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Antepassados

por jpt, em 09.02.05

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Frederico Cesar Trigo Teixeira, A Ocupação do Moxico, Lisboa, Editorial Cosmos, col. Cadernos Coloniais, 1936 (?)

Um pequeno livro relatando a ocupação da zona do Moxico, uma expedição (de cujo Diário este livro é extraído) realizada em 1894-6. Começa este meu avoengo (o livro é tratado como se jóia de família) "Embora o cargo que desempenhavamos [chefe do concelho do Ambriz] fôsse dos mais invejados, por representar uma autêntica sinecura, visto que no porto de Ambriz tocavam obrigatoriamente todos os navios que da Europa vinham ou para lá se dirigiam, e que na vila, então a terceira da colónia em população europeia e movimento comercial se levava vida despreocupada e agradável, não hesitámos em trocá-la [pelo posto] que nos era oferecido"... [a cumprir o destino traçado por quem lhe atribuíra nome, sorrio eu diante do tonitruante "Frederico Cesar"] "comandante da Colónia Penal Militar" com instruções de que "além da instalação no Pêo da Colónia Penal Militar Agrícola, deveríamos fazer a ocupação dos vastos territórios do Moxico, do Algo Quanza à nascente do rio Zambeze, daí à nascente do rio Cabompo, seguindo a margem dêste rio até à sua confluência no Zambeze e, dali, até aos rápidos de Catima".

Para isso tudo "Fizemos...uma requisição de 250 soldados", mas como "não os havia" lá partiram "Tendo ministrado instrução militar aos 72 condenados que levavamos". [5-6]

Depois é a descrição, factual, dos eventos da expedição e, para mim muito de interesse, do imbricar de relações com os chefes locais (sobas), até ao seu retirar por motivos de saúde: "Deixámos construída a fortaleza com a área de 9135 metros quadrados, 7 e meio hectares de terreno cultivado, treze casas construidas e estabelecidos os postos de Chindumba, Nana-Candungo e Caquengue, no Zambeze - postos estes que no litígio com a Inglaterra foram motivo para que nos fosse reconhecido o direito de posse dos territórios em volta, numa extensão aproximada a trinta [é uma gralha, são trezentos] mil quilometros quadrados."

A evocar um antepassado. Mas também a recuperar um bocado da história. Olhando, sempre com espanto, para as forças então em presença. Uma dimensão que hoje sempre parece irrisória.

Ah, e o cinema português? Não o épico, mitificador. Mas um a olhar para este manancial de pequenas histórias dos homens. Só essas grandes.

publicado às 12:12


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