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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
(busto de Voltaire)
Em "O Mundo tal como vai" Voltaire conta-nos que Ituriel é "um dos génios que presidem aos impérios do mundo", tendo a tutela do "departamento da Ásia". Certo dia convoca o cita Babouc, e envia-o a Persepólis, capital da Pérsia, com o encargo de relatar detalhadamente o que lá encontrará, pois na última assembleia dos génios da Alta Ásia houve discussão sobre o destino a dar a esse reino, fartos que estão das "loucuras e dos excessos dos Persas". Estão os génios na dúvida, ou corrigi-la ou exterminá-la.
Lá foi Babouc, encontrando por lá do pior, do mais imoral e corrupto. Mas não só. Após algum tempo chegou o momento de terminar a sua missão: "Afeiçoara-se à cidade, onde o povo era educado, doce e benfazejo, embora imprudente, maldizente e cheio de presunção. Temia que Persepólis fosse condenada; temia o relato que iria entregar. Eis o que fez para apresentar de modo favorável essa descrição. Encomendou aos melhores profissionais de fundição da cidade uma pequena estátua composta de todos os metais, das terras e das pedras mais preciosas e mais vis e levou-a a Ituriel:
-Despedaçareis esta bonita estátua - perguntou Babouc - só porque não é toda de ouro e diamantes?
Para bom entendedor, meia palavra basta, e Ituriel resolveu nem sequer pensar em corrigir Persepólis e deixar andar o mundo tal como vai.
- Porque - disse - se nem tudo está bem tudo é admissível."