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Uanhenga Xitu

por jpt, em 15.02.14

 

Esta semana morreu Uanhenga Xitu, o delicioso escritor angolano. A quem nunca o leu deixo o "conselho", leia-o, é muito interessante. E, mais ainda, é saboroso. Há alguns anos foi  publicado em Portugal este "Bola com Feitiço" (dois contos: o mesmo "Bola com Feitiço" e "Mestre Tamoda") em edição de bolso, ainda andará pelos escaparates, será de fácil acesso. E por isso aqui o lembro. Em tempos deixei uma pequena nota de leitura sobre este livro [está aqui guardada], escrita porque me fez pensar na "modernidade" e na "lusofonia". Um livro que também se recomenda aos amantes do futebol (o conto "Bola com feitiço" é uma delícia para nós, "tribo do futebol").

 

Para relembrar ou como introdução ao escritor aqui fica este "apelo à leitura".

publicado às 08:35

[Uanhenga Xitu, Bola Com Feitiço, Cotovia, 2009]

 

Em altura de CAN, ainda para mais decorrendo em Angola, recupero este delicioso livro recentemente publicado em edição de bolso. Contém dois contos saborosos, debruçados sobre as transformações havidas no mundo suburbano e rural da Angola tardo-colonial. O primeiro, "Mestre Tamoda", é uma delícia corrosiva sobre a modernidade como mecanismo de ascensão social (e identitária). Tamoda é um camponês que regressa à aldeia natal, proveniente de Luanda, na posse de um património linguístico poderoso, o domínio do português. E decide capitalizá-lo, encetando a actividade de mestre informal da língua por via de um linguajar criativo, um verdadeiro "tamodismo". Adquirindo prestígio entre a juventude logo será entendido como subversivo - ele introduz um português criativo e muito rebuscado mas também o uso dos cabelos frisados. Até que ponto este "Tamoda" simboliza os experimentalismos linguísticos de alguma literatura africana é questão que só posso especular, se calhar afastando-me dos propósitos do autor - mas como a obra é também minha, leitor, dela me aproprio nesse sentido. E ainda utilizando-a para reflectir sobre as questões sociais da "lusofonia", da qual Tamoda foi, no seu ficcional tempo, grande cultor.

 

"Bola com Feitiço" é um delicioso retrato das inovações "sincréticas" acontecidas com a "modernidade". Duas aldeias vizinhas confrontam-se por via do futebol (uma inovação colonial) e convocam os respectivos curandeiros para obterem sucesso. Tudo isso cruzado com as diversas formas de integração das novidades propostas: os jogadores logo se distinguem entre os que aceitam os tratamentos feitícicos e os que os recusam, distinção homóloga à que os divide entre católicos (que os seguem) e crentes de outras igrejas cristãs (que os recusam) - neste bem-humorado episódio narrando-se como a modernidade colonial, religiosa nesta caso, tão diversamente foi apropriada.

 

5 euros muito bem utilizados.

 

jpt

publicado às 11:13


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