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Casablanca

por jpt, em 27.02.12

Há algum tempo, conversando à distância com a AL, a passar o tempo enquanto não nos encontramos de novo, chegámos à supreendente conclusão em que concordamos ser o "Casablanca" uma pepineira extrema - surpreendente pois não tenho encontrado quem isso assuma. Certo é que já vi o filme imensas vezes, e cada vez que o zapping me defronta com ele lá me deixo ficar diante do ecrã, a ver o Rick, a beldade, o melífluo franciú, os até simpáticos malandros alemães, o canastrão do Lazlo e, acima de tudo, o mito propagandístico da França resistente. No fundo, ali Vichy nada mais é do que uma garrafa de água vazia deitada no caixote do lixo. E lá fico eu, sorriso apalermado estampado, a reviver o filme, ainda que resmungando. Li o outro a razão disso tudo, e percebi. Tenho que ver se a AL concordará:

" ... para explicar o fascínio de um filme como Casablanca, adverti que um só clichê é kitsch, cem clichês disparados sem pudor tornam-se épicos ...". (Umberto Eco, Construir o Inimigo e outros escritos ocasionais, Gradiva, 160).

Ainda que me pareça uma explicação a la carte. Mas faltando melhor ...jpt

publicado às 21:39

Astrologia

por jpt, em 27.02.12

Poucas coisas me irritarão tanto como as da astrologia. Felizmente envelheci, e com isso já ninguém me pergunta o "signo" - já não há mulheres a indagarem(-se) de uma hipotética compatibilidade comigo (ou a encenaram a indagação). Mas o vácuo astrológico continua por aí - basta ver a quantidade de aplicações zodíacas que os facebooqueiros utilizam. Ou assistir a uma estação televisiva portuguesa, dessas a quem o Estado concedeu licenças para emitirem e as transformam em licenças para Mayas e quejandas - como pude constatar em recente visita a Portugal.

Sobre a irritante matéria apanhei há pouco uma reflexão, não particularmente original mas muito partilhável:

"Desejo deixar claro imediatamente que, falando de geografias e de astronomias imaginárias, não me ocuparei de astrologia. ... a astrologia não é uma ciência, exacta ou errada que seja, mas uma religião (ou uma superstição - sendo as superstições sempre as religiões dos outros), e, como tal, não pode ser demonstrada como verdadeira nem falsa; é apenas uma questão de fé, e nas questões de fé é sempre melhor não nos imiscuirmos, se não por mais nada, ao menos por respeito a quem crê.

É que as geografias e as astronomias imaginárias de que falarei foram praticadas por pessoas que exploravam, de boa fé, o céu e a Terra tal qual os viam - e se, contudo, se enganaram, não podemos dizer que fosse por má-fé. Pelo contrário, quem se está ocupando, ainda hoje, de astrologia, sabe muito bem que se refere a uma curva celeste diferente daquela que a astronomia já explorou e definiu; no entanto, continua a comportar-se como se aquela imagem do céu fosse verdadeira. Diante da má-fé dos astrólogos não se pode exercer qualquer simpatia. Não é gente que se tenha enganado, são enganadores. Assunto encerrado." (Umberto Eco, Construir o Inimigo e Outros Escritos Ocasionais, Gradiva, pp. 203-204).

jpt

publicado às 21:17

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por jpt, em 09.03.07
 

ecomentiraironia1

 

É que – se a teoria da literatura ainda não decidiu plenamente qual a distinção entre um escritor e um escrevedor, e cada época seguinte celebra como escritores os que na época anterior havia condenado como escrevedores, e vice-versa – bem maiores dificuldades, desde Aristóteles até Freud e Bergson, teve a filosofia em definir o cómico e o humorismo” (61)“O meu riso mistura-se com a piedade, e transforma-se em sorriso. Passei do cómico ao humorístico. Pirandello vê com muita clareza que para se passar do cómico ao humorístico é preciso renunciar ao desprendimento e à superioridade (características clássicas do cómico). […] Se o cómico animaliza o humano, o humorismo também pode humanizar o animal, ou então fazer-nos sorrir, e chorar, em relação ao animal como se o animal fôssemos nós.” (68)“Parece que perante o desafio do cómico, mais do que uma teoria geral, se pode propor uma fenomenologia dos mecanismos que produzem efeitos diferentes.

