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Leituras II

por jpt, em 24.12.12

Passo os olhos pela banca da feira de livros ali à estação da Fertagus, no Pragal.`Durante a quadra natalícia, é ver as pequenas livrarias implantarem-se em pontos estratégicos e praticarem preços que competem seriamente com as grandes "mercearias do livro" dos centros comerciais.

Neste meu olhar fugaz, páro na capa deste exemplar. Já ouvi falar dele, recordo. O preço está imbatível. Cinco euros. Folheio o prólogo e agrada-me a escrita. Simples e envolvente. Reparo que o autor, Peter Golwin, nascido na antiga Rodésia, hoje Zimbabué, é jornalista conceituado e  tem trabalhado regularmente para o Sunday Times, para o Guardian e para a National Geographic. Também realiza documentários para a BBC e Channel 4.  Avanço um pouco mais pelo conteúdo e detenho-me nos agradecimentos. O autor agradece à mãe e à irmã e refere que "Sem o contributo de ambas, nunca teria sido capaz de o escrever. O que não significa necessariamente que aprovem tudo o que nele está contido.".

Esta divergência de perspectivas faz crescer o meu interesse e compro o livro. O subtítulo,  "Memórias do Zimbabué ou a Implosão de uma Nação",  também contribui para tal  já que as questões do nacionalismo em África me são caras como objeto de estudo. Percebo que o livro não será isento de alguma polémica já que questiona o regime de Robert Mugabe, antigo líder do movimento de libertação contra o governo de minoria branca na antiga Rodésia e actual presidente do Zimbabué. Interessa-me saber do sentir de Godwin sobre esta questão e também das relações que ainda mantém com o país que considera como seu, apesar de viver no estrangeiro há muito.

Durante a viagem para Lisboa leio que o sugestivo título "Como o Crocodilo Come o Sol" refere-se ao modo como algumas populações do Zimbabué explicam o eclipse solar. Segundo a crença, um crocodilo celestial consome em pouco tempo a estrela que gera a vida, numa demonstração de desencanto pelo homem. A  escrita na primeira pessoa faz com que deixe de ouvir os ruídos da manhã à minha volta.

 

 

Na contracapa encontramos ainda o seguinte texto.

"Conhecemos já todos, minimamente, a situação do Zimbabué com uma inflação de 7500%, sujeito ao regime ditatorial de Mugabe ferozmente repressivo, corrupto e arbitrário. O que o relato de Godwin nos traz de novo é o quotidiano numa economia à beira do colapso e perante uma repressão sem lógica ou sentido. Como sobreviver quando uma ida à padaria representa um gasto de 12 000 dólares (do Zimbabué), meio quilo de carne de porco custa 4000 dólares e um selo de correio 19 000? Como sobreviver quando não se sabe bem quando haverá gasolina e quanto tempo durará o fornecimento de electricidade? Debatendo-se para apoiar os pais que envelhecem acossados pela pobreza e a insegurança, constantemente sujeitos a assaltos e agressões sem sentido, este é o relato ímpar de um homem de origem inglesa que nasceu no Zimbabué, que considera ainda a sua terra Natal."

VA

publicado às 16:10
modificado por VA a 16/12/13 às 21:05

Graça Machel sobre Robert Mugabe

por jpt, em 22.01.09

Johannersburg, 21 Jan (AIM) - Graça Machel, esposa do antigo estadista sul-africano, Nelson Mandela, lamentou o facto dos lideres da Comunidade de Desenvolvimento da Africa Austral (SADC) terem falhado "miseravelmente" salvar os zimbabweanos do Governo que já perdeu toda a sua legitimidade.


"Nós confiamos por muito tempo e já é altura de dizermos aos nossos lideres que reclamamos as vidas de todos aqueles que morreram.nas mãos dos lideres da SADC porque eles têm a responsabilidade de travar aquela confusão", disse Machel, citada pela agência sul-africana de notícias "Mail and Guardian".


Ela falava durante um almoço realizado hoje (Quarta-feira) em Johannesburg, inserido na campanha "Salvar Zimbabwe Agora" dirigida por um grupo de líderes religiosos, incluindo o Bispo Anglicano Desmond Tutu, que deverá participar num programa visando despertar a consciência regional sobre a crise zimbabweana.


