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Ba Ka Khosa amanhã em Lisboa

por jpt, em 16.06.15

choriro-convertimage.jpg

 

 

Amanhã, ao fim da tarde, lá naquela Lisboa, ao pé da estação de metro do Chiado, na livraria Bertrand, será apresentado a edição portuguesa do livro Choriro, o mundo zambeziano que o grande Ungulani Ba Ka Khosa publicou em 2009. A oradora será a escritora portuguesa Lídia Jorge - a qual tem uma mozambican connection, fruto do seu "A Costa dos Murmúrios".

 

Espero que a sessão seja um sucesso, que o livro se venda, que o boca-a-boca funcione. E se algum por lá visitante por aqui, ma-schamba, tenha passado, faça o favor de dizer ao Ungulani que este Teixeira (aka jpt) lhe manda um abraço, de saudades preenchido.

 

publicado às 22:42

 

 

A feira do livro em Lisboa começa amanhã. Chamo a atenção das carteiras dos potenciais interessados que este ano haverá um pavilhão do livro moçambicano, organizado pelo Instituto Nacional do Livro e do Disco. No qual, segundo me dizem, se congregarão as editoras nacionais. A actividade editorial tem crescido nos últimos anos, sendo de esperar que a conjunto de obras ali disponibilizadas possa satisfazer os amadores de Moçambique e os curiosos. E também os leitores com interesses profissionais. 

 

Certo que há editoras associadas a congéneres portuguesas (Leya, Texto, Porto, Paulistas) que talvez tenham outras hipóteses de colocação dos seus livros em Portugal. Mas espero que integrem este pavilhão. Para além disso outras há em verdadeiro crescimento. Em particular a "Alcance", que tem editado bastante literatura nacional e importantes reedições de obras há muito esgotadas (textos de 1980s e 1990s, na sua maioria). E a "Marimbique", a editora que mais belos livros faz no país, cujo catálogo inclui um excelente conjunto de ensaios sobre várias temáticas em Moçambique.

 

Deixo aqui duas recomendações, obras que estou a ler e a muito gostar, e que espero disponíveis nesse pavilhão:

 

 

Este muito recente "A Alegria é Uma Coisa Rara", de António Sopa [publicado pela Marimbique], a história social da música no Lourenço Marques de XX. A formação e disseminação dos ritmos populares sitos nos subúrbios, em mescla dos ritmos de várias origens no país, culminando na celebrização do ritmo marrabenta no "cimento", e o contacto com o jazz, bem como as dimensões sociológicas das festas, concertos e do comércio musical. É, e digo-o com franqueza, um livro soberbo.

 

 

 

E o último livro de Ungulani Ba Ka Khosa, este "Entre as Memórias Silenciadas" (da Alcance), o seu regresso à excelência, em minha opinião o grande texto de Khosa desde os anos 90s, uma devastadora apneia na história moçambicana. Imperdível.

 

Mas há mais, será só ir lá ao tal pavilhão. Tenham muitas despesas, é o meu desejo.

publicado às 13:21

 

[Fotografia de Sérgio Costa]

 

Anteontem Paulina Chiziane e Ungulani Ba Ka Khosa foram condecorados por Portugal, ambos recebendo o grau de Grande Oficial da Ordem Infante D. Henrique. Aconteceu numa gala televisiva, produzida para o efeito e transmitida por RTP e RDP (secções África), algo que me espantou, habituado a um diferente cerimonial estatal. Mas funcionou bem. Khosa falou e disse o fundamental, que estas condecorações reclamam a "cidadania diplomática" para a cultura, nisso saudando o actual embaixador português em Maputo (que é um homem a saudar, pois empenhado e clarividente) por ter a perspicácia de assim o entender e de o praticar.

 

A diplomacia cultural portuguesa (que integra a acção cultural externa mas nela não se esgota) tem sido, pelo menos nos últimos vinte anos, muito frágil e desconexa. Não por questões políticas ou (escassez) de recursos económicos mas devido a determinantes estruturais: as características culturais e as dinâmicas patrimonialistas da administração pública portuguesa. Factores que mais fazem louvar a inteligência em induzir e a capacidade de levar a cabo um acto destes, inusitado. O qual sublinha o óbvio mas tantas vezes esquecido: a diplomacia (e a política) é feita por pessoas, não por "estruturas" mais ou menos esconsas. Haja gente (assim)!

 

Na cerimónia acontecida pode-se retirar ainda uma actualização do modo como a administração e alguma intelectualidade portuguesas entendem o relacionamento com Moçambique e, por extensão, com os restantes países de língua oficial portuguesa. Khosa e Chiziane foram condecorados tendo em conta os seus méritos literários mas os fundamentos expressos foram também outros. Por um lado, como reconhecimento da sua importância sociológica, pois reconstrutores do conteúdo cultural do país. Por um outro lado, e com particular relevo, pela sua promoção do enriquecimento da língua portuguesa, em léxico, em sintaxe e, como Khosa sublinhou, na semântica, devido ao convívio com as suas línguas primeiras. 

