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Timor

por jpt, em 08.11.14

timor.jpg

 

 

Estupefacto, é como fiquei. Com a reacção pública à expulsão de Timor de um conjunto de funcionários públicos portugueses. E com o que isso demonstra, um total desnorte da política externa portuguesa, de cooperação. E, talvez (só talvez) da representação no país (talvez, digo-o três vezes, pois é muito possível que as suas opiniões não tenham sido tidas em conta). Não sei o enquadramento efectivo dos "cooperantes" juizes e afins ali descolocados (âmbito bilateral? âmbito multilateral?) mas esse, em última análise, não altera a questão.

 

Os tribunais são órgãos de soberania. Quem, no seio do nosso poder, deixou colocar funcionários públicos portugueses a exercer soberania no estrangeiro correu riscos, e não os cuidou. Dirão (já me disse um amigo jurista) que os magistrados são autónomos ("soberanos", se se quiser). Mas os magistrados funcionários públicos portugueses são-no (ou devem-no ser) em Portugal. No estrangeiro são "cooperantes", subordinam-se a questões de política externa portuguesa e à soberania do país onde trabalham. E disso deveriam ter sido veementemente informados, explicitando a diminuta autonomia e os limites de abrangência que tal deveria implicar.

 

Só uma empáfia incompetente (um desses funcionários diz no jornal que mandou  para Lisboa provas de que Xanana Gusmão é corrupto!!!!) dos ali deslocados, uma inconsciência radical dos seus deveres e funções, é que permite isto. E, claro, uma total desorientação de quem os lá colocou. No fundo tudo isto é um atentado aos interesses do país e do Estado. Português, entenda-se.

 

Há indícios de corrupção no poder timorense? Lamento. Mas não passa pela cabeça de ninguém que os funcionários públicos portugueses andem a investigar isso, que levem esse poder a tribunal interno. É o corolário das dinâmicas que enquadravam o seu trabalho no país? Então alguém no nosso poder, e há muito tempo, as deveria ter revisto ("rebaixado"). E já os ditos funcionários deveriam ter sido (in)formados do enquadramento do seu trabalho, enquadramento laboral mas também ideológico - são cooperantes, não são magistrados autónomos, servem a política externa portuguesa e os seus interesses. 

 

Quem deixou correr isto até este ponto foi pateticamente inconsciente, prejudicando o nosso país, ao limite atraiçoando-lhe os interesse. Os funcionários que se julgaram autónomos (por melhores valores éticos que julguem defender) foram pateticamente inconscientes, do seu enquadramento, por desadequada "deontologia". Nisso prejudicando o seu país, atraiçoando os seus interesses, por devaneio corporativo.

 

É fácil agora vir gritar "corruptos" (esse avatar do "selvagens" de séculos passados) aos timorenses. Mas de facto este é um episódio selvagem do funcionalismo público português. E da prosápia tardo-colonial que sobrevive na sociedade portuguesa. E do total desnorte da tutela.

 

publicado às 10:08


2 comentários

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De anónimo a 10.11.2014 às 11:34

Não entendo. Os funcionários foram colocados em Timor à força ou foram pedidos por Timor para exercerem certas funções?
Se foram pedidos por Timor é difícil perceber por que foram mandados embora quando o seu desempenho desagradou. Ou os Ministros não podem ser investigados? A ideia que fica é que Timor precisou de colaboração na justiça e que quando desagradou aos poderosos deixaram de precisar da colaboração. A fim de que os poderosos continuassem a fazer o que queriam sem entraves.
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De Timorense a 12.11.2014 às 06:38

Estes senhores vieram para Timor a pedido sim, mas ninguem lhes disse para comer o pao que o diabo amassou.<br /><br /><br />Desde 1975 que Timor tem sido vitima da cobica do petroleo. <br /><br /><br />Se a expulsao foi chocante (lamento) o choque sera muito maior quando Portugal e os portugueses compreenderem,  apos a devida apresentacao de provas pelas autoridades timorenses, que afinal de contas o governo, o parlamento nacional e o presidente da republica timorense so estavam a fazer aquilo que lhes e' exigido pelo povo. Uma defesa intransigente dos interesses nacionais contra as persistentes e infindaveis investidas das multinacionais para saquear Timor daquilo que e' seu por direito.<br /><br /><br />Nao peco que me acreditem, simplesmente que acompanhem a situacao ate o seu desfecho.<br /><br /><br />Ate la, mais serenidade e abracos cordiais de um timorense atento.<br /><br /><br />Desculpa pela falta de acentos.

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