Graça Machel, que é também viúva do primeiro Presidente de Moçambique Samora Machel, referia-se ao facto de as conversações realizadas em Harare, na Segunda-feira última, envolvendo os três principais rivais políticos do Zimbabwe, com a participação do Presidente moçambicano, Armando Guebuza, e o seu homólogo sul-africano, Kgalema Motlanthe, terem terminado num impasse, após longas horas de conversações à porta fechada.


"Os políticos têm um enorme ego por proteger. Eles não se importam por outros milhares, milhares e outros tantos milhares que perdem a vida, desde que eles protejam o seu ego", lamentou ela. Machel disse que o Governo prolongado do Presidente da Zanu-PF, Robert Mugabe, já perdeu toda a sua legitimidade e aconselhou aos outros movimentos de libertação da região a não seguirem a mesma rota.


Esta advertência surge na sequência de no passado, os lideres da região, incluindo o de Zimbabwe, terem se levantado em conjunto na luta contra os regimes coloniais. "O que está a acontecer neste momento no Zimbabwe? Aqueles meus colegas do passado agora estão a brutalizar a sua própria população simplesmente porque a população não votou a favor deles", disse ela, acrescentando que "esta é uma questão que me assombra e me assombra continuamente".


Até ao momento, mais de duas mil pessoas já morreram devido a epidemia da cólera naquele país da SADC desde a eclosão da doença em Agosto último e outras pessoas perderam a vida devido a violência politica, sobretudo momentos antes e depois das eleições do ano passado.

Os principais líderes rivais do Zimbabwe ainda não chegaram a algum acordo sobre a formação de um Governo de Unidade Nacional, nas negociações chefiadas pelo antigo presidente sul-africano, Thabo Mbeki. 


O pastor zimbabweano Wison Mugabe, um membro do Fórum Nacional dos Pastores, disse que hoje iniciaria uma greve de fome de 21 dias. O pastor afirma que a população do seu país estava num "jejum forçado pelo Governo". "Nós nos tornamos pedintes. ontem nós éramos uma população que podíamos alimentar toda a Africa Austral", disse ele. "Ouça-nos! Já sofremos o suficiente", disse o pastor, que depois ficou com o rosto banhado de lágrimas, tendo sido apoiado por Graça Machel, antes de prosseguir com o seu discurso. Na sua greve de fome, ele será acompanhado por outras 54 pessoas, na sua maioria irão se submeter ao sacrifício durante um dia por semana, incluindo Desmond Tutu, que irá iniciar o seu desafio na próxima Quarta-feira. Os outros participantes são o Bispo Paul Verryn, da Igreja Metodista Central e o Reverendo. A campanha "Salva Zimbabwe Agora", cuja sede será estabelecida na Igreja Metodista Central em Johannersburg, é apoiada por diversas organizações e grupos religiosos, incluindo o Conselho das Igrejas da Africa do Sul, a Liga Comunista Juvenil, Os Adultos, o Partido Comunista Sul-africano e o centro Islâmico de Ajuda Humanitária. Nomboniso Gasa, líder da Comissão da Igualdade do Género da Africa do Sul, e Kumi Naidoo, o presidente honorário da ONG Civicus, irá se juntar ao pastor Mugabe na sua greve de fome de 21 dias. 


Graça Machel disse que os líderes da SADC precisam de adicionar mais vozes à sua tentativa de resolver a crise zimbabweana. "Eles estarão reunidos novamente na Segunda-feira (na cimeira da SADC em Gaberone). Penso que devemos enviar uma mensagem clara e inequívoca. estamos morrendo, isto tem de parar", reiterou ela. Ela recordou que a SADC tem um mandato conferido pelos cerca de 200 milhões para garantir estabilidade no Zimbabwe. "Este é o maior teste para todos os líderes da SADC. eles, como uma liderança colectiva, tomaram a responsabilidade de resolver o conflito e há muito temos vindo a espera dessa ocasião", reafirmou. Machel disse que Zimbabwe não conseguiu cumprir com a sua responsabilidade de proteger os seus cidadãos e apelou ao Mugabe para libertar todos os prisioneiros políticos encarcerados nas cadeias. "Eu quero dizer a liderança do Zimbabwe . o Governo deve proteger os seus cidadãos. é na forma como você protege os seus cidadãos donde vem a sua legitimidade", disse a fonte, reiterando que "o Governo perdeu completamente qualquer tipo de legitimidade". "Esta situação constitui uma lição para a nossa região. Viemos juntos para nos libertarmos, mas agora (estamos a ver) que o poder pode-lhe converter a se tornar precisamente o contrário do que lhe fez tornar num combatente da liberdade", considerou ela, salientando que "esta é uma lição para os outros movimentos de libertação da região". (AIM)