 

Todos os locutores portugueses se referiram a esse assunto, à importância do trabalhos destes escritores no actual cerzir do português. O embaixador em Maputo, José Augusto Duarte, a apresentadora da gala televisiva Sónia Araújo, bem como (através de mensagens gravadas) o presidente Cavaco Silva e um conjunto de individualidades (Morais Sarmento, Rebelo de Sousa, Canavilhas, Moura Duarte e Rogeiro, sendo que este falou muito bem). O notável é que, num momento ancorado no reconhecimento da importância do trabalho sobre a língua comum, nenhum dos portugueses se referiu à "lusofonia".

 

Finalmente! Poder-se-á mesmo dizer que anteontem se assistiu ao (festivo) funeral dessa noção - cheia de subtexto colonial, incompreendedora -, tão dinamizada pela intelectualidade socialista em finais de XX, inconsciente herdeira da "visão do mundo" do republicanismo colonial, e nesse lamaçal intelectual incapaz de entender o mundo actual. Noção recuperada, há pouco, aquando da ascensão do novo governo, com os assomos de uma "diplomacia lusófona", jogada na luta do poder interna à actual coligação governativa. Mas agora com breve apogeu. Acabou. Resta esperar que a purificação nocional seja, efectivamente, acompanhada por uma maior capacidade interpretativa. E, assim, política.

 

 

publicado às 03:46

A condecoração

por jpt, em 26.11.13

 

Na linguagem das condecorações, que é a do reconhecimento (no duplo sentido do agradecimento e no da sua publicitação), o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique é um colar bem pesado e sonoro que a nossa República tem. Grandiloquente, por assim dizer. Foi hoje anunciado que será entregue a Paulina Chiziane e a Ungulani Ba Ka Khosa. É bonito ver estas iniciativas. E como grande admirador de Ungulani fico particularmente satisfeito.

publicado às 16:43

 

"O Rei Mocho", uma incursão na literatura infantil do Ungulani Ba Ka Khosa (presumo que ilustrada por Amos Mavale), será apresentada publicamente hoje, em Maputo. É uma edição da Escola Portuguesa de Moçambique, conjuntamente com outras instituições. A ler. Para fruir, claro. Mas também para conferir se o Khosa caíu na esparrela de amputar, moralizando acriançando, a literatura oral para a tornar "infantil", como já aconteceu, num oitocentismo acriticado, na colecção que a referida Escola vem publicando. Espero que não. Acredito que não.

jpt

publicado às 14:48

 

Um livro colectânea de estudos sobre Khosa. Reter a informação, passar por cima do texto enquadrador, com gemidos sobre o perigo da língua inglesa ("Os Russos Vêm Aí"), o preconceito contra os "autóctones", e ainda qualquer coisa, implícita, sobre a responsabilidade brasileira na reprodução local - já não é apenas o discurso português, aleluia. Basta abrir o bau e tirar a "arte de aeroporto" académica e pimba ... Enfim, não interessa o choradinho, mas sim reter a existência de "Emerging Perspectives on Ungulani Ba Ka Khosa: prophet, trickster, and provacateur", organizado por Niyi Afolabi, (e publicado por Africa Press World Pres, Inc), quinze textos sobre Khosa.

 

A ver se aterram em Maputo, para venda.

 

jpt

publicado às 03:29

A nova Índico

por jpt, em 05.05.10

[Índico, Série III, nº.1, Maio-Junho 2010]

Este é o primeiro número da nova série (a terceira) da Índico, a revista das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM). Que passou a ser editada por Nelson Saúte, o qual logo a tornou algo distinta. Se a série anterior era muito capaz, enquanto mera revista de bordo, o novo formato eleva a Índico à revista cultural moçambicana, com toda a certeza a coleccionar (assinar?, ou a ir pedir às delegações da LAM?), algo que muito faltava no país. Veja-se este primeiro número, que surge com artigos evocando o mundial de futebol que o vizinho albergará e o trigésimo aniversário da companhia, neste caso com texto de José Luís Cabaço. Mas depois, e para além de alguns textos de ocasião sobre destinos turísticos, surge o núcleo duro. Luís Bernardo Honwana revelando-se como surpreendente fotógrafo. E textos de Eduardo White, Marcelo Panguana, Mia Couto, Nelson Saúte, Paulina Chiziane, Júlio Carrilho, Ungulani Ba Ka Khosa, uma selecção nacional das letras moçambicanas. E um cuidado, sempre discutível mas cuidado, roteiro da capital. Para além de escaparates dedicados à edição livreira e musical, bem como aos ateliers de artistas plásticos.

