à rua e tomou, definitivamente, conta do assunto e no pacote de gabinetes do pró e do contra se foi formando um regime profissionalizado, penteado, no qual ao clic-clic de entrada já se sabe o que esperar, vai-se à missa in-blog para se reafirmar as certezas quais escalfetas. O actual Festival da Eurovisão parece não perder audiências [fui ver o velho blogómetro antes de botar isto, confere ...] mas é óbvio que os maestros, cantores e jurados [nem mesmo o Eládio Clímaco e a Ana Zanatti] não percebem que a obesidade advém via google search: quanto mais "arquivos" tens para trás mais gente te chega ao engano, é o verdadeiro teorema bloguístico.
E ficou um mundo de gente trabalhando in-blog, uns cara destapada outros nem tanto, não lhes vão cair os patrões na lama. Dos pacotes de assessores ou não, proto ou ex, brotaram alguns. Assim feitos "Lisboa" muitos discutem, veementes, quem é quem, de onde vêm, com quem jantam ("eu jantei com A, ele existe" "eu ensinei X a blogar, e em minha casa" e, um must, "eu tirei esta foto a V que por acaso se percebe mal na foto mas - estão a ver? - ele existe""), um "quem" "são" "esses" "alguns" que é forma, ladainha, de ir tentando comprovar que o tudo isso, a tal "Lisboa", sempre vai existindo. No fundo, no debate pró ou inpró-nomeação julgam-se nomenclatura. Entretanto, lá longe, a gente da net, essa que em tempos alimentou via clic-clic a quantidade de blogs que foram florindo, já lá não está. Pois encontra-se, noite fora, nestes pós-bloguismos do youtube/facebook, gente com nome e de fotografia espetada no "perfil". Enquanto o tal pacote "convicto" não imigra para cá, trazendo o "remoquismo" que lhe é alma, andamos noutra, a "gostarmos" uns dos outros, Uns a ler. A ver. A ouvir. Outros a meter. The Clash, hoje:
Abaixo a AL alerta-nos para o trabalho fotográfico que nos recorda o desvario de Pol Pot. Exemplo máximo, quantitativa e percentualmente máximo, dos desvarios "iluminados" de XX. No meu país de então o acantonamento do pensar prejudicava as indignações, convém não esquecer. Ainda para mais sabendo que "protagonistas" de hoje já se protagonizavam então. Também por isso, mas por muito mais, dá-me gozo lembrar-me deste Concerto para o Kampuchea, em 1979 e que em versão vinil de então logo me chegou à mão (e assim continua). Outros havia que ... compravam outros discos. Ainda hoje. (Seria giro que os filhos de alguns amigos e/ou colegas, hoje tão entregues aos "bichos" - em "seminários de insurreição" e "acampadas" -, ouvissem estes velhos rockeiros. Pelo rock. E para entenderem os "bichos" de quem são pioneiros. Pensando o tão "cool" que isso é ...).
jptNunca gostei do sempre-repetido mandamento bloguístico "escreve sobre o que sabes. Link to the rest". Sempre me irritou o prescritivo sobre esta irresponsável actividade, na qual para mim cada-um-como-cada-qual. Os limites do saber próprio (quando este existe) estão no trabalho, e isto do in-blog é para botar sobre o que vem à respectiva cabeça.
Para além disso o weblog é um diário, de impressões, e estas são (ou podem ser) múltiplas, esparsas - um tipo que só se interessa sobre o que sabe, caramba, é um chato. Claro que há os blogs especializados (dedicados), alguns fantásticos. Mas isso é uma saudável opção, não uma obrigação.
Mas o mandamento de "link to the rest" está estafado no bloguismo acima de tudo por razões tecnológicas. Com a vertigem imediatista do facebook, aquilo do clic-clic e ligação feita perdeu-se muito da dimensão inter-ligadora (e textual, reflexiva) do bloguismo. Aliás, os sistemas (blogspot, wordpress) terão que integrar essa função supra-ligadora. Ou desaparecem.