Esta é uma peça da AIM (que tem o sítio electrónico desactivado) transcrita no Correio da Manhã (que não tem sítio electrónico) - e dizem-me que também nesta última edição do Savana (que ainda não está no sítio electrónico) -, que o Machado da Graça teve a amabilidade de me enviar. Importante, e também para quando se discute a "diabolização" do presidente zimbabueano.

publicado às 22:13

Mugabe em Portugal

por jpt, em 29.06.08

De vez em quando notícias sobre Portugal: a Assembleia da República votou uma condenação da situação no Zimbabué. O Partido Comunista absteve-se devido à "ingerência externa que o país sofre". É uma posição que não tem qualquer justificação: nem empírica, nem ideológica, nem mesmo política. Mas não se trata da estupidez e/ou da ignorância a comandarem a prática dos comunistas. É mesmo uma questão de serem filhos da puta. Nesse momento o orador filho da puta chamou-se Bernardino Soares. Nada mais merece esse deputado do meu país do que um escarro nas trombas. As normas ideológicas às quais os imbecis chamam "boa-educação" desaconselham este tom e estes modos. Bardamerda para essas normas. E para os seus palradores.

publicado às 13:19

Zimbabué

por jpt, em 24.06.08

Em vésperas de "eleições" - as quais a SADC se prepara, com toda a certeza, para considerar "free and fair" ainda que com alguns problemas, assim actualizando o conceito "as nossas limitações" - e enquanto Tsvangirai se refugia numa embaixada Mugabe ordena a prisão do espelho mágico.

[pressionar a imagem para a aumentar]

 

Uma imagem vale mil palavras? Não, mas diante do patético silêncio cúmplice dos poderes vizinhos - até de Mandela, até de Mandela ... - assume contornos cruciais a contestação sul-africana ao desvario ditatorial mugabiano: a da intelligentsia local (onde os cartonistas têm sido um monumento de crítica política e social); a do lumpen local, com a recente jaquerie pró-nazi a elucidar sobre o gigantesco magma à disposição do mais vil populismo. Esse que está a chegar ...

 

publicado às 15:51

Mugabe

por jpt, em 04.05.08

nos ícones do Mail & Guardian: Zapiro e Madam & Eve (pressionar as imagens para as aumentar).

 

 

 

publicado às 02:32

Armas para Mugabe

por jpt, em 19.04.08

"Que farão os líderes da região nestes próximos dias? Que indicações sobre a forma como se conceptualiza o paradigma regional de multipartidarismo de partido único? Autocrático? Ou suicidário?", perguntei aqui em 31 de Março. O transporte de armas chinesas para o Zimbabué, antevendo-se que para reforço da movimentação mugabiana é uma resposta. Esperada. Surpreendente.

Surpreendente. Esperada.

publicado às 17:31

Mugabe e a África Austral

por jpt, em 31.03.08

A Zimbabwe Shock: Mugabe Losing ou Mugabe Set To Claim Victory? Muito do que cá se vai pensando sobre Mugabe está aqui. Fora do Zimbabwe, por mais retórica que haja, o motor da solidariedade ou do apoio passivo com o velho ditador é "o mal que fez aos brancos", a ideia que a oposição que lhe é movida é uma deriva ainda-colonial - em Maputo a satisfação burguesa que comentava a sua presença na cimeira Europa-África é nota disso. Que farão os líderes da região nestes próximos dias? Que indicações sobre a forma como se conceptualiza o paradigma regional de multipartidarismo de partido único? Autocrático? Ou suicidário? (numa determinada acepção de desenvolvimento a autocracia pode ser desenvolvimentista. O suicídio, por mais teorias de desenvolvimento que se explorem, não me parece que o seja). A seguir Zuma. "De esquerda", dizem-no "críticos da corrupção" (que têm a santa qualidade de nada aprenderem com a história que vivem). As cores e os pólos, nada mais. Como se fossem muito...