A desejar bons mares e bons ares à Índico. Para que assim se mantenha.

jpt

publicado às 16:01

Choriro, de Ungulani Ba Ka Khosa

por jpt, em 21.11.09

Khosa Choriro

[Ungulani Ba Ka Khosa, Choriro, Alcance, 2009]

Lançamento esta semana em Maputo. Como é habitual no caso de Ungulani, escritor com particular enraizamento na cidade, aconteceu uma enchente - e uma simpática editora ainda algo inexperiente nestas coisas, a deixar surpreender-se pela dimensão do momento, de repente sem livros para vender no lançamento. 100 exemplares disponíveis para um lançamente do Khosa? Enfim, pormenores, até porque correu bem, muita gente feliz com livro debaixo do braço.

O livro é romance histórico, a reconstrução do vale do Zambeze desde XVI. Terrenos difíceis, ainda que o grande sucesso de Ungulani seja exactamente a (alegórica) reconstrução ficcional da chefatura de Ngungunhane. Aurélio Rocha apresentou, louvando a qualidade histórica do livro - a mim isso assusta-me, quero mais do que realismo historiográfico (ainda que Rocha não o tenha reduzido a isso, isto são mais fantasmas meus)- Os dois amigos comuns que já leram o livro estavam muito satisfeitos, agradados com a conquista. Sim, que desde a "Orgia dos Loucos" é o grande livro de Khosa, afiançaram. O regresso, finalmente. Para ler, já!

jpt

publicado às 03:11

Novo livro de Ungulani Ba Ka Khosa

por jpt, em 18.11.09

Lançamento hoje às 18 h. (no Restaurante Zambi - um muito recomendável local gastronómico, já agora, não passe a publicidade que é descarada ainda que gratuita) do novo livro de Ungulani Ba Ka Khosa, "Choriro". Logo à noite mostrarei a capa.

Aproveito para lembrar que por razões endo-maschambianas tenho-me abstido aqui de comentar coisas relativas à literatura moçambicana (os veteranos leitores do blog saberão do porquê do silêncio deste "branco desmiolado, descobridor de África qual "Vasco da Gama", mentiroso, e que deveria ser expulso do país para os orientes onde lhe cortariam a cabeça"). Por isso não tenho referido o intenso processo de reedições de ficção (e até de poesia) nem o surgimento de novas editoras. Nem tampouco a edição de novos livros e, até, de novos autores, estes principalmente em colectâneas. Basta procurar (fisicamente aconselho a Minerva Central e a Mabuko, as mais activas livrarias maputenses no momento; na internet há ainda um grande deficit de apresentação, pese embora o saudável esforço da veterana Ndjira ). Fica esta nota-excepção, empurrada pelo meu apreço pelo Khosa.

[Breve nota informativa sobre livro e autor no Notícias.]

jpt

publicado às 08:44

Sobre Ungulani Ba Ka Khosa

por jpt, em 30.05.07

A propósito do Prémio José Craveirinha recentemente atribuído a Ungulani Ba Ka Khosa Vicenzo Barca, o tradutor de Khosa para italiano, enviou-me esta simpática mensagem sobre o escritor. Aqui a partilho, sem deixar de notar que discordo em grande parte das ideias expressas - se Khosa já foi "criança terrível" das letras moçambicanas não mais o é. E tem sido reconhecido internamente. O problema da sua divulgação interna tem a ver com as questões da recepção da literatura moçambicana - Mia e Paulina, por diferentes razões, um pouco à parte. Mas aqui ficam as palavras de Vicenzo Barca, e os meus muitos agradecimentos pela sua passagem por aqui -"Tenho a honra de ser o tradutor italiano do Ungulani, que conheci pessoalmente o ano passado numa visita que fiz a Moçambique. Aqui já saiu o "Ualalapi" e estou a terminar a tradução de "Os sobreviventes da noite" que sairá em novembro 2007 pela Ed. Lavoro de Roma. È pena que este Autor não tenha no seu próprio país o reconhecimento que merece, pela sua grande sensibilidade e inteligência, pela rica textura das suas narrativas e pela capacidade e generosidade que tem em falar com os jovens moçambicanos que gostam de literatura, animando-os. "Infelizmente" as suas posições muitas vezes não coincidem com as oficiais, o que, a meu ver, prejudica muito a promoção dos seus livros, mas o Ungulani é um escritor e uma pessoa de valor, embora não apareça muito e não saiba talvez "vender" a sua imagem, como nos nossos tempos é preciso fazer. Obrigado e parabens ao nosso amigo!"

