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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Muitas vezes me perguntam sobre a música em Moçambique, quase sempre pedindo recomendações, algumas vezes um olhar global. A este último escapo-me, não sou um especialista. Mas, apesar disso, vou dando algumas recomendações - o problema é que vivo uma peculiar relação com a música, geral. Gosto muito, gosto cada vez de menos.
Mas hoje em dia ecoar, ou desvendar, música através de palavras é anacrónico. Pois, e independentemente das mutações das últimas décadas na indústria musical (eu sou um fóssil do tempo do vinil), teoricamente está tudo acessível na internet. Em particular no youtube, o grande democratizador ("emite tu próprio", é o lema) - para além do myspace, um espaço que desconheço. Mas se, por um lado, isso é certo por um outro lado nem tanto o é. Pois o youtube é democratizador mas reflecte de modo agudíssimo a capacidade da edição em se divulgar e, também, a do público adepto proceder à sua vulgarização (seja pelas réplicas dos "documentos" oficiais, seja pelas gravações privadas, algumas de grande qualidade) - algo que tem a ver com as capacidades de acesso aos instrumentos de gravação e também de acesso, barato e continuado, à internet. Mas também a uma dimensão cultural do uso da internet, a da proliferação desse uso enquanto identitário, enquanto "emissor".
O caso moçambicano bem denota isso, dada a relativa ausência na internet dos registos se associar à escassa produção discográfica. Exemplo disso foi a escassez de registos audiovisuais existentes com que nos defrontámos aquando da recente morte do cantor João Paulo.
Mas um caso ainda mais significativo é Wazimbo. Estou crente que este cantor, se inserido noutro contexto de divulgação, teria uma carreira internacional retumbante. Não estou aqui num registo de "eleição" do "melhor" (que é coisa que não existe). Mas tanto pelo tipo de repertório como pela sua particular forma de ser o "homem da frente" no palco tudo teve e tudo tem para um sucesso mais abrangente. Mas para além da relativamente parca produção discográfica vá-se ao youtube, sondar o registo da actualidade: apenas alguns poucos filmes "padrão" (e nem todos de grande qualidade - o que levanta outra questão, a da fragilidade estética do filme "musical" em muita da música comercial africana, cheio de tiques, constantes). E escassa divulgação de gravação de espectáculos.
Aproveite-se então o que há nessa "sociedade global", tão sociologicamente hierarquizada, que é o youtube. E tente-se fazê-la evoluir, para uma maior equidade. De oferta. Ou seja, de fruição.