publicado às 23:52

António Vitorino e Mugabe

por jpt, em 11.12.07

Copo em copo, nisto do rescaldo da cimeira África-Europa. E do Mugabe, claro. De como sai reforçado (mais tarde, na noite da rtp António Vitorino intervala a negociação pós-Cahora Bassa para os seus "quinze minutos de propaganda" e dirá que Mugabe saiu enfraquecido da cimeira. Claro que não, e Vitorino sabe-o, de parvo não tem um grama que seja) - Mugabe pôs os brancos no lugar, foi lá à cimeira e botou o que quis. Sai reforçado, até cair de velho e então se gerar o pós-ditaduras gerontocráticas de sempre. Apoiado por pares e elites políticas vizinhos, por elites intelectuais (até blogs moçambicanos de ilustres académicos lhe incensam ter feito mal aos brancos), por "gente comum" (que é uma coisa que somos todos, mas alguns não acreditam). Copo em copo diz-me um amigo, conhecedor da minha terra: "isto de pôr a gente a dizer mal do Mugabe será como pôr os tipos do bloco de esquerda a dizerem mal do Fidel Castro". No alvo ...

publicado às 07:47

A nova moeda do Zimbabwe

por jpt, em 13.11.07

New Currency, Zimbabwe.

O sarcasmo é o melhor remédio.

publicado às 07:40

...

por jpt, em 10.10.07

Já agora um beijo para a minha amiga Ana L. que, a propósito do Mugabe em Lisboa, se irritou e escreveu para o ministro. Eu discordo com ela, acho que sim senhor, que o velho deve lá ir (e até tenho esperanças nos efeitos dos choques térmicos). Mas achei porreiro isso de protestar directamente com quem de direito.

publicado às 19:04

(N)O ANC sobre Mugabe

por jpt, em 10.10.07

Transcrevo do Canal de Moçambique este artigo sobre Mugabe e o Zimbabwé. Um pouco destinado não tanto aos defensores do regime de Harare (que fazer com tal gente?) mas mais aos "contextualizadores". A ver se lhes cai o relativismo ...

 

*********

Kader Asmal, membro do comité executivo do ANC e ex-ministro do governo de Nelson Mandela, lançou um vigoroso ataque contra o regime despótico instalado em Harare. Asmal acusou o governo liderado por Robert Mugabe de “mover uma guerra tirânica contra o povo zimbabweano”. Advogado dos direitos e membro do Parlamento sul-africano, Asmal questionou a política de apaziguamento seguida pelo actual governo sul-africano em relação ao regime de Harare.


Kader Asmal falava durante o lançamento do livro “Zimbabwe – Through the Darkness” da autoria da activista zimbabweana, Judith Todd, presentemente exilada na África do Sul. Todd é filha do antigo governador colonial da Rodésia do Sul, Garfield Todd, tendo-se destacado pela sua oposição ao regime de Ian Smith, apoiando a luta do povo do Zimbabwe pela conquista da independência.


Asmal lamentou que não tivesse condenado há mais tempo o regime despótico de Robert Mugabe, reconhecendo que o seu “silêncio havia feito dele um cúmplice das atrocidades cometidas contra o povo do Zimbabwe.” O mesmo membro do comité executivo do ANC acrescentou que “como internacionalista, que no passado moveu uma campanha contra o regime do apartheid, devia ter feito o mesmo em relação a um regime que colocou o Zimbabwe de rastos.”


Prosseguindo, Kader Asmal disse que “devia ter falado na década de 80, quando milhares de pessoas foram assassinadas pela famigerada 5ª Brigada na Província de Matabeleland. A Igreja Católica falou, mas eu não o fiz. E também não o fiz no decurso da Operação Murambatsvina” no quadro da qual o regime da ZANU-PF, no melhor estilo pol potiano, procedeu à destruição de casas, clínicas e empresas, forçando os cidadãos zimbabueanos a abandonarem as zonas urbanas do país em direcção ao campo.


O presidente sul-africano, Thabo Mbeki, e outros membros do seu governo insistem que apenas os zimbabueanos poderão decidir sobre o seu próprio futuro. Dias antes das declarações de Kader Asmal, o ministro das finanças sul-africano, Trevor Manuel, havia afirmado que os zimbabueanos deviam ser “encorajados a resolver os seus próprios problemas.”