publicado às 14:16

Sobre Ungulani Ba Ka Khosa

por jpt, em 30.05.07

A propósito do Prémio José Craveirinha recentemente atribuído a Ungulani Ba Ka Khosa Vicenzo Barca, o tradutor de Khosa para italiano, enviou-me esta simpática mensagem sobre o escritor. Aqui a partilho, sem deixar de notar que discordo em grande parte das ideias expressas - se Khosa já foi "criança terrível" das letras moçambicanas não mais o é. E tem sido reconhecido internamente. O problema da sua divulgação interna tem a ver com as questões da recepção da literatura moçambicana - Mia e Paulina, por diferentes razões, um pouco à parte. Mas aqui ficam as palavras de Vicenzo Barca, e os meus muitos agradecimentos pela sua passagem por aqui -"Tenho a honra de ser o tradutor italiano do Ungulani, que conheci pessoalmente o ano passado numa visita que fiz a Moçambique. Aqui já saiu o "Ualalapi" e estou a terminar a tradução de "Os sobreviventes da noite" que sairá em novembro 2007 pela Ed. Lavoro de Roma. È pena que este Autor não tenha no seu próprio país o reconhecimento que merece, pela sua grande sensibilidade e inteligência, pela rica textura das suas narrativas e pela capacidade e generosidade que tem em falar com os jovens moçambicanos que gostam de literatura, animando-os. "Infelizmente" as suas posições muitas vezes não coincidem com as oficiais, o que, a meu ver, prejudica muito a promoção dos seus livros, mas o Ungulani é um escritor e uma pessoa de valor, embora não apareça muito e não saiba talvez "vender" a sua imagem, como nos nossos tempos é preciso fazer. Obrigado e parabens ao nosso amigo!"

publicado às 14:16

...

por jpt, em 15.05.07

Hoje anunciam o prémio Jose Craveirinha, o mais distinto das letras moçambicanas. Ou muito me engano ou ouvir-se-á falar deste livro

Ungulani Ba Ka Khosa, Os Sobreviventes da Noite, Maputo, Imprensa Universitaria, 2005

então o regresso de Ungulani Ba Ka Khosa. Livro do qual bastante haverá para dizer por quem de direito (ou seja, todos o que o leram). E que vale, acima de tudo, por ter sido o efectivo regresso de Ungulani.

(parabéns? ou dará azar?)Adenda: parabéns.

publicado às 06:01

...

por jpt, em 15.05.07

Hoje anunciam o prémio Jose Craveirinha, o mais distinto das letras moçambicanas. Ou muito me engano ou ouvir-se-á falar deste livro

Ungulani Ba Ka Khosa, Os Sobreviventes da Noite, Maputo, Imprensa Universitaria, 2005

então o regresso de Ungulani Ba Ka Khosa. Livro do qual bastante haverá para dizer por quem de direito (ou seja, todos o que o leram). E que vale, acima de tudo, por ter sido o efectivo regresso de Ungulani.

(parabéns? ou dará azar?)Adenda: parabéns.

publicado às 06:01

O último discurso de Ngungunhanhe

por jpt, em 18.05.04

 

 

"Estes homens da cor de cabrito esfolado que hoje aplaudis entrarão nas vossas aldeias com o barulho das suas armas e o chicote do comprimento da jibóia. Chamarão pessoa por pessoa, registando-vos em papéis que ... vos aprisionarão. Os nomes que vêem dos vossos antepassados esquecidos morrerão por todo o sempre, porque dar-vos-ão os nomes que bem lhes aprouver, chamando-vos merda e vocês agradecendo. Exigir-vos-ão papéis até na retrete, como se não bastasse a palavra, a palavra que vem dos nossos antepassados, a palavra que impôs a ordem nestas terras sem ordem, a palavra que tirou crianças dos ventres das vossas mães e mulheres. O papel com rabiscos norteará a vossa vida e a vossa morte, filhos das trevas".



[O último discurso de Ngungunhanhe, segundo Ungulani Ba Ka Khosa, Ualalapi, Associação dos Escritores Moçambicanos, 2ª edição, p. 118]

publicado às 18:27

Khosa Ainda

por jpt, em 03.05.04

"...Os que nada tinham olhavam para os outros e refugiavam-se no interior das cubatas, esperando que melhores dias chegassem. Luandle, que nada tinha além da terra seca e morta, olhava com dó o filho que se alimentava de areia e ervas nunca comidas que mataram famílias inteiras e obrigaram os homens idosos a voltarem à prática dos tempos imemoriais em que tudo experimentaram, autorizando depois as mulheres e as crianças a comerem antes de descobrirem que os macacos bem serviam de guias em certos produtos. E já que os macacos emigraram os homens tiveram que experimentar tudo, arriscando-se à morte ou a uma diarreia interminável..."

 

(Ungulani Ba Ka Khosa, Orgia dos Loucos)

publicado às 17:14


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