O cómico parece pertencer àquelas categorias como o jogo, justamente criticadas por Wittgenstein, porque (…). O conceito de jogo cobre um tecido de actividades diferentes ligadas por vagas semelhanças de família, porque o jogo não é uma actividade específica mas sim uma das dimensões humanas, como o sexo …. O cómico (com o seu corolário não necessário, nem suficiente, o riso) tem a mesma natureza. Somos homo ludens tal como somos homo ridens. E se se ri, sorri e brinca, e se se arquitectam sublimes estratégias do risível … é porque somos a única espécie que, não sendo imortal, sabe que não o é. (…) Sócrates sabe-o. E é por sabê-lo que é capaz de ironia. O cómico e o humorismo são o modo como o homem tenta tornar aceitável a ideia insuportável da sua morte - ou arquitectar a única vingança que lhe é possível contra o destino ou os deuses que o querem mortal.” (97)(Umberto Eco, Entre a Mentira e a Ironia, Lisboa, Difel, 2000. Traducao de Jose Colaco Barreiros)

publicado às 02:46

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por jpt, em 09.03.07
 

ecomentiraironia1

 

É que – se a teoria da literatura ainda não decidiu plenamente qual a distinção entre um escritor e um escrevedor, e cada época seguinte celebra como escritores os que na época anterior havia condenado como escrevedores, e vice-versa – bem maiores dificuldades, desde Aristóteles até Freud e Bergson, teve a filosofia em definir o cómico e o humorismo” (61)“O meu riso mistura-se com a piedade, e transforma-se em sorriso. Passei do cómico ao humorístico. Pirandello vê com muita clareza que para se passar do cómico ao humorístico é preciso renunciar ao desprendimento e à superioridade (características clássicas do cómico). […] Se o cómico animaliza o humano, o humorismo também pode humanizar o animal, ou então fazer-nos sorrir, e chorar, em relação ao animal como se o animal fôssemos nós.” (68)“Parece que perante o desafio do cómico, mais do que uma teoria geral, se pode propor uma fenomenologia dos mecanismos que produzem efeitos diferentes.

O cómico parece pertencer àquelas categorias como o jogo, justamente criticadas por Wittgenstein, porque (…). O conceito de jogo cobre um tecido de actividades diferentes ligadas por vagas semelhanças de família, porque o jogo não é uma actividade específica mas sim uma das dimensões humanas, como o sexo …. O cómico (com o seu corolário não necessário, nem suficiente, o riso) tem a mesma natureza. Somos homo ludens tal como somos homo ridens. E se se ri, sorri e brinca, e se se arquitectam sublimes estratégias do risível … é porque somos a única espécie que, não sendo imortal, sabe que não o é. (…) Sócrates sabe-o. E é por sabê-lo que é capaz de ironia. O cómico e o humorismo são o modo como o homem tenta tornar aceitável a ideia insuportável da sua morte - ou arquitectar a única vingança que lhe é possível contra o destino ou os deuses que o querem mortal.” (97)(Umberto Eco, Entre a Mentira e a Ironia, Lisboa, Difel, 2000. Traducao de Jose Colaco Barreiros)

publicado às 02:46

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por jpt, em 09.03.07

ecomentiraironia

 

Renzo (…) que neste Bildungsroman é o último a crescer, ou seja, a familiarizar-se com os signos e com o modo como os outros os interpretam …” (30)

(Umberto Eco, Entre a Mentira e a Ironia. Lisboa, Difel, 2000. Traducao de José Colaço Barreiros)

publicado às 02:39

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por jpt, em 09.03.07

ecomentiraironia

 

Renzo (…) que neste Bildungsroman é o último a crescer, ou seja, a familiarizar-se com os signos e com o modo como os outros os interpretam …” (30)

(Umberto Eco, Entre a Mentira e a Ironia. Lisboa, Difel, 2000. Traducao de José Colaço Barreiros)

publicado às 02:39

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por jpt, em 30.11.06

"These days many lament the birth of a new "telegraphese", which is being foisted on us through e-mail and mobile-phone text messages, where one can even say "I love you" with short-message symbols; but let us not forget that the youngsters who send messages in this new form of shorthand are, at least in part, the same young people who crowd those new cathedrals of the book, the multi-storey bookstores, and who, even when they flick through a book without buying it, come into contact with cultivated and elaborate literaty styles to which their parents, and certainly their grandparents, had never been exposed."

[Umberto Eco, On Literature, Ramdom House, 2005, p. 4]

publicado às 00:35

A queda de um mito

por jpt, em 08.10.05

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Comecei hoje, ainda vou a páginas cem. A gostar, mas não extasiado, aquilo da casa velha com memórias aglomeradas, coisa também de labirinto, no autor até não original já para não falar de outros antes dele, é modo narrativo que já não me entusiasma, mas enfim, os recursos são sempre escassos mesmo quando abundantes, como é o caso.

Mas o pior é a suprema des-ilusão. Vivi décadas sob um mandamento para agora a Autoridade mo negar, destabilizando-me, desenquadrando-me:

"Ou como Viena: Kunsthistoriches Museum, o terceiro homem, Harry Lime na roda do Prater diz que os suíços inventaram o relógio de cuco. Mentiu: o relógio de cuco é bávaro". (34)

Como reagir? Que fazer?

publicado às 23:49


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