(Redacção / Cape Times) 2007-10-09 06:19:00

publicado às 14:41

A RTP e o Zimbabwe

por jpt, em 21.09.07

Telejornal estatal português (RTP), ontem 20 de Setembro de 2007. Noticia-se a posição do primeiro-ministro britânico sobre a conferência União Europeia-África e a presença nesta de Robert Mugabe (esse cujo grande baluarte no poder é exactamente essa oposição do ex-colono, obrigando à (re)união da velha "Linha da Frente"). E a esse propósito informa-nos a funcionária da RTP que o problema no Zimbabwe passou pela expropriação dos "agricultores britânicos". Fico na dúvida, é só tolice ou será a posição do dono do canal (o Estado)? Não sendo a segunda opção não deveria haver desmentido no dia seguinte (hoje)? Em sendo não deveria haver sublinhado e explicação desta posição política?

publicado às 03:35

Amigo que lê o ma-schamba envia-me, recomendada, uma crónica de Miguel Sousa Tavares, uma "Triste África" a propósito do Congo, do Zimbabwe. E também da política externa portuguesa. Muito discordo do truculento MST, e não só no seu aberrante portismo (uma berrada e nada irónica filiação à mafia que, sem engraçadismos, desvaloriza radicalmente, aplaina mesmo, qualquer intenção de cidadania que o plumitivo tenha erguido. Entenda-se, a não-brincadeira fascistóide da bola sousatavarista é, in loco, o similar ao bembismo ou outro ismo qualquer na torpe áfrica que ele denuncia). Discordo deste texto acima de tudo pela crítica à política externa portuguesa (é porreiro dizer mal do governo): uma república que envia o seu Presidente à colonialista China não tem ética diplomática, não vale a pena chover no molhado, segue o primado da política real. E quem não se exaltou na altura não me venha com merdas vs mugabes e bembas.

 

(parágrafo amansado: Já agora, Sampaio veio cá há pouco, falar da tuberculose. Havia duas hipóteses, ou ir lá exigir-lhe o meu voto de volta, vociferando contra a pró-chinesice por ele cometida. Ou esquecer, enjoado com o velho líder das lutas académicas de 61 feito aquela ruína colonialista, servil. Deixei passar, claro, as pessoas acham "maluquinho" o tipo que fala.)

 

O texto do clarividente MST, que vê corações por via das caras, tem piada e por isso o reproduzo aqui. Tem piada porque me lembra de alguém que foi observar as eleições ao Congo, e às 8 da noite já blogava que tudo "tinha sido free and fair". "Partir a loiça da política", diz o alguém ser a sua missão? Antes os seguidistas que esta gente, dantesca, se de dantas ou dante já nem sei.

 

E la vai o texto de Miguel Sousa Tavares.


Triste África


Olhem para a cara de Jean-Pierre Bemba, o líder da oposição congolesa. Eu sempre acreditei que olhar para a cara das pessoas ajuda muito a perceber quem são. Concordo que a receita é falível: há gente com aspecto de boa pessoa e que, afinal, não é recomendável e vice-versa. E há caras que não dizem tudo, de bom ou de mau, acerca do seu portador. Mas, para quem conhece um bocadinho a África Negra e a sua classe política, a cara do sr. Bemba diz tudo ou quase tudo sobre o que há a esperar dele no dia em que conseguir chegar à presidência da República Democrática do Congo. A menos que estejamos perante uma notável excepção ao meu critério de adivinhar carácteres a partir das caras, a do sr. Bemba traz as marcas inconfundíveis da generalidade dos políticos negros africanos da última geração. Um catálogo de horrores: nepotismo, prepotência, violência, cupidez e, fatalmente, corrupção.


