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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Há poucas semanas ocorreu o incidente com as autoridades timorenses, que expulsaram um alargado número de expatriados ali cooperantes, entre os quais alguns magistrados portugueses e, julgo, pelo menos um funcionário policial. A reacção da sociedade portuguesa foi intempestiva, membros do governo, políticos, jornalistas, etc. surgiram a denunciar e/ou a lamentar a corrupção do poder timorense, a inexistência das necessárias virtudes institucionais.
Escrevi aqui o meu espanto pela postura do Estado português e dos seus funcionários - como foi possível deixar magistrados portugueses ali deslocados investirem contra o poder legítimo timorense? Quem lhes desenhou os termos de referência? E, ainda para mais, quem permitiu que os funcionários públicos em causa (magistrados e não só) surgissem nos jornais, nas tvs, acusando o Presidente da República timorense e outras altas autoridades locais de corrupção e má índole, referindo-se explicitamente a casos jurídicos que se preparavam e a documentação que teria sido enviada (com que legitimidade) para Lisboa? Julgo, e escrevi-o, tudo isto um desnorte da política de cooperação portuguesa. Potenciado por um fundo intelectual de raiz colonial, um impensamento transversal, que tem como corolário a confusão de cooperação (Ajuda Pública ao Desenvolvimento) com tutela.
O meu espanto foi tão grande que procurei textos sobre o assunto, em jornais e vários blogs, para além de referências dos cidadãos nas redes sociais. Nada encontrei neste eixo de reflexão. Com várias matizes foi geral a invectiva contra o poder timorense, e a explicitação da crença na sua corrupção.
Nem os comentadores radio-televisivos, nem jornalistas, nem cronistas, nem bloguistas, nem nós-facebuqueiros/tuiteristas, nem políticos no poder/oposição referiram o absurdo do processo. E também nenhum surgiu a invocar a necessidade do segredo de justiça, a invectivar o eco jornalístico (o "circo mediático") havido, a verborreia dos magistrados em causa, a exigir salvaguarda do bom nome dos políticos até prova definitiva em contrário - tudo isso que seria de sublinhar pelo facto de envolver magistrados portugueses em funções num país estrangeiro, como tal com repercussões na política externa portuguesa. Nada, foi apenas, um global "ai, Timor".
Tantos desses surgem agora, tão pouco tempo depois, quais vestais, erectos sobre (esses) invioláveis princípios. Para os profissionais da palavra pública (políticos, jornalistas) isto é um total absurdo, para não dizer outra coisa. Para nós, cidadãos verborreicos, é mesmo distracção. Ou então é mesmo só clubismo.
Concordo e subscrevo, em linhas gerais, o escrito.
SABER ESTAR.
Também perplexo fiquei, ou até talvez não, tão acostumado estou já!
A eterna contradição de tentar entender os Outros, e entender-se a si próprio.
O eterno confronto.
Mas, o que me intriga mais, como é que cidadãos reinóis, sem passado colonialista (este adjectivante fica sempre bem), sem educação colonial, alguns, quiçá a maioria, com formação superior, magistrados!!!, se comportam desse modo tão ostensivamente intrusivo.
Alardeante.
Com estrondo.
Das duas uma.
Ou é problema endémico, ou foram ainda influenciados pelas vagas de colonialistas e colonos que assomaram às praias lusitanas, dentro da linha das odes marítimas.
Inclino-me mais para esta última.
Só pode.
SABER ESTAR.