Como blogar neste contexto? Não sei bem, nem sei se isto tem muito futuro (há anos que se diz que o bloguismo è finito), ainda por cima com a "lentidão" ligadora que tem. Mas, pelo menos, é um sítio e um meio onde se pode escrever ... sobre o que não se sabe. Suprema liberdade potenciada pelo facebook, para onde podemos ir "linkar" coisas, fast-fast, clic-clic, com tanta vantagem ...
Uso o FB fundamentalmente como difusor de ma-schamba (a página blog ma-schamba, o grupo ma-schamba [modalidade que perdeu visibilidade nos murais devido às alterações do sistema FB] e o ma-schamba na aplicação NetworkedBlogs). Ainda assim acumulam-se as ligações, seja por réplicas imediatas de outros murais seja provenientes de outros suportes (blogs também). Como exemplo do supra-linkismo facebookista actual, até vertiginoso, (mas também para meu arquivo, e esperando que alguém se divirta abaixol) deixo os meus dois últimos meses de facebooking, as aventuras nessa likeland reino do clic-clic.
A ordem da colocação aqui é inversa da cronológica ...
64. O (necessário, urgente) elogio da Culinária Moçambicana
63. Documentário de Werner Herzog sobre pinturas rupestres
62. Da enorme série "recomendações dos amigos-FB"...
61. Assange, o wikilikeakista: o facebook é máquina de espionagem! Estes romanos são loucos!
60. Constante reprise
59. Pérolas do youtube ...
58. Um número especial da Science et Vie dedicado ao acidente nuclear de Fukushima (via Klepsýdra)
57. Pérolas do youtube ...
56. O Byrne de oiro.
55. The Clash "Should I Stay or Should I Go?": sem embebimento disponível ... É clicar e ouvir/ver ...
54. Gorongosa. Fauna, Flora e Paisagens, um belíssimo trabalho fotográfico disponibilizado no facebook.
53. 30 Postais sobre Moçambique (elo retirado). Vale a pena lavar a vista.
52. José Sócrates: "seis anos de batota". Que herança ... A arquivar, para não o esquecer.
51. O "vai vir charters" do Paulo Futre. Uma bela peça de marketing mas, muito mais do que tudo, uma lição de rir-se de si próprio. Viva Futre! (o meu candidato ...)
50. O excelente Nkwichi Lodge no Lago Niassa, um verdadeiro eco-lodge e com gente porreira à frente, foi escolhido como um dos 101 melhores hotéis mundiais [Já lá estivemos e sobre isso botei, deslumbrado].
49. Da enorme série "recomendações dos amigos-FB"...
48. Da enorme série "recomendações dos amigos-FB"...
47. Da enorme série "recomendações dos amigos-FB"...
46. Da enorme série "recomendações dos amigos-FB"...
45. Directório de blogs expatriados. Aqui a secção Moçambique.
44. Um ascensão fulgurante, dançarinos moçambicanos integram o último trabalho de Beyoncé.
43. João Pereira Coutinho, no fim de José Sócrates, o pior dos políticos portugueses, com o tique máximo da anti-democracia: "um político que prefere negar a realidade e confunde uma crítica ao governo com uma crítica ao país". Que nunca mais volte, é um desígnio nacional, apesar das suas ameaças "em andar por aí".
42. O excelente sítio Buala a trabalhar sobre Ruy Duarte de Carvalho.
41. O Da Casa Amarela a comemorar o aniversário de Dylan
40. A AL é uma emérita coleccionadora de cartoons e tem um mural FB fantástico nisso.
39. No 70º aniversário de Dylan, ele sobre Elis Regina
38. Forever Mickey
37. Água Vumba premiada, a minha bebida moçambicana preferida. (Sim, apesar de militante da dupla 2M - Manica)
36. A propósito da crise, versão pop-pirosa ...
35. 3XMiles
34. The Guardian a olhar para a imprensa moçambicana e seu impacto social. O elogio do jornal "Verdade", o popular primeiro gratuito, que tanto modificou a paisagem mediática aqui. E que é líder na imprensa informática, com o vigor que coloca - celebrizando-se na cobertura dos acontecimentos de 1 e 2 de Setembro de 2010.