Agora, olhem para a cara do sr. Joseph Kabila, o seu rival e actual Presidente da RDC: a outra face da mesma moeda. O Presidente Joseph Kabila sucedeu a seu pai — coisa habitual nestas paragens —, o distinto Laurent-Desiré Kabila, cuja presidência será sobretudo recordada pela ruína do país e o estendal de cadáveres deixados para trás. Kabila-pai tinha sucedido ao imortal Mobutu Sese Zeko, uma espécie de estereótipo de ditador africano, de quem Bemba e o pai foram estreitos aliados. Dois clãs em luta pelos despojos do país, coisa comum na África Negra. Depois de vinte anos de guerras, golpes e contragolpes, o ex-Zaire e ex-Congo Belga, um dos mais ricos países africanos, está reduzido à miséria, à ineficácia e à corrupção e exposto às intromissões e cobiças do seu poderoso vizinho angolano.Voltemos ao sr. Bemba, herdeiro de uma colossal fortuna deixada por seu pai e empresário cujos exemplos mais admirados são o marselhês Bernard Tapie e o milanês Silvio Berlusconi, dois príncipes da alta finança europeia que a Justiça perseguiu e condenou por toda a espécie de falcatruas possíveis no ramo. No final de 2006, Bemba regressou do exílio para fundar o MLC e concorrer às eleições. Derrotado por Kabila, gritou à fraude (o que, mais do que provavelmente, é verdade) e transformou o MLC numa milícia militar, apoiada pela Líbia e outros países africanos e acusada pela ONU de práticas de canibalismo.


Em Março passado, o MLC saiu do mato e desceu às ruas de Kinshasa, tentando tomar o poder pela mais antiga das formas locais de o fazer. Derrotado também nas ruas, Bemba refugiou-se na Embaixada da África do Sul, e a situação caiu num impasse. Foi então que a diplomacia portuguesa teve uma ideia luminosa: mediar a saída negociada (e necessariamente provisória) de Bemba do país e da cena política. Aproveitar o passaporte português da mulher, uma luso-brasileira filha de um emigrante português, e dos filhos e aproveitar o facto de o sr. Bemba ser proprietário de uma casa na Quinta do Lago, no Algarve (como já sucedia com o seu ‘padrinho’ Mobutu), assim proporcionando uma saída airosa a ambas as partes. Se os esforços do embaixador Alfredo Duarte Costa tiverem sucesso, a nossa diplomacia consegue, de facto, uma lança em África: proporciona uma saída para a crise, que Kabila tem de agradecer, e fica nas boas graças do sr. Bemba, para o dia em que este, milhar de mortos a mais ou a menos, consiga enfim sentar-se no trono do Leopardo. O desfecho diplomático está iminente e apenas aguarda que Kabila resista à tentação de tentar deitar a mão ao seu rival para o cortar às postas e se decida a assinar um papel, deixando-o sair.


Como se pode imaginar, aos congoleses, à excepção dos milicianos e arregimentados de ambos os lados, tanto se lhes faz Kabila como Bemba. Quem ficar com o poder enriquecerá — ele e a sua corte; o resto da população continuará na miséria, à espera do milagre impossível do dia em que o Congo, como o resto da África Negra, seja governado por homens sérios, competentes e com vontade de servir o seu país.Desçamos um pouco mais abaixo e a leste, onde temos o caso-limite do Zimbabwe, desse louco criminoso que é Robert Mugabe. Como escreveu há dias a Conferência Episcopal do Zimbabwe, ali o poder perdeu já qualquer resquício de vergonha, de pudor, de condescendência para com a miséria do povo ou de respeito pelos direitos humanos mais elementares. A oposição é espancada, presa e torturada à vista de todos, os jornalistas estrangeiros são expulsos, o desemprego atinge os 80%, e a fantástica Reforma Agrária de Mugabe, que correu com os melhores agricultores africanos, que eram os rodesianos brancos, trouxe a fome aos campos e às cidades superlotadas. No seu delírio de psicopata, Mugabe não encontrou melhor plano do que mandar o Exército desterrar da capital, Harare, centenas de milhares de pessoas que não tinham para onde ir.