33. Dexter, via MVF - que tem um refinado mural FB. E talvez por isso tão pouco aqui culime ...
32. Mitos industriais perversos, via A Arte da Fuga, um bom pontapé no guevarismo e, mais globalmente, no acriticismo.
31. Um céu limpo global, fruto de um projecto fotográfico de grande monta.
30. Uma nova supernova. A página da National Geographic dá-nos maravilhas diárias ...
29. Naipaul por Naipaul - agora aflorando a "escrita feminina". Um elefante em loja de femininismos ...;
28. Aquando das eleições portuguesas uma reflexão sobre as aldrabices das sondagens políticas portuguesas. Já nas últimas eleições isso se discutiu no bloguismo - o peso simbólico (académico, como se científico, e mediático-televisivo) dos sondageiros, alimentado pela idolatria da numerologia continua a permitir a subsistência e sobrevivência gente. Urge o ostracismo moral. Para todos ..
27. No país da Dirty Dilma: também ler um Que fazer?;
26. Sobre os telemóveis. Cancerígenos ou não?, via De Rerum Natura. Questão de "estação estúpida"? Ou bem pior do que isso? E que efeitos nos fanáticos twitteristas?
25. Chegou o icloud da Apple, e deve mudar bastante as coisas - como por exemplo nunca mais perder os ficheiros por corrupção dos "discos-afinal-moles".
24. Notícia da publicação do Caderno de campo na Guiné-Bissau (1947) de Orlando Ribeiro. Para a agenda de compras quando em Portugal ...
23. Lou Reed Forever
22. Da enorme série "recomendações dos amigos-FB"...
21. Bela galeria fotográfica de arte moderna
20. Kare Lisboa, na Lx Factory: gente família a lutar bem com a crise. E nós de longe a torcermos pelo sucesso, bem-merecido.
19. Lembrei-me da gentil guitarra do Beatle. (um Beatle nunca é ex).
18. Bjork, Venus as a Boy: lembrei-me do vulcão islandesa, mas sem direito a partilha (a função "embeber" foi retirada do youtube para este filme). É clicar para ouvir/ver ..
17. Tomai lá com o Bach, em Lisboa disse uma velha-amiga
16. África em vista aérea, uma galeria sumptuosa a mostrar o trabalho de George Steinmetz, "fotógrafo americano que percorreu e fotografou as paisagens africanas ao longo de 30 anos. Sobretudo do ar, a bordo de um parapente motorizado":
15. Uma dupla de Siouxie, a última das moicanas ...
14. Lago Niassa declarado reserva natural pelo governo de Moçambique, uma boa notícia enquanto há rumores de que empresas se preparam para acelerar a exploração dos "recursos" minerais existentes.
13. Ads of the World: conhecer o inimigo. Para melhor o combater.
12. Canal de Moçambique, o mais belo título dos jornais moçambicanos, a abrir a sua página no facebook;
11. Imperdível, textos sobre Arte Contemporânea africana;
10. Eu lembrei o Tony de Matos e logo uma amiga-FB completou ...
9. O Grande Tony de Matos - que eu sempre recordo a actuar no Coliseu dos Recreios em meados dos anos 1980s, então sala-nobre de Lisboa e como tal vedada aos cantores populares. Foi "special guest star" de Vitorino e levantou o público à ... entrada. Um sucesso, uma reparação. 25 anos depois honra ao Vitorino que provocou o momento ...
8. Da enorme série "recomendações dos amigos-FB"...
7. Da enorme série "recomendações dos amigos-FB"..
6. Uma série apaixonante, a ir ver: Closer To The Truth
5. Uma sumptuosa série sobre filósofos, disponível no youtube, ao qual chego via Crítica. Blog de Filosofia;
4. Vasco Palmeirim - um delicioso humorista dos novos tempos em Portugal que venho conhecendo via youtube ...
3. O silêncio dos livros, um belo blog mostrando leituras.
2. Retirado o título [o grau de doutorada] a deputada europeia [alemã] Silvana Koch-Mehrin que plagiou - informa o Diário de Notícias exactamente no dia em que deixei o resmungo sobre o posfácio dos plágios (e lembrando outro meu lamento mais dorido);
1. Stellarium, um fantástico programa informático que nos põe o planetário em casa (como qualquer miúdo da minha geração teria sonhado).
jpt