Em Harare esteve há duas semanas o ministro dos Estrangeiros de Angola, que lá foi oferecer apoio militar a Mugabe e proclamar a solidariedade ‘anticolonialista’ do regime de José Eduardo dos Santos. Depois, o ministro veio a Lisboa e sentou-se numa mesa ao lado do nosso MNE, Luís Amado. Perguntaram a Amado se, perante a situação no Zimbabwe e o isolamento a que o regime foi votado pela União Europeia, ele ponderava a possibilidade de não convidar Mugabe para a Cimeira Europa-África, prevista para a presidência portuguesa da UE. O MNE deve ter estremecido, antes de responder convictamente que não: imaginar que Portugal pudesse comprometer aquilo que está previsto ser o «achievement» da nossa presidência, arriscando-se a que os países africanos boicotassem a Cimeira por ‘solidariedade anticolonialista’ com o Zimbabwe, é simplesmente antipatriótico. Seria o mesmo que convidar o Governo português, por exemplo, a perguntar a Luanda para onde vão as receitas do petróleo angolano que não entram no Orçamento do Estado.


‘Provocações’ dessas não se fazem aos africanos. Eles são muito sensíveis às intromissões ‘colonialistas’ dos brancos nos seus assuntos: em especial se forem europeus e, pior ainda, antigas potências coloniais em África. Eles não se importam de ser neocolonizados pelos indianos e agora pelos chineses, que estão a tomar conta de África em busca de energia e terras cultiváveis. Como antes não se importavam com os negócios ruinosos feitos com russos ou americanos, desde que as ‘nomenclaturas’ locais, bem entendido, fossem devidamente recompensadas. Mas, para os europeus, as regras são muito mais duras e exigem, como ponto prévio, que só há negócios em África se se seguir estritamente a diplomacia dos interesses e jamais a dos valores. É preciso ficar muito calado, olhar para o lado, fingir que não se vê e não se sabe e, sendo possível, como fazem Portugal e França, conseguir que os seus dirigentes tenham sempre um «pied à terre» na Côte d’Azur ou no Algarve, para criarem laços de afinidade e cumplicidade connosco.


Um dia, quando se fizer a história da África desaparecida, haveremos de chegar à conclusão de que, muito pior e muito mais imperdoável do que os cinco séculos de colonialismo europeu, foram estas cinco décadas de cumplicidade com o que há de pior em África.


Miguel Sousa Tavares

Publicado segunda-feira, 9 de Abril de 2007

publicado às 18:17

A clarividência de Peter Fry

por jpt, em 17.04.07

"Depois da minha saída do Zimbabue, em 1993, a crença em raças assumiu a forma de um racismo governamental pouco disfarçado. O presidente Mugabe tomara atitudes fortemente xenófobas, sobretudo em relação à Grã-Bretanha. Ao abrir a Feira de Livros em Harare em 1993, lançou a sua primeira ofensiva. Referindo-se a um stand de livros organizado pelo movimento homossexual (Gays and Lesbians of Zimbabwe - GALZ), xingou os homossexuais de "pior que porcos" e acusou os colonialistas de terem trazido esse "mal" para a África. Em seguida, iniciou uma "reforma agraria" que consistiu na expulsão dos brancos das suas fazendas. Nisso ele foi abordado por bandos de soi-disant (antigos combatentes da guerra da independência - muitos nasceram depois do fim da guerra, em 1980), que expulsaram fisicamente os brancos das suas fazendas ...

 

A maioria dos analistas da situação em Zimbabue sugere que Mugabe jogou a carta da raça (played the race card) como uma tatica cínica para se manter no poder. Não penso da mesma maneira. Entendo que ele, como a maioria dos zimbabuanos, acreditando em raças e na diferenca fundamental entre "africanos" e "europeus", enxerga a sociedade através do prisma da raça e interpreta o que vê em função dela."

(Peter Fry, A Persistência da Raça. Ensaios Antropológicos Sobre o Brasil e a África Austral, Rio de Janeiro, Civilização Editora, 2005, pp. 30-31)

 

(já agora)

publicado às 19:51

Mugabe e a África Austral

por jpt, em 29.03.07

Angola apoiando com homens o regime de Mugabe. Tsvangirai (simbolicamente uma mescla de Walesa e Lula. Simbolicamente, repito) preso e agredido. O silêncio dos regimes vizinhos, total negação das suas auto-legitimações retóricas. Ainda assim Angola apoiando o regime de Mugabe. Angola intervindo no Congo. Zâmbia reclamando de um titanic mugabesco. Moçambique suave e diplomaticamente alheado do velho de Harare. África do Sul, entre-Zuma, oscilando. Ainda assim Commonwealth. A "região", essa mítica entidade da moda, move-se. Cinde-se?

publicado às 13:33


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